Cuidado que preserva a vida

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 30/01/202117:33

ESPECIAL                                                              

As medidas preventivas contra o coronavírus devem ser mantidas, pois são eficazes na diminuição do risco de contaminação

 

Reprodução/Foto-RN176 Foto de desenhos de uma mão sendo ensaboada simbolu de higienalização de ilustração – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Em entrevista ao Brasil Seikyo, o vice-coordenador da Coor­denadoria Cultural e consultor do Departamento de Saúde da BSGI, Sidney Tojer, explica sobre a importância de se manter os cuidados preventivos contra o coronavírus. Como médico, especialista em patologia clínica na área de microbiologia que atuou durante quinze anos no Instituto Adolfo Lutz (laboratório de saúde pública que diagnostica doenças infectocontagiosas do ponto de vista populacional), ele esclarece ainda que tais medidas devem se prolongar mesmo após a vacinação e que respeitá-las é sinônimo de consciência social.

Brasil Seikyo: Por que as medidas preventivas estabelecidas pelos órgãos de saúde ainda são tão importantes?

Sidney Tojer: Essa postura, tão divulgada pela mídia, tem salvado inúmeras vidas. E tais medidas — como a utilização de máscara, higienização adequada das mãos com álcool gel ou água e sabão, além do isolamento social ou do distanciamento físico — devem continuar a ser adotadas. Pois a Covid-19 é uma doença grave e que pode tomar rumos variados levando à morte.

No entanto, com a chegada das festas de fim de ano, houve algumas aglomerações, e então o que era esperado, de fato, aconteceu com o aumento estrondoso do número de casos de mortes pela Covid-19, justamente pela falta desses cuidados essenciais.

BS: Nesse sentido, ainda existem riscos de se expor às aglomerações?

ST: Sim, existe o risco de nos contaminarmos com o coronavírus. Como não sabemos de que maneira nosso organismo se comportará ante à doença, independentemente da idade, devemos permanecer em isolamento social ou com distanciamento físico.

Essas medidas, na verdade, não são novidades, e órgãos de saúde oficiais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) vêm nos alertando sobre a importância de manter o isolamento social, se possível e, quando não, o distanciamento físico. Uma vez que esse vírus é transmitido através das vias respiratórias, devemos utilizar meios e mecanismos para impedir sua disseminação. Devemos tomar cuidado sempre para manter distância segura das pessoas e é indispensável o uso de máscara. Está comprovado cientificamente que a máscara, de forma efetiva, impede a transmissão do vírus. Se a máscara é utilizada por dois indivíduos, sendo um contaminado e outro não, isso diminui bastante os riscos de infecção. Como muitas vezes um infectado não apresenta sintomas, ele pode transmitir a doença sem ao menos ter conhecimento disso. Então, é importante nos cuidarmos usando máscara e fazendo a higienização das mãos. Apesar de ultimamente falarmos muito sobre álcool gel, a água e o sabão também são bem-vindos; desde que saibamos efetivamente lavar as mãos com o devido cuidado, fazendo bastante espuma e higienizando as duas faces da mão, entre os dedos e as unhas. Essas são medidas eficazes para impedir a propagação da doença. Precisamos desenvolver resiliência, paciência e perseverar. É melhor prevenir que remediar.

BS: Muito se ouve falar sobre a segunda onda de coronavírus no Brasil. Devemos nos preparar para esse cenário iminente?

ST: Sim, muito tem se falado de nova variante do vírus que parece se propagar mais rapidamente e sobre a segunda onda com o aumento do números de casos e de mortes. Devido ao relaxamento nas medidas apontadas anteriormente em virtude das festas de fim de ano, esse fato só comprova que as autoridades de saúde estão corretíssimas em suas previsões. Com a segunda onda, a presença do vírus circula com maior intensidade entre a população. Isso sem contar com a nova variante altamente infecciosa, que aumenta a probabilidade de nos infectarmos ou nos reinfectarmos.

Alguns países até mesmo estão entrando em lockdown e tomando atitudes mais restritivas do que no início da pandemia. É claro que passar tanto tempo nessa situação não é fácil. Cansa, não é mesmo? Mas, mesmo com dificuldade, o melhor é exercitarmos a paciência para salvaguardar nossa vida e a dos nossos familiares.

De toda forma, há cientistas trabalhando no combate à doença e no estudo das vacinas.

BS: Sobre esse assunto, mesmo com a vacinação, os cuidados de higiene e de segurança estipulados pelos órgãos de saúde devem se manter?

ST: É lógico que estamos esperançosos com relação à imunização, e cientistas de todo o mundo estão fazendo um esforço enorme para desenvolver uma vacina segura e efetiva. Algumas vacinas já foram liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas precisamos tomar alguns cuidados com essa esperança. Não é por que estou sendo vacinado que acabou o problema e já posso me expor. Em medicina existe um ramo da ciência que estudamos logo nos primeiros anos chamado epidemiologia, o qual corresponde ao estudo das doen­ças em uma população. Uma pandemia é um exemplo bastante típico de uma doença que atinge não somente um indivíduo, mas toda a população. Por isso, as vacinas fazem parte dos programas de saúde pública dos governos do mundo inteiro. No entanto, embora seja essencial que a pessoa se vacine, isso não é garantia de que o vírus vai parar de circular.

Por enquanto, somente uma pequena parte da população está sendo vacinada e sabemos que, hoje, os recursos dessa vacina são escassos. Há países que têm menos dificuldade, e outros, mais. Estima-se que o caminho será longo para atingirmos o objetivo ideal de termos 70% da população mundial protegida. Portanto, mesmo que tomemos a vacina, espera-se que o nosso corpo desenvolva anticorpos contra a doen­ça. Mas, até que 70% da população mundial esteja vacinada, devemos manter o isolamento social ou distanciamento físico.

Acredito que, a exemplo do vírus da gripe H1N1, o coronavírus não vai desaparecer, mesmo porque todo vírus tem uma característica de mutação. Com isso, vão surgir mais novas linhagens e talvez precisemos tomar vacina anual­mente, tal como a da gripe H1N1, ou quem sabe até semestralmente. Tudo vai depender do comportamento do vírus.

Como a doença ainda é muito nova, todo trabalho é novo para a medicina. É por essa razão também que se dá a velocidade das notícias publicadas sobre o assunto. Então, é grande a expectativa de tomarmos a vacina, mas também é importante estarmos cientes de que teremos de manter esses cuidados básicos por algum tempo.

BS: Essa então é uma responsabilidade como cidadão?

ST: Mais que isso. Nós, budistas, temos um conceito muito importante que é a valorização da vida humana como um todo. Isso significa que reconhecemos que cada indivíduo possui o grande potencial do estado de buda em sua vida e que nos coloca num patamar de igualdade. Assim, uma vida humana é muito mais valiosa, segundo os escritos de Nichiren Daishonin, do que todos os tesouros do universo. Nós, que praticamos essa filosofia budista e temos essa consciência, assim como o bodisatva Jamais Desprezar, que reverenciava a vida das outras pessoas, devemos dar o exemplo não só para proteger nossa saúde, mas também a das demais pessoas. Por reverenciar e compreender que a vida do outro é preciosa, devemos assumir a responsabilidade de protegê-la. É fundamental que tenhamos essa consciência, como budistas, como o bodisatva Jamais Desprezar da época do coronavírus.

BS: Como encontrar informação segura a respeito das vacinas e medidas de segurança?

ST: Os consórcios de imprensa no Brasil têm feito um trabalho sério com relação à média móvel de pessoas infectadas e das vítimas. Tendo em vista a circulação em grande quantidade de fake news, é importante que tomemos o cuidado na hora de divulgar as informações. Precisamos ir em busca das fontes seguras, pois tal conteúdo pode ser falso e atrapalhar todo o processo de informação correta, inclusive o de imunização. Recomendo que sigamos as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Organização Panamericana de Saúde (Opas) e da imprensa que traz entrevistas com profissionais da área da saúde e de pessoas confiáveis da área da ciência.

Saiba mais

Você pode assistir à entrevista completa no BS+ .