Harmonia na diversidade II

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 30/01/2021 17:40

MOMENTO BVD 11

INTRODUÇÃO

HARMONIA NA DIVERSIDADE: RESPEITO À INDIVIDUALIDADE

 

O Sutra do Lótus, o mais elevado ensinamento do buda Shakyamuni, ensina a forma de manifestar o ilimitado potencial de todas as pessoas e pô-lo em prática na sociedade. É um ensinamento de compreensão e respeito mútuo entre as pessoas em que todas são importantes e preciosas. Um princípio que exemplifica esse ponto é o da “cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro”, citado no Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente. Por meio de uma analogia com os fatos da própria natureza, indica o respeito e a valorização das características próprias de cada pessoa.

Reprodução/Foto-RN176 Foto de desenhos humanos de ilustração – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Nichiren Daishonin estabeleceu a prática da recitação do Nam-myoho-renge-kyo, e inscreveu o Gohonzon como objeto de fé e de devoção, abrindo o caminho concreto para todas as pessoas atingirem o estado de buda, possibilitando-as manifestar seu pleno potencial.

Escrito de Nichiren Daishonin

Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente

Compreender e perceber que a cerejeira, a ameixeira, o pessegueiro e o damasqueiro possuem cada qual sua própria entidade, sem nenhuma alteração, dos três corpos eternamente dotados [o corpo do Darma, o corpo da recompensa e o corpo manifesto do Buda]1 é propriamente o significado da palavra ryo (de Muryogi — infinitos significados).

Agora, Nichiren e seus seguidores, que recitam Nam-myoho-renge-kyo, são possuidores originais desses três corpos eternamente dotados.2 (OTT, p. 200-201)

Resumo e Cenário Histórico

O Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente (Ongi Kuden) é a compilação das anotações feitas por Nikko Shonin, discípulo e sucessor imediato de Nichiren Daishonin, sobre as explanações do Sutra do Lótus. São explanações realizadas por Daishonin em sua fase final da vida, quando se encontrava retirado no Monte Minobu.

O Ongi Kuden começa com a explanação do termo Nam-myoho-renge-kyo, seguida de pontos importantes de cada um dos vinte e oito capítulos do Sutra do Lótus e de seus sutras de introdução e conclusão denominados Sutra dos Infinitos Significados e Sutra do Mérito Universal. No trecho final, há uma parte que discorre sobre as passagens particularmente importantes de cada um dos vinte e oito capítulos do Sutra do Lótus e uma parte conclusiva intitulada “Todos os Vinte e Oito Capítulos do Sutra do Lótus são o Nam-myoho-renge-kyo”.

A passagem em questão, que cita o princípio da “cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro”, consta no segundo ponto importante (de um total de seis pontos) do Sutra dos Infinitos Significados relativo ao ideograma ryo de Muryogi (Infinitos Significados).

Explanação do presidente da SGI

Cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro: o brilho da individualidade

O Sutra do Lótus é uma mensagem de esperança, uma escritura que ensina a dignidade da vida de cada pessoa e busca conduzir todos à iluminação. Demonstra máximo respeito à diversidade, acolhendo e valorizando as diferenças em vez de discriminá-las. Esse espírito compõe a essência do humanismo budista.

A Dra. Elise Boulding (1920–2010), pioneira em pesquisas sobre a paz, com quem publiquei um diálogo, defendia que um dos requisitos mais importantes para edificar a paz é ter o espírito de apreciar e celebrar a diferença e a diversidade, além de reconhecer que cada pessoa é única e preciosa.3

Para que a humanidade possa consolidar a paz e a felicidade genuínas, é imprescindível que se paute por uma filosofia fundamental que tenha como premissa a valorização da harmonia e a diversidade humana.

Em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Nichiren Daishonin explica o princípio da “cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro”. Essas árvores suportam o rigoroso frio do inverno e, quando a primavera se aproxima, cada qual a seu próprio tempo se enche de flores de beleza singular. Essa é uma metáfora para ilustrar a diversidade dos seres humanos que expressa a missão ímpar e as qualidades peculiares de cada um.

Daishonin escreve: “Compreender e perceber que a cerejeira, a ameixeira, o pessegueiro e o damasqueiro possuem cada qual sua própria entidade, sem nenhuma alteração, dos três corpos eternamente dotados” (OTT, p. 200). Ele quer dizer que todos os seres vivos, assim como são, sem passar por nenhuma mudança, manifestam a condição de vida original do estado de buda — expresso aqui como os “três corpos eternamente dotados do Buda” (cf. OTT, p. 200).

Significado de ryo que abraça a tudo

No Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Nichiren Daishonin afirma que perceber que possuímos os três corpos eternamente dotados é a acepção da palavra ryo (“mensurar e incluir todas as coisas”) dos três ideogramas Muryogi (“infinitos significados”) do título do Sutra dos Infinitos Significados4 (cf. OTT, p. 199, 200).

O Sutra do Lótus abraça todas as formas de vida, sem exceção. Daishonin salienta [no escrito As Barragens da Fé]: “Para começar, o Sutra do Lótus foi exposto para conduzir todos os seres vivos ao caminho do buda” (CEND, v. I, p. 653). A Lei Mística possibilita que todos os seres vivos manifestem efetivamente o estado de buda em sua vida. Permite que, exatamente como são, evidenciem seu brilho ao máximo, como nobres budas dotados eternamente dos três corpos.

Esse mundo budista de “cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro” — um mundo que sustenta o vicejar da diversidade — é aberto às pessoas. Todas, sem exceção, podem igualmente tomar parte nessa caminhada e trilhar a grandiosa estrada da revolução humana e, tirando o máximo proveito de suas características individuais, fazer aflorar seu pleno potencial.

Pela ação dos três corpos eternamente dotados do Buda em nossa vida, as diferenças individuais que possuímos como seres humanos se convertem em características positivas únicas. Nesse contexto, a filosofia da revolução humana — a qual propõe que cada um se empenhe para efetuar esse tipo de transformação interior fundamental — certamente propiciará a elevação da condição de vida da humanidade.

Quando essa filosofia que respeita a dignidade de todas as formas de vida se propagar pelo mundo e transformar a vida das pessoas no âmbito mais fundamental, vai se abrir o caminho para eliminar a tragédia do ódio e do conflito. E também poderá transformar a doença crônica da humanidade — de se envolver repetidamente em guerras alimentadas por um ciclo de ódio. Aí repousa o profundo significado dos nossos esforços, somados aos dos nossos amigos da SGI do mundo todo, de compartilhar e propagar os ideais e os princípios humanísticos do Budismo Nichiren neste exato momento.

Somos “possuidores originais dos três corpos eternamente dotados”

Nichiren Daishonin prossegue: “Agora, Nichiren e seus seguidores, que recitam Nam-myoho-renge-kyo, são possuidores originais desses três corpos eternamente dotados” (OTT, p. 200-201). Como observamos anteriormente, somos todos eternamente dotados com os três corpos do Buda — o corpo do Darma (a Lei, ou a verdade), o corpo da recompensa (sabedoria) e o corpo manifesto (compaixão). Além disso, quando seguimos o exemplo de Nichiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei, e recitamos Nam-myoho-renge-kyo, evidenciamos de dentro de nós a condição de vida do estado de buda e manifestamos a sabedoria e a compaixão do buda em meio às realidades da vida cotidiana. Somos, portanto, “possuidores originais dos três corpos eternamente dotados”.

Daishonin também expressa [em A Torre de Tesouro]: “Nos Últimos Dias da Lei, não há outra Torre de Tesouro5 senão a figura de homens e mulheres que abraçam o Sutra do Lótus [Nam-myoho-renge-kyo]” (CEND, v. I, p. 314). Cada membro da organização, que se dedica a cumprir o grande juramento de concretizar o kosen-rufu, assim como Daishonin, sem exceção, é uma nobre Torre de Tesouro.

Vocês possuem uma profunda missão, e os budas e as divindades celestiais do universo com certeza os louvarão e os protegerão sem falta.

Trechos do romance Nova Revolução Humana

NRH, cap. “Luz da Felicidade”, v. 25, p. 37

Shin’ichi Yamamoto disse a Tadashi Okutsu, coordenador da Divisão dos Jovens da província de Fukushima:

— Trabalhe em estreita sintonia com o líder da Divisão Sênior e com a líder da Divisão Feminina de província, e construam uma nova organização em Fukushima por meio da força dos jovens. E gostaria de solicitar aos integrantes da Divisão Sênior e da Divisão Feminina que apoiem os membros da Divisão Masculina de Jovens, da Divisão Feminina de Jovens e da Divisão dos Estudantes, de modo que eles possam realizar suas atividades com liberdade e alegria. Por mais que a organização esteja se desenvolvendo agora, se os jovens não forem treinados e os integrantes da Divisão dos Estudantes Futuro, Esperança e Herdeiro não crescerem, não podemos esperar que a organização continue a prosperar no futuro. Os membros da Divisão dos Jovens são os sucessores da Soka Gakkai. Eles detêm a missão, como sucessores, de fazer a Soka Gakkai crescer e progredir ainda mais do que hoje. Para cumprir essa missão, espero que cada membro da Divisão dos Jovens desenvolva uma convicção total na fé. Para tanto, é vital que os membros acumulem várias experiências na fé. Os jovens precisam vivenciar diversas experiências nas quais orem fervorosamente e realizem ações efetivas para sobrepujar seus problemas e transformar a vida. Também devem estudar o budismo. É primordial que aprendam por que o Budismo Nichiren é o ensinamento supremo e como se deve viver com base nos preceitos budistas. Além disso, é essencial que aprofundem os laços de mestre e discípulo e intensifiquem seus vínculos de amizade com os outros membros. Quanto mais fui aprendendo sobre o abnegado espírito e dedicação de Makiguchi sensei e de Toda sensei, mais intensas se tornaram minhas convicções em relação ao budismo e à Soka Gakkai. Ouvir sobre as experiências dos líderes veteranos e de outros membros na fé aumenta a convicção da pessoa. O belo círculo de bons amigos chamado Soka Gakkai é a fonte dessa convicção. Conto com a Divisão dos Jovens. O futuro está em suas mãos.

NRH, cap. “Estandarte da Lei”, v. 26, p. 163-164

— Alguns de vocês podem estar se perguntando sobre como lidar com as diferenças de opinião que muitas vezes surgem nas reuniões de planejamento de comunidade e de distrito.

Todos concordaram meneando a cabeça com firmeza.

— Quando muitas pessoas se juntam, é mais que natural que haja divergência de opinião — observou Shin’ichi sorrindo.

— A Soka Gakkai é uma coletividade de diversos indivíduos, que formam uma comunidade harmônica de homens e mulheres de várias idades, de diferentes gerações, ocupações, experiências e procedências. Na verdade, seria estranho se todos tivessem exatamente a mesma opinião! — disse, arrancando risos da plateia.

— No entanto, sempre é possível unir nosso espírito se nos basearmos na fé na Lei Mística e retornarmos ao nosso objetivo maior — o kosen-rufu. Agindo assim, mesmo que tenhamos pequenas divergências em relação a como executar as atividades, conseguiremos respeitar e aceitar uns aos outros. Com frequência, nas organizações da sociedade, ideias divergentes acerca da melhor forma de realizar algo podem acarretar antagonismo e até mesmo rupturas. Na Soka Gakkai, contudo, se nos fundamentarmos na fé na Lei Mística, seremos capazes de superar tais diferenças. Essa é a força da nossa união de “diferentes em corpo, unos em mente”. Reagir de maneira emotiva ou com hostilidade significa ser derrotado pela negatividade. Quando houver algum problema, devemos sempre nos dirigir ao Gohonzon, nosso ponto inicial na fé.

Trechos do Diálogo sobre Religião Humanística

DRH, cap. “Diferentes em Corpo, Unos em Mente: A Vitória da Solidariedade dos Companheiros Dedicados a um Juramento Eterno”, v. 1, p. 149

Morinaka: Uma organização ideal é aquela em que diferentes pessoas estão unidas por um mesmo espírito. E, tendo esse espírito como base, engajam-se em atividades como um grupo diverso ou heterogêneo.

Pres. Ikeda: Cada pessoa, sem exceção, possui uma missão. Todas possuem um enorme potencial. A questão é como manifestar esse potencial?

Quando uma pessoa realiza sua revolução humana, proporciona coragem e esperança às demais e lhes transmite confiança e convicção. A inspiração dá surgimento à inspiração, iniciando uma reação em cadeia que gera uma extraordinária energia para a mudança.

Saito: Nesse sentido, considero a Soka Gakkai uma organização realmente democrática, embasada no profundo espírito de valorizar cada pessoa.

Pres. Ikeda: A Soka Gakkai não é sustentada por interesses econômicos nem controlada pelo poder. É a corporificação da essência do humanismo, e o que a une é o nobre desejo de propagar amplamente (kosen-rufu) o Budismo de Daishonin, um ensinamento que possibilita cada pessoa fazer resplandecer o seu potencial. É a cristalização dos profundos laços de confiança de coração a coração.

Morinaka: É verdade. Em nenhum outro lugar pode-se encontrar uma aliança tão bela e feliz como a que existe na Soka Gakkai. Sinto uma profunda gratidão aos três primeiros presidentes que construíram esta organização maravilhosa.

Antes da Segunda Guerra Mundial, nos tempos da Soka Kyoiku Gakkai (Sociedade Educacional de Criação de Valor) — a predecessora da Soka Gakkai —, o primeiro presidente Tsunesaburo Makiguchi já havia declarado: “A negação do ‘eu’ é uma hipocrisia. O certo é buscar a felicidade para si e para os outros”.

Material de apoio:

Leia mais:

Biblioteca de Materiais de Referência: Tema de Estudo 9 — Harmonia na Diversidade.

Notas:

  1. Os três corpos do buda indicam o corpo do Darma, o corpo da recompensa e o corpo manifesto. O corpo do Darma representa a verdade fundamental, ou a Lei, que o Buda compreendeu. O corpo da recompensa é a sabedoria para perceber a Lei, e o corpo manifesto são as ações compassivas do Buda para conduzir as pessoas à felicidade.
  2. Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente consiste em uma coletânea constituída de duas partes contendo preleções de Nichiren Daishonin sobre as passagens essenciais do Sutra do Lótus enquanto ele residia no Monte Minobu. Foi registrado por Nikko Shonin.

3 Extraído de um artigo da edição do jornal Seikyo Shimbun de 10 de fevereiro de 1999. Cf. BOULDING, Elise. Peace Culture: Living with Difference. Disponível em: https://www.ikedacenter.org/thinkers-themes/thinkers/lectures-talks/ boulding-peace-cultures Acesso em: 11 nov. 2017.

  1. Sutra dos Infinitos Significados (Muryogi-kyo, em jap.): Sutra considerado ensinamento introdutório, ou prólogo, do Sutra do Lótus. Foi traduzido para o chinês em 481 por um monge da Índia central chamado Dharmagathayashas. Esse sutra descreve o Buda pregando no Pico da Águia e consiste em três capítulos. No primeiro, “Práticas Virtuosas”, o bodisatva Grande Adorno louva o buda Shakyamuni com um poema, em nome da assembleia. E esse trecho em versos contém uma passagem conhecida como as trinta e quatro negações, referindo-se ao teor ou à essência do Buda. No segundo capítulo, “Pregação da Lei”, Shakyamuni explica que todos os princípios e significados derivam de uma única Lei. Ele declara: “E pelo fato de a natureza e os desejos das pessoas não serem os mesmos, preguei a Lei de diferentes modos e utilizei o poder dos meios apropriados. Mas, nestes mais de quarenta anos, ainda não revelei a verdade” (LSOC, p. 15), demonstrando que todos os ensinamentos anteriores eram provisórios e simples meios apropriados. O último capítulo, “Dez Benefícios”, explica que, ao praticar esse sutra, obtém-se dez tipos de benefícios. O Buda incentiva o bodisatva Grande Adorno e outros oitenta mil bodisatvas presentes a propagar o sutra, e eles firmam o juramento de fazê-lo.
  2. Torre de Tesouro: Torre ou estupa adornada com pedras preciosas ou tesouros. Qualquer uma das diversas estupas descritas nos textos budistas. A mais conhecida é a Torre de Tesouro do buda Muitos Tesouros que aparece no capítulo 11, “Surgimento da Torre de Tesouro”, do Sutra do Lótus. Nichiren Daishonin via a Torre de Tesouro como um símbolo da vida humana no estado iluminado alcançado com a recitação do Nam-myoho-renge-kyo. Ele também se referia ao Gohonzon, o objeto de devoção do seu ensinamento, como “a Torre de Tesouro”.