ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 13/02/2021 04:25
CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA
Capítulo “Origem”, volume 29
PARTE 63
Quem denominou Gandhi de “Mahatma”, a grande alma, foi Tagore. E Gandhi chamou Tagore de Grudev, o grande mestre. As opiniões dos dois nem sempre coincidiam, mas eram verdadeiros amigos unidos pela paz, a não violência e a crença da busca pela verdade. Pode-se dizer que aqui se encontra a fonte de luz espiritual que abriu o alvorecer da Índia moderna.
Shin’ichi, que chegou à Universidade Rabindra Bharati às 15h30, foi recebido por um sorriso gentil do vice-reitor Pratul Chandra Gupta. No campus da instituição havia também a elegante e estilosa casa de tijolos onde viveu Tagore, emanando fragrância de cultura e arte.
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração Editora Brasil Seikyo – BSGI
Na cerimônia de doação de livros, participaram muitos professores e alunos. O vice-reitor Gupta se levantou para os cumprimentos e começou a falar com voz altiva:
— Quando Tagore visitou o Japão em 1916, embora tenha sido por curto período, parece-me que ele ficou profundamente impressionado com a cultura japonesa.
O vice-reitor apresentou o registro de Tagore em uma carta na qual se referia a pinturas do Japão: “Senti por diversas vezes que a técnica de pinturas de nossa nova Bengala requer mais força, coragem e altivez”.1
O intercâmbio inspira a alma e abre os olhos. Em meio ao intercâmbio com outras culturas ocorrem o progresso e o crescimento.
O vice-reitor concluiu sua fala:
— Creio que a influência da cultura japonesa em Tagore pode ser entendida como o primeiro passo do intercâmbio indo-japonês da era moderna. Observando a história, os laços políticos não são de forma nenhuma duradouros; mas os laços culturais são contínuos e perenes.
A cultura inspira a alma humana e une os corações. Por isso mesmo, a Soka Gakkai avançará pelo grande caminho da cultura.
Na sequência, o pessoal da universidade colocou uma espécie de estola, um magnífico tecido longo chamado uttorio, no pescoço dos membros da comitiva. Essa cerimônia parece ter sido iniciada por Tagore como a mais alta forma de recepcionar um visitante de honra.
Além disso, a comitiva foi presenteada com sinceros objetos de recordação, que incluíam retratos de Tagore e fotos de seus poemas escritos de próprio punho.
PARTE 64
Depois de ouvir os cumprimentos do vice-reitor Gupta, Shin’ichi manifestou sua decisão de criar uma ininterrupta correnteza de intercâmbio científico educacional a partir desta humilde doação de livros. Então, entregou presentes e alguns exemplares junto com a lista de cem livros doados ao vice-reitor.
Ao término dessa parte, no auditório foi realizada uma apresentação de dança típica, que tinha sido preparada em conjunto por alunos e professores, para receber a comitiva. No início, foi declamado um poema de Tagore que felicita a natureza, seguido de uma graciosa dança de Tagore criada por ele. Além disso, houve uma apresentação utilizando a cítara, antigo instrumento musical. Na peça sobre um valente caçador, um jovem dança vigorosamente, como se expressasse a luta contra o mal intrínseco ao universo.
O poema de Tagore era também uma expressão artística da alma do povo indiano. À luz da sabedoria de Tagore, as vozes de alegria, de raiva, de tristeza e de prazer, isto é, de emoção das pessoas, foram condensadas em uma eterna arte universal. O amor infindável do grande poeta para um único ser humano que vive no sofrimento resplandece como a luz do amor por Bengala, pela Índia e pela humanidade, iluminando o mundo.
Por vezes, a apresentação trazia gargalhadas, e em outras, lágrimas. Era uma maravilhosa arte global, à altura de uma universidade que herda o espírito do extraordinário “gigante da cultura”. O aspecto do vice-reitor e de outros professores mais idosos assistindo calorosamente as apaixonadas apresentações transmitia amor fraternal.
Enquanto as emoções ainda não se esfriavam, Shin’ichi agradeceu profundamente aos alunos e professores e se despediu da Universidade Rabindra Bharati em um dourado sol do entardecer.
Com a visita de Shin’ichi, fundador da Universidade Soka, abriu-se o caminho do intercâmbio com essa instituição. Shin’ichi cultivou as mudas da amizade de forma meticulosa, cuidadosa e com muita paciência.
Um quarto de século depois daquela visita, em fevereiro de 2004, a universidade outorgou o título de doutor honoris causa em literatura a Shin’ichi. Mais tarde, ele publicou o Poema da Nova Civilização Global: Diálogo com Tagore sobre Cidadania Global com o vice-reitor Bharati Mukherjee, que viera ao Japão para a concessão desse título.
O acúmulo do intercâmbio, passo a passo, sem interrupções, faz desabrochar as flores da confiança e da amizade.
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Nota:
- Coleção de Cartas. In: Obras Completas de Tagore. v. 11. Tradução: Kazuo Azuma. Editora Daisanbunmei-sha.