Arte que te quero bem

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  20/03/2021 03:13

REDAÇÃO

Inovações nas formas de fazer e de consumir arte atraem olhares atentos, inclusive no atual cenário da sociedade brasileira

 

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração da Editora Brasil Seikyo – BSGI

 

“A arte e a cultura genuínas esforçam-se para enriquecer o indivíduo e incentivar sua expressão própria, enquanto buscam ao mesmo tempo alcançar, emocionar, transmitir e aproximar as pessoas.”1 Essa frase do Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), reflete sua visão sobre a importância das manifestações artísticas para o fortalecimento de seres humanos valorosos — pessoas dispostas a desenvolver a si e aos outros, com sensibilidade e compromisso. A cultura é reflexo dos conhecimentos, dos hábitos e das crenças de um povo e se manifesta, inclusive, por meio da arte.

“Arte”, palavra originada do latim ars, significa “técnica, habilidade”.2 Porém, sua definição, de forma prática, vai muito além, configurando-se em expressão de sentimentos, visões de mundo e uma série de outras questões relacionadas à percepção humana. No passado, a arte era relegada somente aos mais abastados financeiramente, em geral exposta em lugares fechados, com acesso apenas da “elite”. No entanto, a partir de uma série de movimentos, da tecnologia e da própria expansão do conceito artístico, as expressões dessa área começam a se difundir para outros públicos e o seu fazer também é reconfigurado. Exemplo disso está na forma de consumir arte no século 21.

O surgimento dos museus públicos dá início à abertura da arte para a ampla população. O primeiro grande empreendimento de sucesso nessa categoria foi o Museu do Louvre, na França, criado em 1793, por iniciativa do governo revolucionário francês. Já no Brasil, a primeira representante no gênero é a Academia Imperial de Belas Artes, criada em 1816, porém, a principal iniciativa em abrir seu patrimônio para visitação pública ocorre anos depois, em 1840. De lá para cá, diversas outras instituições foram criadas pelo país, muitas delas com o objetivo de oferecer um pouco mais de cultura ao povo.

Inovação e virtualidade

É inegável que em meio ao isolamento social todos nós tivemos de encontrar uma forma de amenizar os efeitos da ansiedade e do estresse e de descobrir uma maneira de lidar com a ociosidade. Nesse sentido, a arte foi fundamental nesse processo. Com relação ao período atual, a psicóloga Rosa Carbone comenta: “Estamos vivendo um momento de incertezas e de inseguranças, e muitas pessoas estão desenvolvendo estratégias para lidar com tudo isso. A arte e a cultura podem ser formas de nos aproximar, apesar da distância, de nos conectar, não obstante as diferenças. Imagine como seria o isolamento social sem filmes, séries, livros, música, lives, shows na varanda ou qualquer tipo de expressão artística?”. Rosa também declara: “A arte nos ajuda a lidar melhor com a tristeza, a solidão, o estresse e a ansiedade”.

Neste período de isolamento social, necessário para controle da pandemia causada pelo coronavírus, museus, espaços culturais e artistas de todo o mundo buscaram novas formas de expor seus acervos e trabalhos artísticos. Nos primeiros meses da pandemia houve um boom das lives que, aos poucos, ganharam status de superproduções. A partir da possibilidade de cobrança de ingresso, passaram também a ser realizados shows e produções teatrais, para poucas pessoas, em salas de aplicativos de videoconferência. Quase paralelamente a isso, alguns museus começaram a expor seus acervos virtualmente, com exposições específicas ou por meio de passeios virtuais. O Google Arts & Culture3 destacou-se como boa ferramenta para visitar espaços e mostras culturais.

Em 2019, um dos principais museus brasileiros, o Museu do Ipiranga, fechou as portas, temporariamente, para restauro. Possuidor de um acervo composto por cerca de 450 mil itens, de objetos a documentos históricos, tem reabertura para visitação prevista para 2022, ano em que se comemora o bicentenário da Independência do Brasil. Até lá, é possível conhecer seu patrimônio cultural com duas visitas virtuais (uma de 2019 e outra de 2020), selecionando os espaços que pretende ver. Em ambas as visitas, pode-se conferir o andamento das obras de restauro.

Dignidade humana

Quem também promoveu sua primeira mostra virtual foi a SGI. Em conjunto com a Carta da Terra Internacional (ECI), inaugurou a exposição Sementes da Esperança e da Ação: Tornando Realidade os ODS. Composta por 24 painéis, apresenta uma visão positiva para uma vida sustentável e que contribui para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), elaborados pela Organização das Nações Unidas (ONU).4

Fazer artístico

Assim como a arte popular regional e a arte de rua — como grafite, hip hop e funk — apontaram para novos rumos da cultura no Brasil, o povo despontou como protagonista do fazer artístico. Muitos descobriram suas aptidões e investiram neste fazer como forma de se sentir melhor durante o isolamento. Curtas cinematográficos, documentários e registros em geral passam a ser concebidos com objetivo de entretenimento a partir da realidade imediata das camadas base da sociedade. Esse protagonismo do povo, que não utiliza somente o celular para consumir, mas agora para produzir arte, potencializa a cultura popular para outras esferas.

A música, uma das mais democráticas formas de arte, expande-se pelas redes por meio de aplicativos e plataformas de distribuição de áudio. A criação de programas que operam da concepção à finalização facilita a produção musical, possibilitando tanto o surgimento de música de qualidade como de material de conteúdo duvidoso. E aqui, abre-se um parêntese para explicar que não se trata de criar juízo de valor e classificar o que deve ou não ser consumido; o que é ou não arte de qualidade. A referência é a arte em sua essência: um conteúdo que incentiva e colabora para o desenvolvimento de seres humanos de valor.

Ao ser questionada sobre os efeitos do fazer arte como tratamento, a psicóloga Rosa Carbone discorre sobre a arteterapia como prática terapêutica: “Ela ajuda a pessoa a conhecer a si mesma, a ampliar a consciência. Nessa técnica, a pessoa demonstra suas emoções através de trabalhos artísticos sem o objetivo de produzir algo comercial. São utilizados desenhos, pintura, modelagem, música, poesia etc., tanto para se chegar a um diagnóstico como para tratamento”.

A arte pode ser considerada uma forma de relaxar a mente e o corpo em momentos de tensão, contribui no modo de absorver novos conhecimentos ou mesmo como maneira de ocupar o tempo com conteúdo que acrescente algo positivo. O presidente Ikeda afirma: “As grandes obras de arte, assim como a beleza inerente à natureza, são um bálsamo relaxante e refrescante para o espírito e uma fonte de energia e vitalidade”.5 Assim como retrata em um de seus poemas:

A força da cultura é grandiosa.

Enriquece o coração

das pessoas

e o abre expandindo-o

vastamente.6

Arte e cultura ao alcance de um clique

Consumir arte está ficando cada vez mais democrático. Considerando as dificuldades de viajar ou de consumir arte paga em meio à pandemia e ao isolamento social, Brasil Seikyo apresenta seis sugestões de conteúdo para você consumir gratuitamente. Basta ter à mão um celular ou computador conectado à internet e ir longe.

Museu do Ipiranga — visitas virtuais de 2020 e 2021 http://museudoipiranga2022.org.br/

Teatro alla Scala (Milão, Itália) — visita virtual https://artsandculture.google.com/story/qwXxD8hXYJwUFA

MAR 360o — tour virtual promovido pelo Museu de Arte de Rua da Cidade de São Paulo https://www.mar360.art.br/

Espetáculos On-line — mais de cem espetáculos gratuitos entre infantis e adultos https://espetaculosonline.com/

Sementes da Esperança e da Ação: Tornando Realidade os ODS — exposição em pdf, em inglês https://www.sokaglobal.org/wp-content/uploads/pdf/seeds-of-hope-and-action-en.pdf

Cultura sem sair de casa — projeto oferece literatura, teatro e visitas virtuais aos seus instrumentos culturais como biblioteca, pinacoteca e centros de cultura https://cultura.am.gov.br/portal/cultura-sem-sair-de-casa/

Notas:

  1. Brasil Seikyo, ed. 1.467, 4 jul. 1998.
  2. Cf. Dicionário Michaelis. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/arte/ Acesso em: 12 mar. 2021.
  3. https://artsandculture.google.com/
  4. Para saber mais, leia matéria completa no Brasil Seikyo, ed. 2.554,6 mar. 2021, no BS+. Disponível em: https://app.brasilseikyo.com.br/conteudo/999559052/exposicao-sementes-da-esperanca-e-lancada-em-nova-versao. Acesso em: 12 mar. 2021.
  5. Brasil Seikyo, ed. 1.467, 4 jul. 1998.
  6. Brasil Seikyo, ed. 2.443, 10 nov. 2018.

Leia mais no BS+

Sobre importância da arte em épocas de pandemia, no Brasil Seikyo, ed. 2.523, 11 jul. 2020, ou por meio do link https://app.brasilseikyo.com.br/conteudo/999558143/arte-como-um-respiro-de-paz