Dinheiro traz felicidade?

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  27/03/2021 11:39                                                                              Por Marcio Nakane

COLUNISTA

Pesquisas sobre o tema respondem a uma das questões mais estudadas por especialistas da economia

 

Reprodução/Foto-RN176 Foto de ilustração –  Editora Brasil Seikyo – BSGI

A resposta direta para a pergunta do título é “sim”. Intuitivamente, faz sentido que mais dinheiro esteja relacionado com maior felicidade, pois, com mais recursos monetários, uma pessoa pode ter acesso a situações que garantem melhor condição de vida. E que, por sua vez, estejam correlacionados com maior felicidade, a exemplo de melhores condições de saúde, habitação, conforto, segurança, lazer, cultura etc.

A relação entre dinheiro e felicidade é uma das mais estudadas por especialistas. A primeira evidência é obtida quando se observa uma pessoa e se investiga o que acontece com sua felicidade quando a renda ou riqueza dela aumenta ou diminui. Nesse caso, é preciso dispor de uma base de dados que contenha informações a respeito de algum indicador de felicidade e acompanhe os mesmos indivíduos ou famílias ao longo do tempo.

São poucas as bases de dados disponíveis nesse formato. No Brasil, não temos indicativos nesse padrão com informações sobre felicidade. As evidências para Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Alemanha, utilizando dados desse tipo, confirmam que pessoas com maior renda são mais felizes.1

Os dados mais comuns são quando se observa um conjunto de indivíduos em certo período, que permite comparação de pessoas diferentes com níveis de renda e riqueza distintos. Nesse caso, queremos saber se uma pessoa, digamos mais rica, é mais feliz que uma pessoa mais pobre.

Para o Brasil, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),entrevistou, em 2012, quase 4 mil pessoas que atribuíram uma nota de 0 a 10 sobre a sua satisfação com a vida corrente.2 O gráfico abaixo mostra o resultado dessa pesquisa, exibindo como o indicador de felicidade varia com o nível de renda de cada indivíduo (medida em classes de salários mínimos — SM).

Reprodução/Foto-RN176 Gráfico demonstrativo – Editorial Brasil Seikyo – BSGI

A evidência para o Brasil confirma o que se verifica em outros países: pessoas com maior renda são, de fato, mais felizes. A maior diferença no índice de felicidade, contudo, é observada quando se compara indivíduos que não têm renda (cuja nota para sua felicidade é 3,7) com indivíduos com alguma renda. Mesmo pessoas com rendimento de 1 (um) salário-mínimo ou menos indicam nível de felicidade 75% superior comparado a pessoas sem nenhuma renda.

Um nível mínimo de renda assegura que o indivíduo possa garantir suas necessidades básicas como alimentação, vestuário, moradia, o que tem forte impacto sobre o seu bem-estar.

A figura também mostra que os acréscimos de felicidade, ainda que presentes, ficam bem mais discretos à medida que a renda aumenta. Assim, depois de certo patamar de renda, não há um efeito tão pronunciado sobre a felicidade das pessoas.

Do ponto de vista do budismo, a relação entre vida financeira e felicidade passa pelo conceito dos “três tipos de tesouro”. Como lembra o buda Nichiren Daishonin, “Mais valioso que o tesouro do cofre é o do corpo. Porém, nenhum é mais valioso que o tesouro do coração”.3

Quando cultivamos o tesouro do coração, ou seja, quando dedicamos nossa prática da fé à nossa felicidade e à das demais pessoas, desenvolvemos força e entusiasmo que nos permitem superar as dificuldades cotidianas, financeiras ou de outra ordem. Uma vida financeira estável é tanto uma comprovação dos benefícios da nossa prática como a segurança de que elas não representarão um obstáculo em nossa jornada em prol do kosen-rufu.

Reprodução/Foto-RN176 Marcio Nakane doutor em economia pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, e professor doutor de economia na Universidade de São Paulo (USP). Membro da BSGI desde 2009, é líder da Comunidade Jaguaribe, em Osasco, SP – Editorial Brasil Seikyo – BSGI

Notas:

  1. Cf. CLARK, Andrew E. et al. The Origins of Happiness: The Science of Well-being Over the Life Course. New Jersey: Princeton University Press, 2018.
  2. Cf. 2012: Desenvolvimento inclusivo sustentável? Comunicados do Ipea Nº 158, 2012. Disponível em: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3434/1/Comunicados_n158_Desenvolvimento.pdf. Acesso em: 20 jan. 2020.
  3. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 112, 2014.