Solte o verbo

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  10/04/2021 09:11                                                                                Por Maria Rosa Carbone

COLUNISTA

Compreenda o que é somatização e mantenha o equilíbrio mental, para evitar o surgimento de algumas doenças físicas

Reprodução/Foto-RN176 Foto de ilustração –  Editora Brasil Seikyo – BSGI

Você está com uma dor de cabeça que insiste em não passar, mesmo fazendo uso de variadas classes de analgésicos? Seu estômago queima, sem ter ingerido nada que justifique esse sintoma? As dores musculares persistem, embora já esteja fazendo algum tratamento? Você tem uma dermatite que vem tratando, mas sem resultados?

São muitas perguntas, mas a solução pode estar relacionada a uma coisa só. Você pode estar apresentando um quadro que chamamos de “somatização” ou transtorno de sintomas somáticos. E o que é somatização? Quando não expressamos nossas emoções e nossa mente não suporta tantas pressões, nosso corpo as manifesta em forma de sintomas físicos. Quando temos um problema e não o externamos ou não o resolvemos, nossa mente se desequilibra e, ao não suportarmos tamanha pressão do conteúdo armazenado, age sobre o corpo gerando também um desequilíbrio físico, manifestado como doença. O que não vira palavra, vira sintoma.

Para ser diagnosticado com esse transtorno, é preciso que os sintomas apresentados já tenham sido investigados por meio de exames laboratoriais e clínicos, tratados e, ainda assim, a doença persiste. Isso porque os sintomas relatados são reais, eles existem, a queixa é verdadeira, mas a causa não é física, e sim mental.

Reações físicas

É comum recebermos no consultório pacientes que, em vez de relatar um sintoma psicológico como tristeza, irritabilidade ou desânimo, se queixam de sintomas físicos como aceleração do coração, dores musculares, dores de cabeça, queimação, queda de cabelo, problemas de pele ou alergias, sem saber descrever ou expressar suas emoções.

Em situações de forte estresse emocional, o corpo reage como alerta de que algo está fora do contexto; o estresse altera o compasso das batidas do coração e, consequentemente, diminui a circulação de sangue, fazendo surgir alguns sintomas desagradáveis com o passar das horas. A intensidade e a duração dessas emoções e sentimentos alteram o funcionamento do hipotálamo, que regula nosso metabolismo a partir de sua ação sobre os centros de comando de diversas funções do organismo. Há uma variedade de evidências que comprovam a relação entre as emoções e vários componentes do sistema imunológico, justificando assim o agravamento ou desencadeamento de uma série de doenças físicas por razões emocionais, as chamadas doenças psicossomáticas.

Reprodução/Foto-RN176 Maria Rosa Carbone; psicoterapeuta, especialista em terapia cognitiva comportamental, supervisora do Curso de Pós-Graduação ITC, professora de comunicação e hipnoterapeuta. É vice-responsável pela Divisão Feminina da Comunidade Vila Mariana, SP –  Editora Brasil Seikyo – BSGI

Como budistas, precisamos estar atentos aos pensamentos, aos nossos “conteúdos internos” não resolvidos, à tendência de vida e ao nosso carma, pois sabemos que pensamentos também são “causa” e, muitas vezes, o efeito pode estar se manifestando em nós na forma de doença.

Em um dos escritos do buda Nichiren Daishonin consta: “A pessoa deve ser mestre da própria mente em vez de permitir que a mente a domine”.1 Ser “senhor da nossa mente” é um exercício ininterrupto, e nossa prática diária é o combustível para o avanço. Quando oramos, permitimos que novas conexões neurais se formem, que diferentes possibilidades sejam vislumbradas, que uma sabedoria infinita se manifeste. E assim encontramos saídas — umas em que nós mesmos podemos agir e pôr “a mão na massa”; outras, nas quais a ação é procurar ajuda de um médico ou de um terapeuta; um amigo, um conselheiro, um veterano, um professor, a esposa ou o marido, um filho, enfim, de alguém com quem possamos falar de nossas angústias e tristezas. O que não podemos deixar é que essa dor se instale e faça moradia. Permitir que isso aconteça é como fazer manutenção do nosso carma. Aquilo que nossa mente não consegue resolver, nosso corpo se encarrega de transformar em doença. Por isso, vamos agir e curar nossa alma.

Nota:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 508, 2014.