A luz da felicidade do triunfo humano

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  10/04/2021 09:45

ENCONTRO COM O MESTRE  

  1. DAISAKU IKEDA

Parece até que posso ouvir meu mestre, Josei Toda, exclamar admirado: “Você sempre pode contar com Tohoku!”.

Desde a fundação do Distrito Sendai de Tohoku,1 que ocorreu no mesmo mês de sua posse como segundo presidente da Soka Gakkai, em 3 de maio de 1951, ele depositava confiança absoluta em Tohoku como modelo para a organização.

Toda sensei também mantinha fortes laços com Tohoku desde a juventude. A caminho de Tóquio, partindo de sua terra natal, Vila Atsuta, em Hokkaido, ele parou na casa do irmão em Shiogama, província de Miyagi, em Tohoku.

Reprodução/Foto-RN176 Eterna jornada da luta conjunta de mestre e discípulo — casal Ikeda admira a exposição da história do kosen-rufu de Tohoku, confeccionada pelos companheiros da localidade (no antigo Centro Cultural de Tohoku, cidade de Sendai, ago. 1994). Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI

No diário daquele período inicial em Tóquio, ele escreveu: “Devo a vida a Tsunesaburo Makiguchi”. Ele também expressou sua profunda gratidão “pelo apoio caloroso do irmão em Shiogama”.

Toda sensei nutria um afeto profundo e permanente pelo povo sincero de Tohoku e declarou ardorosamente que não tinha outro desejo a não ser o de que eles se tornassem felizes.2

No dia 7 de março, deu-se a Convenção “Conexões de Esperança” de Tohoku [também transmitida on-line ao vivo para 147 locais de toda a região], unindo membros das suas seis províncias — Miyagi, Iwate, Aomori, Akita, Yamagata e Fukushima. O evento comemorou sete décadas do movimento pelo kosen-rufu em Tohoku e uma década de reconstrução, trazendo de volta a luz da esperança após o terremoto e tsunami que assolaram aquela localidade em março de 2011.

Estou certo de que Toda sensei está zelando e aplaudindo nossa nobre família Soka de Tohoku, vendo-os celebrar a vitória de mestre e discípulo.

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Ao longo da década passada, os membros de Tohoku ergueram-se de circunstâncias dolorosas e lancinantes, de cortar o coração. Apesar de sofrer perdas e danos pessoais, eles colocaram as necessidades dos outros acima das suas, fazendo tudo o que podiam para encorajar e apoiar os que se encontravam ao redor. Não posso sequer imaginar a difícil estrada que tiveram de trilhar, suportando ventanias e nevascas implacáveis.

Também jamais me esquecerei de como nossos jovens entraram em ação, dedicando-se de corpo de alma aos esforços de socorro e auxílio na sequência do terremoto e tsunami.

Cerca de dez dias após o desastre, enviei mensagem aos nossos valorosos líderes da Divisão Masculina de Jovens (DMJ) e da Divisão Feminina de Jovens (DFJ): “Vocês lutaram bravamente! Sobreviveram! Suportaram tudo com firmeza! Estão demonstrando o espírito da Soka Gakkai ao dar tudo de si para ajudar os outros. Jamais poderei lhes agradecer o suficiente”.

Esse é meu sentimento imutável em relação aos meus preciosos amigos de Tohoku, os porta-estandartes da nobre causa dos bodisatvas da terra.

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Neste marco do décimo aniversário, solenemente oro uma vez mais pela felicidade eterna daqueles que morreram por ocasião do terremoto e tsunami e nos anos subsequentes dedicados ao trabalho de reconstrução da região.

Nichiren Daishonin, o Buda dos Últimos Dias da Lei, confortou a pesarosa monja leiga de Ueno cujo adorado filho caçula havia morrido repentinamente. Assegurando-lhe sobre a iluminação do seu filho, ele escreve:

Tenha a certeza de que todos os budas se reuniram ao redor dele na terra pura do Pico da Águia, que o sentaram na palma das mãos, bateram de leve em sua cabeça, abraçaram-no com alegria e lhe deram afetuosas boas-vindas, com o mesmo deleite que alguém sente diante da aparição da Lua ou da floração dos primeiros botões.3

Reprodução/Foto-RN176 “Canção Luz da Felicidade das Mães” — Oh, mães de luz da felicidade, toquem a canção da felicidade e esperança. Ikeda sensei oferece esta caligrafia em 1982 por ocasião da convenção da Divisão Feminina

Nossas fabulosas integrantes da Divisão Feminina (DF) de Tohoku recitaram Nam-myoho-renge-kyo fer­vo­rosamente, dedicaram-se ao diálogo e se empenharam pelo kosen-rufu dia após dia. O tesouro do coração que acumularam como resultado, de fato, forma uma montanha colossal do mais profundo benefício. O canto alegre dessas mães do kosen-rufu, que irradiam a luz da felicidade, permeará sua família e a comunidade, transcendendo os laços de vida e morte.

Em outra carta enviada para a monja leiga de Ueno, que perseverou na fé com sinceridade, transformando o luto em compaixão pelos outros, Daishonin escreve: “Se houver cem ou mil pessoas que mantenham este sutra, todas elas, sem exceção, irão se tornar budas”.4

“Todas elas, sem exceção, irão se tornar budas” — essas palavras sintetizam o supremo humanismo do budismo, a compaixão que não exclui ninguém. Oramos pela felicidade de cada pessoa e lançamos uma luz sobre ela, mostrando-lhe que sua vida importa.

Embora alguns membros que antes moravam em Tohoku tenham se mudado para longe de lá após o terremoto e o tsunami, todos eles constituem parte integral e indispensável daquilo que faz sua terra natal e comunidade serem o que são. Os corações estão ligados. Todos são preciosos e insubstituíveis.

Nossa prática do Budismo Nichiren, nossas orações e nossa compaixão não são direcionadas somente àqueles em nosso ambiente imediato, mas também aos que vieram antes de nós e aos que ainda não nasceram. Não apenas damos o máximo de nós para proteger aqueles que estão vivos agora, mas também nos lembramos dos que viveram no passado e temos em mente os que viverão no futuro. Essa filosofia detém a chave para a concretização de uma sociedade repleta de esperança onde todos possam viver com igualdade e dignidade.

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Ao escrever para um discípulo, um velho amigo e colega de outro discípulo que havia falecido, Daishonin afirma: “Agora que ele faleceu, vejo-o em você. Por ser esse o caso, que necessidade há de me sentir vazio [ou desolado]?”.5

Trata-se de uma afirmação muito profunda.

Esta existência é limitada, mas quando nos devotamos à promoção do kosen-rufu e à perpetuação da Lei, nossa vida continua viva eternamente dentro de nossos sucessores e por meio deles — em quem poderemos ser vistos, assim como Daishonin declarou acima. Eles, segura e firmemente, darão seguimento ao nosso legado.

Esse juramento pelo kosen-rufu transcende o sentimento de tristeza e de dor pela transitoriedade da vida.

Agora um fluxo contínuo de “pilares de ouro” da Divisão Sênior (DS) está se levantado com uma nova determinação em toda a Tohoku, levando avante as esperanças e os sonhos dos companheiros de fé e familiares falecidos.

Como bodisatvas da terra, surgimos neste problemático mundo saha, local de missão escolhido por nós, acompanhados de uma multidão de companheiros. Consequentemente, quando nos empenhamos de coração para cumprir nosso juramento de propagar a Lei Mística, esses companheiros com quem compartilhamos profundos laços cármicos, começam a emergir em nosso ambiente. E passam a trabalhar ao nosso lado para concretizar o kosen-rufu e o ideal de Daishonin de “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra”. Esse é o princípio de “emergir da terra”.6

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Em especial, o crescimento dos nossos jovens em Tohoku, que desenvolveram sua condição de vida de “mais azul que o índigo”, é realmente fenomenal.

“O ferro, quando aquecido e forjado, torna-se uma excelente espada.”7 Como ensina Daishonin, uma vida que foi fortalecida nas chamas das adversidades e provações reluz intensamente como uma espada preciosa.

A paixão e energia dos jovens formaram a força propulsora por trás do sucesso da recente Convenção “Conexões de Esperança” e de uma exposição especial lembrando a passagem dos dez anos desde o terremoto e o tsunami de Tohoku.

A Dra. Sarah Wider, ex-presidente da Sociedade Ralph Waldo Emerson, nos Estados Unidos, que valorizava muito suas interações com os membros de Tohoku, viu recentemente as fotografias e os textos em exibição na mostra. Ela enviou uma mensagem para expressar quanto se emocionou com as histórias de afirmação da vida relatadas pelos membros: “Que efeito poderoso tem [poder ouvir essas histórias] em qualquer época, mas mais ainda agora quando a pandemia [da Covid-19] se arrasta e precisamos permanecer fortes, continuar entendendo quão profundamente interconectados todos nós somos para possibilitar que aqueles dias melhores cheguem”.

Nossos dedicados jovens de Tohoku estão construindo, com alegria e dinamismo, uma rede de incentivos com amigos de suas comunidades locais e ao redor do mundo.

Isso me lembra as palavras de Helen Keller (1880–1968), que visitou a região de Tohoku: “Não é possível a civilização andar para trás enquanto houver jovens no mundo”.8

As muralhas de pedra do Castelo de Aoba, na cidade de Sendai, em Tohoku, foram erigidas ao longo dos séculos, recebendo reparos, e as pedras foram depositadas com cuidado repetidas e repetidas vezes. Esses esforços incansáveis, ininterruptos e meticulosos criaram o aspecto imponente que as muralhas ostentam hoje.

É extremamente reconfortante testemunhar o grandioso e inabalável castelo da juventude que atualmente se ergue em Tohoku como resultado da árdua e magnânima dedicação dos nossos heroicos jovens de lá.

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Em 11 de março do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a pandemia da Covid-19.

Na Proposta de Paz deste ano, divulgada em 26 de janeiro, Dia da Soka Gakkai Internacional (SGI), salientei a importância de as nações trabalharem de forma solidária para controlar a pandemia, e, desse modo, estabelecer a base para proteger a vida e a saúde das pessoas de todos os lugares. A discriminação fundamentada em fatores como local de nascimento ou circunstâncias individuais constitui um erro e deve ser erradicada.

Nossos sábios companheiros de Tohoku conhecem melhor que ninguém o valor infinitamente precioso de cada vida, sem exceção. Eles estão determinados a não se esquecer das lições extraídas do desastre de 2011 e prosseguir apoiando aqueles que estão lutando contra as dificuldades, até o último conseguir se reerguer. Tenho a convicção absoluta de que os esforços para proteger e cultivar a vida alicerçados nessa firme decisão consistem na fonte de esperança para construir uma base de respeito à dignidade da vida no mundo inteiro.

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Nichiren Daishonin orgulhava-se muito de sua capacidade inigualável para suportar perseguições e de sua incomparável compaixão pelos outros.9

Herdando diretamente o compromisso intrépido de Daishonin de propagar a Lei Mística em meio a adversidades e sua enorme e vasta compaixão, nós, mestres e discípulos Soka, abrimos o caminho para a paz para todos os povos do mundo disseminando os princípios de afirmação da vida preconizados pelo Budismo Nichiren. E gostaria de declarar que ninguém demonstrou coragem e compaixão maiores que os membros de Tohoku, os quais ultrapassaram bravamente as dificuldades com base no espírito de unicidade de mestre e discípulo.

A força subjacente do povo de Tohoku, tão poderosa diante da adversidade, é a energia propulsora para a criação de pessoas de grande valor que propiciará uma nova era.

Começamos a badalar o segundo ciclo dos “Sete Sinos”,10 o 50º aniversário do movimento pelo kosen-rufu em Tohoku. O terceiro ciclo iniciará em 2051, centenário do kosen-rufu em Tohoku.

Avançando na grandiosa e extensa jornada do kosen-rufu, estabeleçamos solidamente a filosofia da dignidade da vida como o espírito da época e do mundo e edifiquemos o século da vida e da revolução humana.

Nossa amada família Soka de Tohoku desempenhará papel vital na consolidação dos alicerces do nosso movimento.

Nesta era de crises repleta de ansiedade e de desafios, o sorriso e os incentivos calorosos dos membros da Divisão Sênior e da Divisão Feminina de Tohoku representam um tesouro insuperável. Suas poderosas orações, que despertam e ativam as funções protetoras do universo, e seu diá­logo corajoso com a determinação de não deixar ninguém para trás podem transformar até mesmo o grande mal ou desastres em grande bem.

Uma vida de esperança é realmente magnífica!

Mantermo-nos fiéis ao nosso juramento conduz à vitória na vida!

A luz da felicidade do triunfo humano alcançada pelos nossos companheiros de Tohoku emanará eternamente a partir dessa sublime região para o mundo e o futuro, como o sol da manhã, iluminando a humanidade.

Reprodução/Foto-RN176 “Estrada da Paz” é o tema do Festival de Cultura da Paz dos Jovens de Fukushima, realizado no Estádio Shinobugaoka, cidade de Fukushima, em maio de 1984. Ikeda sensei apresenta esta caligrafia para essa atividade

No topo: Eterna jornada da luta conjunta de mestre e discípulo — casal Ikeda admira a exposição da história do kosen-rufu de Tohoku, confeccionada pelos companheiros da localidade (no antigo Centro Cultural de Tohoku, cidade de Sendai, ago. 1994)

Notas:

  1. O Distrito Sendai foi fundado no dia 8 de maio de 1951.
  2. Cf. Traduzido do japonês. TODA, Josei. Toda Josei Zenshu [Obras Completas de Josei Toda]. v. 4. Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1989. p. 508.
  3. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 343, 2014.
  4. Ibidem, p. 366.
  5. The Writings of Nichiren Daishonin, v. II, p. 497.
  6. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 404, 2014.
  7. Ibidem, p. 320.
  8. KELLER, Helen. Midstream: My Later Life. Londres: Hodder & Stoughton, Ltd., 1929. p. 335.
  9. Em Abertura dos Olhos, Daishonin expressa: “No que diz respeito ao entendimento do Sutra do Lótus, minha capacidade de compreensão corresponde a apenas uma pequena fração da vasta capacidade que Tiantai e Dengyo possuíam. Todavia, considerando minha capacidade de enfrentar perseguições e minha enorme compaixão pelas pessoas, creio que eles ficariam admirados” (Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, v. I, p. 252).
  10. “Sete Sinos”: O primeiro ciclo dos “Sete Sinos” compreende sete períodos consecutivos de cinco anos no desenvolvimento da Soka Gakkai, desde a fundação em 1930 até 1979. Em 3 de maio de 1958, pouco depois da morte do presidente Josei Toda (no dia 2 de abril), o presidente Ikeda, na época coordenador da Secretaria da Divisão dos Jovens da Soka Gakkai, apresentou essa ideia e anunciou metas para os subsequentes períodos de sete anos. Em 3 de maio de 1966, Ikeda sensei mencionou uma nova série de “Sete Sinos”, visualizada por ele que se desenrolaria no século 21. Além disso, em 1978, pouco antes do fim do primeiro ciclo dos “Sete Sinos”, ele explicou de forma detalhada sobre esse segundo ciclo dos “Sete Sinos”, que se iniciaria em 3 de maio de 2001 e prosseguiria até 2050. Anunciou também uma série de metas de desenvolvimento para a organização ao longo de quatro períodos de cinco anos, de 1980 a 2000.

Fonte:

Jornal Seikyo Shimbun, de 11 de março de 2021.