Micro-organismos do bem

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  17/04/2021 07:08                                                                              Por Ana Paula Cony

COLUNISTA

O equilíbrio da microbiota intestinal traz benefícios para corpo e mente

Reprodução/Foto-RN176 Foto de ilustração –  Editora Brasil Seikyo – BSGI

Muitas pessoas têm reclamado que seu intestino anda um pouco mais lento nesta fase de isolamento social, o que não é bom, afinal, um bom trânsito intestinal está ligado também à melhora da imunidade. Lembre-se: a microbiota intestinal, conjunto de micro-organismos que povoam o intestino, é o personal trainer do nosso sistema imune.

O que podemos fazer para driblar a prisão de ventre?

∙ Beber mais água. Para isso, é preciso, de fato, se policiar. Não adianta apenas falar e, no dia seguinte, esquecer a meta. Deixe sempre próximo a você uma garrafa com água (ao utilizarmos um copo, é mais fácil esquecermos de encher). Um alarme no celular ou uso de aplicativos próprios para essa finalidade podem ajudar.

∙ Variar no consumo de alimentos ricos em fibras. Se não for possível consumir verduras frescas, é interessante tentar compensar com aumento de ingestão de leguminosas como feijão, ervilha, lentilha, grão de bico e sementes como abóbora, chia, linhaça e girassol.

∙ Trocar o arroz branco por arroz integral, assim como o macarrão por massas integrais, pode ajudar muito no bom funcionamento do intestino. Algumas pessoas estão substituindo ambos pela quinoa.

∙ Apostar no consumo dos legumes com casca, tipo abóboras no forno, chips de batata-doce ou de abobrinha ou até batata frita com casca. Tanto para essa como para as demais dicas, procure um nutricionista de confiança.

Relação com o corpo

Muito se fala sobre a microbiota intestinal e sua importância para o organismo, de maneira geral. Evidências sugerem que, quando em desequilíbrio, ela pode afetar, inclusive, a saúde do seu intestino. Vamos entender como.

Um dos pontos refere-se à permeabilidade intestinal. Nessa condição, as toxinas como LPS (localizadas dentro das células bacterianas) conseguem circular mais livremente pelo nosso corpo, aumentando a inflamação sistêmica. Quanto mais inflamada, maiores as chances de haver desregulações de insulina, por exemplo, fator preocupante quando pensamos em gestação, por exemplo.

Outra questão está relacionada com o crescimento desequilibrado de micro-organismos. O desequilíbrio da microbiota pode favorecer infecções de repetição como a candidíase. Por fim, o estrogênio desregulado ocorre porque a microbiota também é responsável pelo controle dos níveis de estrogênio no organismo. É o que chamamos de “estroboloma” e ganha especial atenção quando tratamos câncer de mama, ovários policísticos e endometriose.

Requer atenção também a possibilidade de desequilíbrio imunológico. Uma microbiota desregulada desequilibra a resposta imunológica, favorecendo doenças autoimunes em indivíduos geneticamente predispostos. Atualmente, sabemos que tireoidite de Hashimoto e doença celíaca, por exemplo, podem estar associadas à subfertilidade e/ou à infertilidade.

Relação com o cérebro

Estudos recentes têm mostrado que esses trilhões de bactérias que vivem em nosso corpo são importantes também para a saúde do cérebro. A microbiota é uma das principais reguladoras da comunicação entre o intestino e o cérebro, e diversos campos da ciência estão estudando sua influência sobre transtornos psiquiátricos, doenças degenerativas e outras relacionadas à idade.

O intestino e o cérebro se comunicam por meio de várias vias como o sistema imunológico, o nervo vago,1 o metabolismo de triptofano,2 o sistema nervoso, peptideoglicanos e outros fragmentos bacterianos e metabólicos como os ácidos graxos de cadeia curta. Estudos mais aprofundados de cada uma dessas vias possibilitarão que se entenda melhor como elas funcionam e como se relacionam com o surgimento de diversas doenças.

Entender mais sobre a microbiota intestinal nos ajuda a não somente cuidar bem do nosso intestino, mas do nosso corpo e da nossa mente. Encontrar um profissional sério e dialogar diretamente sobre o que estamos sentindo e sobre nossos hábitos alimentares nos possibilitará cuidados cada vez melhores com nosso “tesouro do corpo”.

Reprodução/Foto-RN176 Ana Paula ConY, atua como nutricionista funcional e esportiva e é mestre em ciências da saúde pela Universidade federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É membro do Depas da BSGI, responsável pelo núcleo de nutricionistas

Notas:

  1. Nervo vago: É o maior nervo craniano e tem a função de ligar o cérebro à medula espinal. Ele sai do crânio, desce pelo pescoço e pelo tórax, e termina no intestino.
  2. Metabolismo de triptofano: Aminoácido que ajuda o corpo a produzir serotonina, neurotransmissor relacionado ao humor e ao bem-estar.