ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 22/05/2021 08:27
RELATO
Para Rafael, todo desafio é uma chance de ativar a coragem e criar uma nova história
Reprodução/Foto-RN176 Rafael Shimanoe Santos, Resp. pela DMJ do Distrito Ferrazópolis, RM São Bernardo, CGSP, CGESP – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Comecei a trabalhar cedo junto com meu pai, que é marceneiro, e tentando seguir nessa área profissional, decidi cursar design de interiores na faculdade. No entanto, quando tive contato com a tecnologia 3D (três dimensões) para planejar os ambientes e com todos os recursos digitais que ela oferecia, eu me apaixonei e fui com tudo nessa área. Então, fiz um curso de produção multimídia. Aos poucos, as coisas foram se encaminhando para a área de fotografia e filmagem. E, trabalhando numa empresa de eventos, fui convidado a integrar um grande projeto.
Era agosto de 2019, quando lágrimas corriam pelo meu rosto ao recitar Nam-myoho-renge-kyo com toda a gratidão, pois eu me preparava para embarcar numa turnê com a banda Maquinamente pela América Latina.
No dia do embarque para Florianópolis, SC, nossa primeira parada, lá estava eu com minha câmera, prestes a iniciar o trabalho dos meus sonhos, fotografando cada momento dessa turnê, gravando um reality show dos perrengues da banda na estrada. Era tanta emoção que nem sabia por onde começar.
No transcorrer dos meses passamos por Porto Alegre, Uruguai, Rio de Janeiro, São Paulo. O objetivo era chegar a Machu Picchu, Peru, e lá gravar um clipe. Dediquei-me totalmente a esse sonho, tanto que, muitas vezes, eu me desafiava até para ter tempo de recitar gongyo e daimoku.
Certo dia numa visita, um líder me aconselhou a não deixar que o sonho me afastasse do caminho correto da Lei Mística. Ele também sugeriu que eu recitasse daimoku para criar uma condição de vida na qual dispusesse de tempo para atuar pelo kosen-rufu.
Mas, ainda deslumbrado com a turnê, continuei focando na nova jornada profissional e nos benefícios que isso me trazia. Dei entrada no primeiro carro e numa câmera de última geração, e contratei um seguro para os bens. Pouco tempo depois, veio a pandemia do coronavírus e, com ela, o fim do emprego dos sonhos.
Com muitas dívidas e sem perspectiva de trabalho na quarentena, voltei para casa e lembrei-me das palavras daquele líder. Percebi que estava diante de uma oportunidade de me desafiar na recitação no daimoku, com todo o tempo que teria pela frente sem emprego. Comecei atuando na organização de base, fazendo visitas virtuais e auxiliando nas reuniões semanais para convidados e também atuando no Departamento de Comunicação (Decom). Recitava daimoku com meus pais todos os dias, visualizando uma carreira profissional que me permitisse cumprir minha missão. Aos poucos, as coisas foram se encaixando e, apesar de não sobrar dinheiro no fim do mês, conseguia pagar as dívidas, fazendo trabalhos temporários como designer gráfico e realizando ensaios fotográficos.
Manter a convicção
O ano de 2020 foi desafiador em muitos aspectos. Em outubro, recebemos a notícia de que meu querido e grandioso avô paterno, Seu Chico, foi diagnosticado com câncer no pulmão.
Nasci numa família que já praticava o budismo, e a luta pelo kosen-rufu está presente em minha vida desde muito cedo. Por conta da dedicação dos meus pais em prezar pela família — uma das diretrizes da Soka Gakkai —, decidimos deixar nossas coisas aqui em São Paulo, SP, onde moramos, para acompanhar meu avô em seu tratamento em João Pessoa, PB, onde ele residia. Lá, nós nos deparamos com o Seu Chico, sempre muito alegre, fazendo todos se divertirem com suas brincadeiras e seu jeito leve de levar a vida. Logo, iniciamos nossas orações, com o apoio de muitas pessoas, para que a cirurgia de retirada do tumor fosse bem-sucedida. No entanto, o câncer se espalhou para outras partes do corpo antes de o procedimento ser realizado. E após dois meses de tratamento, Seu Chico Rodrigues encerrou sua honrosa missão nesta existência.
Da última vez que visitei meu avô no hospital, ele já não conseguia falar, mas seu sorriso, ao me ver, demonstrou seu espírito inabalável — um grande aprendizado que me deu forças para continuar. Percebi que a boa sorte se manifestou nesse período, livrando-nos da Covid-19, para que pudéssemos acompanhar os últimos dias desse herói que dedicou a vida em prol da nossa família.
Reprodução/Foto-RN176 Rafael com a família, em João Pessoa, PB. O avô está ao centro – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Em meio a esse turbilhão, recebi uma proposta de trabalho, no qual poderia exercê-lo a distância como designer gráfico. Que benefício!
Eu me sinto numa faculdade intensiva, na qual tenho a chance de me aprimorar profissionalmente, tendo contato com grandes empresas e fazendo o que gosto. Além disso, tenho tempo livre para atuar na organização e conquistei uma condição financeira na qual consigo ajudar os demais. Eu me sinto como num círculo de boa sorte em que posso plantar boas sementes, levando o humanismo Soka de esperança e de coragem às pessoas neste momento de crise, como os colegas da banda e do trabalho, por exemplo.
Analisando essas experiências, concluí que, mesmo em meio às mais desafiadoras condições, quando seguimos o caminho correto da prática da fé e da luta em prol da felicidade das pessoas, convocamos todas as divindades protetoras, citadas no budismo, a nosso favor. Tal como o presidente Ikeda cita: “Nenhum esforço é em vão no budismo. Nosso trabalho, nossa vida diária — tudo que realizamos é budismo. Se nossos esforços estão fundamentados na fé, serão transformados, sem exceção, em benefícios”.1
Rafael Shimanoe Santos, 27 anos. Produtor multimídia. Resp. pela DMJ do Distrito Ferrazópolis, RM São Bernardo, CGSP, CGESP.
Nota:
- Brasil Seikyo, ed. 1.519, 14 ago. 1999, p. A3.