Religião e felicidade

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  07/08/2021 09:10                                                                    Por Marcio Nakane

COLUNISTA

Pesquisas revelam importantes aspectos da relação entre esses dois pontos

Reprodução/Foto-RN176 Uma religião confere esperança, propósito e significado à vida das pessoas (Itapevi, SP, nov. 2017)

Pessoas religiosas são as mais felizes. Dados compilados pela World Values Survey1 atestam que essa relação é bastante consistente, tanto ao longo dos anos como em diferentes países. Em sua edição mais recente, com dados levantados entre 2017 e 2020, em todo o mundo, a proporção dos que se declaram “muito felizes” é maior para os que consideram religião como “muito importante” em sua vida (35,6%), do que para aqueles que a consideram “bastante importante” (25,9%), “não muito importante” (24,6%) ou “nada importante” (26,1%). Nos 77 países em que existe essa informação, 56 apresentam esse mesmo padrão.

No Brasil, 34,4% dos que consideram religião como “muito importante” se declaram “muito felizes”, comparado com 22,2%, 23% e 23,7% para aqueles que a consideram “bastante importante”, “não muito importante” ou “nada importante”, respectivamente.

Outra dimensão a respeito de religião é o grau de envolvimento com alguma entidade religiosa. A mesma pesquisa indica que a proporção de pessoas “muito felizes” é de 41,4% para os que são membros ativos de alguma organização religiosa contra 31,8% para os que são membros inativos de alguma organização religiosa e 28,1% para os que não pertencem a qualquer organização religiosa. Para 48 países nos quais existe essa informação, 37 apresentam esse mesmo padrão. No caso do Brasil, a pesquisa indica que 31,4% dos membros ativos em organizações religiosas, 25% dos membros inativos e 25,6% dos não membros se declaram “muito felizes”.

Relação religião e felicidade

Uma questão de interesse é entender a razão dessa relação religião e felicidade. Uma possibilidade é a importância que organizações religiosas conferem a atitudes virtuosas como gratidão, solidariedade, empatia, compaixão, perdoar os outros, que também estão relacionadas com felicidade. Fatores mentais e psicológicos também podem ser relevantes. Uma religião confere esperança, propósito, confiança existencial, significado à vida das pessoas, possibilitando a elas lidar melhor com seus desafios diários, elevando sua satisfação com a vida.

Pode ser também que haja uma conexão com a saúde. Pessoas mais religiosas podem ser mais capazes de lidar com estresse e com sofrimento. Há certas religiões que também desencorajam hábitos que são prejudiciais à saúde, como uso excessivo de álcool e de drogas, ou que promovem hábitos que melhoram a saúde e o bem-estar, como práticas de meditação, dieta vegetariana etc. Tais exemplos mostram que pessoas religiosas podem apresentar melhor condição de saúde física e mental e, por esse mecanismo, elevar sua satisfação com a vida.

Reprodução/Foto-RN176 Marcio Nokane Dr. em economia e também professor na USP

Mas o aspecto mais relevante para explicar a relação religião e felicidade é o lado comunitário. Por meio dele, são desenvolvidas atividades religiosas que oferecem oportunidades de interações pessoais e conferem às pessoas um sentido de propósito e de pertencimento. Assim, criam-se laços de amizade e redes de relação e de apoio entre as pessoas que vão além do aspecto puramente religioso. Poder contar com outras pessoas em momentos de necessidade é importante para dimensões da nossa vida como saúde, emprego, finanças pessoais. Esse espírito de fazermos parte de uma comunidade é o que caracteriza a Soka Gakkai.

Em uma publicação consta:

A Soka Gakkai é uma organização criada, desde a sua origem, para ser um oásis de companheirismo e de incentivo mútuo em meio às tempestades da sociedade. Por essa razão, ela é como uma grande família. Nela, encontramos pessoas que despertam o verdadeiro espírito de empatia e desejo sincero de vitória pelos companheiros enquanto enfrentam os próprios desafios. Esse vínculo criado é a marca registrada da organização.2

Exemplo disso é o “movimento 1, 2, 3”, por meio do qual se incentiva a realização de telefonemas e visitas (virtuais, nesta época de pandemia) aos membros da organização. Aderir a ele nos permite estreitar nossas relações de amizade e sentir que fazemos parte da família Soka. Saber que estamos cercados por bons amigos nos enche de confiança e de coragem.

No topo: uma religião confere esperança, propósito e significado à vida das pessoas (Itapevi, SP, nov. 2017)

Notas:

  1. Disponível em: https://www.worldvaluessurvey.org/wvs.jsp Acesso em: 20 jun. 2021.
  2. O Segredo para a Criação de “Valores Humanos”. In: Terceira Civilização, ed. 611, jul. 2019.