ROTANEWS176 E POR 11/08/2021 06:00 Por Mariana Quadros
Para Ale Monteiro e Andressa Osako, as pessoas gordas não só são minorias nos meios audiovisuais como também são vistas de forma estereotipada; representatividade segue sendo o caminho da inclusão
Reprodução/Foto-RN176 ativistas gordas – Reprodução
RESUMO
- Corpos gordos precisam receber a atenção das mídias e dar a eles personagens que vão além da pessoa triste que melhora ao emagrecer
- A gordofobia está estampada no dia a dia com cadeiras pequenas, catracas apertadas e roupas que vão até o GG
- O diretor artístico Ale Monteiro ressalta que a autoaceitação recebe um reforço quando pessoas gordas são retratadas de maneira natural em filmes, novelas e programas de TV
Embora a Pesquisa Nacional de Saúde informe que 60% da população Adulta do Brasil esteja fora do peso, pessoas gordas ainda são minorias nos meios audiovisuais: televisão, cinema e vídeo para internet. Para o diretor artístico e influencer Ale Monteiro, que já teve problemas de autoaceitação no passado, além da invisibilidade há um estereótipo de pessoas gordas veiculado em filmes, séries e novelas que reforçam uma imagem ridicularizada de pessoas gordas.
“Precisamos nos ver nos produtos que consumimos, como empresários, médicos, modelos e profissionais com uma vida normal. Não aquele estereótipo de gordo que se mostra nos raros momentos em que nos colocam nas telinhas: pessoas medrosas, tímidas, comedores compulsivos, com baixa autoestima. Ou os palhaços que fazem piada de tudo e acham normal serem humilhados”, explica o diretor.
Para a influencer Andressa Osako, a gordofobia se dá principalmente pela falta de representatividade nos meios audiovisuais. “Não temos muitos personagens gordos em novelas, filmes e séries e, quando temos, a grande maioria são personagens tristes por serem gordos, cuja vida muda (melhora) apenas com o emagrecimento”, comenta.
Já Ale Monteiro diz que a gordofobia no audiovisual é muito frontal, uma vez que ao ligar a TV e não se sentir representado ou visto já é sofrer com o preconceito. Ele menciona que não há super-herói gordo e que pessoas acima do peso nunca estão associadas à beleza ou ao poder. Envolvido no mundo artístico desde os 14 anos, o diretor artístico enxerga de perto como a busca pelo corpo perfeito impacta nas pessoas públicas.
“Vivo há muito tempo nesse mercado e sei o sofrimento de modelos e atrizes com a pressão de emagrecer, de não envelhecer. É muito cruel. Não acredito que é preciso sofrer para ser bonita”, comenta.
A gordofobia não diz respeito apenas aos padrões estéticos, mas a detalhes do cotidiano das pessoas gordas. Há várias denúncias de casos de preconceitos ou descasos por parte de médicos , além de instituições hospitalares que não contemplam os corpos gordos. Catracas, assentos e provadores feitos sem pensar na diversidade de tamanho das pessoas.
O diretor Ale comenta que até hoje ainda é alvo de comparação e chacota diariamente. “Recebo mensagens nas redes sociais elogiando meu rosto. Não é elogio dizer que tenho um rosto bonito. E sempre que excluem meu corpo na totalidade, já entendo que, para essa pessoa, o ideal de beleza é diferente do meu. Sofri muita pressão porque a gordura não combinava com a moda”, desabafa.
Antes da autoaceitação, Andressa também foi marcada duramente pelos preconceitos em relação ao seu peso. “Desde pequena eu ouvia piadinhas em relação ao meu peso, na adolescência só piorou porque eu era preterida também amorosamente. Então, eu não me sentia amada, digna, meu objetivo principal era emagrecer, fazendo inclusive com que eu me envolvesse numa relação abusiva por muito tempo”, debafa.
Desta forma, assim como as pautas sociais como machismo e racismo, Andressa Osako entende que a luta contra a gordofobia se dá principalmente pela busca por direitos e respeito. “Lutamos por cadeiras, camas e sofás que aguentem nosso peso, equipamentos hospitalares que englobem corpos maiores, roupas que caibam sem precisarmos ir a uma loja específica e pagar preços abusivos”, exemplifica.
A representatividade importa
Nos meios audiovisuais, a gordofobia se dá principalmente pela falta de representatividade e por estereótipos negativos atribuídos aos personagens gordos. De acordo com a Ale é preciso enfrentar a pressão estética que coloca há décadas o corpo magro como ideal, dando personagens às pessoas gordas nas novelas e filmes como bem resolvidas, bonitas e felizes por serem exatamente como são.
Além disso, segundo o diretor artístico, pessoas magras podem apoiar a causa tendo conscientização individual. “Minha vida inteira tive um corpo digno de comentários e se há uma coisa que viver na minha pele me ensinou foi que, se o corpo não é seu, você não tem direito de dizer nada. É muito fácil apontar dizendo faça dieta, exercícios… todos nós temos espelho em casa e sabemos o que pode implicar na nossa saude”, finaliza ele.