Sem jamais desistir

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  20/11/2021 07:50

RELATO

Carla Caciana encara os desafios convicta da vitória

Reprodução/Foto-RN176 Carla Caciana Leocádio Toledo, Responsável pela DFJ do Distrito Jardim Marilene (RM Diadema, CGSP) – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Nasci numa família budista e cedo passei a me empenhar nos grupos horizontais. Não fui um bebê desejado pelo meu pai, por isso cresci com sentimento de rejeição. O desejo de provar que eu não era um erro guiava todas as minhas escolhas, inclusive a de me tornar economista, como ele. Com o tempo, a prática budista e a terapia me ajudaram a compreender tanto os sentimentos dele quanto os meus. Hoje, desfrutamos uma relação harmoniosa e feliz.

Em 2016, aos 23 anos, percebi que parei de respirar do lado direito, repentinamente. Fui ao médico e, mesmo medicada, continuava sem respirar. Fui orientada a procurar um especialista que identificou a necessidade de cirurgia e recomendou que procurasse um profissional mais experiente. Após longa busca, encontrei um médico, o qual avaliou meus exames e suspeitou de câncer. Por vários meses, minha rotina era hospital, trabalho, faculdade e muitos medicamentos — ocasionando diversos efeitos colaterais. Certa ocasião, uma das médicas disse: “Talvez você não chegue aos 24 anos, mas o que quer fazer do tempo que lhe resta? Você é feliz?”.

Eu trabalhava em uma das maiores indústrias do país, com excelente ambiente de trabalho, um bom salário, mas não me sentia realizada. Comecei a questionar o motivo da minha existência. Não tinha medo de morrer jovem, mas de morrer infeliz. Fazia daimoku (recitação do Nam-myoho-renge-kyo) para compreender minha missão. Enfim, chegou o diagnóstico: os tumores eram benignos. Reagi bem ao tratamento e os médicos optaram por não fazer cirurgia.

Em 2017, decidi viver por um propósito: cuidar das pessoas de forma humanizada. Deixei meu emprego e fui duramente criticada, contudo, estava decidida e abracei as consequências. Trabalhei num call center, numa rotina muito difícil, mas imaginava que a cada atendimento era um paciente que precisava de acolhimento. Paralelamente, eu me dedicava aos estudos para o vestibular de medicina, porém, fui reprovada por dois anos.

Minha primeira atuação no Arco-Íris [grupo de tradutoras e intérpretes da Divisão Feminina de Jovens (DFJ) da BSGI], em 2019, aconteceu logo após as reprovações. Era um Gongyo Comemorativo alusivo aos 35 anos de fundação da Coordenadoria Cultural da BSGI, no qual ouvi relatos incríveis. Houve também uma mensagem do Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), enviada para a ocasião, na qual consta:

Reprodução/Foto-RN176 com as componentes do Grupo Arco-Íris .As fotos das atividades são de antes da pandemia da Covid-19 – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Mesmo diante das dificuldades e dos sofrimentos do carma, manifestem livremente sua sabedoria e seu potencial, transformando sem falta todo veneno em remédio. É possível transformar a vida da forma como ela é na condição de vida do Buda.1

Momento crucial

Saí da atuação determinada a vencer. Passei a fazer daimoku para criar as condições necessárias para cumprir minha missão. A situa­ção financeira não era favorável, mas “covardia” não estava mais no meu vocabulário. Decidi estudar em um dos melhores cursinhos de São Paulo. Consegui uma bolsa parcial, mas ainda assim a mensalidade era quase todo o meu salário. Fazia hora extra durante a semana e trabalhava aos sábados. Com sacrifício, pude pagar as mensalidades e as aulas de reforço de matemática e física aos domingos. Comia, dormia e estudava no ônibus, aproveitando cada minuto.

Reprodução/Foto-RN176 com as avós – Editora Brasil Seikyo – BSGI

No dia 28 de abril, minha avó materna cumpriu dignamente sua missão. Em nossa última conversa, ela me disse: “Carlinha, você vai mesmo fazer medicina?”. Convicta, respondi: “Sim, custe o que custar!”. Nos momentos em que tive vontade de desistir, lembrava do meu juramento. No dia 10 de novembro, assim que eu voltei do Enem, recebi a notícia de que minha avó paterna havia falecido e uma das últimas coisas que ela me disse foi que “minha aprovação estava próxima”.

A notícia da reprovação por pouquíssimos pontos chegou em 2020, mas me matriculei novamente no cursinho. Junto com minha mãe, recitamos um milhão de daimoku para a minha vitória. No segundo semestre, como não há oração sem resposta, venci treze reprovações e tornei-me aluna de medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ikeda sensei orienta: “Não desistir — esse é o único caminho. Se desistirem serão derrotados”.2

Reprodução/Foto-RN176 Carla com a família – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Devido à pandemia, as aulas (on-line) só começaram em 2021, quando voltei a ter dificuldade para respirar do lado direito. Porém, desta vez, passei por alguns procedimentos cirúrgicos em maio. O estudo a distância me permitiu continuar frequentando as aulas no pós-operatório. Nesse período, realizei um trabalho em grupo sobre “mecanismos moleculares de resistência a quimioterápicos”, único a obter nota máxima. Apoiados por um professor, estamos tentando publicá-lo numa revista científica. Apesar dos obstáculos, concluí o primeiro ano com boas notas, agora, já no Rio de Janeiro!

Os desafios são diários, mas não desisto porque sentir dificuldade é diferente de não ter capacidade. Agradeço ao Mestre, à minha família, aos meus amigos e a toda a família Soka pelo companheirismo e pela inspiração.

Reprodução/Foto-RN176 com as integrantes da DFJ do Distrito Jardim Marilene – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Nosso mestre declara:

No curso da vida, você está fadado a enfrentar todos os tipos de adversidades. Algumas vezes, poderá se ver sem alternativas. É por essa razão que precisa fortalecer sua fé e recitar daimoku com seriedade. Por mais difícil que possa ser, quando galgar a montanha do seu carma, um novo horizonte se abrirá amplamente diante de você. A prática budista é uma repetição desse processo. Um dia atingirá um estado de felicidade absoluta que jamais será destruído.3

Carla Caciana Leocádio Toledo, 28 anos, estudante. Responsável pela DFJ do Distrito Jardim Marilene (RM Diadema, CGSP).

Notas:

  1. Brasil Seikyo, ed. 2.456, 16 fev. 2019.
  2. Idem, ed. 2.157, 24 nov. 2012.
  3. Idem, ed. 2.275, 16 maio 2015.