Vitória sobre as dificuldades

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  04/12/2021 10:12

REDE DA FELICIDADE

Este trecho do romance Nova Revolução Humana, de autoria do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, narra os fatos que marcaram a jornada desafiadora de um grupo de treze membros da BSGI, em abril de 1964, para participar, no Japão, das atividades comemorativas da inauguração do Grande Salão de Recepção (Daikyakuden) do templo principal e alusivas ao sétimo aniversário de falecimento do segundo presidente da Soka Gakkai, Josei Toda.

Reprodução/Foto-RN176 Ilustração retrata reunião dos membros brasileiros a bordo do navio Argentina Maru a caminho do Japão – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

  1. DAISAKU IKEDA

O primeiro grupo do Brasil, constituído de cinco membros, chegou de avião no dia 26 de março. O segundo grupo, formado por 13 pessoas, desembarcou no Porto de Yokohama em 5 de abril. Nessa época, a passagem aérea de São Paulo a Tóquio custava em torno de 1,5 mil dólares, e a viagem marítima, aproximadamente quinhentos dólares.

O grupo do Brasil era composto por japoneses e seus descendentes. Eram imigrantes que, nesse país, construíram a base de sua vida a partir do zero até conseguirem criar as condições mínimas para participar da peregrinação. Enfrentaram naturalmente muitas dificuldades ao conseguir o dinheiro para as despesas da viagem.

O navio Argentina Maru partiu do Porto de Santos no dia 25 de fevereiro levando a bordo os 13 membros do Brasil, liderados por Manzo Koyama.

Koyama era responsável de comunidade. Dois anos após converter-se ao Budismo Nichiren, em 1956, ele emigrou para o Brasil com o intuito de trabalhar na lavoura. A vida que encontrou na nova terra foi muito mais difícil do que imaginara.

Em outubro de 1960, por ocasião da primeira visita do presidente Yamamoto ao Brasil, Koyama ouviu suas orientações e decidiu: “Comprovarei infalivelmente os benefícios da prática da fé em minha vida e irei ao Japão por ocasião da cerimônia do sétimo ano de falecimento do presidente Toda!”. Como ele tinha experiência no cultivo de flores, resolveu plantar palmas-de-santa-rita. Os agricultores da vizinhança não deram muito crédito ao sucesso desse tipo de cultivo. Apesar disso, as plantas cresceram normalmente e Koyama já estava esperando uma boa colheita. Entretanto, uma inesperada geada arrasou praticamente toda a plantação. Koyama ficou desesperado. A única fonte para sustentar sua família e pagar a viagem para o Japão havia desaparecido numa única madrugada. Vencendo o desespero, ele orou fervorosamente a fim de encontrar uma saída para a terrível situação. Quando foi vender as flores que não haviam sido atingidas pela geada, teve uma grande surpresa. O preço alcançou um grande aumento por falta de flores no mercado justamente devido à geada. Com essa inesperada reviravolta, Koyama conseguiu reservar o dinheiro da viagem e partiu com toda a alegria do Porto de Santos.

Todos os demais membros do grupo também passaram por uma experiência semelhante. Ninguém estava viajando em condições econômicas favoráveis. Eles economizaram ao máximo e alguns financiaram a passagem em longas prestações.

Só a viagem marítima durava em média quarenta dias, o que significava que levariam o mesmo tempo para voltar, além do período de permanência no Japão. Não era fácil deixar o trabalho por tanto tempo. Contudo, a decisão de participar da cerimônia do sétimo ano de falecimento de Toda e o desejo de encontrar o presidente Yamamoto superavam quaisquer desafios.

Eles estavam imbuídos do espírito de aprender a prática da fé com os membros do Japão e procuraram aproveitar o tempo livre da viagem para realizar reuniões e estudar algumas orientações. Realizaram duas reuniões por semana, uma para homens e outra para mulheres; e, no domingo, uma reunião de palestra com a participação dos 13 componentes. Estudavam as escrituras do buda Nichiren Daishonin duas vezes por dia, uma de manhã e outra à tarde. (…)

A travessia foi muito turbulenta. O navio balançava tanto que era impossível manter-se em pé. Era preciso agarrar-se em algo fixo para não ser atirado ao chão. Na hora da refeição, as pessoas não podiam se sentar nem colocar pratos na mesa.

As enormes ondas pareciam engolir o navio. Todos sofreram intensamente de enjoo e não conseguiram comer nada. A maioria ficou acamada, sentindo fraqueza. Na hora do gongyo, somente duas ou três pessoas conseguiam se levantar.

Eles resolveram então cancelar as reuniões e o estudo dos escritos de Nichiren Daishonin por alguns dias até que o mar se acalmasse.

Numa tarde em que o navio não parava de balançar, Manzo Koyama, encostado na parede de seu camarote, disse aos companheiros:

— Esta viagem de navio parece a jornada do kosen-rufu. Existem dias em que singramos por um mar calmo, mas enfrentamos também dias turbulentos, com as ondas tentando engolir o navio. Pensando bem, o presidente Yamamoto está comandando o navio chamado Soka Gakkai pela rota do kosen-rufu mesmo nos dias tempestuosos.

Ouvindo essas palavras, um dos membros do grupo percebeu que estava sendo fraco diante das turbulências e sugeriu:

— Vamos realizar uma reunião de palestra? Mesmo que o navio balance terrivelmente, de nada adiantará ficarmos apenas deitados na cama. Se chegarmos desse jeito ao Japão, será vergonhoso para todos nós.

E uma senhora completou a sugestão:

— Ele está certo. Vamos colocar uma foto do presidente Yamamoto na parede como se ele estivesse participando conosco.

— É uma boa ideia. Com certeza, vamos nos sentir mais encorajados.

Embora o navio ainda balançasse, todos os 13 membros do grupo se reuniram animadamente para renovar a decisão.

No começo, os demais passageiros não viam com bons olhos esses encontros que os membros do Brasil realizavam a bordo. Achavam que era um grupo estranho, que recitava orações de manhã e à noite, além de cantar batendo palmas. Quando souberam que eram membros da Soka Gakkai, alguns começaram a comentar que eram praticantes de uma religião violenta, cujos seguidores eram apenas pobres e doentes. Entretanto, à medida que se conheceram melhor com contatos quase diários dentro do navio, os passageiros começaram a mudar de opinião, cativados pela alegria e cordialidade demonstradas pelos membros do Brasil. Sentiram também que a reunião de palestra era cheia de alegria, pois todos trocavam incentivos e encorajamentos.

Reprodução/Foto-RN176 embarcação enfrenta mares tempestuosos para chegar a seu destino – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Com o passar dos dias, alguns passageiros, manifestando o desejo de conhecer melhor a Soka Gakkai, começaram a participar espontaneamente da reunião de palestra, chegando até mesmo a decidirem abraçar o budismo.

O estudo dos escritos foi realizado durante toda a viagem. Quando faltavam alguns dias para a chegada a Yokohama, foi promovido um exame simulado.

Desde o dia em que recebeu a informação de que os membros do Brasil haviam zarpado de Santos em 25 de fevereiro, Shin’ichi Yamamo­to orou seriamente pela saúde de todos durante a longa viagem. Com a aproximação do dia da chegada, ele organizou uma comissão de recepção para atendê-los da melhor forma possível.

Nas primeiras horas da manhã do dia 5 de março, o navio Argentina Maru já estava próximo de Yokohama aguardando a hora para aportar no cais, às 9h30. Os membros não conseguiram dormir naquela noite, ansiosos por ver o Japão depois de muitos anos. Quando começou a clarear, eles saíram dos camarotes e viram ao longe a silhueta ainda escura de sua terra natal. Um deles trouxe uma faixa com os dizeres “Soka Gakkai — Distrito Geral da América do Sul”.

Por volta das 7h30, uma lancha saiu do Porto de Yokohama em direção ao navio e parou próximo da faixa. Acenando as mãos, uma das três pessoas da lancha gritou para eles:

— Vocês são membros da Soka Gakkai do Brasil? Sejam bem-vindos ao Japão!

Ele era um dos líderes encarregados de recepcionar o grupo do Brasil.

Os membros responderam acenando efusivamente. A ansiedade transformou-se em emoção e as lágrimas começaram a cair sem parar pelo rosto queimado pelo sol.

Quando o navio atracou ao cais às 9h40, todos ouviram a Canção da Paz Mundial. Era o coro de recepção formado por trezentos membros de Yokohama.

Os olhos encheram-se de lágrimas novamente. Eles também cantaram com altivez, movendo as mãos para acompanhar o ritmo da canção. O cansaço da viagem desapareceu de imediato.

Do alto do navio, Koyama agradeceu pelas inesperadas boas-vindas.

— Muito obrigado pela recepção. Nós, 13 membros do Brasil, chegamos enfim a este saudoso Japão. Foi uma travessia muito árdua, principalmente por nenhum de nós ter condições econômicas para fazer esta viagem. Porém, o desejo de vir ao Japão e de se encontrar com o presidente Yamamoto foi o que nos trouxe até aqui após quarenta dias no mar. Não foi fácil conseguir dinheiro para viajar e deixar o trabalho por tanto tempo, além de o enjoo ter sido terrível. Entretanto, ao sermos recepcionados tão calorosamente pelos senhores, companheiros de Yokohama, todas essas dificuldades já são boas lembranças. Nosso coração está agora revigorado e repleto de ânimo e alegria.

Koyama estava tão emocionado que quase não conseguia falar. Ele enxugou as lágrimas, respirou fundo e prosseguiu:

— Todos nós estamos muito felizes. Não esperávamos ser recepcionados de forma tão calorosa mesmo antes de pôr os pés em nossa terra natal. Prometemos a todos os senhores que vamos aperfeiçoar nossa prática da fé durante a permanência no Japão para criarmos uma nova onda do kosen-rufu no Brasil. Muito obrigado. Contamos com o apoio dos senhores.

Após essas palavras, os membros do Brasil começaram a desembarcar em meio à intensa salva de palmas. Eles receberam abraços e apertos de mãos no cais, iniciando o primeiro intercâmbio com os membros do Japão.

Shin’ichi Yamamoto recepcionou os membros do Brasil no templo principal.

— Sejam bem-vindos após essa longa viagem!

Ele estendeu a mão e cumprimentou cada um.

— Estão todos bem de saúde? Estou me lembrando de alguns de vocês…

Reprodução/Foto-RN176 Shin’ichi Yamamoto recebe os membros do Brasil – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

A maioria havia se encontrado com Shin’ichi em sua primeira visita ao Brasil em outubro de 1960. E ele estava se lembrando do encontro que mantivera com cada um.

Ao ver o rosto de Koyama, Shin’ichi cumprimentou-o com muita satisfação, passando o braço em volta do seu ombro.

— Seja bem-vindo. Estava aguardando ansiosamente o encontro com o senhor. Será que não terá dificuldades por deixar o trabalho durante tanto tempo?

— Por favor, não se preocupe. Meus filhos estão cuidando do serviço.

— Quando retornarem para casa, transmitam minhas melhores recomendações a seus familiares. O fato de virem ao Japão imbuídos de forte espírito de procura é semelhante ao ato de plantar a semente da felicidade e do desenvolvimento na prática da fé. Ao mesmo tempo, os senhores estão criando a causa para o grande progresso de seu país. Com toda a certeza, o Brasil será, no futuro, o modelo do kosen-rufu mundial. Porém, terão de enfrentar muitas adversidades nessa jornada. Quando conseguirem vencer cada uma delas, verão que avançaram muito em direção ao horizonte da felicidade. Por isso, haja o que houver, jamais abandonem a prática da fé e nunca se afastem da Gakkai. Assim construirão a própria felicidade. Eu irei novamente ao Brasil. Até lá, acumulem benefícios e boa sorte na vida.

Reprodução/Foto-RN176 Livro Ikeda, Daisaku. Nova Era Revolução Humana – Editora Brasil Seikyo

Todos estavam emocionados com o tão esperado encontro com o presidente Yamamoto. Foi por esse motivo que eles haviam enfrentado e superado as adversidades. Todos choravam de profunda emoção.

Uma senhora disse com lágrimas nos olhos:

— Eu vendi de porta em porta as flores que plantei no meu sítio. Guardei esse dinheiro e consegui finalmente vir ao Japão.

— A senhora deve ter passado por muitas dificuldades. Porém, isso já é passado. O importante é que a senhora está aqui junto conosco. Isso é vitória. A senhora venceu e será muito feliz no futuro. Daqui a dez anos, venha novamente ao Japão.

Reprodução/Foto-RN176 logotipo Rede da Felicidade – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Shin’ichi aproveitou cada momento para incentivar os membros do Brasil, fincando no coração deles a forte cunha da prática da fé. Ele procurou encorajá-los ao máximo, prometendo um reencontro em terras brasileiras.

No topo: ilustração retrata reunião dos membros brasileiros a bordo do navio Argentina Maru a caminho do Japão.

O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.

Fonte:

IKEDA, Daisaku. Nova Era. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 9, p. 25-32.