Música e educação em prol da paz

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  09/12/2021 07:36

RELATO

Reprodução/Foto-RN176 Jeison Wilde de Jesus Queirós, Responsável pela DS da Comunidade Cabula (Sub. Bahia, CGRE) com Mariane do Carmo, sua namorada, e o filho, Ayo – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Nasci numa família de praticantes do Budismo de Nichiren Daishonin, membros da Soka Gakkai. Iniciei minha trajetória ao entrar na banda Taiyo Ongakutai da Divisão Masculina de Jovens (DMJ), com a qual me identifiquei de imediato por ser apaixonado por música. Fui alfabetizado por minha mãe, professora Hamilta Queiroz, que também me incentivou à cultura, mas o reforço nos estudos veio do meu pai, José Queiroz.

O tempo passou e comecei sentir a necessidade de trabalhar. Minha mãe e eu sempre conversamos bastante e, certa vez, ela disse: “Um homem tem de saber fazer de tudo”. Trabalhei em vários empregos, mas nenhum me completou. Minha mãe possui uma creche escola comunitária e eu sempre estava por perto para ajudar no que precisasse. Surgiu então a oportunidade de prestar vestibular para pedagogia na Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Na época, eu fazia um curso de extensão em música na Universidade Federal da Bahia (UFBA), sonhando em viver como músico. Ver de perto as dificuldades enfrentadas por profissionais da área foi importante na minha decisão de fazer o concurso para pedagogo, uma das melhores escolhas que já fiz.

Música, pedagogia e Ayo

Reprodução/Foto-RN176 No desfile do Sete de Setembro, representando o Taiyo Ongakutai (antes da pandemia) – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Eu me identifiquei muito com o curso e não estou dizendo que prefiro pedagogia a música, mas alfabetizar é um trabalho lindo. Enquanto cursava pedagogia, trabalhava com minha mãe na creche e dava aulas de percussão no interior, pondo em prática tudo o que aprendi quando fiz parte da banda mirim do Olodum e com o saudoso mestre da música baiana Neguinho do Samba. Aliás, foi por intermédio dele que toquei no Pelourinho junto com outras crianças na gravação de um clipe do astro Michael Jackson e fiquei conhecido como o menino que dançou com ele, no vídeo.

Trabalhei em algumas escolas e, numa delas, em especial, a diretora me deixava livre para conduzir minhas aulas. Fiz um excelente trabalho de expansão cultural nessa escola particular. Infelizmente, a instituição fechou, pois os alunos migraram para uma escola municipal inaugurada ali perto. Surgiu então a oportunidade de dar aula de música em outro estabelecimento de ensino particular, no qual aprendi bastante, inclusive a lidar com bebês. Nessa época, meu filho, Ayo, nasceu. O dinheiro era pouco para manter a família e tive de deixar a escola e buscar outro trabalho. Voltei para o telemarketing e fui demitido após três meses. Continuei procurando trabalho, mas sem sucesso. Estava prestes a me desesperar quando a mãe do meu filho conseguiu um emprego e “segurou a onda” por um ano. Enquanto isso, eu cuidava de Ayo e estudava para concursos. Passei em alguns, mas nunca fui chamado. Esse foi um dos motivos que desgastaram meu relacionamento, ocasionando separação.

Reprodução/Foto-RN176 Com o filho Ayo – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Decidi trabalhar temporariamente como motorista de aplicativo e, com o apoio da minha mãe, compramos um carro. Quando as coisas começaram a dar certo, fui roubado e levaram o veículo cujo seguro estava atrasado. Como não há oração sem resposta, encontramos o carro, um pouco avariado, porém perdi os instrumentos musicais que estavam dentro dele. Apoiado por um amigo, concertei o veículo e voltei a trabalhar.


Daimoku
 e amigos

Quando as contas estavam quase em ordem, veio a pandemia. Sem clientes, não conseguia pagar as parcelas do carro e decidimos vendê-lo. A situação apertou e recebi o apoio dos amigos, com incentivos e daimoku, o que foi crucial para me recuperar. Após a venda do veículo, a energia da minha casa foi cortada, a geladeira queimou e várias outras coisas aconteceram.

Sonhava fazer mestrado, conquistar um emprego melhor, sem sucesso. Desempregado, aceitei um trabalho totalmente fora da minha área, durante o qual chorava muito. Tinha vergonha da minha mãe e me perguntava se Ayo teria orgulho de mim.

Reprodução/Foto-RN176 Com a mãe, Hamilta, e a irmã, Víviam – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Recebi a seguinte orientação: “Você não pode perder para aquilo que depende de você”. Percebi que precisava me esforçar e recitar muito mais daimoku. Passei a acordar mais cedo para orar e me dedicar mais à busca pelo emprego. Participava das atividades da Gakkai e, mesmo estando péssimo por dentro, tinha certeza da vitória como um digno discípulo do Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI). Mariane do Carmo, minha namorada, foi uma grande parceira de daimoku.

Quando menos imaginávamos, abriu novamente a inscrição para mestrado e, em seguida, um concurso para lecionar música. Senti que era a oportunidade que eu precisava. Fiz todo o processo outra vez, e, apesar de várias dificuldades e de dormir apenas três horas por noite, fui aprovado para o mestrado da UFBA e também no concurso.

Apesar das dificuldades, 2021 foi um ano de grandes vitórias. Eu me baseio sempre nas orientações de Ikeda sensei e agradeço por ele ter trazido esse maravilhoso ensinamento para o Brasil. Agradeço também aos meus familiares e amigos, que estavam comigo em todos os momentos, e à Mariane, que foi um farol quando mais precisei. Finalizo esse relato com um trecho do Gosho, em que Nichiren Daishonin declara:

Reprodução/Foto-RN176 Com seus irmãos e o pai, José Queiroz – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Sofra o que tiver que sofrer, desfrute o que existe para ser desfrutado. Considere tanto o sofrimento como a alegria como fatos da vida e continue recitando Nam-myoho-renge-kyo, independentemente do que aconteça. Que outro significado isso poderia ter senão a alegria ilimitada da Lei?1

Jeison Wilde de Jesus Queirós, 37 anos, músico e pedagogo. Responsável pela DS da Comunidade Cabula (Sub. Bahia, CGRE).

Nota:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, v. I. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2014. p. 713.

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