Chineses são humilhados publicamente por violar regras de combate à Covid

ROTANEWS176 E POR CNN  30/12/2021 17:22                                                                                                        Por Nectar Gan

 Ato gerou reação negativa nas redes sociais chinesas, relembrando período sombrio da Revolução Cultural

Reprodução/Foto-RN176 Bandeira nacional chinesa em Pequim, China, em 29 de abril de 2020. REUTERS/Thomas PeterReuters

A polícia no sul da China fez um desfile pelas ruas com quatro suspeitos de ajudarem pessoas a atravessar fronteiras fechadas, o que configura violação das medidas de controle da Covid-19 — um ato polêmico de humilhação pública que desencadeou reações nas redes sociais chinesas.

Na terça-feira (28), quatro pessoas vestindo macacões, máscaras faciais e óculos de proteção desfilaram na cidade de Jingxi, na província de Guangxi, cada uma carregando cartazes com seus nomes e fotos no peito e nas costas, de acordo com vídeos compartilhados nas redes sociais e republicados pela mídia estatal.

Cada suspeito foi conduzido por dois policiais, que também estavam vestidos com macacões e protetores faciais. Eles estavam dentro de um círculo de autoridades, sendo que alguns oficiais seguravam metralhadoras e equipamento de choque, enquanto uma grande multidão observava.

As quatro pessoas são suspeitas de ajudar outros indivíduos a cruzar ilegalmente as fronteiras da China, que foram em grande parte fechadas durante a pandemia como parte da “política de Covid zero” do país, de acordo com o jornal estatal Guangxi Daily.

A punição teve como objetivo deter crimes relacionados à fronteira e encorajar o cumprimento público das medidas de prevenção e controle de epidemias, segundo o veículo estatal.

Na terça-feira, as autoridades em Jingxi prenderam formalmente dois suspeitos acusados de transportar dois imigrantes vietnamitas para a China em outubro.

Um dos imigrantes testou positivo para coronavírus, fazendo com que escolas fechassem, quase 50 mil residentes fossem submetidos a isolamento domiciliar e mais de 10 mil testes fossem realizados, de acordo com um relatório no site do governo Jingxi. Não está claro se os dois suspeitos estavam entre as quatro pessoas que desfilaram na terça-feira.

Ecos da Revolução Cultural

As cidades fronteiriças enfrentam uma tremenda pressão para manter o coronavírus afastado sob a rigorosa política de Covid zero da China, com as autoridades locais periodicamente demitidas ou punidas por não conterem qualquer surto que evite as medidas rígidas.

Jingxi, uma cidade com cerca de 670 mil habitantes, compartilha uma fronteira de 152 quilômetros com o Vietnã. Na província vizinha de Yunnan, a cidade de Ruili foi repetidamente bloqueada durante meses no início deste ano devido a casos importados da Covid, gerando protestos dos residentes locais.

Desde terça-feira, vídeos da humilhação pública em Jingxi ganharam grande atenção nas redes sociais chinesas, atraindo muitas críticas. Para muitos, o desfile e os cartazes remetem ao período sombrio da Revolução Cultural.

Cinco décadas atrás, humilhações públicas eram uma marca registrada das perseguições desencadeadas pelos fervorosos guardas vermelhos de Mao Zedong, tornando-se um símbolo da ilegalidade e do caos daquela década de turbulência social.

Em 1988, o governo chinês proibiu humilhações públicas para todos os criminosos suspeitos e condenados, incluindo aqueles condenados à morte. Mas incidentes semelhantes ocorreram repetidamente ao longo dos anos, gerando críticas da mídia estatal — e mais notícias reiterando a proibição do governo.

A própria mídia estatal criticou o desfile de terça-feira. O Global Times, um tablóide nacionalista, citou um professor de direito dizendo que a humilhação pública em Jingxi “viola a lei chinesa” e “insulta a dignidade dos cidadãos”.

O Beijing News, outro veículo estatal, disse que a medida “viola gravemente o espírito do Estado de Direito” e não deveria acontecer mesmo sob forte pressão da prevenção de epidemias.

Enquanto isso, a polícia de Jingxi e o governo local defenderam o ato, alegando que se tratava de uma “atividade de advertência disciplinar no local” e que não havia “inadequação”, de acordo com o jornal estatal Zhengzhou Daily. Esta não é a primeira vez que as autoridades de Jingxi exibem e humilham suspeitos.

Em novembro, três pessoas acusadas de contrabando de pessoas foram apresentadas em um palco enquanto um oficial lia suas punições para uma audiência de centenas de indivíduos, incluindo estudantes do ensino fundamental, de acordo com um relatório no site do governo de Jingxi.

(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original)