ROTANEWS176 E POR CORREIO BRASILIENSE 09/02/2022 17:01 Por Talita de Souza
O assassino teve apoio do pai e do irmão da mulher para cometer o ato, conhecido como “assassinato de honra”
Reprodução/Foto-RN176 Homem sorriu ao mostrar a cabeça da mulher nas ruas do Irã, enquanto segurava uma faca. Mona tinha apenas 17 anos – (crédito: Iran International)
Uma iraniana de 17 anos teve a vida ceifada pelo esposo ao ser decapitada pelo homem, no último sábado (5/2). Mona Heydari foi morta pelo esposo, com quem era casada desde os 13 anos, após uma tentativa falha de fugir do país — e do casamento. O assassino teve apoio do pai e do irmão da mulher para cometer o ato, conhecido como “assassinato de honra”. Após o crime, a cabeça de Mona foi exibida pelo esposo nas ruas da cidade de Ahvaz, no sudoeste do Irã, em uma ação filmada e compartilhada nas redes sociais.
De acordo com a imprensa local, Mona fugiu para a Turquia mas foi encontrada pelo pai, que a levou de volta ao marido. O esposo de Mona é, também, primo dela e sobrinho do pai.
Juntos, o pai, o marido e o irmão de Mona decidiram que o homem poderia cometer o denominado “assassinato de honra”. O ato é “permitido” pela Lei Sharia, em que os “donos de sangue”, aqueles com laços sanguíneos com a pessoa acusada de crime, podem exigir a execução do ente querido após cometer alguma atitude que trouxe “vergonha” para a família.
As imagens do “desfile macabro” foram compartilhadas pela agência de notícias Rokna, do Irã, que foi proibida de fazer jornalismo dentro do país pelo órgão de vigilância da mídia iraniana. Após a repercussão do caso, o marido e o irmão da mulher foram presos. A polícia não divulgou o nome dos homens.
A tragédia causou revolta no país. Jornais reformistas exigiram uma mudança na legislação iraniana. “Um ser humano foi decapitado, sua cabeça foi exposta nas ruas e o assassino ficou orgulhoso. Como podemos aceitar uma tragédia dessas? Devemos agir para que o feminicídio não volte acontecer”, pontuou o jornal Sazandegi em um editorial.
Elham Nadaf, membro do parlamento iraniano, afirmou que o crescente número de casos é resultado da falta de meios para cumprir as leis. “Infelizmente, estamos testemunhando tais incidentes porque não há medidas concretas para garantir a implementação de leis para prevenir a violência contra as mulheres”, declarou à agência de notícias local ILNA.
Uma cultura feminicida: crimes contra mulheres cresceram no Irã
De acordo com o veículo de imprensa Iran International, os crimes de honra são predominante sem algumas partes do país, “principalmente devido a crenças sociais e às leis frouxas da República Islâmica, além de sentenças leves que incentivam o comportamento”.
Reprodução/Foto-RN176 Fatemeh Barahi, de 19 anos, também foi decapitada pelo marido em junho de 2020 após fugir do casamento que ocorreu sem o consentimento dela(foto: Daily Mail)
“Cerca de 60 mulheres foram vítimas de crimes de honra nos últimos dois anos, incluindo algumas com 10 ou 15 anos de idade. Nenhum dos assassinos foi levado à Justiça, pois a maioria das famílias nem sequer entrou com uma ação judicial”, declarou o jornal Iran International ao repudiar a morte de Mona.
Em junho de 2020, por exemplo, duas jovens foram mortas por esse tipo de assassinato. Rehaneh Ameri, da cidade de Kerman, no centro-sul do Irã, foi espancada com uma barra de ferro pelo pai, mas não morreu no momento. Ela veio à óbito quase 24 horas depois por sangrar até a morte enquanto agonizava no local em que o pai a deixou.
Na mesma semana, Fatemeh Barahi, de 19 anos, foi decapitada pelo marido após fugir dele após um casamento forçado. O marido de Fatemeh se entregou à polícia e disse que havia cometido o crime “devido à infidelidade” de sua esposa.
De acordo com a imprensa local, embora o número exato de crimes de honra no Irã não seja conhecido, um oficial da polícia de Teerã disse anteriormente que eles representam cerca de 20% dos assassinatos do Irã.