Gosho, base para o avanço e a felicidade

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  14/04/2022 19:35

ESPECIAL / REDAÇÃO

Às vésperas do 70o aniversário de publicação da primeira edição da Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin (Gosho Zenshu) em japonês, os ensinamentos contidos na obra abrem o caminho para a solução das questões da vida e dos desafios da humanidade

Reprodução/Foto-RN176 Ikeda sensei em sua juventude durante a revisão e correção das provas de Gosho Zenshu. Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editorial Brasil Seikyo – BSGI 

O presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, escreveu certa vez:

O Gosho é um escrito eterno. É um brado do próprio Buda Nichiren Daishonin. É um clamor de verdade e justiça — o poderoso rugido do leão —, que Nichiren Daishonin deixou para nós, praticantes do Sutra do Lótus nos Últimos Dias da Lei. Ele brada vigorosamente: “Lutem com coragem e nunca abandonem a fé!”, “Adornem a vida com triunfos!”, “Derrotem o mal decididamente!” É por isso que todos nós, como discípulos de Nichiren Daishonin, devemos nos perguntar com seriedade, sempre que lermos o Gosho: “De que forma viverei minha vida? Como lutarei em prol do kosen-rufu?”.

Não devemos ler o Gosho como algo que diz respeito a outras pessoas nem como registro de um fato ocorrido há muito tempo. Mas, sim, devemos ler como algo que está diretamente relacionado a nós e ao presente. Pôr o Gosho em prática para vencer os desafios é o correto caminho da unicidade de mestre e discípulo; isso é ler o Gosho com a própria vida.

É importante gravarmos profundamente as palavras do Gosho no coração — mesmo que seja apenas uma frase que toque bem fundo. Durante a leitura, sintam como se o Gosho tivesse sido escrito especialmente para vocês. A partir desse momento, realizamos constantes e renovados esforços pelo kosen-rufu com uma firme fé.1

A escrita contém em si o espírito e a vida do autor. Daí se conclui que, ao lermos o Gosho, recebemos orientações diretamente de Nichiren Daishonin. Seguindo esse raciocínio, entende-se a razão de o presidente Ikeda sempre incentivar os membros a estudar o Gosho todos os dias. Dessa forma, cria-se uma ligação com a condição de vida elevada de Nichiren Daishonin. Por essa razão, a Soka Gakkai avança porque está unida com o mesmo espírito do Buda.
Legado aos discípulos

Nichiren Daishonin confiou muitos de seus escritos ao seu discípulo e sucessor Nikko Shonin, inclusive os mais importantes, que fundamentam toda a filosofia do Budismo Nichiren. Além disso, ele compilou todas as explanações que ouvia do Buda. Ele se dedicou a reunir e a reproduzir esses escritos e os denominou Gosho — literalmente, “escritos honoráveis”.

Séculos depois, na era Meiji [1868-1912], foram impressas diversas publicações referentes ao Gosho por várias escolas budistas, com exceção do clero da Nichiren Shoshu, que não lançou uma única obra. As obras publicadas por essas seitas estavam repletas de erros, os quais distorciam os fundamentos originais dos ensinamentos de Nichiren Daishonin. Isso em razão da falácia de não reconhecê-lo como Buda dos Últimos Dias da Lei. Como a Nichiren Shoshu não tinha sua versão do Gosho, não havia alternativa para os membros a não ser utilizar uma obra publicada pela seita Minobu, que, inclusive, era muito cara.

Mesmo diante dessa situação absurda, o clero da Nichiren Shoshu não demonstrava o menor interesse na publicação do Gosho que expressasse o verdadeiro desejo do Buda dos Últimos Dias da Lei.

Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos líderes da Soka Gakkai abandonaram a prática e traíram o primeiro presidente da organização, Tsunesaburo Makiguchi. Por que agiram dessa maneira? O segundo presidente Josei Toda concluiu que eles não tinham como base o estudo do budismo. Ele compreendeu que seria vital desenvolver uma luta que tivesse como fundamento o Gosho.

Como se não bastasse, temendo uma possível opressão pelas autoridades, o clero emitiu um comunicado que proibia a publicação do Gosho, chegando a ponto de apagar catorze frases que poderiam desagradar o governo militar.

Nessa época, os clérigos tentaram ainda obrigar a Soka Gakkai a adotar o talismã xintoísta. Tsunesaburo Makiguchi e Josei Toda recusaram-se terminantemente a fazê-lo e também advertiram o clero que aquele era o momento para admoestar o governo. Ambos foram presos pelo governo militarista. Makiguchi sensei faleceu na prisão e Toda sensei foi libertado ao final da guerra, iniciando a reconstrução da Soka Gakkai.

Vencendo os desafios

Em 1950, as empresas de Josei Toda passavam por grave crise financeira, como consequência da guerra. Sua cooperativa de crédito havia recebido uma ordem para suspender as atividades. Para que os problemas não impactassem a organização e os membros, em agosto daquele ano, ele renunciou ao cargo de diretor-geral da Soka Gakkai.

À medida que os problemas se agravavam, Josei Toda se preparou para o pior, pois sua saúde ainda era frágil e corria risco de morte. Diante disso, ele tomou atitudes para proteger a organização. Daisaku Ikeda corajosamente assumiu a responsabilidade por liquidar as empresas, quitar todas as dívidas do seu mestre e reerguer os empreendimentos dele.

A consciência de reconhecer Josei Toda como mestre espalhou-se entre os membros da Soka Gakkai graças aos esforços do fiel discípulo. Conforme esse sentimento se intensificou, criou-se o ambiente propício para que Josei Toda assumisse a presidência em 3 de maio de 1951.

Naquele momento, ele determinou a publicação da coletânea completa dos escritos de Nichiren Daishonin. Afinal, o avanço do kosen-rufu dependia da correta divulgação dos escritos e tratados do Buda, os quais continham a essência do Sutra do Lótus. Começava ali uma jornada de desafios, união e vitórias.

Em 1951, a Soka Gakkai era composta por cerca de 4 mil membros que estavam reconstruindo a própria vida, assolada em decorrência da devastação da Segunda Guerra Mundial. Publicar o Gosho nessas condições era algo que beirava o impossível. Providenciar materiais, recrutar pessoas para a editoração e angariar recursos financeiros… Essas eram questões de difícil solução.

Enquanto isso, Daisaku Ikeda se empenhava inteiramente na reconstrução das empresas de Josei Toda e também da Soka Gakkai, entregando-se de corpo e alma ao objetivo da concretização de 750 mil famílias na organização lançado por Toda sensei.

Compreendendo a importância da publicação do Gosho como um marco para o futuro do kosen-rufu, o presidente Josei Toda, que sempre acreditou no potencial dos jovens, convidou representantes da DJ para trabalhar na revisão dos textos da obra. O líder tinha como característica não desperdiçar nenhum momento. Por isso, esse convite era a oportunidade de treinar diretamente os jovens para que aprendessem a profunda filosofia do Budismo de Nichiren Daishonin.

A fase da edição do Gosho ficou resolvida sob a liderança do presidente Josei Toda e com seu leal discípulo sempre ao seu lado. Quem participava dos trabalhos ficava impressionado com a seriedade de Toda sensei.

Após acertar os detalhes para a edição do Gosho e com uma equipe formada, foi preciso escolher o tipo do papel para impressão, a capa e a fonte para o título. Com o desejo de fazer tudo perfeito, o presidente Josei Toda cuidou desses detalhes pessoalmente, dizendo: “São os importantes escritos de Nichiren Daishonin. Quero, portanto, o que há de melhor”. Quando Toda sensei não podia agir diretamente, era o jovem Daisaku Ikeda quem o substituía.

Em meio a tudo isso, os trabalhos para a publicação do Gosho caminhavam bem. Era chegada a importante fase da revisão. Na sala, havia uma grande mesa, à qual o presidente Josei Toda se sentava numa das extremidades. Era difícil prever o fim das correções e os erros não eram permitidos.

Em dezembro de 1951, os trabalhos de correção estavam em ritmo acelerado. No dia 28, a edição do Gosho que pertencia ao primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, foi devolvida à sua casa pela polícia.

O livro havia sido confiscado pelo governo japonês durante uma busca que a polícia fez na residência do presidente Makiguchi, assim que ele foi preso em Shimoda, no dia 6 de julho de 1943. Passados oito anos, a obra havia retornado à casa de Makiguchi sensei. Folhean­do o Gosho de Makiguchi, percebiam-se anotações nas entrelinhas e observações escritas em vermelho nas páginas em branco. Ao acariciar com muita saudade o Gosho do honorável mestre, Josei Toda disse: “Ao saber da notícia de que o Gosho será publicado, o mestre Makiguchi compareceu para contribuir com a elaboração desse valioso tesouro”.
Obra de mestre e discípulo

Simultaneamente à publicação do Gosho, mestre e discípulo se empenhavam em criar uma base sólida para o futuro do kosen-rufu. A fim de expandir a Soka Gakkai por todo o Japão, o presidente Josei Toda tinha um projeto: publicar o Gosho e um guia para realizar o shakubuku (propagação do budismo); fundar a Divisão dos Jovens; mudar a estrutura da organização; e estabelecer o bloco como a força motriz para o desenvolvimento.

Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda estuda o Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente com membros da Divisão dos Universitários na sede do jornal Seikyo Shimbun (Tóquio, Japão, ago. 196. Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editorial Brasil Seikyo – BSGI

Depois de dez meses de intenso trabalho, os preparativos para a publicação do Gosho estavam prestes a se encerrar. O prazo ficava mais curto e, com o passar dos dias, não era possível adiá-lo. Os colaborado­res já estavam exaustos. No entanto, o presidente Josei Toda nunca deixava de incentivá-los.

Na noite de 16 de abril de 1952, as quatro máquinas de impressão começaram a funcionar. Ao ouvirem o barulho delas, o cansaço dos colaboradores desapareceu dando lugar a sorrisos satisfeitos e imensa emoção. A Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin foi concluída pela Soka Gakkai em 28 de abril de 1952, data em que se comemoraram os setecentos anos do estabelecimento do Budismo de Nichiren Daishonin.

A primeira edição teve uma tiragem de 6 mil exemplares e se esgotou rapidamente, sendo necessário lançar a segunda edição já no ano seguinte. Desde a publicação do Gosho, todas as ações da Soka Gakkai estiveram fundamentadas no estudo dos escritos de Nichiren Daishonin. Nos grandes movimentos de propagação do budismo, o jovem Daisaku Ikeda sempre tinha como base a leitura diária do Gosho.

Comemorando o 800o ano de nascimento de Nichiren Daishonin,2 foi publicada no dia 18 de novembro do ano passado [2021] a nova edição da Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin, no Japão. Ao mesmo tempo em que supervisionou o lançamento da obra, Ikeda sensei dedicou a seguinte diretriz imortal no prefácio: “Nós, da Soka Gakkai, trilhamos eternamente o grande caminho do ‘Gosho como base’”.

Sobre este ponto, Masaaki Morinaka, coordenador de Estudo do Budismo da SGI, salienta:

O Gosho deve ser uma escritura sagrada aberta ao povo. Uma escritura em que pessoas comuns a tenham em mãos e a leiam como nutriente de sua fé e prática. Estou certo de que o Gosho deva ser uma escritura viva, familiar para as pessoas de cada época, sempre pelo bem de todas da mesma geração. (…) A sabedoria contida no Gosho é aguardada pelo mundo e, ao mesmo tempo, é sua esperança. Até para corresponder a isso, desejamos trilhar com toda a força o grande caminho do “Gosho como base”.3

No topo: Ikeda sensei em sua juventude durante a revisão e correção das provas de Gosho Zenshu

Fontes:

Terceira Civilização, ed. 508, dez. 2010.

Idem, ed. 509, jan. 2011.

Notas:

  1. Brasil Seikyo, ed. 1.786, 5 mar. 2005, p. A3.
  2. Nichiren Daishonin nasceu em 16 de fevereiro de 1222. De acordo com o método de contagem tradicional japonês, a pessoa possui um ano de vida no dia em que nasce.
  3. Brasil Seikyo, ed. 2.596, 29 jan. 2002, p. 8.