ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 04/05/2022 17:47 RELATO
Sra. Sachiko, matriarca da família Suga, e sua força para expandir raízes da felicidade
Reprodução/Foto-RN176 Sachiko Suga – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI
Não houve um dia sequer em que Sachiko Suga duvidasse do seu coração. Esperança, coragem e persistência foram sendo cultivadas desde que decidiu, junto com o marido, Gonshiro, deixar a terra natal, Japão, em busca do sonho brasileiro. A viagem inicia em dezembro de 1959, e dura dois meses e quinze dias. Segurando as mãos das pequenas Takako, nascida em 1955, e Chikako, nascida em 1956, traziam no peito o ardente desejo de dias melhores.
Na bagagem, algo em especial. Pouco antes de embarcar, por meio de uma grande campanha de shakubuku (apresentar o budismo às pessoas) no Japão, ela recebe seu Gohonzon. A princípio, com a promessa de que esse objeto de devoção dos budistas os protegeria das cobras e das dificuldades no novo país. A Sra. Sachiko agarra-se à fé no Nam-myoho-renge-kyo, mesmo sem saber ao certo seu significado. Mas, em seu coração, alguma coisa dizia que não se arrependeria.
Destino: estado da Bahia, Nordeste brasileiro, para o trabalho na lavoura. Aceitam o desafio, já que Sra. Sachiko, nascida em agosto de 1932, filha mais velha de seis irmãos dos agricultores Kimi e Isamu Fuse, cresceu em meio a uma paisagem rural, na província de Niigata, Japão. Encara sem medo.
Instalam moradia na colônia japonesa, conhecida como JK, na cidade de Mata de São João, BA. Porém, as terras recebidas no local não eram apropriadas para a plantação, e já no primeiro ano perderam todo o cultivo por conta das fortes chuvas. Pelo prejuízo, decidem procurar uma nova moradia e se juntam a mais cinco famílias em uma sociedade de arrendamento de terra. Elas se ajudariam a conquistar o terreno próprio, desfazendo-se da sociedade depois. Sucesso!
Reprodução/Foto-RN176 Com o marido e os filhos – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI
É no município de Catu, distante 80 km de Salvador, BA, que a família Suga reinicia a vida. A cidade registra cerca de 55 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2018. Conseguem um sítio situado à beira de uma rodovia federal, onde parte da família ainda reside. Nas terras baianas, nascem então Toshio, Toshiyuki, Miyuki e Misae, totalizando seis filhos do casal.
Durante os primeiros anos no Brasil, a Sra. Sachiko enfrenta não só os desafios de idioma, mas as dificuldades financeiras e como se manter na prática budista, já que o marido era contra. Acordava escondida às 3 horas da madrugada para fazer gongyo e daimoku, voltando a dormir para que ele não desconfiasse, e levantavam juntos depois. “Minha mãe jamais desistiu. Sempre com sorriso no rosto, ela dizia que um dia ele praticaria, e nos incentivava à prática do Nam-myoho-renge-kyo”, relata Misae, a filha caçula.
Quando uma mãe ora com determinação, o benefício da prática surge. Em 1962, no nascimento de Toshio, terceiro filho do casal, a Sra. Sachiko teve uma infecção e precisou tomar penicilina. Sem saber da alergia ao medicamento, teve um choque anafilático que quase a levou à morte. Após esse fato, o pai, adepto de outra escola budista, compreende a veracidade do Nam-myoho-renge-kyo e decide firmemente praticar o Budismo Nichiren. Foram muitos os momentos em que a sincera oração da Sra. Sachiko conseguiu prolongar a própria vida, bem como a do marido, que trabalhava como feirante e dirigia longas distâncias em busca das frutas e verduras, salvando-o de alguns acidentes.
“Graças a Ikeda sensei, que veio ao Brasil em 1960 plantar as sementes do budismo e da Soka Gakkai, nossa família conseguiu encontrar a verdadeira felicidade por meio do daimoku ensinado pela minha mãe”, enfatiza a filha Miyuki. A família sempre se dedicou à lavoura e, no início, a renda mal dava para o sustento de todos, mas a Sra. Sachiko e os filhos tinham na leitura do Brasil Seikyo (BS) a fonte de força para superar as adversidades. Assinavam as edições em japonês e em português, e iam para as atividades, realizadas nas cidades vizinhas. “Ela lia muito. Sempre que passava por alguma dificuldade, recorria ao BS. Venceu e passou isso para nós. Um exemplo de vida”, confirma Takako, filha mais velha.
Reprodução/Foto-RN176 Registro do casamento e em viagem do casal ao Japão – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI
Mesmo sem falar nem entender o português, a Sra. Sachiko ensina o budismo a cada pessoa que encontra. Aos poucos, amplia ainda mais os diálogos com vizinhos e amigas. Com ela, inicia-se a dedicação e o amor pela leitura e a entrega dos periódicos da BSGI. “Ela me ensinou o significado da palavra ‘gratidão’”, comenta Ieda Almeida, uma das inúmeras pessoas a quem a matriarca da família Suga apresentou o budismo. Hoje, é responsável pela DF da comunidade Pioneiros, em Catu.
A família progride e alguns dos filhos vão trabalhar no Japão. Em 2007, em uma das viagens para aquele país, Chikako leva os pais para Hokkaido, e conhecem parte da história dos Mestres Soka. “Ela ficou muito feliz e grata”, comenta a filha.
Em 2011, um desafio gigantesco para a matriarca da família Suga. O falecimento do marido e, meses depois, o de Maria Iria de Santana, sua shakubuku e grande amiga. Vem o diagnóstico da doença de Alzheimer. Seis anos depois, em 2018, devido a um acidente vascular cerebral (AVC), perde a mobilidade e capacidade de fala e de deglutição, ficando acamada. Diante desse enorme desafio, proporcionou à família recitar muito mais daimoku e a busca de incentivos por meio da leitura do BS. “A boa sorte se manifestou em todos os momentos para ela e para nós, filhos, netos e bisnetos. Teve assistência completa”, relata Misae.
Reprodução/Foto-RN176 Os filhos do casal Suga (da esq. para a dir.): atrás, Toshio e Toshiyuki; na frente, Miyuki, Takako, Misae e Chikako – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI
A Sra. Sachiko não se permitiu um mínimo de tristeza e de hesitação, sempre com o sorriso no rosto, confirmam os filhos. Aprendem com a mãe a não duvidar da força do Gohonzon, baseando a vida na frase do escrito O Inverno Nunca Falha em se Tornar Primavera, que diz:
Aqueles que creem no Sutra do Lótus parecem viver no inverno, mas o inverno nunca falha em se tornar primavera. Desde os tempos antigos, nunca alguém viu ou ouviu dizer que o inverno tenha se convertido em outono ou que uma pessoa que tem fé no Sutra do Lótus tenha se tornado em uma pessoa comum.¹
Com a pandemia da Covid-19, a família se uniu ainda mais. Em junho do ano passado, oito familiares foram contaminados com coronavírus. A Sra. Sachiko e Miyuki ficaram na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas com Misae foi mais grave, necessitando de entubação. Foi uma vitória grandiosa da família ao vencer a doença, à base de muito daimoku e apoio de familiares e companheiros Soka. E como que aguardasse a vitória total da caçula, quando ela foi extubada e saiu do risco de perder a vida, a Sra. Sachiko faleceu serenamente, aos 88 anos, em 2 de julho de 2021. “Ela sabia que eu venceria”, enfatiza Misae.
Um legado abraçado por todos os filhos dessa nobre mãe do kosen-rufu, com 61 anos de prática sincera e uma vida dedicada a cultivar esperança por onde passava. Uma família de praticantes ativos, já na quarta geração, sendo onze netos e sete bisnetos espalhados entre Japão, Suíça, São Paulo, Vitória da Conquista e Salvador, além da cidade de Catu, em que se estabeleceu. Todos são atuantes nas organizações de base, como membros ou líderes, e também nos grupos horizontais da BSGI. “O que minha mãe mais prezava é a união dos irmãos, em torno do Mestre”, reforça Toshiyuki. E comprovam no dia a dia os frutos de uma prática sincera; sem dúvida, um legado eterno da Sra. Sachiko e do pai. Famílias estruturadas, vencedores no trabalho e na profissão, num círculo virtuoso de convicção e expectativas grandiosas. “Com muita gratidão e felicidade, abraçamos a missão como Mensageiros da Esperança. Nossa mãe nos mostrou esse tesouro com a sua vida”, ressalta Misae.
Reprodução/Foto-RN176 Sra. Sachiko celebra 80 anos, na imagem com alguns filhos, netos e bisnetos – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI
Assim como as flores de cerejeira, que, mesmo após a sua florada, nos deixa o encantamento de sua existência, a vida guerreira e o sorriso acolhedor da Sra. Sachiko florescem no universo. E se materializa na ação de seus herdeiros, dos amigos e daqueles que, assim como ela, plantam sem medo as sementes da esperança. Quando uma mãe vence, todos vencem!
Sementes de esperança e de convicção
Os filhos da Sra. Suga
Takako Suga Sadoyama, 66 anos. Aposentada, trabalhou como analista de fibras em uma empresa no polo petroquímico na Bahia. Atualmente, é membro da DF, em Osasco.
Chikako Suga, 65 anos, professora aposentada e é conselheira da Comunidade Pioneiros pela DF.
Toshio Mario Suga, 60 anos, mora e trabalha no Japão e participa na organização local.
Toshiyuki Nelson Suga, 58 anos, é concursado pela Prefeitura de Vitória da Conquista, atualmente cursa gestão pública na Uninter. É responsável pela DS do Distrito Vitória da Conquista e coordenador de periódicos (CP).
Miyuki Elza Suga, 57 anos, formada em técnica de contabilidade e membro da DF. Atuou como responsável pela DFJ de regional, responsável pelo bloco (DF) do Grupo Brasil no Japão e foi vice-responsável pela NEK (atual APKB).
Misae Ivana Suga, 51 anos, formada em técnica de contabilidade, vice- responsável pela DF do Distrito Triângulo. É coordenadora de periódicos (CP). Atualmente, cursa ciências contábeis na UNIFACS.
Nota:
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 560, 2019.