Sem medo de sonhar

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 12/05/2022 18:24                                  RELATO       

Pronta para voos ainda maiores, Ingrid comprova a força da oração e da ação

Reprodução/Foto-RN176 Ingrid Nayara Alcântara de Almeida Responsável pela Divisão Feminina de Jovens (DFJ) do Distrito Oeste, Sub. Nordeste 1, RE Sergipe – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Como é bom realizar sonhos. A formatura de um curso superior é um dos inesquecíveis que trago no coração, no cantinho dourado onde há outros, certamente. Ao levantar aquele canudo, sinto orgulho de dar à minha mãe a retribuição efetiva de todos os anos em que ela me apoiou, criando em mim uma fortaleza de coragem e fé. É com essa força que desafio cada uma das tempestades que surgem.

Eu me chamo Ingrid Alcântara, 28 anos, sou a filha de Vânia Luiza Alcântara de Araújo, 61 anos; irmã do Jean Douglas, de 33, e do Alex Davis, de 31. Quando nasci, já tínhamos a boa sorte de ter encontrado o ensinamento da filosofia da esperança do Budismo Nichiren, praticado na Soka Gakkai. Somos uma família de nordestinos que encontrou a luz no meio do sofrimento.

Divido com vocês um pouco da nossa trajetória. Minha mãe conhece o budismo no estado de Sergipe por intermédio da sua irmã mais velha, Vera Lúcia, já falecida. A oração da minha mãe busca respostas para a desarmonia familiar, mas a separação do meu pai foi inevitável. Infância delicada tanto para mim como para meus irmãos. Eu tinha 5 anos quando eles se separam; e, mesmo crianças, sentimos na pele a dor da minha mãe de assumir quase tudo sozinha. O único apoio vem da família dela, em especial da minha avó Maria Bernadete Alcântara, que nos deixou morar com ela por anos.

Reprodução/Foto-RN176 Ingrid, na sequência com a família: da dir. para esq., a mãe, Vânia; e ao lado de Ingrid, os irmãos Douglas e Alex – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Com esforço, firme crença

Meus irmãos começam cedo no trabalho para ajudar nas despesas de casa. Minha mãe fazia bico ou outro de faxina quando aparecia. Procurei, então, dar o meu melhor nos estudos. A escola, portanto, torna-se meu campo de missão. Isso ao lado das atividades na Soka Gakkai, abraçada que fui pela Divisão dos Estudantes (DE). Sou chamada para apresentações culturais e pequenas incursões nas reuniões de palestra. Precioso aprendizado de vida. Na adolescência, conquisto bolsa integral em uma das escolas de grande renome no estado, na qual fiz boa parte do ensino fundamental e o ensino médio completo. Não foram só flores, passei por situações difíceis como falta de recursos para pagar a passagem do ônibus e o dinheiro escasso para o lanche. Sem poder comprar livros, recorri às cópias. Vivencio conversa da diretora com minha mãe sobre o corte da bolsa para 50%. Não recuamos. Sempre acreditando no poder da oração, foi por meio da prática do Nam-myoho-renge-kyo resoluta da minha mãe que consegui superar os obstáculos e concluir o ensino médio.

O campo de aprendizagem na Soka Gakkai se expande. Recebo convite para exercer funções de liderança, primeiro como responsável pela Divisão Feminina de Jovens (DFJ) de bloco, depois de comunidade. Aceitei de coração. Nos grupos horizontais, começo no Cerejeira, núcleo de bastidor das jovens, e em 2015 entrei para o Taiga (meu amado grupo de dança da DFJ), atuando como responsável pelo departamento técnico e atualmen­te vice-secretária.

Reprodução/Foto-RN176 Em atividade comemorativa da Divisão Feminina de Jovens, antes da pandemia da Covid-19 – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Essa luta na base, nos grupos horizontais e a minha fé no Gohonzon (nosso objeto de devoção) me conduzem, aos poucos, à formação de uma personalidade cada vez mais centrada em nobres propósitos. No sonho educacional, o esforço me leva à aprovação no curso de serviço social na Universidade Federal de Sergipe, em 2011. Carma volta a se manifestar: assim como no ensino médio, o sonho da faculdade vem junto com obstáculos financeiros, que me afastaram da sala de aula durante um semestre para poder trabalhar. Mas, retorno, e agora ali, em 2018, canudo na mão, eu me vejo vitoriosa sendo a primeira a me formar na família, retribuindo a tudo o que me foi feito.

Relembrando meu desafio profissional, em meio aos estudos universitários, não tenho a menor dúvida de que transformei todas as circunstâncias adversas em possibilidade de mais luta e mais comprovações. Uma equação que só a prática do daimoku permite. Comecei a trabalhar aos 18 anos, e não me identifiquei com meu primeiro emprego. Encontrei outro que parecia melhor, porém ele não me permitia participar das atividades da organização por conta dos horários. Assim, lanço objetivo claro: “encontrar um emprego que me permitisse participar das atividades da Gakkai e no qual eu me sentisse realizada profissionalmente”. E consegui! Trabalho por sete anos nessa empresa, inicialmente como recepcionista, sendo promovida a auxiliar de faturamento.

Reprodução/Foto-RN176 O dia em que a mãe conhece a nova casa – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Gratidão é tudo

Como citei no início, nunca tivemos uma vida de luxo e de regalias. Em casa, tínhamos o necessário, e com muito esforço. Maior sonho meu e dos meus irmãos era adquirir uma casa própria para minha mãe, e sabíamos que, para isso, teríamos de intensificar ainda mais nosso daimoku e nossa luta dentro da Gakkai. Foram anos de batalha, e como não há oração sem resposta, a vitória chegou. Em 2018, conseguimos comprar a casa da minha mãe. Jamais esquecerei seu sorriso e encantamento quando a levamos para conhecer o “nosso castelo familiar”. Minha mãe é líder de bloco pela DF; Jean é líder de distrito pela DMJ e Alex é membro; eu, líder de distrito pela DFJ. Juntos, conquistamos essa vitória!

Em 2020, outro aspecto do carma me desafia: a saúde. Comecei a me sentir muito fraca, meu cabelo estava caindo muito e eu com muitas dores nas articu­la­ções. Fui a alguns médicos, mas demorei um tempo para descobrir o que estava acontecendo, até o momento em que chega o diagnóstico: estava com anemia ferropriva e precisava iniciar tratamento. Durante esse período, desencadeia-se transtorno de ansiedade generalizada. Foram meses difíceis, mas consegui obter sucesso no tratamento da anemia e recorro a acompanhamento psicológico. Minha família foi fundamental nesse período e sempre lia orientações de Ikeda sensei, assim como os escritos de Nichiren Daishonin, sobre vencer a doença.

Atualmente, quase não tenho crises de ansiedade, somando dessa forma mais um benefício e comprovação do poder do daimoku em minha vida. Nesses momentos desafiadores pelos quais passei, este trecho da escritura Resposta a Kyo’o me marcou:

A espada é inútil nas mãos de um covarde. A poderosa espada do Sutra do Lótus deve ser manejada por alguém corajoso na fé. Então, essa pessoa será tão forte quanto um demônio armado com um cajado de ferro.1

Reprodução/Foto-RN176 Momento de sua formatura – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Coragem, então, é a marca de um jovem que decide vencer a tudo. Assim venho aprendendo com o presidente Ikeda, meu mestre da vida, que me encoraja a lançar grandes objetivos e, principalmente, a não desistir no primeiro obstáculo. Desde a infância e a adolescência na família Soka, portanto, sou estimulada a olhar para o futuro. Sonhava ter a casa própria antes dos 30 anos, e com a compra da casa para minha mãe, desafio: agora é a minha vez. Em 2021, selo mais um ponto na minha lista de sonhos: mesmo em meio a todas as dificuldades (inclusive psicológicas) conquistei a minha casa. O ano 2021 foi, de fato, muito significativo. Comecei a fazer parte do Departamento de Estudo do Budismo (DEB) da RE Sergipe e a integrar os consultores de periódico da Sub. Nordeste 1. Sou, com muito orgulho, Mensageira da Esperança! Minha luta na DFJ se intensificou ainda mais nestes últimos dois anos. Ainda não tive a boa sorte de concretizar meu shakubuku, porém todas as pessoas ao meu redor sabem sobre o Budismo Nichiren, respeitam e admiram minha postura como praticante. Estou plantando sementes do budismo, dia a dia.

Renovar sonhos

São 28 anos de muitas comprovações. Estou criando minha história e quero me tornar uma pessoa de referência para estudantes e jovens, mostrando o melhor aspecto de que somos capazes de tornar o impossível em possível. E agora me preparo para novo voo: no fim de março último, pedi demissão da empresa na qual trabalhei por sete anos, com direito a homenagem. Com o apoio da minha família, bem como dos companheiros da RE Sergipe, inicio um trabalho em Londrina, PR, numa empresa que me recebeu muito bem. Meu objetivo é fazer nova graduação ou até pós. Traçar novos caminhos com voos ainda maiores.

Reprodução/Foto-RN176 Com as integrantes do grupo de dança Taiga, antes da pandemia da Covid-19 – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Agradeço ao presidente Ikeda por ter trazido o budismo para o Brasil e pelas orientações enviadas. Elas me ajudam a ter sabedoria para lidar com as circunstâncias da vida, e a não ter medo do futuro. Agradeço à minha família e a todos os que me apoiam sempre e confiam no meu potencial. Finalizo justamente com um incentivo deste mestre maravilhoso, que fala direto ao meu coração:
Esforçar-se e progredir por algum propósito ou objetivo — esta é a essência da felicidade. Que seres humanos maravilhosos se tornarão se, na juventude, vocês se empenharem incansavelmente em prol de outras pessoas e do budismo! No processo da realização de sua revolução humana, estabelecerão um estado de vida realmente vasto.2

Reprodução/Foto-RN176 Reunião de palestra de abril, ainda no formato virtual – Editorial do Brasil Seikyo – BSGI

Ingrid Nayara Alcântara de Almeida, 28 anos. Formada em serviço social. Responsável pela Divisão Feminina de Jovens (DFJ) do Distrito Oeste, Sub. Nordeste 1, RE Sergipe.

Notas:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 431, 2019.
  2. Brasil Seikyo, ed. 2.323, 14 maio 2016, p. B4