ROTANEWS176 E POR 16/05/2022 10:40 Por Kate Morgan-BBC Worklife
Reprodução/Foto-RN176 Em lugares específicos, mulheres jovens ganham mais que os homens — em alguns casos, até 20% a mais. Por que a desigualdade salarial se inverteu em algumas regiões? – CRÉDITO,GETTY IMAGES
O Estado norte-americano da Virgínia Ocidental é frequentemente lembrado pelas suas minas de carvão e estradas rurais — mas não pelo seu papel nas discussões sobre as disparidades salariais entre os gêneros.
Segundo um novo estudo do think tank (centro de pesquisa e debates) norte-americano Pew Research Center, que analisou dados do censo dos Estados Unidos, a área metropolitana de Morgantown — a terceira maior cidade do Estado, onde fica a Universidade da Virgínia Ocidental — é um dos poucos lugares do país onde as mulheres ganham mais do que os homens.
Naquela região, o salário médio das mulheres trabalhadoras em tempo integral com menos de 30 anos é 14% maior que o salário médio dos homens na mesma faixa de idade. De fato, essa cidade nos Apalaches é a segunda de uma lista de 10 regiões metropolitanas onde as mulheres com menos de 30 anos ganham salários comparativamente maiores — atrás apenas da cidade de Wenatchee, no Estado de Washington.
Nacionalmente, a disparidade salarial entre os gêneros persiste. Em média, as mulheres norte-americanas ganham o equivalente a 82% do salário dos homens. Mas, em 22 das 250 regiões metropolitanas analisadas, os salários das mulheres são iguais ou melhores.
Por que as mulheres ganham mais que os homens em regiões tão específicas dos Estados Unidos? E esses números promissores em certas regiões significam que a disparidade salarial pode estar lentamente diminuindo?
Educação e indústria
Existem alguns padrões que ajudam a explicar essas conclusões, segundo Richard Fry, pesquisador sênior do Pew Research Center, autor do relatório.
O primeiro fator é a educação. Os lugares onde as mulheres ganham o mesmo ou mais que os homens (em sua maioria, cidades ao longo da costa leste e da costa oeste dos Estados Unidos) possuem percentual maior de mulheres jovens com diploma universitário, segundo Fry. “Nas regiões metropolitanas onde as mulheres jovens têm uma vantagem educacional maior, a desigualdade salarial tende a ser menor”, afirma ele. “Os diplomas universitários tendem a aumentar os ganhos, reduzindo a disparidade salarial.”
Esta variável pode explicar, ao menos em parte, por que cidades específicas da Flórida e da Virgínia Ocidental compõem a lista das 10 regiões metropolitanas com maiores salários para as mulheres, apesar das altas disparidades médias nos seus Estados, que são de 15% e 26%, respectivamente.
“Morgantown é uma cidade universitária”, afirma Fry, “da mesma forma que Gainesville, na Flórida… entre as 22 regiões metropolitanas onde há paridade ou melhores salários para as mulheres, muitas abrigam grandes universidades.”
Essas cidades podem ter um número maior de empregos com salários mais altos disponíveis. Além disso, as mulheres que permanecem nessas regiões metropolitanas após a graduação tendem a receber mais, graças a essa “vantagem educacional”, segundo Fry.
A educação provavelmente também é, pelo menos em parte, o que impulsiona Wenatchee, no Estado de Washington, para o topo da lista. Lá, o salário médio anual das mulheres é de 120% do salário dos homens jovens.
“Em Washington, acredito que 60% das mulheres tenham diploma universitário”, segundo Fry. “Por isso, estamos realmente falando de uma força de trabalho de mulheres jovens com boa formação em Washington.”
Outro fator que influencia a disparidade salarial é o tipo de emprego e as indústrias que dominam certas regiões geográficas. O segundo maior empregador em Wenatchee são as escolas locais da região metropolitana — e, nos Estados Unidos, as mulheres ocupam mais de três quartos dos empregos no setor de educação.
Já a parcela das mulheres nos empregos nas indústrias é de menos de 30%. Por isso, em diversas regiões metropolitanas com a maior disparidade salarial — incluindo Saginaw (Michigan), Decatur (Illinois) e Mansfield (Ohio) —, as fábricas estão entre os principais empregadores.
“A região metropolitana com a maior disparidade salarial é Elkhart-Goshen, no Estado de Indiana, onde as mulheres jovens ganham apenas 67% do salário dos homens”, afirma Fry. “Ela é conhecida como a ‘capital mundial dos trailers’.”
De fato, mais de 80% da produção mundial de trailers, ou veículos recreativos, tem lugar naquela região do norte de Indiana, perto da fronteira com Michigan. “Ali há muitas indústrias, o que pode trazer consequências para os salários das mulheres jovens, em comparação com os homens”, ressalta Fry.
O fator maternidade
Quando — ou se — as mulheres decidem ter filhos pode influir na disparidade salarial de uma região geográfica.
Em todo o país — e em todo o mundo, incluindo em países como o Reino Unido —, as mulheres sofrem a “penalidade pela maternidade”, que aumenta a disparidade salarial. Quando as mulheres são mães, elas ganham ainda menos com relação aos homens (ao mesmo tempo em que os homens veem seus salários aumentarem quando eles se tornam pais). Estimativas indicam que as mães ganham o equivalente a apenas 70% do salário dos pais.
A maternidade, de fato, é um fator importante que influencia as estatísticas de disparidade salarial, segundo Alexandra Killewald, professora de sociologia da Universidade Harvard. “A penalidade estimada do salário por hora por ser mãe é de cerca de 10%, em comparação com o esperado se a mulher continuasse sem ter filhos”, afirma ela.
Por isso, em algumas regiões onde as mulheres são mães mais cedo, a disparidade salarial também aumenta. Em Elkhart, Indiana (que possui a maior disparidade salarial), a idade média com que as mães têm seu primeiro filho é quase três anos menor que a média nacional norte-americana, de 26,3 anos.
Em lugares onde a idade média das mães quando nasce seu primeiro filho é menor, a disparidade salarial é maior — e o inverso também ocorre. Nas regiões metropolitanas de Nova York, Nova Jersey e da Pensilvânia, por exemplo, as mulheres ganham o equivalente a 102% do salário dos homens. E, em Manhattan, que fica nessa área geográfica, a idade média das mães com primeiro filho é de mais de 31 anos.
Reprodução/Foto-RN176 Regiões que abrigam grandes instituições educacionais, como a Universidade da Virgínia Ocidental em Morgantown, tendem a apresentar menor disparidade salarial para as mulheres jovens – CRÉDITO,GETTY IMAGES
“Ao longo do tempo, temos visto as mães terem seus filhos cada vez mais tarde e uma certa redução da quantidade de filhos”, afirma Killewald. “Isso significa que mais mulheres estão demorando mais para serem mães e passam uma parte maior das suas vidas profissionais sem filhos.” Por isso, ela explica que as mulheres conseguem permanecer no mercado de trabalho por mais tempo e seus salários acompanham o salário dos homens.
Mas cerca de 85% das mulheres norte-americanas, independentemente de onde morem, algum dia serão mães, segundo Killewald. E, em termos de disparidade salarial, a tendência é que ela aumente após o nascimento dos filhos.
Prenúncio de progresso — ou não?
Embora os novos dados forneçam bons sinais para as mulheres em vários lugares, existe uma ressalva: o relatório do Pew Research Center examina apenas os dados de mulheres com 16 a 29 anos de idade — mas os padrões históricos demonstram que, depois dos 30 anos, a disparidade começa a aumentar.
Fry menciona dados comparativos que podem ajudar a traçar um quadro do futuro. “Em 2000, as mulheres jovens com menos de 30 anos ganhavam o equivalente a 88% dos salários dos homens jovens.”
Já outro estudo sobre o mesmo grupo em 2019 concluiu que elas tinham “35 a 48 anos e ganhavam o equivalente a 80% dos salários dos homens com a mesma idade. [Por isso,] se as mulheres jovens de hoje seguirem um padrão similar ao do passado, a tendência da disparidade salarial é aumentar.”
Mas Fry ressalta que esta é apenas uma previsão baseada nos dados de outra geração. Killewald afirma que pode também ser uma evidência de uma tendência mais longa. “Desde 1990, o progresso rumo à paridade salarial tem sido mais lento do que foi entre 1980 e 1990, mas tem ainda havido progresso ano após ano”, afirma ela. “Acho que existem razões para sermos otimistas.”
E, à medida que as pessoas — particularmente, os eleitores jovens — apoiarem questões como subsídios para creches, créditos de impostos e outras políticas que beneficiem as mulheres no mercado de trabalho, ela afirma que parte dessa paridade pode vir a tornar-se mais permanente.
“Poderíamos pensar em políticas que, digamos, reduzam as horas extras obrigatórias ou similares”, afirma Killewald, “que facilitem o trabalho particularmente para que as mães permaneçam trabalhando. É difícil saber se veremos o mesmo tipo de redução da disparidade salarial para essas mulheres à medida que elas seguirem o curso da vida, ou se as mulheres mais jovens realmente fizeram progressos.”