ROTANEWS176 E POR ISTOÉ 28/05/22 09h30 Por Denise Mirás
A presença feminina é cada vez maior no cenário mundial. Grande exemplo é a decisiva participação no comando europeu diante do conflito na Ucrânia, caso da sueca Magdalena Andersson, da finlandesa Sanna Marin e da alemã Ursula von der Leyen
Reprodução/Foto-RN176 EM MAIO Do encontro do G7, no hotel Weissenhaeuser Strand, na Alemanha, participaram ministras como a britânica Elizabeth Truss; a canadense Melanie Joly; a alemã Annalena Baerbock e a americana Victoria Nuland (Crédito: POOL New )
Não é de hoje que algumas mulheres marcam presença na política, como Magdalena Andersson e Sanna Marin, chanceleres da Suécia e da Finlândia. As duas ganharam evidência com o pedido de adesão de seus países à OTAN, diante da invasão da Rússia na Ucrânia. Pesquisa do Fórum Econômico Mundial sobre o tema (Global Gender Gap Report), publicada anualmente, aponta países da Escandinávia no topo dos mais igualitários quanto a cargos executivos e parlamentares divididos por homens e mulheres, com o Brasil em 106º lugar, entre 156 analisados. A participação cresce em Parlamentos e alguns ministérios importantes, como das Relações Exteriores.
A economista Magdalena Andersson tem 55 anos e exerce o cargo de primeira ministra da Suécia desde o ano passado. Além de ter sido ministra das Finanças, a experiência da social democrata inclui brigas duras com ultranacionalistas, como na derrota dos “verdes” na aprovação de sua proposta de orçamento. Sanna Marin, outra social democrata, é mais jovem, com 36 anos, mas ocupa o cargo correspondente na Finlândia há mais tempo: desde 2019. Com a invasão na Ucrânia em fevereiro, as duas se viram em uma situação explosiva: pesquisas apontaram mudança de atitude na população de seus países, que reconsideraram a neutralidade em favor da proposta de adesão à OTAN, o que em última instância significou desafiar diretamente o presidente russo Vladimir Putin. Sanna, principalmente, se vê diante de decisões cruciais, porque a Finlândia tem nada menos que 1.400 quilômetros de fronteira com a Rússia.
Reprodução/Foto-RN176 EMPATIA A atuação da primeira ministra neozelandesa Jacinda Ardern na pandemia girou o mundo (Crédito:Chris Skelton)
No último encontro do G7, em 12 de maio, em Wengels (Alemanha), a presença feminina chamou atenção. Participaram ministras como a britânica Elizabeth Truss, a canadense Melanie Joly, a americana Victoria Nuland e a alemã Annalena Baerbock. E a maior líder do continente nas últimas décadas já tinha sido uma mulher: a alemã Angela Merkel, recém-aposentada. Mesmo assim, ainda há um longo caminho a percorrer. “São tão poucas as mulheres nos altos cargos mundiais, que até passamos a conhecê-las por seus nomes, como é o caso de Magdalena e Sanna”, argumenta Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics, especialista em União Europeia, regimes internacionais e gênero. “Diante dos vários indicadores, a perspectiva dessas lideranças políticas serem niveladas no mundo ainda levaria nada menos que 145,5 anos”, comenta. Ela também lembra que o perfil da liderança feminina na política (e no mercado de trabalho) é diferente da masculina, ao citar estudos que atestam, em geral, maior resiliência e persistência, principalmente por causa de fatores culturais, com a capacidade das mulheres questionada o tempo todo. “A diferença de estilo não significa, no entanto, que elas sejam mais ou menos justas do que os homens.”
Esse maior protagonismo é saudado nas democracias ocidentais, mas ainda causa estranheza em vários países. O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, por exemplo, já declarou que mulheres que não têm filhos ou não cuidam da casa são “incompletas”. Ele será justamente o anfitrião de suecos e finlandeses para debater seu veto à entrada dos dois países na aliança militar. Com um detalhe: receberá o presidente finlandês Sauli Niinisto, e não a chanceler Sanna Marin. Em abril do ano passado, o próprio Erdogan deixou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, sem cadeira para sentar durante um encontro bilateral em Ancara, em uma cena constrangedora que circulou o mundo. Se a sociedade ainda pensa em líder com atributos masculinos, como diz a professora Carolina Pavese, também se condena o perfil considerado “fraco” (nada mais significativo e desagradável do que o apelido dado à sueca Magdalena Andersson, por sua postura determinada: “Trator”). De toda forma, mulheres vêm marcando mais presença em eventos importantes.
Magdalena e Sanna são herdeiras de Margaret Thatcher, primeira a chefiar um governo naquele continente – no caso, do Reino Unido, em 1979, e de Merkel, que também deixou sua marca na história. Agora em maio, Katalin Novak assumiu a presidência da Hungria, que tem o ultrarradical Viktor Orbán como primeiro-ministro. Vale citar a neozelandesa Jacinda Ardern, 41 anos, que também se destacou mundialmente pelo jeito próprio de governar seu país durante a pandemia, inclusive se dirigindo a crianças durante lives. Ainda assim, a presença feminina segue minoritária. O que se espera é a transformação desse cenário e que o planeta e se mire no exemplo das lideranças que vêm decidindo questões importantes na Europa.
Guarda-chuva só para um
Reprodução/Foto-RN176 Carl Recine
Ficou na história a simpatia e o jogo de cintura de Kolinda Grabar-Kitarovic, presidente croata, durante a Copa do Mundo de Futebol na Rússia, em 2018. Além de viajar com recursos próprios, vestiu a camisa de seu país literalmente, como marketing, e conquistou torcedores de todos os países. Mas a falta de sensibilidade e de educação dos organizadores russos também foi registrada. Na final, vencida pela França com 4 a 2 sobre a Croácia, começou a chover na cerimônia de premiação. O séquito do presidente Vladimir Putin correu para cobrir a cabeça apenas do russo, com um guarda-chuva; o francês Emmanuel Macron e a croata ficaram ensopados. Na hora começou o debate: se os assessores deveriam oferecer o guarda-chuva a ela, se Putin deveria ter tomado a iniciativa, se ele não deveria ter se ensopado junto até a chegada de guarda-chuvas para todos, se foi machismo… Conclusão, nenhuma. Mas Kolinda não perdeu a esportiva, nem pela derrota na final, nem pela desconsideração, e manteve o sorriso como marca registrada.