O caminho da felicidade

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO  25/06/2022 10:08                                                                    RELATO / REDAÇÃO   

Um novo sentido de vida ilumina passado, presente e futuro

 

Reprodução/Foto-RN176 Alexandre Kogake, vice-coordenador-geral da Coordenadoria da Grande São Paulo (CGSP) – Fotos: Arquivo pessoal

As feridas emocionais trazidas da infância, se não curadas, selam de dor e solidão a vida de uma pessoa. Essa bem que poderia ser a trajetória de vida do Sr. Alexandre Kogake, que, desde menino, teve como ambiente familiar a pior sorte de sofrimentos. A busca dele por respostas à dor e à mágoa que sentia o levaria a experiências frustrantes até encontrar seu verdadeiro sentido de vida. Essa caminhada, da escuridão à luz, ele divide aqui com os leitores do Brasil Seikyo.

O pai, Sr. Hiçagi Kogake, foi um pequeno produtor rural na região do Vale do Paraíba, estado de São Paulo. Mal conseguia sustentar a família, por conta do vício da bebida. A mãe, Sra. Rioko, cuidava com muito esforço dos oito filhos, todos imersos em desarmonia e em escassez de alimentos e de vestimentas. Para os filhos, as cenas comuns eram presenciar as constantes surras que a mãe levava, quando o pai deles chegava embriagado. “Sofríamos muito e nada podíamos fazer diante de tal quadro de agressividade”, afirma o Sr. Kogake. Em 1960, o pai faleceu de cirrose hepática, quando o garoto estava com 9 anos.

Após a perda, a família decide sair da zona rural para a cidade de Guarulhos, SP, vivendo de favores de parentes. “Guardo muita gratidão a cada um deles, que nos apoiaram muito.” Em 1965, aos 14 anos, vem sua primeira grande conquista, emprego numa empresa multinacional.

Reprodução/Foto-RN176 Momentos em família: Alexandre sentado ao lado da esposa, Kimiyo. Em pé, da esq. para a dir. os filhos Márcio e Fernando; e a nora Eduarda – Foto: Arquivo pessoal

Mas as experiências amargas deixam feridas expostas. Como curá-las? O jovem procura ajuda numa igreja. Ao questionar sobre a razão de uns terem felicidade e outros não, ele se frustra com a resposta obtida de que “cada um tem um destino e deve se conformar”. Não era o que esperava ouvir. Deixou de frequentar a igreja.

Por estar sempre triste e cabisbaixo, seu comportamento chamou a atenção de uma funcionária da empresa, que o levou para o espiritismo. “Na situação que me encontra­va, aceitava tudo. Não me alimentava nem dormia direito, enfim não tinha uma vida normal de adolescente”, enfatiza Sr. Kogake, que não encontrou o que procurava e decidiu ser ateu.

Em 1968, aos 17 anos, começou a namorar. A garota, um ano mais nova, o convida para conhecer o Budismo Nichiren, praticado por ela e pela família. O Sr. Kogake relembra emocionado: “Ela me levou a uma reunião de palestra. A impressão era de estar em outro planeta. Pessoas sorridentes me recebendo de braços abertos. As canções com regência, alegres. Nunca tinha presenciado tanta alegria e felicidade em um grupo religioso.” Ao final, chamado para um diálogo, ele foi direto, falando da profunda mágoa que nutria pelo pai, mesmo depois da morte dele, por ter deixado a família na miséria. E emendou: “Como o budismo explica isso?”.

O líder expôs a lei de causa e efeito e disse que no budismo se aprende a enfrentar os problemas e a transformá-los. “Ao invés de sentir ódio ou mágoa do meu pai, eu deveria ter gratidão. E que agora ninguém mais poderia transformar meu carma, a não ser eu mesmo”, recorda-se. Sentiu confiança naquelas palavras de que, ao recitar Nam-myoho-renge-kyo, todo sofrimento que estava sentindo se transformaria em alegria, boa sorte e felicidade.

Reprodução/Foto-RN176 Da esq. para dir., as netas Camila, Paloma e o filho Fábio; e ao centro a pequena Alice – Foto: Arquivo pessoal

“Essa reunião de palestra mudou totalmente o rumo da minha vida. Segui as orientações do líder e em pouco tempo todo aquele ódio foi substituído por gratidão ao meu pai. Foi o meu renascimento.”

A partir daí, Sr. Kogake não mediu esforços para se aprimorar. Havia encontrado o caminho. Em julho de 1971, casa-se com Kimiyo Mizuno, a jovem que o convidou para a atividade. “Muita gratidão a ela, bem como ao líder daquele primeiro encontro, José Yamada, que me direcionou para a vida. São 54 anos de prática budista, construída daquele dia em diante. Nosso mestre, Daisaku Ikeda, sempre reforça a importância das reuniões de palestra como atividade central da Soka Gakkai. Essa é a razão, pois é capaz de mudar a vida das pessoas, e eu sou um exemplo disso.”

Na Divisão Masculina de Jovens (DMJ), atuou com seus líderes no esforço de aprimoramento da divisão, fazendo parte também do histórico Grupo 11 de Julho, que reuniu integrantes da DMJ, em 1976.

O Sr. Kogake atuou na Divisão dos Jovens (DJ) até 1980, passando depois para a Divisão Sênior (DS), carregando no peito o orgulho de ser “pilar de ouro”. Na região de Guarulhos, cidade que abraçou sua família, ele tem se dedicado em várias funções desde a época de responsável por um bloco. Ele está há 42 anos na DS, contribuindo sempre.

Reprodução/Foto-RN176 Os filhos Marco, à esq. e Fabio, à dir. – Foto Arquivo pessoal

Realizou shakubuku (apresentar o budismo) em cerca de vinte famílias. Nos grupos, dedicou-se ao Tenrinkai (transporte especializado, na época), e teve a chance de integrar grupo de aprimoramento que foi ao Japão em 1987, denominado Satsuki.

Ponto primordial

No campo profissional, o Sr. Kogake fez carreira em uma única empresa. Aquela, na qual entrou aos 14 anos, aposentando-se em 2001, após 35 anos de trabalho que lhe ofereceu condições de construir patrimônio junto com a família e para atuar na linha de frente das atividades da BSGI, sempre com sentimento de gratidão.

Uma comprovação financeira recente é considerada por ele fruto da convicção e da confiança no Gohonzon (objeto de devoção budista), baseado nos direcionamentos de Ikeda sensei.

Ele conta que, na época da aposentadoria, investiu o dinheiro da indenização na compra de um sítio. Entusiasmo inicial, mas depois as despesas geradas pelo imóvel passaram a afetar o orçamento da família. Em 2019, decidem vendê-lo, em meio à conjuntura desfavorável do mercado.

Reprodução/Foto-RN176 Lazer do Sr. Kogake com os netos Felipe e Jessica Mayumi quando pequenos Foto: Arquivo pessoal

Diante dessa enorme dificuldade, uma grande determinação: desafio de recitar três horas de daimoku diários, em período que não comprometesse as atividades cotidianas do trabalho e da organização. Muitas vezes as orações atravessaram a madrugada, mas sempre com o cuidado de não comprometer a saúde.

Vem a pandemia do coronavírus, o que agrava ainda mais a condição financeira, já que o isolamento social impediu por três meses a força de trabalho da família. Transformando dificuldade em oportunidade, ao lado da oração, era hora de ler para saber como vencer. Assim, em um dos estudos do Gosho (os escritos de Nichiren Daishonin) propostos pela Coordenadoria da Grande São Paulo (CGSP), um trecho chamou atenção do Sr. Kogake: “Se sua oração será ou não respondida, isso dependerá de sua fé; [caso não seja] de maneira alguma deverá me culpar.”1

Ao pesquisar orientações do Mestre sobre esse trecho, encontrou o seguinte direcionamento, constante do capítulo “Grande Caminho”, volume 28 da Nova Revolução Humana:
— Os benefícios do Gohonzon são imensuráveis e ilimitados. Porém, se nossa prática da fé for fraca ou meramente formal, não conseguiremos extrair estes benefícios. Por exemplo, mesmo que se esforce na recitação do daimoku, mas se o pensamento está no “mundo da lua” ou se está fazendo por obrigação, não se obtém os verdadeiros benefícios nem as orações são atendidas. Não devem ter postura passiva, empenhem-se corajosamente na prática da fé, com iniciativa e ativamente, tendo gratidão e alegria em saber que atingirão o estado de buda nesta existência. Então, conseguirão desfrutar os benefícios do Gohonzon.2

Reprodução/Foto-RN176 Registro com os companheiros do Tenrinkai, antes da pandemia da Convi-19 – Foto Arquivo pessoal

Por meio do estudo, o Sr. Kogake afirma que conseguiu detectar as falhas na postura dele diante do Gohonzon, corrigiu-as e avançou no desafio de daimoku (recitação do Nam-myoho-renge-kyo).

A resposta foi imediata. Em julho de 2020, em apenas dois dias entre encontro e visitação ao sítio, consolidou-se a venda do lugar, por um valor bem próximo ao desejado. “Estava muito feliz e desta vez recitando daimoku de gratidão ao Gohonzon, ao sensei e a todos os companheiros da organização”, ressalta.

No mês seguinte, agosto, por ocasião dos encontros comemorativos da Divisão Sênior, a extraor­dinária comprovação. A empresa na qual trabalhou por 35 anos informava ter Sr. Kogake o direito a um saldo remanescente de indenização. Um valor superior ao da venda do sítio.

Resultado comemorado também na saúde. Com o glaucoma, tinha muita dificuldade de enxergar, principalmente de ler. “Mais um grande benefício conquistado, pois hoje estou conseguindo ler os Gosho, o BS+ e todos os livros. Não há oração sem resposta”, comemora.

A alegria maior é ver os frutos da família que construiu, ao lado da esposa, Kimiyo Mizuno Kogake, atualmente consultora da Sub. Arujá/Guarulhos. A postura diante da vida, bem como o esforço de ambos nas atividades da Soka Gakkai, sensibilizaran os filhos a praticar o budismo: Fabio (50 anos, responsável por um distrito no Japão), Márcio (45, líder de comunidade) e Fernando (38 anos). A geração futura está representada pelas netas Camilla, Paloma, Sabrina e Jessica Mayumi, e o neto Felipe, alguns deles também já integrando a família Soka.

Reprodução/Foto-RN176 Encontro on-line recente com integrantes do Satsuki, celebrando os 35 anos da ida do grupo ao Japão – Foto: Arquivo pessoal

A atuação do Sr. Kogake abarca atualmente as demais regiões paulistas, como vice-coordenador-geral da Coordenadoria da Grande São Paulo, na qual responde também pelo Departamento de Estudo do Budismo.

Aquele garoto tímido, sem perspectivas, coração fechado pela mágoa e rancor, hoje, aos 71 anos, celebra a vida, as comprovações e se mantém na ativa em várias frentes de apoio da Divisão Sênior (DS) e na BSGI. “Sou hoje um homem realizado e muito feliz, que encontrou aos 17 anos o real sentido de viver. Sou muito grato à minha esposa, que me trouxe para esse mundo da Gakkai, onde construí uma personalidade capaz de enfrentar a tudo, sempre com muita gratidão no coração. Com a boa sorte imensurável de ter um mestre da vida, conduzindo-me desde a adolescência por meio de sábias e calorosas palavras, outras vezes rigorosas, e que são a razão do meu desenvolvimento. À BSGI e a todos os companheiros da Divisão Sênior, tenham a certeza de que darei o meu melhor, a cada dia. Muito obrigado!”

Alexandre Kogake, 71 anos. Aposentado. Vice-coordenador-geral da Coordenadoria da Grande São Paulo (CGSP).

 Notas:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 347, 2019.
  2. Brasil Seikyo, ed. 2.400, 31 dez. 2017, p. D1-D8.

Fotos: Arquivo pessoal