ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 25/06/2022 10:47 ENCONTRO COM O MESTRE
Da série “Viagens Inesquecíveis – Com um Coração como o Sol”.
Por Dr. Daisaku Ikeda
Reprodução/Foto-RN176 Ikeda sensei visita o Centro Cultural Shiga, localizado às margens do Lago Biwa. Ele caminha pelos arredores com a Sra. Kaneko e aponta sua câmera para a magnífica paisagem do lago (cidade de Otsu, out. 1995). Dr. Daisaku Ikeda, fundador da Universidade Soka. Dr. Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI Fotos: Seikyo Press
Brasil Seikyo publica, nesta edição, a décima sexta parte da série de ensaios do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, “Viagens Inesquecíveis — Com um Coração como o Sol”, na qual ele narra suas recordações das pessoas com quem criou laços de amizade nas localidades que visitou no Japão e em diversos países, abordando também aspectos da cultura e história locais. A série foi veiculada, a princípio, na revista mensal Pumpkin e em livro; depois também foi divulgada no jornal Seikyo Shimbun
Assim como se dizia “Quem controla Omi [antiga província localizada na atual prefeitura de Shiga] controla o mundo”, Shiga outrora foi o histórico palco de um sólido castelo construído pelas pessoas do mundo. Nela está o maior lago do Japão e nessa região floresceu uma rica cultura. Tal como o Lago Biwa, que recebe o fluxo de mais de quatrocentos rios, vamos expandir nosso coração de maneira ampla e rica cultivando a amizade com muitas pessoas.
- DAISAKU IKEDA
Lago Biwa,
que observa
o transcorrer da história.
Que esta projete o futuro
da glória de Shiga!
O Dr. Arnold J. Toynbee, historiador britânico que viajou pelo mundo todo observando as diversas civilizações da humanidade, certa vez me disse em tom de nostalgia: “Uma das paisagens mais bonitas que eu já vi na minha vida é a paisagem dourada dos campos de arroz às margens do Lago Biwa na época da colheita. A superfície do lago brilhava intensamente refletindo a luz do sol”.
Na sua residência, em Londres, havia uma foto tirada nessa ocasião cuidadosamente exposta.
O Lago Biwa, o maior do Japão, é um tesouro da beleza deste planeta que é profundamente amado pelos intelectuais do mundo. É um grande reservatório de água que nutre a vida e hidrata a terra. Nele, tudo o que está no céu, como o sol, o luar e as estrelas, e todas as atividades das vegetações e dos seres vivos sobre o solo das quatro estações, é refletido como num espelho brilhante e límpido.
Além disso, a vida das pessoas que vêm fazendo o melhor uso dos benefícios do Lago Biwa também está refletida nele com rico sentimento poético.
Se polir o espelho do seu coração, tal como um lago claro e límpido, a beleza da vida que demonstra bravura e tenacidade refletirá nitidamente.
Se expandir o espelho do seu coração amplamente, tal como um imenso lago, sem falta será capaz de enxergar o maravilhoso esplendor do mundo, muitas vezes não percebido.
Renovar a cada dia
[Nota do Editor: Ikeda sensei relembrou vários episódios, como o passeio às margens do Lago Biwa, que se transforma a cada estação do ano, e seu sentimento ao dialogar com os amigos que se empenhavam sinceramente a fim de contribuir para a comunidade. Disse que a bela paisagem do “país do lago” inspirou o coração das pessoas e nutriu a “força da criatividade”, focalizando a cultura desenvolvida nessa localidade.]
Certa ocasião, promovemos a exposição de obras da pintora Yuki Ogura (nascida em Oritsu) que herdou o espírito de Shiga, conhecido como “repositório de tesouros culturais”, no nosso Museu de Arte Fuji de Tóquio.
Quando estava angustiada, sentindo que tudo o que pintava acabava ficando do mesmo jeito, ela diz que foi aconselhada pelo seu mestre a “romper o seu padrão”.1
A partir de então, ela lançou um desafio contínuo a si mesma buscando “algo novo a cada dia”, ou seja, “renascer, começar algo novo, de novo”.2 Somente com a coragem de enfrentar desafios é que se consegue romper as próprias barreiras, quebrar a sua concha e se aprimorar.
O que ela queria pintar era um mundo repleto de “luz, calor, diversão; de um coração cheio de amor que flui na grama, nas árvores, nas nuvens e também nos animais; de vitalidade, em que se sente a alegria de viver”.3
É exatamente o mundo de Shiga que nós tanto admiramos.
Aquelas radiantes flores amarelas de canola que florescem à beira da estrada das fazendas rurais, aqueles campos de ervilhaca de leite chinesa… O aspecto gracioso do Monte Omi Fuji; a beleza silenciosa do Monte Ibuki, cercado pela neblina ou coberto pelo branco da neve; a suave e serena correnteza do rio Seta…
Cada qual parece expressar, a seu modo, a alegria da vida e a nobreza de viver ao máximo dando o seu melhor.
Historicamente, os “mercadores de Omi”, um dos maiores grupos de comerciantes do Japão na época, trabalharam duro para promover o comércio no país inteiro. Desses mercadores de Omi foi herdado o conceito do san-bo yoshi [três bons] (bom para o vendedor, bom para o comprador, bom para o mundo). O objetivo deles era beneficiar não só os vendedores e os compradores, mas também as pessoas em geral das localidades.
Por falar em comerciantes, lembro-me de ter visitado a casa de uma família de amigos na cidade de Higashi-Omi.
A esposa perdeu repentinamente o marido num acidente. Ela assumiu sozinha a criação dos três filhos pequenos e de uma considerável dívida. Abriu mão da loja e da casa que tinham e passou a morar num celeiro reformado.
Contendo as lágrimas, ela cruzou o desfiladeiro da bacia de Omi por várias e várias vezes e caminhou pelas ruas de Quioto para vender suas mercadorias.
Foi nessa situação de desespero que ela encontrou a filosofia de vida da esperança e se levantou com o objetivo de “tentar a vida, mais uma vez”. Para fazer a revolução financeira da família, e em prol dos amigos que passavam pelos mesmos problemas, ela trabalhou desesperadamente e também se dedicou ao máximo às atividades. Ela não se permitiu ser influenciada por pessoas sem coração que zombavam dela e a ridicularizavam. Então, relatou sua lembrança dessa época: “Eu simplesmente cerrava os dentes e dizia para mim mesma ‘Esforce-se!’, e continuei lutando”.
Reprodução/Foto-RN176 Lago Biwa tingido em tom escarlate com o sol entardecer (foto tirada pelo presidente)
Seus filhos, que cresceram observando a postura da mãe, se tornaram jovens admiráveis e passaram a ajudá-la. A família estabeleceu uma loja que é referência para as pessoas e atualmente eles contribuem para o bem da localidade e da sociedade com orgulho.
Quando essa mãe contou o relato de experiência da sua revolução humana para as pessoas nos Estados Unidos, disse que todos a ouviram com lágrimas nos olhos. Ela ficou tão emocionada com isso que jurou a si mesma que se dedicaria de corpo e alma com todas as suas forças à construção de um paraíso da felicidade em sua localidade.
O drama da vitória de uma única pessoa ou de uma localidade se transforma em incentivo que pode encorajar os amigos do mundo inteiro.
O pensador do século 17 Nakae Toju (natural de Takashima), aclamado como o “Sábio de Omi”, ressaltou a importância do “amor e respeito” em relação às pessoas próximas da família, da comunidade e do local de trabalho. Ele afirmou: “Amar e respeitar as pessoas significam amar e respeitar a si mesmo”.4
Nessa afirmação consta o princípio de que tanto você como os outros devem viver juntos e prosperar juntos.
Cultivar a alegria
[Nota do Editor: Concluindo, Ikeda sensei vislumbra o futuro de esperança de Shiga, que desenvolve seus jovens.]
Reprodução/Foto-RN176 Na foto tirada pelo presidente Ikeda, o vigoroso Monte Ibuki coberto pela neve branca, brilha sob o céu azul (mar. 2000)
O ideograma shi que compõe a palavra “Shiga” possui o significado de “crescer”, “nutrir”. O ideograma ga, por sua vez, significa “alegria”. O nome “Shiga” incorpora sentidos repletos de esperança, como “cultivar a alegria” de si e dos demais, e ainda “alegria de desenvolver” os jovens.
Plantar a “semente da esperança” no coração dos jovens amigos. Certamente, ela se transformará numa bela “árvore da felicidade”, “árvore da prosperidade”, “árvore da paz”, tal como a árvore do bordo, da província de Shiga. E sem falta ela refletirá como um brilhante e iluminado futuro no espelho do Lago Biwa.
Amigos de Shiga,
que sinto eternamente
como família,
adornem esta vida
com felicidade e coração.
No topo: Ikeda sensei visita o Centro Cultural Shiga, localizado às margens do Lago Biwa. Ele caminha pelos arredores com a Sra. Kaneko e aponta sua câmera para a magnífica paisagem do lago (cidade de Otsu, out. 1995)
Publicado no jornal Seikyo Shimbun de 29 de dezembro de 2021.
Notas:
- Coleção de Obras de Yuki Ogura — 70 anos de Arte. Asahi Shimbunsha.
- OGURA, Yuki. Gashitsu no Nakakara. Chuo Koron Bijutsu Shuppan.
- Ibidem.
- TOJU, Nakae. Kagamigusa. Revisão: Morikazu Kato. Iwanami Shoten.
Fotos: Seikyo Press