ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 16/07/2022 10:40 ENCONTRO COM O MESTRE
Da série “Viagens Inesquecíveis – Com um Coração como o Sol”.
Por Dr. Daisaku Ikeda
Reprodução/Foto-RN176 Casal Ikeda recepciona a ativista Rosa Parks no campus da Universidade Soka da América, em Los Angeles (na época). Este é o primeiro encontro deles (jan. 1993). Dr. Daisaku Ikeda, fundador da Universidade Soka. Dr. Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI Fotos: Seikyo Press
Brasil Seikyo publica, nesta edição, a décima sétima parte da série de ensaios do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, “Viagens Inesquecíveis — Com um Coração como o Sol”, na qual ele narra suas recordações das pessoas com quem criou laços de amizade nas localidades que visitou no Japão e em diversos países, abordando também aspectos da cultura e história locais. A série foi veiculada, a princípio, na revista mensal Pumpkin e em livro; depois também foi divulgada no jornal Seikyo Shimbun
Los Angeles, na Califórnia, Estados Unidos, foi uma cidade que alcançou rápido crescimento no início do século 20. De área semidesértica a uma grande metrópole — seu desenvolvimento se iniciou com o estabelecimento de uma longa via navegável. O futuro de esperança se abre ao fim de uma caminhada firme e contínua. Vamos, hoje também, fazer arder a chama do espírito desbravador e dar um passo adiante!
Neste primeiro passo
de coragem
está o futuro.
O primeiro passo desafiador imbuído de coragem é o que abre novos rumos tanto para a vida como para a sociedade. Na época do desbravamento da América do Norte, quando os viajantes chegavam às cidades, não lhes era perguntado: “De onde vens?”. Dizem que, antes de tudo, o que lhes perguntavam era: “Aonde pretendem ir? O que pretendem fazer?”.
Não importava seu passado, e sim que passos dariam a partir dali, naquele momento.
Pensando bem, Los Angeles, hoje uma das maiores cidades do mundo, na ensolarada Califórnia, Estados Unidos, ficava numa área semidesértica e possuía uma população relativamente pequena até cerca de cem anos atrás. Ela cresceu rapidamente no início do século 20.
Um dos grandes passos para alavancar sua prosperidade foi a abertura de uma via fluvial a partir de uma cordilheira a cerca de 400 quilômetros de distância. Se falarmos em 400 quilômetros, seria como a distância em linha reta de Tóquio a Miyagi ou a Iwate, no sentido leste, ou a Osaka ou a Hyogo, no sentido oeste.
Pela escala da distância desse empreendimento, podemos imaginar as dificuldades e os esforços dos antepassados para trazer a água das áreas montanhosas e criar essa via.
Além disso, aproveitando a seu favor a condição de ser uma região onde não chove muito, o que é excelente para as filmagens, desenvolveu a indústria do cinema, simbolizada por Hollywood. A vasta área do deserto prosperou como fonte de novos sonhos e cultura.
O escritor californiano John Steinbeck (1902–1968), famoso por seus romances As Vinhas da Ira e A Leste do Éden, que depois se tornaram filmes de Hollywood, disse: “Mesmo que eu esteja com medo, toda vez que tento algo novo, encontro surpresa, esperança e alegria”.1
Começar a partir do que é possível
[Nota do Editor: Los Angeles é um paraíso da diversidade onde vivem também muitos imigrantes latino-americanos e asiáticos. Ikeda sensei visitou a cidade pela primeira vez em outubro de 1960 e incentivou várias integrantes da Divisão Feminina (DF) que viviam longe do seu país natal, Japão. Ele acendeu a chama da esperança para o futuro no coração delas.]
Na época da minha primeira visita, muitas mulheres que haviam se mudado para os Estados Unidos por conta do casamento com soldados americanos e sofriam por não conseguirem se acostumar com a vida no país estrangeiro disseram: “Quero voltar para o Japão…”
Eu podia sentir claramente a dor e o sofrimento delas. No entanto, aquele era um lugar em que acabaram chegando devido a uma mística relação cármica. Portanto, não haveria como elas não conseguirem conquistar a felicidade ali. Então, direcionei a elas três conselhos:
- Adquirir cidadania e se tornar boa cidadã norte-americana.
- Tirar carta de motorista.
- Ter domínio do idioma inglês.
Numa condição na qual não se tem domínio, não há como se movimentar muito por mais que pense em várias estratégias. Antes de tudo, devem-se estabelecer metas que estão ao alcance e avançar um passo adiante, pois a partir daí se estenderá o caminho da esperança.
Meio século depois, minha maior alegria é ver que cada qual, rodeada pelos filhos, netos e sucessores, como excelente cidadã norte-americana e mãe modelo da América, está adornando serena e de forma resplandecente sua existência de contribuição social e de vitória.
Com grande alegria e sem arrependimentos
[Nota do Editor: Los Angeles é também um local em que Daisaku Ikeda estabeleceu laços de amizade com muitos intelectuais do mundo. Ao relembrar do diálogo que manteve com a “mãe dos direitos humanos” dos Estados Unidos, Rosa Parks, Ikeda sensei enfatiza que, ao observar a “vida” em comum a todas as pessoas, é possível alcançar o entendimento mútuo que supera quaisquer diferenças. Em seguida, ele declara que se você muda, o seu ambiente também muda, citando o exemplo do modo de viver de uma mulher.]
É uma lembrança inesquecível também o fato de eu ter apreciado uma linda lua cheia junto com os amigos nas terras de Los Angeles. Assim como a lua que vai se tornando cheia lenta e silenciosamente, penso que uma vida de plena satisfação existe no caminhar contínuo e sereno, de passo em passo, olhando sempre para a frente.
Reprodução/Foto-RN176 Universidade Soka da America, localizada em Orange County, estado da California – Fotos: Seikyo Press
Uma amiga, minha e de minha esposa, possui um sorriso pleno, tal como uma lua cheia. Ela reside em Los Angeles, onde exerce atividades jurídicas, e se empenha ativamente como líder dentre os cidadãos.
Quando era jovem, sua mãe se divorciou do pai, que lhes causava uma vida difícil, e ela ficou com a mãe. Além disso, essa amiga sofreu nas mãos do homem com quem havia decidido se casar e acabou perdendo a vida que carregava no ventre.
Ela disse que adquiriu plena consciência de que “por mais que se tenha boa formação ou status, conhecimento ou riqueza, não existe felicidade verdadeira se não mudar sua vida”. E encontrando amigos repletos de esperança, passa a compreender a filosofia da dignidade da vida contando com o apoio deles.
Nesse meio-tempo, ela, que até então não conseguia perdoar o pai, acabou cuidando dele quando ficou doente, e se dedicou para que ele tivesse um fim de vida sereno e em paz.
“Se eu fizer a minha revolução humana, posso transformar o meu ambiente!” — com essa convicção, ela continua desafiando fortemente mês a mês, dia a dia, a encorajar cada vez mais os amigos que lutam contra os infortúnios e está ajudando a desenvolver muitos jovens e adolescentes como se fossem os próprios filhos.
“Felicidade não é algo que alguém traz. É aquilo que se conquista com as próprias mãos” — essa é a crença imutável das mulheres que erguem a bandeira da justiça e avançam pelo caminho da vida de grande alegria e sem arrependimentos, tal como a lua cheia.
[Nota do Editor: Na conclusão, Ikeda sensei afirma que passos corajosos serão sem falta transmitidos de geração a geração, e solicitou o avanço constante “de hoje para amanhã”.]
O poeta nacional californiano Robert Frost (1874–1963) enfatizou: “Somente a ousadia, a coragem e o avanço poderão salvar o mundo”.2 Um passo de coragem é herdado e transmitido para as gerações seguintes.
Eu fundei a Universidade Soka da América (SUA) com o sentimento de saldar a dívida de gratidão que tenho com a estimada América. Depois do campus de Los Angeles, a instituição prossegue se desenvolvendo junto com a comunidade no campus de Orange County no mesmo estado da Califórnia.
Reprodução/Foto-RN176 Flores que decoram os postes de luz colorem as ruas de Los Angeles (foto de Daisaku Ikeda, jum. 1996) – Fotos: Seikyo Press
Como uma “instituição de ensino centrada nos estudantes”, os professores e funcionários da Universidade Soka da América valorizam os talentosos estudantes que ali se reúnem vindos de todas as partes do mundo e se dedicam de corpo e alma ao aprimoramento deles. Os alunos, por sua vez, se empenham ao máximo nos estudos com grande paixão decididos a “possuir uma vida de contribuição” pelos outros, pela comunidade e pelo mundo. É meu orgulho que a instituição esteja resplandecendo como berço da civilização planetária cuja base é o humanismo.
O coração das mulheres que ama a vida é tão imenso quanto o enorme céu e o vasto oceano da Califórnia. Envoltos por esse coração, nossos talentosos acadêmicos estão dando um passo adiante para um novo desbravamento.
Tenho convicção de que a luz da esperança da “dignidade da vida” e da “coexistência humana” se expandirá por meio desse um passo de avanço, de hoje para amanhã.
No topo: casal Ikeda recepciona a ativista Rosa Parks no campus da Universidade Soka da América, em Los Angeles (na época). Este é o primeiro encontro deles (jan. 1993)
Publicado no jornal Seikyo Shimbun de 19 de agosto de 2021.
Notas:
- Steinbeck Zenshu, v. 19. Stainbeck Shokanshu. Tradução: Tegami ga Kataru Jinsei. Toshio Asano&Kazushige Sagawa; Osaka Kyoiku Tosho.
- STANLIS, P. J. Frost no Jinsei, Shi, Tetsugaku ni Tsuite no Tsuiko. Tradução: Tadayuki Fukumoto. Koyo Shobo.
Fotos: Seikyo Press