ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 25/08/2022 19:14 ENCONTRO COM O MESTRE
Da série “Viagens Inesquecíveis – Com um Coração como o Sol”.
Por Dr. Daisaku Ikeda
Reprodução/Foto-RN176 Ikeda sensei oferece uma apresentação ao piano para os companheiros (Centro Cultural de Kanagawa, Yokohama, set. 1997). Dr.Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente é o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Fotos: Seikyo Press
Yokohama, cidade internacional de frente para o Oceano Pacífico, foi visitada por inúmeras pessoas de todo o mundo, fazendo florescer novas culturas, uma após a outra. Desejamos também embarcar alegremente no oceano do diálogo e estabelecer muitos laços de amizade com amplo coração.
Assim como o mar,
coração vasto.
Assim como o céu,
coração ilimitadamente elevado.
Assim como o vento,
coração livre para a felicidade.
O coração é interessante. Ao abri-lo, pode-se estimulá-lo amplamente sem limites, para a extensão que for, ou para a altura que for, com liberdade e autonomia.
De frente para o oceano, na praia onde resplandecem novos encontros e conversas, existe uma energia que convida a abrir e vibrar os corações. E o glorioso porto internacional de “convivência harmoniosa” e de “empreendedorismo” que se destaca no mundo é o amado porto de Yokohama.
Eu, que nasci e cresci no bairro de Ota, em Tóquio, gravei muitas lembranças desde a minha infância em Kanagawa, o bairro vizinho do outro lado do rio Tamagawa. No caminho de volta de minhas visitas às várias localidades do Japão, simplesmente por avistar a terra de Kanagawa da janela do carro, era invadido por um sentimento de paz no coração e de nostalgia, como se tivesse retornando à minha terra natal.
São um precioso tesouro da história os momentos em que visualizei junto com os amigos o imenso mar que se estendia para o grandioso mundo a partir de Yokohama, e cultivando espíritos elevados, fomos desbravando novas rotas da missão.
Não seria exagero dizer que Yokohama é o insubstituível “porto do coração” da minha vida.
Tagore, grande poeta indiano que fez amizade com o pensador japonês natural de Yokohama, Tenshin Okakura, e que deixou uma profunda história de produções e criações em Yokohama, escreveu: “Quero saltar e voar para o mundo com vida e juventude, como uma brisa soprando em direção ao vento”.1
De fato, pode-se dizer que Yokohama está repleta de juventude, que constantemente produz coisas novas e dá abertura a uma nova era por meio de vibrantes e ricos intercâmbios.
Ó, amigos, não sejam derrotados
[Nota do Editor: Yokohama e Kanagawa, locais em que muitos episódios da história do kosen-rufu foram registrados. Ikeda sensei se lembra de fatos como o incentivo que deu a um amigo em sua juventude e também o anúncio da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares do presidente Josei Toda.]
Depois da guerra, quem visitou por incontáveis vezes Yokohama e Kanagawa e incentivou uma pessoa após outra, desejando profundamente a felicidade delas, foi meu mestre, professor Josei Toda.
Fazendo do coração do mestre o meu, com o sentimento de me empenhar em prol da minha amada terra natal, eu me lancei ao círculo dos amigos, indo para todas as partes de Kanagawa, a começar por Tsurumi e Yokohama.
Era uma época em que os negócios do meu mestre atravessavam uma situação muito difícil. E nas casas que visitávamos também cada família enfrentava seus desafios contra as adversidades, como as dificuldades financeiras e a doença.
Em meio a essas circunstâncias, como jovem, transmiti a filosofia da coragem de que é justamente quando nos deparamos com problemas que “O sábio se alegra, ao passo que o tolo recua”.2
A um menino que decidiu estudar enquanto trabalhava para ajudar no orçamento familiar, dediquei um poema de minha autoria:
Ó, amigo,
não seja derrotado.
Tenha elevada esperança.
Eu acredito
em seu coração.
Do esforço,
esforço,
e mais esforço,
não se esqueça do juramento daquele dia.
Com sua força de vontade
e juventude,
avance
absolutamente,
incondicionalmente.
Eu mesmo estava com problemas no pulmão, tinha febre constante e lutava contra uma sequência de batalhas árduas e difíceis enquanto expelia sangue. Ainda me aquece o coração quando me lembro da ternura e gentileza de uma senhora do povo de Yokohama que, preocupada com minha saúde, dividiu os ovos que suas galinhas haviam acabado de botar.
Em 1957, meu mestre proferiu a Declaração pela Abolição das Armas Nucleares diante de 50 mil jovens reunidos no Estádio de Atletismo de Mitsuzawa em Yokohama como seu primeiro testamento.
Foi um rugido de leão pelo “direito de existir” das pessoas do mundo acusando veementemente o mal que as ameaça. Tudo o que fere e põe em risco a vida é o mal, e o que protege e nutre a vida é o bem. Não seria esta a justiça universal para a humanidade?
Reprodução/Foto-RN176 Foto do navio Hikawa Maru tirada pelo presidente Ikeda do Centro Cultural de Kanagawa, em Yokohama, Japão (jan. 2006). Embarcação foi considerada propriedade cultural de importância nacional em 2016 – Fotos: Seikyo Press
Recordando-me, Kamakura, em Kanagawa, foi também a base de literatos do Shirakaba-ha [influente círculo literário japonês], que defendiam o humanismo. Naoya Shiga cultivou o “sentimento de ódio pela injustiça”, e Yoshiro Nagayo desejou fazer arder no coração das pessoas o “amor pela justiça”.
No grande solo onde surgem novas correntes de pensamento, meus amigos de confiança também ergueram alto a “bandeira da justiça” do humanismo e expandiram a rede de solidariedade dos cidadãos do mundo.
Agora é hora de se levantar com coragem
[Nota do Editor: Para concluir, Ikeda sensei fala a respeito do símbolo do porto de Yokohama, o navio Hikawa Maru. Ele conclama para que, assim como uma grande nau que atravessa o oceano, nós continuaremos a avançar superando os mares bravios.]
Também não posso me esquecer das muitas conversas que tive com os jovens e com os meninos e meninas que assumirão o futuro no Parque Yamashita, o primeiro parque à beira-mar do Japão.
Hikawa Maru, um cargueiro atracado no Parque Yamashita, foi construído em Yokohama em 1930. Ele conectou principalmente o Japão com Seattle, na costa oeste dos Estados Unidos, e cruzou o Oceano Pacífico 254 vezes em trinta anos.
O “espírito hospitaleiro” ficou muito conhecido, e até o rei da comédia, Chaplin, chegou a embarcar nesse navio.
Durante a guerra, ele realizou importantes missões; às vezes, transportando judeus que fugiam da perseguição nazista, outras vezes, acolhendo soldados feridos como navio-hospital, transpondo o perigo de contato com minas subaquáticas.
Após a guerra, muitos estudantes intercambistas e grupos de artistas também estiveram a bordo dele como mensageiros da paz e da cultura. A vida também é uma navegação na qual promovemos resolutamente ações de valor enquanto ultrapassamos mares tempestuosos.
Eiji Yoshikawa, escritor natural de Yokohama, escreveu:
Nascida como uma pessoa, a forma como ela usará sua vida e como a desfrutará é o que determinará o valor dela.
Há muitas coisas que podem ser feitas por uma pessoa ao longo de sua existência. Ao se comprometer com isso, poderá realizar qualquer desejo.3
Reprodução/Foto-RN176 Memorial Toda para a Paz, próximo ao Centro Cultural de Kanagawa, em foto tirada pelo presidente Ikeda (set. 2017). A fim de transmitir o espírito da Declaração pela Abolição das Armas Nucleares do presidente Josei Toda, Ikeda sensei divulga mensagens pela paz em eventos como a exposição sobre ameaças nucleares – Fotos: Seikyo Press
Partir daqui e retornar para cá. E novamente partir. Yokohama, que foi inaugurado há mais de 150 anos, é um “porto mãe” e também um “porto aberto”.
Os jovens cidadãos do mundo do século 21 da minha amada Kanagawa estão zarpando em sucessão com coragem em direção à nova era soando altivamente os gongos da esperança.
Ultrapassando destemida e alegremente quaisquer intempéries do mar, sem falta, faça um retorno triunfante! — assim continuo a encorajar a todos diariamente, tal como a luz de um farol.
Vamos dar um viva juntos.
Um viva da vitória
pela concretização infalível
do objetivo
do grande navio.
No topo: Ikeda sensei oferece uma apresentação ao piano para os companheiros (Centro Cultural de Kanagawa, Yokohama, set. 1997)
Publicado no jornal Seikyo Shimbun de 17 de junho de 2022.
Notas:
- Glimpses of Bengal. Tradução: Soyoko Morimoto. In: Coletânea de Obras de Tagore, v.11. Daisanbunmei-sha.
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 666, 2014.
- Livraria da Era Histórica de Eiji Yoshikawa 69. Shihon Taiheiki — 7. Kodansha.
Fotos: Seikyo Press