Em prol do futuro e da paz

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO  10/09/2022 13:05                                                                    ENCONTRO COM O MESTRE

Por Dr. Daisaku Ikeda  

Ensaio da série “Irradie a Luz da Revolução Humana”

 

Reprodução/Fofo-RN176 Presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, e sua esposa, Kaneko, na sacada do Museu Literário Victor Hugo (Bievre, França, jun. 1991). Dr.Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Foto: Seikyo Press / BS

Uma estátua que retrata o escritor francês Victor Hugo (1802–1885) avançando a passos largos carregando um livro se encontra no saguão do auditório principal da Universidade Soka, a “fortaleza para a paz da humanidade”.1

Na base da estátua estão inscritas estas profundas palavras da obra-prima de Hugo, Os Miseráveis: “Há um espetáculo maior que o mar: o céu; há um espetáculo maior que o céu: a alma humana”.2Atualmente, o telescópio James Webb da Nasa observa o grande espetáculo do céu, perscrutando muito além e com muito mais clareza o universo do que jamais se viu antes.

Entre as imagens capturadas por esse telescópio, o maior na história, incluem-se a da formação das reluzentes estrelas de uma nebulosa gigante, galáxias antigas supostamente de 13,5 bilhões de anos atrás, e outras descobertas surpreendentes.

Resta-nos esperar que o cora­ção e a mente da humanidade acompanhem o ritmo acelerado desses desenvolvimentos da ciên­cia da astronomia, tornando-se maiores e mais sábios para proteger nosso precioso planeta vivo e permitir que a paz floresça. Para tanto, a sabedoria do Budismo Nichiren, que ilumina o universo interior do ser humano, faz-se necessária mais que nunca.

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Victor Hugo encontrou imensa esperança no espírito das crianças. “Qual o verdadeiro nome delas?”3 — indagou ele. “Futuro.”4 Ele recomendou que devemos plantar as sementes da justiça e da alegria no coração das crianças, acrescentando que, ao cuidarmos delas, cuidamos do futuro.

Reprodução/Fofo-RN176 Prédio do museu – FOTO: Seikyo Press

Quando estávamos estudando outra obra de Hugo juntos, meu mestre, Josei Toda, me disse que as crianças são os tesouros do futuro, e que devemos pensar nelas como emissárias do amanhã e cuidar delas da melhor forma possível.

Todo verão, com a proximidade do Mês do Dinâmico Desenvolvimento da Divisão dos Estudantes (DE),5 lembro-me das compassivas palavras do meu mestre. O verão é época de plantar as sementes da coragem no coração dos membros da DE, nossos tesouros mais preciosos. É tempo de cultivar um futuro repleto de esperança. Por meio de concursos de oratória em inglês, além de campeonatos de redação, desenho e resenha literária, nossos jovens estão se desafiando e obtendo crescimento admirável.

Os Encontros da Família Soka, realizados ao redor do país, também estão edificando laços de apoio positivos nas comunidades locais e em toda a sociedade.

Nichiren Daishonin escreve: “Aqueles que se associarem às pessoas de bom caráter também cultivarão sentimento, comportamento e palavras corretas”.6

Gostaria de expressar, mais uma vez, minha gratidão aos líderes da DE, aos integrantes do Departamento Educacional [do Japão] e a todos aqueles que apoiam nossos jovens sucessores.

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Neste mês de agosto, haverá cursos de aprimoramento para integrantes da DE, níveis Esperança e Herdeiro, nossos Condutores da Tocha da Justiça, no campus da Universidade Soka, em Hachioji, Tóquio (nos dias 4 e 6 de agosto, respectivamente; o segundo, com transmissão nacional).

Estou certo de que nosso primeiro presidente, Tsunesaburo Makiguchi, fundador da educação Soka, ficaria encantado com isso.

Eu tinha 13 anos quando a Guerra do Pacífico [Segunda Guerra Mundial] começou [em 1941] e 17 quando o conflito terminou [em 1945]. Em outras palavras, estava mais ou menos com a mesma idade dos estudantes do ensino fundamental 2 e médio quando aquele episódio estava se desenrolando.

Nestes tempos turbulentos, marcados pela pandemia da Covid-19 e por tantos outros desafios, vocês, meus jovens amigos da Divisão dos Estudantes, abraçam a filosofia budista da dignidade da vida e estão vivendo a juventude com um espírito invencível, priorizando os estudos e a amizade. Nada me proporciona maior alegria e tranquilidade do que vê-los crescendo juntos e encorajando-se mutuamente como companheiros na organização.

Reprodução/Fofo-RN176 Estátua do escritor Victor Hugo no saguão do auditório principal da Universidade Soka. – FOTO: Seikyo Press

Em meu discurso na Universidade Harvard [em 1993], 7 eu disse que o budismo Mahayana e o Budismo Nichiren, em particular, podem prestar uma grande contribuição para a civilização do século 21. Também apresentei três perguntas que devemos efetuar no que diz respeito à religião: “A religião torna as pessoas mais fortes ou mais fracas?” “Estimula o que há de bom ou de mau nelas?” “Deixa-nas mais ou menos sábias?”.

Gostaria que tivessem orgulho do fato de que, por abraçarem a fé na Lei Mística na juventude, vocês, meus amigos da DE, sem dúvida, estão trilhando um curso ascenden­te para tornar a vida mais forte, melhor e mais sábia.

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O Budismo Nichiren ensina que a condição de vida infinitamente nobre do estado de buda existe em todas as pessoas, independentemente de etnia, nacionalidade, gênero, profissão, posição social ou idade.

Numa de suas cartas, Daishonin felicita um casal pelo nascimento de sua filha, afirmando que “Agirá como uma boa filha, dando continuidade à sua linhagem nesta existência e, na próxima, os guiará para que atinjam o estado de buda”.8

Faz parte da conduta budista respeitar, prezar e confiar em cada criança como uma preciosa entidade de vida.

O Sutra do Lótus transmite a mensagem da dignidade e da nobreza das crianças por meio da história da menina-dragão, de 8 anos. Ao atingir o estado de buda na forma que se apresenta, ela demonstra que todas as pessoas podem alcançar a iluminação, despertando, assim, a fé na Lei Mística no coração dos adultos que duvidavam dessa possibilidade.

Recordo-me ternamente de conversar sobre os direitos das crianças com o ex-subsecretário-geral das Nações Unidas, Anwarul K. Chowdhury, que estava diretamente envolvido com a adoção e promoção da Convenção sobre os Direitos da Criança pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1989.

Chowdhury destacou dois pontos sobre os direitos das crianças. O primeiro é “a filosofia básica de que as crianças têm direitos que o mundo adulto deve reconhecer”, e o segundo, “a importância fundamental de se consultar as crianças em relação a ações de adultos que possam ter um impacto imediato ou futuro sobre elas”.9

Isso significa tratar as crianças com o máximo respeito como pessoas, estimulando-as a expor suas opiniões de um modo condizente com a fase de desenvolvimento delas, levando em consideração suas ideias, tentando compreendê-las e respondendo de maneira apropriada. Ou seja, envolver as crianças no diálogo.

Manter esse tipo de conversa com crianças em casa e na comunidade cultiva a capacidade de ambos os lados de se comunicar com os outros e de criar relacionamentos humanos positivos. Estou convicto de que isso acarretará a edificação de comunidades e sociedades pacíficas.

Reprodução/Fofo-RN176 Na foto tirada por Ikeda sensei, entre flores cor-de-rosa, um novo botão de lótus desponta. Esse aspecto é tal como os integrantes da Divisão dos Estudantes. A vida jovem, com grandes sonhos e possibilidades, aguarda o momento do florescimento (Tóquio, jul. 2022) – FOTO: Seikyo Press


Mahatma Gandhi (1869–1948), que acreditava de coração no potencial dos jovens, declarou: “Se quisermos alcançar a verdadeira paz neste mundo e se quisermos travar uma guerra efetiva contra a guerra, teremos de começar com as crianças”.10

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No capítulo 11, “Surgimento da Torre de Tesouro”, do Sutra do Lótus, os budas das dez direções se reúnem diante de Shakyamuni e de Aquele que Assim Chega Muitos Tesouros. Por quê?

Nichiren Daishonin esclarece em Abertura dos Olhos:
Shakyamuni, Muitos Tesouros e os demais budas desejam assegurar a propagação do Sutra do Lótus para todos os filhos do buda das existências futuras.11

Daishonin prossegue:

Considerando as declarações acima, podemos deduzir que a preocupação e a compaixão desses budas superam até mesmo as de um pai e de uma mãe ao ver o sofrimento terrível de seu único filho.12

O foco está no futuro. Os compassivos e dedicados esforços da família Soka para abrir o caminho para as crianças e os jovens que arcarão com a responsabilidade pelo futuro sintetizam a “preocupação e a compaixão” do Buda.

A Soka Gakkai é o mundo da verdadeira educação humanística que encoraja e cultiva os seres humanos.

Exatamente pelo fato de que promover o desenvolvimento de pes­soas constitui um dos empreen­dimentos mais desafiadores, os benefícios de se fazê-lo são tão imensuráveis.

Reprodução/Fofo-RN176 Presidente Ikeda profere sua segunda palestra na Universidade Harvard sobre o tema “O Budismo Mahayana e a Civilização do Século 21” (Boston, Estados Unidos, 24 set. 1993) –  Dr.Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Foto: Seikyo Press / BS


Na passagem final de Saldar as Dívidas de Gratidão, Daishonin expressa: “A flor retornará à raiz, e a essência permanecerá na terra”.13

Com o sincero desejo de fazer desabrochar maravilhosas flores em forma de “valores humanos”, nossos dedicados membros se empenham incansavelmente para nutrir a terra do coração dos nossos jovens com a água do incentivo e com os raios de sol de calorosas orações. Tenho a certeza de que eles e aqueles a quem amam serão recompensados com esplêndidas flores de felicidade e frutos da boa sorte e dos benefícios.

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Meu mestre [Josei Toda] declarou solenemente: “A luta que travamos agora é em prol dos próximos cem, duzentos anos. Daqui a dois séculos, a história mostrará que nós, da Soka Gakkai, estávamos no caminho certo. As gerações futuras testemunharão isso sem sombra de dúvida”.

Setenta e cinco anos atrás, em agosto de 1947, encontrei-me com Toda sensei pela primeira vez. Naquela ocasião, perguntei-lhe: “Qual a maneira correta de viver?”. A partir de então, lutando ao lado dele, vivendo com esse espírito e criando nossos sucessores de cora­ção, compreendi de forma profunda e veemente a resposta para aquela pergunta.

Hoje, há membros em todo o Japão e ao redor do mundo que, fazendo deles o meu espírito, se dedicam a apoiar e a desenvolver os jovens que se tornarão “mais azuis que o índigo”.

Os integrantes da DE são os condutores da tocha da justiça que vão “assegurar que a Lei perdure por muito tempo”14 e definir o curso do kosen-rufu mundial a partir do centenário da Soka Gakkai em 2030, ao longo do século 22 e além.

Como afirma o ditado, não há educação melhor do que a adversidade. As dificuldades enormes diante dos jovens de hoje só encontram paralelo na grandiosa missão que eles possuem de ensejar uma era de paz e de humanidade.

Portanto, transbordando a colossal energia vital do tempo sem início, vamos dar uma nova partida, com o olhar voltado para o futuro eterno dos Últimos Dias da Lei. Que desta nossa imensa nebulosa de bodisatvas da terra possamos fazer surgir alegremente, e brilhar ao máximo, incalculáveis reluzentes estrelas de “valores humanos”!

Reprodução/Fofo-RN176 Quão colorido será o mundo de amanhã! No dia seguinte à primeira palestra na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, Ikeda sensei visita a cidade de Boston e tira foto comemorativa com integrantes da Divisão dos Estudantes (set. 1991). Dr.Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Foto: Seikyo Press / BS

No topo: Presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, e sua esposa, Kaneko, na sacada do Museu Literário Victor Hugo (Bievre, França, jun. 1991).
Publicado no Seikyo Shimbun de 4 de agosto de 2022.

Notas:

  1. Como fundador da Universidade Soka, o presidente Ikeda brindou-a com os seguintes princípios fundamentais: (1) Ser o mais elevado local do aprendizado da educação humanística. (2) Ser o berço de uma nova cultura. (3) Ser uma fortaleza para a paz da humanidade.
  2. HUGO, Victor. Les Misérables (Os Miseráveis). Tradução: Julie Rose. Londres: Vintage, 2008. p. 184.
  3. Cf. Traduzido do francês. HUGO, Victor. Pendant l’exil: 1852–1870 [Durante o Exílio: 1852–1870]. InActes et Paroles [Atos e Palavras]. Paris: Albin Michel, v. 2, p. 305, 1938.
  4. Ibidem.
  5. No Japão, o Mês do Dinâmico Desenvolvimento da Divisão dos Estudantes vai de mea­dos de julho ao fim de agosto de cada ano, coincidindo com o período de férias escolares de verão.
  6. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai­shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 396, 2019.
  7. O presidente Ikeda proferiu o discurso “O Budismo Mahayana e a Civilização do Século 21”, na Universidade Harvard, em 24 de setembro de 1993.
  8. The Writings of Nichiren Daishonin[Os Escritos de Nichiren Daishonin]. v. II, Tóquio: Soka Gakkai, 2006. p. 457.
  9. CHOWDHURY, Anwarul K.; IKEDA, Daisaku. Creating the Culture of Peace: A Clarion Call for Individual and Collective Transformation [Construção de uma Cultura de Paz: Toque dos Clarins Convocando para a Transformação Individual e Coletiva]. Londres: I. B. Tauris, 2020. p. 86.
  10. GANDHI, Mahatma. The Collected Works of Mahatma Gandhi [Coletânea de Obras de Mahatma Gandhi]. Nova Délhi: Departamento de Publicações do Ministério da Informação e Radiodifusão do Governo da Índia, v. 48, p. 240, 1971.
  11. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 299, 2014.
  12. Ibidem, p. 299-300.
  13. Ibidem, p. 770.
  14. The Lotus Sutra and Its Opening and Closing Sutras[O Sutra do Lótus e seus Capítulos de Abertura e Conclusão]. Tradução: Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, v. 11, p. 216, 2004.

FOTOS: Seikyo Press