ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 10/09/2022 13:27 CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA
Por Ho Goku
Capítulo “Levantando Voo”, volume 30
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustrações da matéria – ILUSTRAÇÕES: Kenichiro Uchida
PARTE 9
Em 25 de abril, Shin’ichi e os demais de sua delegação deixaram Pequim e voaram para Guilin via Guangzhou, capital da província de Guangdong.
No dia seguinte, foram de carro para Yangdi, onde caminharam sob uma garoa fina até o cais do rio Li. Quando eles transpuseram o bosque de bambu, várias crianças à beira do rio se aproximaram deles. Entre elas, duas meninas estavam vendendo remédios e carregavam as mercadorias nos ombros.
Elas diziam às pessoas que passavam pelo caminho: “Temos todos os tipos de remédio. Escolham o que quiserem”.
Vestidas com roupas simples, usavam tranças sem nenhum acessório. Seus olhos brilhantes causaram uma agradável impressão.
Sorrindo, Shin’ichi apontou o dedo para si e disse, brincando:
— Então, por favor, você teria algum remédio para eu ficar mais inteligente?
Uma das meninas respondeu sem hesitação:
— Ah, este remédio esgotou agora há pouco — e abriu um largo sorriso.
Foi uma resposta rápida e espirituosa, fazendo todos caírem na gargalhada.
Shin’ichi então encolheu os ombros e falou:
— Puxa, isso é realmente uma pena para o nosso pobre cérebro.
Shin’ichi e sua esposa, Mineko, compraram algumas pomadas das meninas para dar de lembrança quando retornassem para o Japão.
A menina talvez tivesse aprimorado a rapidez de raciocínio por meio dos muitos encontros com as pessoas enquanto vendia seus produtos.
Crianças são preciosos tesouros da sociedade e o espelho que reflete o futuro. Vê-las crescer fortes e vigorosas como árvores que fincam firmes raízes na terra transmitiu a Shin’ichi a esperança pelo século 21. Ele renovou sua decisão e seu compromisso de se empenhar ainda com mais energia para o intercâmbio educacional e cultural também em prol dessas crianças.
Acompanhada do vice-prefeito de Guilin e de outros, a delegação fez um passeio de barco pelo rio Li de Yangdi e Yangshuo, uma jornada de cerca de duas horas e meia, desfrutando uma animada conversa ao longo do caminho.
As belas paisagens de Guilin inspiraram o grande poeta Tang Han Yu a cantar: “O rio é uma fita de seda azul; as montanhas, como grampos de cabelo de jade”.1
Penhascos de formas fantásticas se erguiam ao longo de ambos os lados do rio enquanto o barco navegava por um reino encantado coberto pelo véu branco da névoa.
PARTE 10
O rio Li estava mais belo sob a chuva enevoada, explicou Sun Pinghua, vice-presidente da Associação da Amizade Sino-Japonesa, que acompanhava Shin’ichi e a delegação. Porém, enquanto o grupo apreciava a beleza poética de Guilin, o assunto da conversa se voltou para os eventos internacionais recentes.
A invasão soviética no Afeganistão no final de dezembro do ano anterior (1979) havia gerado intensas críticas na China. Algumas autoridades chinesas adotaram uma visão negativa das visitas de Shin’ichi à União Soviética para promover a amizade e dialogar com seus líderes.
Durante a conversa no barco, um funcionário disse:
— O senhor construiu uma ponte dourada da amizade entre Japão e China, mas acabará prejudicando a relação entre os dois países se visitar a União Soviética. Gostaríamos que não fosse para lá.
Shin’ichi ficou agradecido com essa opinião franca, mas não concordou:
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustrações da matéria – ILUSTRAÇÕES: Kenichiro Uchida
— Compreendo o sentimento dos senhores, porém os tempos estão mudando drasticamente. Ao nos aproximarmos do século 21, devemos orientar o mundo na direção da paz por toda a humanidade. Não é hora de as grandes potências ficarem se hostilizando nem rivalizando umas com as outras. Necessitamos de uma abordagem humanística, uma vontade de promover a harmonia, enquanto extraímos e evidenciamos os pontos positivos de cada uma das partes, e de trabalhar em cooperação e com apoio mútuo para criar uma nova era.
Embora Shin’ichi se esforçasse em expressar seus pensamentos com toda a seriedade, não conseguia convencer todas as autoridades chinesas. E a conversa continuava retornando à questão de qual país era mais importante: a China ou a União Soviética.
“O rio Li flui em meio a um cenário de constante mudança até que finalmente chega ao mar”, pensou Shin’ichi. Os tempos, também se moviam em direção ao grande oceano de paz para toda a humanidade, assim ele acreditava firmemente.
— Amo a China. A China é importante. Ao mesmo tempo, amo os seres humanos. A humanidade como um todo é importante. Os líderes soviéticos me disseram que nunca atacariam a China, e transmiti essa mensagem aos líderes do seu país. Quero que a China e a União Soviética se deem bem. Tenho a certeza de que os senhores um dia entenderão o que quero dizer.
Essa era sua opinião e crença honestas.
Esforços persistentes tornam possível o impossível.
PARTE 11
Na noite de 26 de abril, no Hotel Ronghu, onde estava hospedado, Shin’ichi Yamamoto se encontrou com Li Luogong, presidente da Academia de Arte de Guilin e professor do Instituto de Artes de Guangxi. O presidente Li havia estudado no Japão e era um renomado calígrafo, pintor e gravador de selos.
Eles conversaram de maneira entusiástica a respeito de caligrafia e pintura, mas as seguintes palavras foram as que ficaram profundamente gravadas no coração de Shin’ichi:
— A arte da caligrafia (shodo) não é meramente a letra pela letra. Ela nasce dos pensamentos e sentimentos da pessoa e expressa sua visão do mundo e do universo, bem como seu caráter.
Três décadas depois, em abril de 2010, o Instituto de Artes de Guangxi concedeu um cargo honorário vitalício a Shin’ichi.
Na manhã do dia 27 de abril, a delegação em visita à China partiu de Guilin, passou por Guangzhou para chegar a Xangai naquela noite. Era a última parada da visita à China.
Na manhã seguinte, Shin’ichi participou de uma cerimônia no Estádio Coberto de Xangai, onde a delegação fez uma doação de artigos esportivos para a cidade. À tarde, ele visitou a Escola Correcional de Trabalho e Estudos do Distrito de Changning de Xangai, um internato destinado à reabilitação de jovens delinquentes [hoje, “adolescentes que cumprem medida socioeducativa”] de 16 e 17 anos.
O diretor da escola conduziu o grupo de Shin’ichi à visitação pelas salas de aula.
Shin’ichi apertou a mão dos alunos um a um e conversou com eles. Os jovens têm um potencial ilimitado. Desejando que cada um deles vivesse de maneira forte e positiva, os apertos de mão foram ficando ainda mais firmes, e ele os encorajou com todo o coração:
— A vida é longa. Pode haver momentos em que se frustram por um motivo ou outro, mas não permitam jamais que isso os faça perder a esperança. Contanto que continuem desafiando a si próprios, sempre haverá esperança. Mas se desistirem de si mesmos e se tornarem autodestrutivos, vocês estarão apagando as chamas da esperança. Independentemente do que aconteça, não sejam derrotados por si mesmos. Vencer a si próprios é o que leva a serem vitoriosos em tudo. Estudem ao máximo nesta escola e vençam pela sociedade, pelos seus pais e por si mesmos. Desenvolvam-se admiravelmente sem desanimar e venham visitar o Japão sem falta. Tenham persistência. Não sejam derrotados!
Os olhos dos estudantes, que meneavam a cabeça em concordância, brilhavam com determinação.
PARTE 12
Na tarde de 28 de abril, o presidente da Universidade de Fudan, Su Buqing, foi ao encontro de Shin’ichi no hotel Jin Jiang, onde estava hospedado em Xangai. Shin’ichi havia visitado a Universidade de Fudan em 1975 e em 1978 para doar livros, e ele e o presidente Su eram amigos de longa data.
O presidente Su era um renomado matemático e, nesse dia, eles dialogaram mais uma vez a respeito de matemática e educação. Durante a conversa, Shin’ichi perguntou-lhe se havia uma maneira fácil de ensinar a difícil matemática. A resposta do presidente Su impressionou Shin’ichi:
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustrações da matéria – ILUSTRAÇÕES: Kenichiro Uchida
— Em tudo existe o processo de passagem do raso para o profundo, do pequeno para o grande, do fácil para o difícil. É possível ensinar matemática explicando cada etapa do processo com cuidado e paciência, ajudando os alunos a dominá-la.
O presidente Su Buqing continuou dizendo de maneira enfática:
— Em outras palavras, o aluno deve dar um passo de cada vez, sem pular nada e dominar o assunto de forma gradual e constante. Então, deve seguir adiante, visando um objetivo mais elevado. Haverá momentos em que sentirá que isso é impossível, e justamente são estes os momentos cruciais. Se perseverar e seguir em frente, chegará a um ponto em que o caminho se abrirá. Talvez isso possa ser algo semelhante ao processo de “atingir a iluminação”.
Quando se avança em direção a uma meta, certamente surgirão obstáculos no caminho. Esse é o momento da verdade, em que se inicia uma luta consigo mesmo. Ao derrotar a própria fraqueza interior, como a tendência a desistir ou a ser complacente, e continuar a avançar, a situação sem falta mudará para melhor. Vencedor é outro nome para alguém que tem controle sobre si próprio.
Nos anos seguintes, Shin’ichi Yamamoto manteve contato regular com Su Buqing e ambos chegaram a se encontrar e dialogar em seis ocasiões.
Em junho de 1987, Shin’ichi dedicou o poema O Grande Rio da Paz a Su Buqing, então presidente honorário da Universidade de Fudan, celebrando a amizade e a confiança entre ambos. Um dos versos dizia:
Assim como um grande rio
começa com uma
única gota d’água,
vamos avançar juntos como gotas únicas,
criando um rio Yangtze da paz.
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Nota:
- Polnoe Sobranie Sochinenii(Complete Works), p. 144.
ILUSTRAÇÕES: Kenichiro Uchida