A função da religião na formação da cidadania global

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO  23/09/2022 13:20                                                                     ESPECIAL DA REDAÇÃO

Reflexões sobre cidadania (parte 3)

Comissão de Estudos sobre Consciência Política da BSGI

 

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração da matéria – Ilustração: GETTY IMAGES

O presente artigo objetiva analisar o papel que a religião exerce nas questões políticas, em especial, na cidadania global, com base nos ensinamentos de Nichiren Daishonin e nas orientações dos Três Mestres.

Com a proximidade das eleições no Brasil, você já deve ter parado para pensar: “Qual é o posicionamento da BSGI em relação às questões políticas? A BSGI apoia alguma agremiação política? Apoia algum candidato?”.

Embora boa parte dessas perguntas já encontre resposta na Nota Oficial disponibilizada para as eleições de 2022,2 esta matéria complementa e aprofunda a visão sobre o assunto.

Em vários de seus escritos, Nichiren Daishonin adverte que as questões seculares não diferem do budismo:

A pessoa de sabedoria não é a que pratica o budismo à parte dos assuntos seculares; em vez disso, ela tem plena compreensão dos princípios que regem o mundo.3

O budismo não está dissociado da sociedade. Todos os sistemas de organização da sociedade — desde a família até a economia, a política de um país e o complexo sistema dos organismos internacionais — são constituídos essencialmente por pessoas. Por isso, quando compreendemos, à luz do estudo aprofundado do budismo, a origem, as características, o potencial e o processo de interação de cada ser humano, então, de forma natural e automática, entendemos com clareza os demais sistemas em que os indivíduos estão inseridos.

Neste ano, o Brasil escolherá, por meio do voto democrático, os representantes do povo nas esferas estadual, distrital e federal nos cargos dos Poderes Executivo e Legislativo. Em absoluto respeito à liberdade de voto de cada membro, a BSGI não influenciará na escolha deste ou daquele candidato, ou na adoção desta ou daquela ideologia político-partidária.

Muito além das transições de governo, o verdadeiro papel da religião é nutrir permanentemente a consciência do indivíduo para que este se torne um cidadão responsável, que age com coragem e sabedoria em meio aos vários desafios que se apresentam na sociedade.

Em 1976, quando a Soka Gakkai entrou em uma nova era com novos centros culturais e um fluxo ininterrupto de novos “valores humanos” começou a surgir, diversos cursos de treinamento de verão foram promovidos nos centros culturais de todo o Japão. Em um desses cursos, Ikeda sensei ofereceu a seguinte orientação aos integrantes da Divisão dos Universitários (DUni):
Nessa época em que o capitalismo e o comunismo ainda se contrapõem naquilo que chamamos de Guerra Fria, as pessoas com frequência nos perguntam de que lado a Soka Gakkai está. A resposta é: nenhum. Seguimos o caminho do meio, do humanismo, fundamentado na inviolabilidade da vida. O Budismo Nichiren é um ensinamento no qual nada está faltando; ele é pleno, completo e abrangente. A Soka Gakkai abarca os extremos da direita e da esquerda e os transcende, buscando a felicidade da humanidade e a paz mundial.4

No início da década de 1950, discorrendo sobre o conceito de “cidadania global” em um seminário de pesquisas da Divisão dos Jovens (DJ), Josei Toda declarou que “Não preconizava nem o comunismo nem o capitalismo, mas a cidadania global”.5

O conceito de cidadania global consistia numa ideologia que “reconhecia todos os seres humanos como habitantes do planeta Terra e que abraçava igualmente os povos de todas as regiões — leste e oeste, norte e sul”,6 além de expressar o ardente desejo de Toda sensei de pôr fim ao ciclo de guerras e livrar as pessoas da miséria. Em suma, é uma filosofia que prega a paz e a harmonia que se contrapõem à violência e à divisão que levam à infelicidade e ao sofrimento da humanidade.

O budismo ensina a absoluta igualdade entre os seres humanos, uma vez que o estado de buda é inerente à vida das pessoas. A cidadania global visa ao bem-estar e à felicidade de todos os povos do planeta Terra. Portanto, o foco principal são as pessoas, conforme nosso mestre orienta:

Observando-se numa perspectiva de longo prazo, torna-se evidente que sistemas políticos e governos mudam e evoluem com o tempo. Não devemos nos permitir preocupar demais com essas realidades mutáveis. A menos que concentremos o foco nas pessoas, não seremos capazes de realizar a tarefa do kosen-rufu, a transformação de nossa conturbada sociedade na Terra da Luz Tranquila.7

Assim, ainda mais relevante que perceber a importância da prática e do estudo do budismo para que exerçamos o direito de voto de forma consciente, é reconhecer que a Soka Gakkai abraça e atua para o propósito maior de esti­mular que cada indivíduo, despertando sua natureza de bodisatva da terra, promova os ideais da filosofia humanística de Nichiren Daishonin no meio em que vive. Para isso, é necessário que todos tenham consciência da impor­tância da cidadania global, o espírito de tolerância e o respeito aos direitos humanos, com fundamento no budismo.

Ilustração: GETTY IMAGES

Notas:

  1. Comissão de Estudos sobre Consciência Política da BSGI: Grupo criado para a pesquisa e a produção de materiais que versam sobre cidadania e política à luz dos princípios budistas, dos escritos de Nichiren Daishonin e das publicações oficiais da Editora Brasil Seikyo.
  2. Brasil Seikyo, ed. 2.617, 27 ago. 2022, p. 26.
  3. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 389, 2017.
  4. IKEDA, Daisaku. Empenho Resoluto. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 23, p. 250, 2019.
  5. Terceira Civilização, ed. 619, mar. 2020, p. 48-65.
  6. Ibidem.
  7. Brasil Seikyo, ed. 2.439, 13 out. 2018, p. B3.