ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 23/09/2022 13:45 REDE DA FELICIDADE
Por Dr. Daisaku Ikeda
Incentivos extraídos do romance Nova Revolução Humana
Reprodução/Foto-RN176 Ilustração retrata Shin’ichi Yamamoto incentivando os participantes da reunião de fundação do Distrito Brasil em 20 de outubro de 1960. Dr. Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI Fotos: Seikyo Press -Ilustrações: Kenichiro Uchida
Na reunião de fundação do Distrito Brasil, realizada em 20 de outubro de 1960, durante a primeira visita de Shin’ichi Yamamoto [pseudônimo do presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, no romance Nova Revolução Humana], ele incentiva calorosamente uma senhora imigrante japonesa sobre a missão pelo kosen-rufu.
Quando a sessão de perguntas e respostas se aproximava do fim, Shin’ichi percebeu que havia uma senhora sentada na última fileira que por várias vezes tentara levantar o braço, mas acabava desistindo. A mulher aparentava ter trinta e poucos anos e a expressão em seu rosto era de cansaço e profundo desalento. Shin’ichi então procurou encorajá-la:
— A senhora tem alguma questão? Por favor, pergunte.
Ela se levantou e disse desanimada:
— Meu marido ficou doente e morreu. Não sei como vou conseguir sobreviver…
A família da jovem senhora havia emigrado para o Brasil a fim de trabalhar na lavoura. Entretanto, com a perda do marido, ficou difícil para ela trabalhar na terra sozinha e sustentar os filhos pequenos.
Quando já pensava em suicídio, a mulher ouviu sobre o Budismo de Nichiren Daishonin de um membro da Soka Gakkai que morava perto dela. A jovem senhora iniciara a prática budista havia apenas uma semana. Quase simultaneamente, tinha conseguido um emprego numa fábrica em São Paulo, que também oferecia moradia para a família.
Ela prosseguiu dizendo:
— Quando penso que terei de continuar vivendo aqui para sustentar meus filhos, num país em que tudo é estranho para mim, não consigo deixar de sentir uma enorme insegurança. Acho que meu carma é terrível. Não sei o que poderá acontecer no futuro. Só sei que não vou conseguir suportar.
Sorrindo, Shin’ichi Yamamoto respondeu:
— Não se aflija. Contanto que continue praticando o budismo, a senhora será feliz, sem falta. Esse é o propósito do budismo. A senhora está passando agora por todos esses sofrimentos e infortúnios justamente para cumprir uma nobre missão, que é só sua. Se ficar apenas se martirizando com o carma, tudo em sua vida acabará em derrota e infelicidade.
Ela olhou para Shin’ichi com ar de perplexidade. A pessoa que a convertera ao budismo lhe havia dito que a perda do marido se devia ao carma negativo acumulado com as ofensas cometidas em existências passadas.
O budismo expõe, de fato, que o indivíduo que comete um mau ato contra outros sofrerá os efeitos negativos dessas ações e terá uma vida infeliz. Porém, esse é apenas um aspecto dos ensinamentos budistas. Se tudo se restringisse ao carma, as pessoas estariam fadadas a viver carregando o peso da culpa e sob uma forte ansiedade por não saberem que ofensas teriam cometido em existências passadas. Nesse sentido, o destino das pessoas seria algo determinado, imutável — um pensamento que facilmente poderia lhes privar de sua energia e paixão. Poderia também levá-las à passividade, a se preocuparem apenas consigo mesmas e em não fazerem nada de mal.
O Budismo de Nichiren Daishonin vai além dessa noção superficial de causalidade. Elucida a causa fundamental e nos mostra o meio para voltarmos à vida original, pura, que existe desde o tempo sem início. Essa causa fundamental nos faz despertar para a nossa missão como bodisatvas da terra, a dedicar a nossa vida à ampla propagação da Lei.
Shin’ichi disse à jovem senhora:
— O budismo elucida um princípio chamado ganken ogo [carma adotado por desejo próprio]. Segundo esse princípio, os praticantes do budismo escolhem, por vontade própria, nascer em circunstâncias desfavoráveis para que possam ajudar os outros. Isso significa que, embora tenhamos acumulado benefícios por meio da prática budista para renascer em circunstâncias favoráveis, escolhemos propositadamente renascer em meio aos que sofrem para propagar a Lei Mística.
Shin’ichi continuou sua explanação procurando usar termos de fácil compreensão:
— Por exemplo, se alguém que sempre viveu como uma rainha, sem grandes dificuldades ou problemas, dissesse que se tornou feliz graças à prática do budismo, ninguém lhe daria ouvidos. Contudo, se uma pessoa doente, de família pobre, menosprezada pelos outros, consegue transformar a vida por meio da prática budista, tornando-se feliz e ainda uma líder na sociedade, isso será uma esplêndida prova da grandiosidade do budismo. A senhora não concorda que isso levaria outros a querer praticar o budismo também? Ao vencer a situação de grande pobreza, o praticante consegue transmitir esperança a outras pessoas que enfrentam dificuldades financeiras. Ao adquirir boa saúde e vitalidade, alguém que sempre lutou contra a doença consegue acender a chama da coragem no coração daqueles que enfrentam circunstâncias similares. Ao construir um ambiente familiar feliz e harmonioso, alguém que sofreu com desentendimentos no lar se tornará um líder para outros afligidos por problemas de relacionamento familiar. Da mesma forma, se conseguir se tornar feliz e criar seus filhos de maneira que se tornem excelentes pessoas neste país, cujo idioma sequer fala, a senhora se tornará um exemplo reluzente que inspira outras mulheres que também perderam o marido. Mesmo aqueles que não praticam o budismo irão admirá-la e procurá-la em busca de conselhos. Como vê, quanto maior e mais profundo o sofrimento, mais magnífica será a prova dos benefícios da prática budista. Pode-se dizer que carma é outro nome para missão. Eu sou filho de um pobre beneficiador de algas marinhas. Trabalhei ao lado do Sr. Toda durante as amargas provações resultantes da falência da empresa, apesar de estar com a saúde frágil devido à tuberculose. Por ter experimentado dificuldades e sofrimentos como todo mundo, pude assumir a liderança do movimento do kosen-rufu como representante das pessoas comuns.
Reprodução/Foto-RN176 Integrante da Divisão Feminina fala sobre os desafios que estava enfrentando após vir para o Brasil – Ilustrações: Kenichiro Uchida
Enquanto ouvia a explicação de Shin’ichi, a jovem senhora movia a cabeça em concordância. Pelo semblante dos participantes percebia-se que estavam cada vez mais animados. Todos haviam suportado árduos desafios diariamente.
Após beber um pouco de água, Shin’ichi disse empregando mais energia em sua voz:
— Talvez os senhores estejam pensando que vieram para o Brasil por causa das circunstâncias de cada um. No entanto, a razão não é bem essa. Os senhores nasceram como bodisatvas da terra para realizar o kosen-rufu do Brasil, para conduzir as pessoas deste país à felicidade e para construir aqui a terra da eterna paz e tranquilidade. Ou melhor, os senhores foram escolhidos por Nichiren Daishonin para estarem aqui. Quando se conscientizarem de sua sublime missão como bodisatvas da terra e dedicarem a vida ao kosen-rufu, o sol que existe dentro dos senhores desde o tempo sem início começará a brilhar. Todas as ofensas que cometeram em vidas passadas serão dissipadas como a bruma e os senhores iniciarão uma vida maravilhosa permeada pela profunda alegria e felicidade.
Shin’ichi Yamamoto abriu um terno sorriso para a jovem senhora e prosseguiu dizendo:
— Se observar seus sofrimentos com base na profunda visão do budismo, verá que são como as angústias de uma heroína representadas no palco por uma excelente atriz. Ao término da peça, a atriz volta para o conforto e a tranquilidade de seu lar. A vida da senhora é a mesma coisa. Assim como nos dramas de teatro, a história que a senhora representa no palco de sua vida terá um final feliz. Não se preocupe. A senhora conquistará a felicidade. Digo isso com total convicção. Assim como a atriz sente prazer em atuar como a trágica heroína, por favor, erga-se das profundezas de seu sofrimento para desempenhar com coragem o magnífico drama da revolução humana. Todas as pessoas são desbravadoras que atravessam as fronteiras desconhecidas da vida. Dessa forma, cabe apenas a cada um de nós cultivar e desenvolver a própria vida. É preciso empunhar a enxada da esperança, plantar as sementes da felicidade e perseverar com tenacidade na prática da fé. As gotas de suor derramadas em prol do kosen-rufu vão se tornar gemas de boa sorte que haverão de dignificar a sua vida para sempre. Por favor, torne-se a pessoa mais feliz do Brasil!
Quando Shin’ichi concluiu suas palavras, ela respondeu cheia de entusiasmo:
— Sim! Eu serei a pessoa mais feliz!
No mesmo instante, aplausos ecoaram por todo o salão. Todos concordaram com Shin’ichi e parabenizaram a jovem senhora pela decisão tomada.
Após responder a mais duas ou três perguntas, chegou finalmente o momento de Shin’ichi anunciar a fundação do primeiro distrito fora do Japão.
— Tenho o prazer de anunciar neste momento a fundação do Distrito Brasil!
Uma salva de aplausos ressoou por todo o recinto.
A reunião de palestra transformou-se, de fato, na cerimônia de fundação do distrito e na primeira convenção do Brasil.
No topo: Ilustração retrata Shin’ichi Yamamoto incentivando os participantes da reunião de fundação do Distrito Brasil em 20 de outubro de 1960
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Fonte:
IKEDA, Daisaku. Desbravadores. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 1, p. 239-243, 2019.
Ilustrações: Kenichiro Uchida