Pessoas vulneráveis têm mais chances de desenvolver quadro grave da doença, que pode levar à morte
ROTANEWS176 E DIARIO DE SÃO PAULO 03/04/2016 15:13
Quanto o vírus Influenza A H1N1 surgiu, em 2009, um verdadeiro pânico tomou conta das pessoas. Algumas optavam por usar máscaras nas ruas, o álcool em gel praticamente sumiu das farmácias e as igrejas suspenderam até o cumprimento da “paz” nas missas. Sete anos depois a situação se agrava novamente.
O temido vírus com alto poder de mutação por reunir organismos humano, suíno e aviário retornou ao noticiário neste mês e tem tirado o sono de muita gente, principalmente quem tem em casa pessoas no grupo de risco.
E é exatamente desse grupo que Rubens Murilo dos Santos, de 54 anos, faz parte. O diabético foi diagnosticado com o vírus no último domingo e descreve os sintomas como “insuportáveis”. “Em mais de 50 anos de vida não me lembro de ter passado por algo igual”, contou. Há uma semana, o radialista não sai de casa, não recebe visitas e usa máscaras para evitar contaminar a família.
Reprodução/Foto-RN176 Rubens Murilo dos Santos, radialista. Foto: Nelson Coelho/Diário SP
“Tenho utilizado toalhas e talheres separados. As janelas e portas ficam sempre abertas para arejar e a roupa de cama é trocada diariamente”, relatou.
Todos os cuidados são para que Rubens não desenvolva o quadro da gripe que mais preocupa, a SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Até o último dia 22 de março, a síndrome levou 17 pessoas à morte apenas na capital, sendo que mais da metade (oito) provocadas pelo vírus H1N1.
“O esforço é para evitar essa piora no quadro, principalmente aquele que possui fatores de risco”, explicou a clínica geral do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, Ligia Brito, na Zona Sul.
Segundo os especialistas, todos os tipos de vírus causadores da gripe podem evoluir e causar a SRAG, mas há uma suspeita de que o H1N1 tenha essa propriedade acentuada. A aposta dos médicos é que a alta mutação do vírus potencialize essas chances de agravamento.
“Como circula tanto em humanos quanto em porcos e aves, o vírus tem mais organismos vivos para serem alterados. Os outros tipos de gripe não causam quadros tão graves porque o nosso sistema de defesa já teve contato com elas”, explicou o pneumologista Francisco Mazon, do Hospital das Clínicas, no Centro.
É por causa dessa alta transformação que o grupo de risco precisa ser vacinado anualmente. A dose distribuída nos países do hemisfério sul é produzida com as espécies do vírus mais circulantes nos países do norte no ano anterior. “Não fui tomar a vacina no ano passado e sofri as consequência agora”, lamentou Rubens.
Idosos e crianças estão entre os que mais preocupam
Nem sempre a melhor opção é correr ao hospital logo no primeiro sintoma da gripe. “A preocupação é com crianças, idosos e pessoas com mais problemas de saúde”, explicou a infectologista Sumire Sakabe, do Hospital 9 de Julho. “O ideal é que quem está fora do grupo de risco não vá ao hospital para diminuir as chances de contaminação”, explicou pneumologista do Hospital das Clínicas, Francisco Mazon.
O medo, porém, provocou uma corrida atrás de vacinas. Aglomerações se formaram ontem em clínicas particulares. Em uma delas, na Zona Sul, a fila chegou a dois quarteirões. O preço da dose variava de R$ 110 a R$ 130. A maioria tinha filhos no colo.
Nesta segunda (3) começa a campanha de vacinação na Grande São Paulo. Primeiro serão imunizados profissionais de saúde. No dia 11, gestantes, crianças de 6 meses a 5 anos e idosos . Ontem, a Secretaria Estadual da Saúde divulgou que até 29 de março, 465 pessoas tinham contraído a gripe no estado e 55 morreram.
Análise
Bianca Grassi de Miranda,
infectologista do Hospital Samaritano
‘Diagnóstico nem sempre é feito com exame’
Para diagnóstico específico do H1N1, o material necessário ao teste é a secreção nasal para realizar a análise do vírus por meio do PCR (método de ampliação de DNA). A observação molecular determina se há a presença do vírus. A maior parte dos pacientes não precisa do diagnóstico específico, e a partir da avaliação clínica já é indicado o tratamento, principalmente em um surto ou epidemia. O exame é recomendado quando há dúvida no diagnóstico ou verifica-se que o paciente tem fatores de complicações. Até mesmo a medicação específica (tamiflu ou seu princípio ativo, o seltamivir) só deve ser usada nesses casos. O restante dos pacientes de casos de gripe comum são tratados com repouso e remédios para os sintomas.