Balançar as redes do carma

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 11/11/2022 10:15                                                                        RELATO DA REDAÇÃO

Do sonho de ser jogador, a frustração dá lugar à renovada jornada de vitória

 

Reprodução/Foto-RN176 André Luiz Nonato, Responsável pelo Distrito Barão Geraldo, RM Circuito das Águas, Sub. Bandeirantes, CGSP – Fotos: Arquivo pessoal

A chance de fazer carreira no futebol se abriu para André aos 9 anos, sonho de muitos meninos de sua idade. Criado no município paulista de Jundiaí, a família já praticava o Budismo Nichiren quando ele nasceu, em 1980. A esse fato ele credita a força que lhe serviu de apoio no momento em que viu o sonho de se tornar jogador profissional ser interrompido. Mais que isso. Foi no ambiente Soka que descobriu o nobre sentido de sua existência, construindo um novo eu capaz de determinar a vitória no campeonato da vida.

Atualmente, André está na linha de frente do Distrito Barão Geraldo, RM Circuito das Águas, e é vice-responsável pelo Grupo Alvorada da Sub. Bandeirantes, que abrange o interior de São Paulo. Ele atuou por 21 anos na Divisão dos Jovens (DJ) e um fato marcante de 2009 selou no coração dele a convicção que faltava: André 1 x 0 Desesperança. Os resultados desse placar esse jovem pilar de ouro conta aqui.

A família como base

Meus pais iniciaram a prática budista há 42 anos, em outubro de 1980, e nasci em um lar já budista. Minha infância foi marcada por dificuldades, principalmente financeiras. Somos em quatro irmãos, e as adversidades eram muitas, faltando às vezes o básico de sustento. Certa vez, por não conseguirmos pagar o aluguel, fomos despejados. Mesmo nessa situação, aprendi a importância do daimoku (a recitação do Nam-myoho-renge-kyo) com a minha família, sempre acreditando na vitória.

Aos 9 anos, iniciei a carreira no futebol. Passei por diversos clubes, acalentando o sonho de crescer na área e ajudar minha família a mudar aquela realidade. Com 17, assinei meu primeiro contrato como jogador profissional. Porém, o “sonho concretizado” acabou se transformando em grande sofrimento: não recebia salário, vivíamos em condições deploráveis e a alimentação era muito ruim.

Mantive minha fé e prática budistas. Com o passar dos anos, surgiu a oportunidade de jogar no exterior, mas, quinze dias antes da avaliação final, sofri uma lesão gravíssima no joelho. Aí meu mundo desabou.

Desafiando orar de duas a três horas de daimoku por dia, algo em meu coração se fortaleceu. Força, coragem e sabedoria para lidar com aquele sentimento. Foi o meu despertar como bodisatva, que não se permite ser derrotado por nada. A lesão no joelho poderia soar como desculpa de uma vida fracassada, mas se tornou a grande virada para mim.

Luta de bastidor, força para a vida

Eu atuava intensamente dentro da Divisão dos Jovens. Fui líder de bloco aos 24 anos, e de comunidade, aos 27. Eu me desafiava na recitação de mais daimoku, fazia muitas visitas com os veteranos e incentivava as pessoas. Integrei o Gajokai, grupo de bas­tidor da Divisão Masculina de Jovens (DMJ), no qual fortaleci minha vida e selei meu juramento ao Mestre. Apesar do desafio para conciliar tudo, sabia que a boa sorte estava em meio às atividades da Soka Gakkai.

Em 2003, eu me casei, mesmo sem ter condições de alugar uma casa. A situação era bastante difícil, com o aluguel e as despesas domésticas sempre atrasados. Após um ano, nasceu nosso primeiro filho, Leonardo, um dos melhores acontecimentos da minha vida.

Esse foi o ponto de partida para uma renovada decisão: determinei que compraria nossa casa em, no máximo, um ano. Trabalho como corretor de imóveis e, nessa ocasião, desafiava-me muito na recitação de daimoku, atuava nas reuniões e trabalhava duro visando um futuro melhor e mais sólido para minha família. Com a oração e ação, em nove meses adquirimos um apartamento.

Em casa, passávamos por inúmeras circunstâncias. Vivíamos com muitos altos e baixos e a desarmonia familiar era constante.

Em 2006, engravidamos do nosso segundo filho, mas infelizmen­te minha esposa sofreu um aborto espontâneo, descobrindo que tinha endometriose. Eu me fortalecia com as orientações do Mestre para superar e vencer aquela adversidade.

Reprodução/Foto-RN176 momentos em família: André com os irmãos – Fotos: Arquivo pessoal

Depois de dois anos de intensos exames e o diagnóstico de vários médicos, minha esposa não poderia mais engravidar por vias normais. A doença já tinha obstruí­do as trompas e, devido a intenso sofrimento e muita dor, ela desenvol­veu uma depressão profunda. Foi uma época desafiadora, pois tinha de tentar conciliar tudo ao mesmo tempo.

No ano seguinte, 2009, ocorre a Convenção dos Jovens da Nova Era, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Saí do encontro com renovado juramento de vitória. Tive a chance também de dialogar com uma veterana, que me incentivou a realizar uma grandiosa luta para levar a felicidade às pessoas, apresentando-lhes o Budismo Nichiren e a Soka Gakkai. Era o movimento do “Bloco Monarca” e, como ela me disse, valeria por dez anos. Abracei esse propósito com gratidão; e, no íntimo, o anseio de que a gravidez normal ocorresse.

Fomos surpreendidos um ano depois com a notícia de que minha esposa estava grávida. Que felicidade! Como discípulo de Ikeda sensei, tinha essa certeza em meu coração. Em 2011, nasce meu segundo filho, Gabriel, minha maior realização por ser a comprovação cabal tanto da minha determinação como da prática séria e sincera, que lancei por um longo período.

A partir de então, ampliei a visão de sonho. Minha esposa e filhos não eram membros da Soka Gakkai. Decidi fazer acontecer.

Para isso, compreendi que precisava realizar a minha revolução humana e mudar meu comportamento. Em uma atividade em São Paulo, eu me encontrei com uma veterana “petaculosa”, que muitos conhecem. Ela foi objetiva: “Seja o farol onde quer que esteja. Não se engane, pois, sendo o farol, guiará a todos”.

Isso caiu como uma luva! Minha esposa, Vanessa, se encontrava num quadro depressivo profundo, e eu a incentivava para que pudesse enfrentar mais um dia. Começamos a orar daimoku juntos. Em pouco tempo, ela passou a sentir a diferença e a participar das reuniões que organizávamos na sede de Campinas, SP. Dentro de seis meses, minha esposa se converteu junto com meus filhos. Após dezesseis anos cultivando esse grande desejo em meu coração, o sonho se torna realidade: minha família unida, em torno do ideal de paz da Soka Gakkai.

Trago esta maravilhosa orientação de Ikeda sensei em meu coração:

Não permita que seu coração seja derrotado. Não se permita desistir no meio do caminho. Levante a cabeça e olhe para a frente alegremente mesmo que se sinta decepcionado com a vida. Quando as dificuldades e o carma negativo manifestarem na sua vida, faça arder ainda mais o espírito invencível e reconfirme sua determinação de vencer sem falta. Essa é a característica de quem vence infalivelmente no final. Torne-se forte suportando as intempéries da vida e edifique um inabalável eu.1

Como vejo o futuro

Em 2030, centenário da Soka Gakkai, meus filhos estarão com 26 e 19 anos e, sem dúvida, serão pessoas valorosas na vanguarda da organização. Vou me empenhar em apoiá-los em tudo.

Reprodução/Foto-RN176 momentos em família: André com os pais – Fotos: Arquivo pessoal

Por meio de toda a luta realizada desde a juventude, conseguimos transformar aquela difícil situação financeira. Hoje posso oferecer uma condição sólida à minha família, que nos possibilita ter segurança e conforto, mas principalmente lutar pelo kosen-rufu e ajudar a transformar a realidade de muitas pessoas. Juntos, tivemos a oportunidade de conhecer sedes da Soka Gakkai pelo mundo, como em Orlando, Miami, São Francisco, Los Angeles, San Diego, além da Universidade Soka da América, nos Estados Unidos.

Em 2020, com a chegada da pandemia, nós não nos desesperamos. Na família, recitamos muito mais daimoku e estabelecemos dias e horários para estudo, cada integrante com a responsabilidade de compartilhar matérias e incentivos para dialogarmos.

Sou autônomo e não tenho salário fixo no fim do mês. Mesmo assim, com a convicção de vitória, desafiei-me a aumentar minha cota do Kofu, também como forma de gratidão. Venci mais uma vez.

No Distrito Barão Geraldo, unimos força e organizamos atividades e visitas virtuais com o sentimento de que cada membro fosse protegido e se tornasse feliz. Diariamente, sem falhar, enviamos incentivos diá­rios para os companheiros se fortalecerem ainda mais por meio da prática. Nossa decisão é não deixar ninguém para trás, criar valor todos os dias e, por intermédio dos sucessores da Divisão dos Jovens e da Divisão dos Estudantes (DE), garantir a eterna correnteza da luta pela felicidade das pessoas junto com Ikeda sensei.

Já na família, temos mais de vinte shakubuku (pessoas a quem apresentamos o budismo) concretizados, frutos da luta diá­ria da minha esposa, dos meus filhos e minha. Que alegria!

Enfrentamos obstáculos e maldades, mas a prática budista nos oferece ferramentas para vencê-los. Somos o resultado das nossas próprias escolhas e temos a missão de levar alegria a todas as pessoas, transformar o desespero em felicidade.

Hoje, me sinto um vencedor! Minha família é uma família Soka, completa: pai, mãe, irmãos, cunhados, cunhada, sobrinhos, todos praticantes.

Reprodução/Foto-RN176 André com a esposa e os filhos – Fotos: Arquivo pessoal

Meus pais, Ednei, 70 anos, e Odila, 67, realizaram uma luta grandiosa pela felicidade das pessoas nos locais em que atuaram. Lembro-me da minha mãe entregando o Brasil Seikyo na roça e fazendo visitas, e meu pai sempre incentivando e alegrando a todos nas atividades com canções maravilhosas da Gakkai. Meus irmãos, Marco, 48, e Carlos, 47, participaram do festival de 1984. Minha irmã, Cristiane, 45, vem vencendo em tudo em sua localidade.

Para encerrar, gostaria de compartilhar uma frase do meu mestre da vida, Dr. Daisaku Ikeda:
Algumas vezes, nós nos vemos sem alternativas. É por essa razão que precisamos fortalecer a fé e recitar daimoku com seriedade. Por mais difícil que possa ser, quando galgamos a escarpada montanha do destino, um novo horizonte se abrirá amplamente diante de nós. A prática budista é uma repetição desse processo. Assim, atingiremos um estado de felicidade absoluta que jamais será destruído.2

Muito obrigado!

André Luiz Nonato, 42 anos. Corretor de imóveis. Responsável pelo Distrito Barão Geraldo, RM Circuito das Águas, Sub. Bandeirantes, CGSP.

Notas:

  1. Brasil Seikyo, ed. 2.277, 30 maio 2015, p. B2.
  2. Idem, ed. 2.317, 26 mar. 2016, p. C4.

Fotos: Arquivo pessoal