O kosen-rufu significa eterno avanço

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 16/12/2022 13:58                                                                        ENCONTRO COM O MESTRE                                                                                                                                    Por Dr. Daisaku Ikeda

Trechos do discurso proferido pelo presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), Dr. Daisaku Ikeda, na 13a Reunião de Líderes de Regional da Soka Gakkai, realizada no Auditório Memorial Makiguchi de Tóquio, em Hachioji, no dia 9 de julho de 1997. O vídeo gravado foi exibido durante a mais recente Reunião de Líderes da Soka Gakkai, em 12 de novembro de 2022.

 

 

Reprodução/Foto-RN176 Presidente Ikeda incentiva os membros a se tornar pessoas valorosas em todas as áreas de atuação (Centro Cultural da SGI-Alemanha, jun. 1991). Dr.Daisaku Ikeda. Ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Fotos: Seikyo Press

Nichiren Daishonin escreveu:
Todos os lugares, exceto a Capital da Luz Tranquila, são mundos de sofrimento. Se abandonar o refúgio da iluminação inerente, onde acredita que encontrará alegria? Oro para que abrace a Lei Mística, que garante que as pessoas “desfrutarão paz e segurança na presente existência e boas circunstâncias nas existências futuras”. Essa é a única glória que o senhor precisa buscar nesta vida, e é a ação que o levará ao estado de buda na próxima. Recite o Nam-myoho-renge-kyo com atitude resoluta e sincera, e recomende com veemência aos outros que façam o mesmo; isso permanecerá como a única lembrança de sua existência neste mundo humano.1

Em outras palavras, a verdadeira alegria encontra-se na luta em prol do kosen-rufu, na prática e na ação dedicadas à felicidade de si e dos outros.

Ele também afirma que “O Sutra do Lótus é a grandiosa Lei para que a vida jamais envelheça e jamais morra”.2 Ou seja, nós, que abraçamos a Lei Mística, não sofreremos nem com a velhice nem com a morte. Enquanto mantivermos acesa a chama da fé, a chama da força vital brilhará incessantemen­te dentro de nós; podemos viver plenamente transcendendo o nascimento e a morte. A fé é o instrumento propulsor que nos capacita a viver com esperança por todas as nossas existências.

A SGI é um exemplo de uma sociedade de vida longa. Os jovens da SGI são cheios de energia. E assim também são os membros da Divisão Sênior e da Divisão Feminina. Todos são vigorosos e cheios de vida. A fonte dessa vitalidade é o daimoku. Não há caminho mais sublime na vida. (…) Aqueles que louvam a SGI são louvados pelos deuses budistas, bem como pelos budas e bodisatvas.

Cultivando relacionamentos humanos

Como podemos desenvolver uma condição de vida grandiosa e benevolente? Expandindo nossa esfera de relacionamentos interpessoais, nosso círculo de amigos. (…)

Em qualquer situação, os relacionamentos humanos — a comunicação e a interação pessoal — são vitais. Devemos tomar a iniciativa de cultivar amizades e contatos com diversas pessoas tanto dentro da organização como na sociedade em geral. Nossa vida se abrirá e se enriquecerá na mesma proporção que conquistarmos isso.

Um pouco antes de morrer, o grande poeta e escritor russo Liev Tolstói (1828–1910) pediu para falar com sua filha mais nova, de quem ele gostava muito, e contou-lhe sobre seu último desejo. Algo importante que mencionou nessa ocasião foi que, quanto mais ela se relacionasse com as outras pessoas, mais cresceria e se desenvolveria como ser humano. Ele a advertiu para que jamais se esquecesse disso.

Na SGI, relacionar-se com as pessoas significa engajar-se em diálogos, estudar os ensinamentos de Nichiren Daishonin com outras pessoas e avançar em prol do kosen-rufu. (…)

Certa vez, Goethe disse:
É uma grande tolice esperar que os outros homens se harmonizem conosco… Pois é em um conflito com naturezas opostas à sua que um homem deve reunir forças para conseguir espaço, assim, todos os lados diferentes se manifestam e se desenvolvem; dessa maneira, logo nos damos conta de que somos capazes de lidar com qualquer pessoa.3

Cultivar relacionamentos harmoniosos e conquistar o apoio de pessoas de personalidade e opiniões diferentes fazem parte da nossa prática budista. Esse é um pré-requisito para a organização avançar e para o nosso próprio crescimento e aprimoramento individual. Isso também nos capacita a formar um sólido caráter para que possamos nos sentir seguros durante os encontros e diálogos com todos os tipos de pessoas. Tenho feito isso com líderes do mundo todo. Esse é o tipo de força que devemos desenvolver por meio da nossa prática. (…)

A primeira declaração do presidente Makiguchi em prol do kosen-rufu

Desde a época do presidente fundador, Tsunesaburo Makiguchi, o propósito da Soka Gakkai tem sido a realização do kosen-rufu, ou seja, a ampla propagação da Lei Mística.

Quando vocês acham que foi a primeira vez que o presidente Makiguchi utilizou o termo kosen-rufu em uma audiência pública? Quando foi que declarou que a Soka Gakkai era uma organização que se dedicava a atingir esse objetivo? Não foi em uma época de tranquilidade. Ao contrário, foi na época em que a Soka Gakkai estava sendo violentamente atacada pelas autoridades. (…)

Em maio de 1942, foi realizada a 4a Reunião Geral da Soka Kyoiku Gakkai. Essa atividade ocorreu pouco mais de seis meses após o ataque a Pearl Harbor. No começo, a força militar japonesa tinha conquistado uma série de vitórias. Entretanto, não havia mais a possibilidade de isso se repetir. O país logo se encontrou sem saída, preso a uma guerra que não poderia vencer. Era o início de sua decadência.

No entanto, os japoneses, por terem sido continuamente enganados pela mídia, que estava sob a influência do Estado, ignoravam a real situação. Consequentemente, o país inteiro estava iludido por uma euforia de vitória. “O Japão é o maior!”, gritavam as pessoas. “O Japão é uma terra divina!”

Já naquela ocasião, entretanto, o presidente Makiguchi percebeu agudamente a devastação iminente. “O Japão será arruinado”, declarava. “A derrota do país é certa.” (…) Ele percebeu corretamente os eventos através do espelho brilhante de sua fé pura e de seu nobre caráter.

Aterrissando em solo inimigo

O presidente Makiguchi solicitou aos participantes da reunião geral: “Temos de conduzir a nação ao bem maior. É como aterrissar em solo inimigo”.4 Em outras palavras, caminhar entre as pessoas mergulhadas na ignorância e destrutividade e tentar ensiná-las sobre o bem maior [a Lei Mística] é como aterrissar em meio ao exército inimigo; o ataque será inevitável. (…)

Ele declarou: “Estou convicto de que levarei a felicidade à nossa família e à sociedade, e de que poderemos atingir ao menos uma parte da grande tarefa que culminará na realização do kosen-rufu”.5 Essa foi a sua primeira declaração formal do objetivo do kosen-rufu. O presidente Makiguchi disse que continuaria a dedicar a vida até atingir esse propósito. Concluiu suas palavras afirmando:

Uma vez que fomos encarrega­dos de cumprir essa importante missão, devemos jurar avançar assiduamente em quaisquer circunstâncias, sem nos conduzir egoisticamente nem explorar os outros, com a inabalável consciência de que cada um de nós é uma pessoa de bem maior escolhida para cumprir essa tarefa.6

E, exatamente como afirmou, o presidente Makiguchi caminhou de forma resoluta em direção ao kosen-rufu. Em meio à perseguição, e mesmo com a idade avançada [estava com mais de 70 anos], ele realizou mais de 240 reuniões de diálogo [entre os períodos de maio de 1941 e junho de 1943]. O presidente Makiguchi partiu sozinho em viagens por todo o país. Sabe-se que ele converteu mais de quinhentas pessoas ao Budismo de Nichiren Daishonin [entre 1930, ano da fundação da Soka Kyoiku Gakkai, e julho de 1943, quando foi preso]. Aquele foi um período em que o clero havia perdido completamente o espírito do kosen-rufu.

O presidente Makiguchi tinha uma missão verdadeiramente profunda e maravilhosa. Quanto mais estudo e aprendo sobre Makiguchi sensei, mais profundamente eu sinto isso.

É assim que se cria a história; é assim que a verdadeira história começa. É sobre esse espírito da Soka Gakkai que gostaria que vocês refletissem. O presidente Josei Toda se levantou contra a guerra, na pior das épocas, com a determina­ção de que “agora é a época do kosen-rufu”. (…)

Desenvolvam a coragem de um leão!

Quando as condições são as mais hostis, é precisamente nessas horas que devemos reunir nossa coragem e agir. Nichiren Daishonin afirma: “(…) Os que possuem o cora­ção de um rei leão, sem dúvida, atingirão o estado de buda”.7

Um covarde é incapaz de se tornar um buda. Somente podemos atingir o estado de buda quando possuirmos a coragem de um leão. Quanto mais difícil for a circunstância, mais corajosa deve ser a atitude que devemos tomar. Essa é a essência do espírito da Soka Gakkai.

Partindo com paciência e esforço para os lugares onde a situação seja pior ou pareça impossível de ser vencida, poderemos abrir um caminho à nossa frente.

O que o clero fazia enquanto o presidente Makiguchi lutava pelo kosen-rufu? (…) Estava tentando destruir o kosen-rufu. A atitude do clero continua a mesma até hoje.

Naquela ocasião [com a esperança de evitar a perseguição do governo militarista, que estava promovendo o xintoísmo nacional como um meio de unificação espiritual da nação japonesa], o clero havia proibido a publicação do Gosho, e ordenou que catorze passagens essenciais das escrituras de Nichiren Daishonin, incluindo o trecho: “Eu, Nichiren, sou o venerável mais proeminente de todo o Jambudvipa”,8 fossem omitidas dos volumes existentes. (…)

Além do mais, o clero consagrou o talismã xintoísta no templo principal Taiseki-ji e insistiu que o presidente Makiguchi e os membros da Soka Kyoiku Gakkai também o aceitassem. Essa foi uma calúnia abominável que o clero cometeu contra os ensinamentos de Nichiren Daishonin. E quando o presidente Makiguchi declarou sua absoluta recusa à aceitação, o clero secretamente se aliou às forças que perseguiam a organização. (…)

O que aconteceu com os discípulos do presidente Makiguchi? Em geral, ficaram surpresos e alarmados pela firme postura de Makiguchi sensei. Eles não agiram como leões. O presidente Makiguchi havia bradado em prol do kosen-rufu e em refutação ao Estado. Contudo, seus discípulos, em vez de correrem para o lado dele, temerosamente murmuravam coisas como “É muito arriscado neste momento”, “Ainda é muito cedo”, “Seremos todos presos pela polícia militar”. (…)

Enquanto todos os outros se afastavam, somente Josei Toda estava tranquilamente determinado: “Eu sou discípulo do presidente Makiguchi! Permanecerei ao lado do meu mestre até o fim”. Esse é o solene espírito de mestre e discípulo.

Mais tarde, Josei Toda expressou sua gratidão ao mestre, dizendo: “Com sua imensa e infinita benevolência, o senhor permitiu que eu o acompanhasse até na prisão”. Em vez de lamentar o fato de ter sido preso, o presidente Josei Toda possuía um único sentimento — gratidão. Agradeceu ao seu mestre por este tê-lo permitido enfrentar a perseguição ao seu lado. Esse é o relacionamento de mestre e discípulo.

Quando foi libertado da prisão, o presidente Josei Toda levantou-se sozinho e resolutamente desfraldou a bandeira do kosen-rufu com a mesma convicção do seu mestre. O mestre e o discípulo eram inseparáveis. Dessa maneira, ele superou o sofrimento da morte do seu mestre, estabelecendo a grande correnteza do kosen-rufu. Jamais devemos nos esquecer desse caminho da unicidade de mestre e discípulo. (…)

Quando os líderes se aprimoram, todos se desenvolvem

Na luta pelo kosen-rufu, quando os líderes avançam, todos seguem em frente. Quando os líderes se aprimoram, todos se desenvolvem. (…) Quando um líder decide “Eu realizarei a minha revolução humana! Eu me desenvolverei!” e entra em ação, faz surgir com isso a força propulsora para a constante vitória. Essa é a única fórmula para o contínuo triunfo.

Nichiren Daishonin ressalta: “A Lei não se propaga por si mesma. Por ser propagada pelas pessoas, tanto a Lei como as pessoas são dignas de respeito”.9 Em todos os aspectos, a realização do kosen-rufu depende de pessoas capazes. Devemos encontrar, desenvolver e reunir pessoas de capaci­dade. Aquelas que conseguem realizar essa tarefa são pessoas de caráter notável.

É meu desejo que a Soka Gakkai redobre suas energias nesses esforços — uma “revolução para fortalecer pessoas capazes” — para o próximo século. Com essa observação, concluo minhas palavras de hoje. Obrigado.

Leia o discurso na integra no Brasil Seikyo, ed. 1.453, 21 mar. 1998, p. 3.

No topo: Presidente Ikeda incentiva os membros a se tornar pessoas valorosas em todas as áreas de atuação (Centro Cultural da SGI-Alemanha, jun. 1991)

Notas:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 66, 2019.
  2. The Major Writings of Nichiren Daishonin, v. I, p. 120.
  3. GOETHE, Johann Wolfgang von. Conversations with Eckermann [Diálogos com Eckermann]. Nova York e Londres: M. Walter Dunne, Publisher, 1901. p. 67.
  4. Traduzido do japonês: MAKIGUCHI, Tsunesaburo.Makiguchi Tsunesaburo Zenshu[Obras Completas de Tsunesaburo Makiguchi]. Tóquio, Daisanbunmei-sha, v. 10, p. 147, 1987.
  5. Ibidem, p. 146.
  6. Ibidem. p. 148.
  7. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai­shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 318, 2019.
  8. Ibidem, p. 671.
  9. Gosho Zenshu[Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin]. Tóquio: Soka Gakkai, p. 856.

 

Foto: Seikyo Press