Carnaval Saiba usar o banheiro químico com segurança

ROTANEWS176 E POR CANALTECH 18/02/2023 09:43
Por Fidel Forato

Banheiros químicos podem estar repletos de vírus, bactérias e parasitas, especialmente no carnaval. Para usar com segurança, é preciso adotar algumas medidas.

 

Carnaval normalmente combina com curtição, amigos, flertes, bebidas e pouca preocupação. Apesar do momento de alegria, a festa popular tem seus riscos. Por acaso, já imaginou quantas bactérias, vírus e protozoários podem existir em um banheiro químico? Não há uma resposta única — afinal, ela depende das condições de higiene do espaço —, mas, seguramente, são muitas. A maioria deles causa diarreia.

A situação de um banheiro químico fica ainda mais complicada quando imaginamos que, uma cabine de rua, instalada estrategicamente no percurso de um bloco de carnaval, é frequentada por dezenas ou centenas de pessoas em um curto período. Para entender os possíveis riscos, o Canaltech foi atrás de especialistas no campo da infectologia.

Aqui, cabe pontuar que focamos exclusivamente as possíveis doenças transmitidas pelos banheiros químicos, ou seja, não serão abordados aqueles patógenos transmitidos pelo beijo, como o o herpes labial a mononucleose, a popular “doença do beijo”.

Essas doenças podem ser tão prevalentes quanto as diarreias nesta época do ano.

Reprodução/Foto-RN176 Foto: Photovs/Envato / Canaltech

Quais vírus e bactérias podem ser encontradas em banheiros?

Faltam estudos científicos sobre as bactérias e vírus que vivem nos banheiros químicos durante a folia do carnaval, mas uma pesquisa da Universidade do Arizona mediu a quantidade de patógenos encontrados em banheiros coletivos nos Estados Unidos, como os de aeroportos, rodoviárias e restaurantes de fast food.

Publicado na revista Epidemiology, o estudo (assustador) revela que 21% dos locais visitados estavam contaminados por bactérias coliformes e 3,1% continham a Escherichia coli (E. coli), conhecida por provocar diarreias. Além disso, a bactéria Salmonella estava presente em 3% das torneiras e pias desses locais. Curiosamente, os índices de contaminação eram maiores nos banheiros femininos.

Vale mencionar que a contaminação dos espaços pode ocorrer por diferentes práticas de higiene e hábitos gerais dos usuários, como contaminação direta, geração de aerossóis de descarga do vaso sanitário, mãos sujas e sujeira dos calçados.

Doenças “comuns” no banheiro químico

No contexto brasileiro e de carnaval, o perfil dos agentes infecciosos muda um pouco. Para Carolina dos Santos Lázari, médica e infectologista do Fleury Medicina e Saúde, as doenças do trato gastrointestinal e a hepatite A são as mais frequentes. Inclusive, a especialista destaca alguns dos possíveis patógenos nestes espaços:

• Vírus: hepatite A (diarreia), rotavírus (diarreia), norovírus (diarreia) e adenovírus (doença respiratórias);
• Bactérias: E. coli (diarreia);
• Parasitas: giardia (diarreia) e espécies de ameba (possivelmente, diarreias).

Diante dos agentes infecciosos listados, a infectologista explica ser possível que, após o uso de banheiros mal higienizados, a pessoa apresente diarreia (como apontamos genericamente), náusea, vômito e dor abdominal.

E as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST)?

São mais raras infecções genitais ou perianais — aquelas que podem ser transmitidas pelo contato com superfícies contaminadas por urina, sêmen ou secreções — neste contexto do banheiro químico. Isso porque, diferente das ISTs, as infecções de transmissão fecal-oral são mais facilmente transmissíveis dentro das cabines.

Por outro lado, é verdade que algumas ISTs podem, sim, ser contraídas indiretamente, sem que tenha ocorrido penetração ou contato corporal. Nesses casos, o contágio ocorre a partir de objetos contaminados. No entanto, a médica explica que “os veículos mais comuns são objetos que tenham sido usados em contato direto com os genitais ou ânus da pessoa infectada e, a seguir, da outra pessoa, como artigos eróticos ou roupas íntimas”.
Dessa forma, “as superfícies de assentos sanitários, em geral, ficam em contato com o corpo por curto período e tendem a não apresentar uma quantidade de agente infeccioso suficiente para a transmissão”, acrescenta.

Só que há um alerta: “considerando que banheiros de uso público, ainda mais nas condições do carnaval, costumam ser altamente contaminados, não é impossível haver esse tipo de transmissão. Nesse contexto, as infecções mais relevantes seriam herpes simples, HPV e sífilis”, avisa.

Como reduzir riscos de doenças na hora de usar o banheiro químico no carnaval?
Na hora do aperto, em meio a uma multidão, nem sempre dá para segurar e a pessoa precisa recorrer ao banheiro químico — em época de carnaval, muito dificilmente, as instalações estarão em boas condições sanitárias. Dessa forma, cinco principais precauções devem ser tomadas para evitar infecções — e que valem mesmo para quem já tomou algumas doses de bebida alcoólica:

1. Cuidado com o celular

Aqui, não estamos falando dos assaltos, mas do smartphone como plataforma para as mais diversas bactérias e vírus. Por isso, sempre deixe o celular no bolso e só volte a usá-lo quando as mãos estiverem limpas e, de preferência, longe do banheiro. Já imaginou se, por um descuido, ele cai no vaso sanitário?
2. Não encoste no vaso sanitário
Generalizando, o vaso sanitário é possivelmente o local com mais agentes infecciosos por milímetro quadrado do banheiro químico. Por isso, se possível, não se deve sentar na tábua e, caso queira, somente faça suas necessidades após algum tipo de higienização, com álcool em gel ou lenço desinfetante.
3. Leve lenços de papel na pochete
Uma boa dica para reduzir os riscos de exposição é levar de casa lenços de papel ou lenços umedecidos. Isso porque, se a cabine contar com papel higiênico — o que é bastante raro —, ele vai estar contaminado.
4. Muito álcool em gel

Além dos lenços, é bom levar um frasco pequeno de álcool em gel para higienizar as mãos após o uso. Use bastante, já que vírus e bactérias podem ficar presos nas unhas e causar infecções de pele ou mesmo serem transmitidas aos alimentos, culminando em uma infecção intestinal.

Inclusive, nesse caso, o álcool em gel é melhor que lavar as mãos com um possível sabonete em barra do banheiro químico. No contexto de carnaval, a água que acumula na saboneteira pode ter criado o abrigo ideal para uma colônia de bactérias. Agora, se tiver sabonete líquido, pode usá-lo.

Se as recomendações anteriores pudessem ser resumidas em uma única dica seria: encoste o menos possível nas superfícies do banheiro químico, como paredes e assentos. Para sua segurança, considere que estão potencialmente contaminados.
O que fazer em caso de diarreia depois do carnaval?

Se as medidas de redução de danos não funcionarem na hora de usar o banheiro químico e, infelizmente, a pessoa desenvolver algum tipo de diarreia, a infectologista destaca a necessidade de manter o corpo hidratado. “O mais importante é se hidratar bastante, com água, água de coco ou sucos naturais (de procedência confiável)”, recomenda.
Aqui, cabe destacar que “refrigerantes e bebidas alcoólicas não podem ser considerados formas de hidratação, pois, mesmo que ingeridos em grande quantidade, levam à perda de fluidos por outros mecanismos”, afirma Lázari. Além da ingestão de líquidos, a pessoa deve comer alimentos leves, evitando açucares e gorduras.

“Para pessoas saudáveis, em geral, essas diarreias agudas são autolimitadas e requerem somente hidratação e tratamento sintomático”, explica. No entanto, em alguns casos, pode ser necessário a busca por ajuda médica especializada. A seguir, confira quais são os sinais de alerta:

• Sintomas persistirem por mais de uma semana;
• Fezes acompanhadas de muco ou sangue;
• Recorrência de vômitos que impeçam a hidratação por via oral;
• Casos em que a pessoa tenha condições prévias que comprometem a imunidade.

Como funciona um banheiro químico

Embora falar de tantas bactérias e vírus possa soar um tanto quanto alarmista, é verdade que os banheiros químicos são um possível foco de transmissão de inúmeras doenças. Para se ter uma ideia, além de serem usadas por muitas pessoas, as cabines não são conectadas a nenhum sistema de esgoto. Dessa forma, todo o xixi e cocô ficam armazenados até o final da festa em um reservatório que comporta em média 200 litros. Após o término da folia, caminhões especializados recolhem os dejetos acumulados.
Outro ponto que deve ser considerado é que, nas cabines mais simples, não há nenhum tipo de descarga para higienização após o uso. Este é o caso dos banheiros químicos disponíveis para o carnaval na cidade de São Paulo. Além disso, diferente dos banheiros tradicionais e de espaços mais estruturados, não existem profissionais de limpeza para desinfetar as cabines.

Neste contexto, o odor pode ser bastante forte, especialmente quando não há estratégias adequadas de ventilação ou quando a temperatura está muito quente. Por essas e outras, é consideravelmente importante manter o bom senso ao usar esses espaços e adotar estratégias para reduzir os danos — no caso, as infecções.

Fonte: Com informações: Epidemiology
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