ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 24/02/2023 11:05 Por Dr. Daisaku Ikeda
Aprender com a Nova Revolução Humana.
Reprodução/Foto-RN176 Desenho-humano de ilustração da matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida
Em 12 de maio de 1964, a caminho da Austrália, o voo de Shin’ichi Yamamoto fez escala em Manila, Filipinas, onde ele incentivou Kikuko Itami, membro local que estava se empenhando com afinco nas atividades em prol do kosen-rufu desde que se mudara do Japão para esse novo país.
— Aqui, nas Filipinas, enfrentamos muitas dificuldades que barram o avanço do kosen-rufu. Mesmo falando sobre o budismo com toda a sinceridade, as pessoas acham que o Japão está tentando agora invadir as Filipinas com uma religião militarista. As atrocidades cometidas pelo exército japonês na época da guerra criaram em todos um forte sentimento antinipônico. A influência de outras religiões está arraigada na vida da população em geral e as igrejas emitem até mesmo certidão de casamento como se fossem um cartório de registro público. Nesse meio, é muito difícil as pessoas aceitarem a prática do budismo.
Kikuko informou tudo, quase como um desabafo. Para ela, aquela era sua primeira experiência em promover as atividades num país desconhecido. Shin’ichi procurou confortá-la.
— Entendo perfeitamente seu sentimento e as dificuldades que têm encontrado aqui em Manila. Mas, pensando bem, o que você está fazendo não é exatamente aquilo que chamamos de exercício budista? O kosen-rufu é uma árdua missão que cumprimos em meio às dificuldades. Você deve se lembrar da frase contida nos escritos de Nichiren Daishonin: “A prática por cem anos no paraíso não supera os benefícios provenientes da prática por um dia em Edo”.1 O termo Edo indica este mundo, isto é, o mundo em que vivemos, o rigor da realidade da vida. Por isso, quanto maior a dificuldade de promover o kosen-rufu, maior será também seu benefício. Além disso, os bodisatvas da terra encontram-se em todas as partes. Com certeza, eles surgirão aqui em Manila e nas Filipinas. Não se preocupe em demasia. Basta você orar com toda a seriedade e promover pacientemente o diálogo sobre o budismo que começarão a surgir pessoas desejosas de seguir a prática budista. Os escritos citam claramente que o kosen-rufu é um árduo empreendimento por ser o ato de cumprir o sagrado testamento do buda Nichiren Daishonin.
(Trechos do capítulo “Nova Era”)
Fé significa triunfar sobre as dificuldades
Em 16 de julho de 1966, Shin’ichi participou de um curso de aprimoramento ao ar livre para o Hosu-kai e o Grupo Hosu (“Hosu” significa “jovens fênix” em japonês), compostos, respectivamente, por estudantes masculinos e femininos do ensino médio. Durante uma sessão de perguntas e respostas, Kimiko Kudo, uma jovem com deficiência física causada pela pólio, começou a chorar ao expressar suas dificuldades e ansiedades em relação ao futuro.
— Somos apenas duas pessoas em casa. Minha mãe, que é auxiliar de enfermagem, e eu. No futuro, terei de cuidar dela. Para isso, queria ser professora, mas minha deficiência não me permite. Pensei então em cursar uma faculdade, mas tenho de desistir por falta de dinheiro. Para falar a verdade, não sei o que fazer nem sei o que será de nossa vida…
Sua voz ficou embargada devido às lágrimas. Sua tristeza tornava-se provavelmente maior quanto mais ouvia a respeito da importância de viver e cumprir a missão do kosen-rufu. Ela não conseguia abrir um novo caminho dentro da realidade em que se encontrava e isso causava um desespero em seu coração.
— Preste atenção: a prática da fé não é ter pena de si mesma. Mesmo que você caia em lágrimas, nada será resolvido.
O ambiente ficou tenso e todos permaneceram em silêncio.
Shin’ichi Yamamoto fitou o rosto de Kimiko Kudo e disse com certo rigor:
— Você tem o Gohonzon! Não deve sentir-se perdida assim. De que adianta lamentar de sua deficiência? Por mais que lamente, nada mudará em sua vida. Além do mais, todos vivem com algum problema ou dificuldade. Não há ninguém afortunado em todos os aspectos da vida. Se você é filha da Gakkai, desafie as circunstâncias adversas do presente para vencer no futuro. A questão não é o que acontecerá a você, mas o que você fará para direcionar sua vida. Se você realmente pretende ser professora, então firme essa determinação. Se não tem condições econômicas para cursar uma faculdade, procure trabalhar para pagar as mensalidades. Pode até fazer um curso no período noturno. O ato de querer viver por uma missão não é brincar de idealismo nem ficar falando meramente de ideais. Praticar o budismo consiste em encarar a dura realidade e mudá-la para melhor. É na disposição de lutar para vencer que existe o brilho da prática da fé. Por mais dura que seja sua vida hoje, sua missão é viver com muito mais vigor do que qualquer outra pessoa e conquistar a felicidade com toda a dignidade.
Kimiko mordeu os lábios e ouviu atentamente as palavras de Shin’ichi.
— Não seja fraca. Não seja uma derrotada. Haja o que houver, lute com toda a força. Seja forte. Esforce-se ao máximo. Vou torcer por você.
Embora fossem rigorosas, as palavras de Shin’ichi transmitiram um profundo calor e incentivo ao coração de Kimiko.
(Trechos do capítulo “Jovens Herdeiros”)
Gratidão é a fonte da felicidade
Em 16 de outubro de 1964, Shin’ichi e comitiva chegaram a Oslo, Noruega. Foram recebidos pelo líder da Comunidade Noruega, Koji Hashimoto, que expressou sua profunda gratidão a Shin’ichi por manter a promessa de visitar os membros daquela localidade.
— Parece um sonho receber o senhor aqui em Oslo. Em nosso último encontro no aeroporto, em Paris, solicitei-lhe que visitasse a Noruega e o senhor prometeu que viria numa próxima oportunidade. E isso está acontecendo agora. O senhor cumpriu sua promessa, mas eu não fiz nada para merecer sua visita. Estou constrangido em recebê-lo dessa forma e não tenho palavras para agradecer-lhe pela visita.
A voz de Koji estava embargada.
— Pelo contrário, sou eu que agradeço por seus esforços. O importante é manter sempre o sentimento de gratidão. A gratidão é a expressão da alegria; e a alegria é a fonte que gera a coragem. Quando se sente gratidão, manifesta-se a disposição de se esforçar e de retribuir às pessoas. Após ter observado inúmeras pessoas, posso afirmar que as que possuem gratidão são felizes. E é verdade também que os traidores carecem do sentimento de gratidão. Além disso, as pessoas ingratas acham natural que os outros lhes prestem favores. Por isso, quando nada fazem por elas, ficam insatisfeitas e só reclamam. E quando não recebem apoio num momento de dificuldade, acham que os líderes são culpados e se afastam da prática da fé. Não percebem que estão trilhando por conta própria pelo miserável caminho da infelicidade. Nos escritos de Daishonin consta a seguinte orientação: “Contudo, mesmo que recite e acredite no Myoho-renge-kyo, se pensa que a Lei existe fora de seu coração, o senhor não está abraçando a Lei Mística, mas um ensinamento inferior”.2 Portanto, uma pessoa que só reclama que os outros nada fazem para ajudá‑la está buscando a Lei fora do próprio coração. Esse estado revela fraqueza de espírito. Provém da falha de não reconhecer que tudo depende de si mesma, de não assumir a autonomia como ser humano. Essa autonomia se adquire com a prática da filosofia de vida do budismo.
(Trechos do capítulo “Esplendor”)
Refletir sobre o espírito do mestre
Em 2 de dezembro de 1964, na sede de Okinawa, Shin’ichi apanhou a caneta e começou a escrever os primeiros episódios de seu romance, Revolução Humana.
Com o propósito de expandir as ondas de paz e felicidade a partir de Okinawa, Shin’ichi segurou firme a pena e começou a redigir o romance Revolução Humana.
Na primeira linha escreveu o título Revolução Humana. Deixou uma linha em branco e escreveu o nome do primeiro capítulo, “Alvorada”. Ele havia definido esse nome algum tempo antes e todo o roteiro do primeiro capítulo estava pronto em sua cabeça.
A narração iniciaria com a libertação de Toda no dia 3 de julho de 1945. Considerando que essa saída da prisão se transformaria de fato no alvorecer da paz para toda a humanidade, Shin’ichi denominou o primeiro capítulo de “Alvorada”.
Depois de escrever os respectivos títulos, Shin’ichi parou. Não surgia em sua mente uma frase apropriada para abrir a obra que pretendia escrever. Pensou em algumas frases, mas nenhuma o satisfez plenamente. (…)
Quando o sentimento de Toda tocou o coração de Shin’ichi, algumas frases começaram a se projetar na mente. Ele pegou a pena e escreveu-as rapidamente:
Não há um ato mais bárbaro do que a guerra!
Não existe outro fato mais trágico do que a guerra!
Entretanto, essa guerra
ainda continuava.
Depois de escrevê-las, releu várias vezes. “Consegui! Consegui finalmente! Este será o texto de abertura de minha Revolução Humana!”
Depois dessas linhas, a pena começou a correr mais rapidamente sobre o papel.
(Trechos do capítulo “Expectativa do Povo”)
(Traduzido da edição do jornal Seikyo Shimbun do dia 11 de junho de 2019.)
Notas:
- Gosho Zenshu[Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin]. Tóquio: Soka Gakkai, p. 329.
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 3, 2014.
Ilustrações: Kenichiro Uchida