ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 24/02/2023 11:10 ESPECIAL DO JBS
Reflexões sobre cidadania (parte 6)
COMISSÃO DE ESTUDOS SOBRE CONSCIÊNCIA POLÍTICA DA BSGI
Reprodução/Foto-RN176 Desenho-humano ilustrativo da matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida
No dia a dia, quando se fala em política, geralmente se pensa em algo desagradável, monótono e ruim. É comum ouvirmos das pessoas: “Não gosto de política!”; “Ainda bem que as eleições terminaram” ou “Eu não gosto de horário eleitoral”. Às vezes, pensamos que a política se restringe apenas ao voto, como algo a ser discutido por especialistas e cientistas políticos. Mas será que a política acaba quando passa o período da eleição? Afinal, o que é política? Como surgiu esse termo? Venha conosco! Vamos descobrir agora!
A política está presente, por exemplo, quando participamos de uma reunião na associação do bairro ou de um condomínio, para discutir as melhores condições de vida para os moradores. A política existe quando fazemos reunião do grêmio escolar com a finalidade de decidir melhorias para os estudantes e para o funcionamento da escola. E até quando você decide não participar da política, está agindo politicamente, pois não vê a necessidade de mudança. Mas como surgiu o termo “política”, tão presente em nossa vida?
As culturas grega e romana influenciaram o processo de constituição de muitos países ocidentais, incluindo o Brasil. Por exemplo, a palavra “política” vem do termo grego polis, que significa “cidade”. É a arte de governar, gerir os espaços e bens públicos, assim como os rumos da cidade. Os primeiros chefes políticos ficaram conhecidos como legisladores. Na época, as cidades estavam em formação e a briga por terras era um dos grandes motivos de conflito entre os ricos, e entre os ricos e os pobres. O legislador tinha papel de mediador de conflitos.
É importante termos uma ideia da formação social daquele período (séculos 20 a 4 a.E.C.). A economia era agrária e escravista. Uma parte da sociedade estava excluída dos direitos políticos e da vida política, inclusive a de mulheres e escravos. A sociedade era patriarcal, ou seja, com predomínio dos homens sobre as mulheres. A cidadania era exclusiva para homens adultos livres e nascidos no território da cidade e abastados.
Na Grécia, a cidade de Atenas foi subdividida em demos, que representavam unidades sociopolíticas. E, em Roma, existiam as tribos. Quem nascia em um demos ou em uma tribo tinha o direito de participar direta ou indiretamente das decisões da cidade. Em Atenas, todos os que lá nasciam tinham o direito de participar diretamente do poder. É daí que surge o termo “democracia” (demos representa “povo” e kratia, “força e poder”).
Em Roma, a população pobre formava a plebe, que tinha o direito de intervir indiretamente na vida política elegendo um representante (patrício), que defenderia seus interesses. Essa forma de regime político era chamada “oligarquia”.
Os gregos e os romanos contribuíram muito para a política. Eles aperfeiçoaram o conceito de poder político para separar a autoridade privada do poder público; separaram a autoridade militar do poder civil; impediram a divinização dos governantes; criaram a ideia da lei como uma vontade coletiva; criaram o espaço público como local de discussão de ideias e o exercício da cidadania. Ou seja, a política foi criada para aprendermos a nos posicionar, dar opiniões, dialogar, participar e viver melhor em sociedade.
Pensando a política no quesito diálogo e participação, o pacifista e humanista Dr. Daisaku Ikeda, presidente da Soka Gakkai Internacional (SGI), vem construindo uma longa vida de diálogos com autoridades e governantes de vários países; participando de congressos, conferências e palestras; conquistando títulos e condecorações de instituições culturais e educacionais.
Segundo o Dr. Ikeda, faz-se necessário um compromisso global — entre governantes de Estado, membros da iniciativa privada e a sociedade civil — para a implementação de políticas que viabilizem o fim da miséria no planeta, que, de maneira sistemática e reiterada, vem enfrentado crises entrelaçadas, como mudanças climáticas, degradação ambiental, pobreza, escassez de alimento e de energia.
Em um discurso proferido em junho de 2001, o presidente Ikeda compartilhou a visão acerca da democracia de John Dewey, pensador contemporâneo e grande influenciador do primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi:
O que Dewey considerava como as fortalezas dessa democracia viva? Não eram os parlamentos do poder tampouco as catedrais autoritárias da religião instituída. Eram, ao contrário, as esquinas das ruas onde os vizinhos se encontravam para falar sobre os acontecimentos, as salas de estar das casas e apartamentos onde amigos e familiares conversavam livremente uns com os outros.2
Mais que um sistema político, Dewey considerava que a democracia era um modo de vida, o qual se opunha a qualquer forma de discriminação; uma vida de autoaprimoramento e de crescimento mútuo, capaz de contribuir continuamente para a formação de um mundo mais humano. O conceito de democracia criativa de Dewey nos faz refletir sobre quão importante é o desenvolvimento da democracia de forma orgânica e cotidiana, em meio às pessoas comuns do povo, que, alicerçadas por uma sólida filosofia de defesa da dignidade da vida, se tornam sábias e fortes, a fim de influir positivamente no curso da história da humanidade.
Fontes:
IKEDA, Daisaku. Proposta de Paz de 2019. In: Terceira Civilização, ed. 609, maio 2019.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010. p. 321-331.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Temas de Filosofia. São Paulo: Ática, 2005. p. 255-262.
Notas:
- Comissão de Estudos sobre Consciência Política da BSGI: Grupo criado para a pesquisa e a produção de materiais que versam sobre cidadania e política à luz dos princípios budistas, dos escritos de Nichiren Daishonin e das publicações oficiais da Editora Brasil Seikyo.
- Brasil Seikyo, ed. 1.625, 27 out. 2002, p. A3.
Ilustração: GETTY IMAGES