“O budismo é a chave para a vitória”

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 24/02/2023 11:20                                                                        RELATO DA REDAÇÃO 

Essa expressão, repleta de convicção, vem do jovem Alon, que, diante das portas fechadas da vida, conquista coragem e avança em seu sonho de se tornar médico.

 

Reprodução/Foto-RN176 Alon Coutinho Nascimento, Responsável pela DE de Região Metropolitana, RM Guaianases, Sub. Itaquera-Guaianases, CCLP.

“Quem não tem medo do futuro sonha grande.” Essa é a marca registrada de Alon Coutinho, 27 anos. Nascido no extremo leste da cidade de São Paulo, vem para comprovar que nem a pobreza nem o preconceito são limitantes de uma vida decidida a vencer.

O primeiro atributo dessa convicção ele aprende com os pais, que, mesmo antes de ele nascer, encontraram na Soka Gakkai a base da vitória familiar, praticando o Budismo Nichiren. Alon tem três irmãos, e alegres sobrinhos, com os quais mantém relação muito próxima. Na organização, exerce funções entre os jovens e nas atividades de apoio à Divisão dos Estudantes (DE). “Motivos de grande responsabilidade e orgulho”, arremata.

Esse desejo de ser referência e inspiração para crianças e jovens encontra eco ao conferir sua trajetória. Quando menino, passou a ajudar os pais com algumas atividades que lhe rendiam pouco, mas que ajudava nas despesas de casa. A realidade para muitos jovens da nossa sociedade.

No entanto, para Alon, o futuro lhe acenava com esperança. Do jardim Soka, no qual sempre conviveu, extraiu força e coragem para quebrar barreiras do preconceito e das desigualdades e para não desistir diante do seu sonho maior: tornar-se médico. Ele divide esses momentos com os leitores do Brasil Seikyo. Acompanhe.

Minha família sempre teve uma condição financeira modesta. Aos 15 anos, consegui uma vaga de repositor em um hipermercado, como jovem aprendiz. Por conta do horário, tive de mudar de uma escola muito boa, e fui para uma instituição perto de casa no período noturno. No término do ensino médio, os desafios começaram a surgir, tentando me desanimar. Entrar numa faculdade pública, no curso de medicina, sendo negro, pobre e periférico no Brasil. Era um sonho quase impossível.

Budismo é ação. Então, eu me lancei a fazer cursinho. No primeiro ano, percorria cerca de 40 quilômetros de distância da minha casa. Tinha desconto na mensalidade, mas ainda assim meus pais precisaram se desafiar para pagar. Nesse período, minha rotina era acordar às 5 horas da madrugada e dormir um pouco antes da meia-noite, tendo nesse meio-tempo a dedicação de dez a doze horas de estudo no cursinho. Houve dias que dormia quatro horas ou menos, e realizar a prática das minhas orações era bastante desafiador. No cursinho, durante semanas não conseguia ver o sol, pois a sala de estudos ficava no subsolo do prédio. Foi ali onde desenvolvi ansiedade por causa dos vestibulares.

Nova reprovação. Quando vi que teria de fazer o terceiro ano de cursinho, decidi que precisava voltar a trabalhar para ajudar meus pais. Isso retardaria muito minha entrada na faculdade; no entanto, não tive escolha. Se eu realmente quisesse tirar o déficit do ensino público, teria de estudar nessas condições. Necessitei abrir mão de muita coisa. Perdi celebrações e cerimônias importantes em família. Não fui a diversos rolês, precisava estabelecer prioridades.

Minha família sempre foi meu porto seguro. Mas, fora de casa, ouvi questionamentos de pes­soas de o porquê eu não tentava um “curso mais fácil”. A falta de grana, a rotina, as palavras de alguns e os anos avançando poderiam ter me desencorajado.

Contudo, o que fez a diferença nesse processo foram o budismo, a Gakkai, os companheiros e Ikeda sensei. Aos 14 anos, fazia parte do Coral Esperança do Mundo (CEM) e, nessa época, já recitava uma hora de Nam-myoho-renge-kyo diariamente, estimulado pelos meus pais e líderes dos jovens. Eles sempre me falaram que as coisas “fluiriam” caso eu orasse. Sei que não duvidei disso. Mesmo sem ter condições, determinei que não deixaria de fazer o Kofu (contribuição voluntária), nem que fosse preciso usar as moe­das que sobravam dos lanches. Não falhei. Participava de tudo sem hesitar, convicto da frase de Nichiren Daishonin, em seu escrito A Oração, que diz:

Mesmo que alguém errasse ao apontar para a terra, ou fosse capaz de atar o firmamento; mesmo que o fluxo e o refluxo da maré cessassem; e o Sol nascesse no oeste, jamais ocorreria de as orações do devoto do Sutra do Lótus ficarem sem resposta.1

Gratidão ao Mestre

Depois ingressei no Brasil Ikeda Myo-on Kai (Bimok) [grupo de sonoplastia da Divisão Masculina de Jovens (DMJ)]. É meu grande orgulho fazer parte até hoje. Minha vida e missão ganharam outro significado. Entendi, na prática, a tão falada “unicidade de mestre e discípulo”, sentindo os desejos e as vitórias de Ikeda sensei como os meus. Ele confia e estimula constantemente os jovens e pude sentir isso atuan­do no grupo horizontal, bem co­mo na organização de base. Muito companheirismo, como a relação eterna de aprendizagem e esperança que tive a oportunidade de construir com meu querido e falecido amigo Jimmy Lescano, também do Bimok.

Reprodução/Foto-RN176 Com os companheiros do Brasil Ikeda Myo-on Kai – Foto: Arquivo pessoal

Nas atividades da minha localidade, durante a batalha para passar no vestibular, exercia a função de responsável pela Divisão Masculina de Jovens (DMJ) de distrito. Os líderes e companheiros me apoiavam em tudo. Por esse carinho e compreensão deles, estava cada vez mais motivado e feliz por atuar ao lado de todos. Um momento marcante foi em 2019, quando me integrei aos preparativos da atividade comemorativa da Divisão dos Estudantes (DE) da minha localidade, uma das minhas melhores experiências. Eu me aproximei de muitos deles e, ao ver a realidade que viviam, ainda mais difícil que a minha, percebi que não bastava chegar a uma reunião e lhes dizer para acreditar em seus sonhos. Eu tinha, de fato, que conquistar meu sonho e provar com a própria vida que isso era possível.

Então, prossegui com minha luta no cursinho, aliada à prática da fé. Mais uma vez, após prestar vestibular, como sempre fazia, fiz as contas e, conforme meus acertos, achei que tinha ficado próximo de passar no exame. Logo soube que duas questões que eu havia acertado foram anuladas. Justamen­te por essa diferença, ao ver a lista dos aprovados, meu nome não estava lá. “Mesmo diante de tudo isto, ainda não fui desencorajado”,como o buda Nichiren Daishonin afirma em um de seus escritos. Continuei a lutar porque Ikeda sensei me ensinou que a gente só perde quando desiste.

Entra 2022. E, no significativo mês de maio, certa noite, voltava para casa de trem, lendo a Nova Revolução Humana, de autoria do presidente Ikeda, quando recebi uma mensagem no celular. Para tudo. Era de uma pessoa me parabenizando por ter me tornado calouro. Sim, eu era o mais novo estudante de medicina da Universidade Federal do Paraná. Nem me lembro como cheguei a casa. No entanto, a primeira coisa que fiz foi abrir meu oratório e agradecer ao Gohonzon. Vitória sobre o “não” da vida.

Eu me mudei para Curitiba em janeiro deste ano [2023], denominado “Ano dos Jovens e do Triunfo” na SGI. Farei dele o melhor ano, pois sinto a responsabilidade que essa conquista representa. Estou quebrando um ciclo que infelizmente a periferia, a população negra e os pobres vivem. Sou o primeiro de quatro filhos e o primeiro de treze netos a cursar uma universidade pública, além de ser o pioneiro de quatro gerações a se tornar médico. Chegarei lá.

Reprodução/Foto-RN176 Participação em atividades com estudantes da localidade – Foto: Arquivo pessoal

O estudo do budismo e a própria vida de Ikeda sensei me ensinaram que, mesmo vivendo uma realidade social desfavorável, sou capacitado a mudar essa condição. Na mensagem enviada por Ikeda sensei no 10º aniversário de fundação do Bimok, em 2009, ele incentiva:

Nos escritos sagrados consta que “uma espada forjada não derrete no meio do fogo”.3 Um jovem forjado é capaz de cultivar a si mesmo como uma poderosa espada. Eu fui treinado na Universidade Toda. E são vocês que me sucederão honrosamente.

Fui treinado na família Gakkai e hoje vivo e comprovo com a vida a veracidade do budismo. E, também, por isso sou eternamente grato.

Agora, encaro um novo ciclo para me formar; de me tornar o melhor médico da periferia. E relato ainda com mais certeza: “O budismo é a chave para a vitória”. Graças a esse maravilhoso ensinamento, ao nosso mestre e aos companheiros da organização, fui forjado a ser o que meus pais, Edevair e Rosinalva, sempre me disseram: “Seja o melhor”. Na condição que estiver.

Estou decidido a criar mais um capítulo de vitórias. Pretendo retribuir tudo o que conquistei por meio da luta em prol do kosen-rufu, sendo feliz e não deixando ninguém de lado. Quero estar junto com a juventude Soka do Brasil, inspirando outros jovens a não abrir mão de seus sonhos; de não se permitir aceitar o menos como resposta. Tudo está dentro de nós, e não há o que não possa ser alcançado quando vivemos por um nobre ideal. Assim nos ensina Ikeda sensei. Portan­to, é acreditar que somos capazes. Vamos fazer história!

Encerro meu relato registrando, mais uma vez, quão grato sou por ter um mestre da vida. Desejo inspirar várias pessoas com minhas comprovações. Muito, muito obrigado!

Reprodução/Foto-RN176 Com os pais, Edevair e Rosinalva – Foto: Arquivo pessoal

Alon Coutinho Nascimento, 27 anos. Estudante de medicina. Responsável pela DE de Região Metropolitana, RM Guaianases, Sub. Itaquera-Guaianases, CCLP.

Alon, pelos pais

Pelo pai, Edevair

Alon é o segundo dos meus quatro filhos. Ser responsável já está no DNA dele. O que se compromete a fazer, ele faz. Hoje, está seguindo os passos para se tornar um grande médico, seu maior sonho. Em um dia de bate-papo com ele, havia lhe dito que o principal requisito para ser excelente médico é gostar de pessoas. Isso ele já está treinado, sendo líder na Gakkai. Eu me sinto orgulhoso não só pela vitória dele na faculdade, mas por estar se tornando um homem de bem, cada dia mais.

Agradeço todos os dias a ele pela oportunidade de ser seu pai; e a Ikeda sensei, por esse ambiente maravilhoso da Soka Gakkai, que nos acolheu.

Pela mãe, Rosinalva

Os desafios de saúde na infância do Alon foram superados um a um. Desenvolveu uma gagueira e alergia atópica, foi necessário fazer fonoaudiologia e terapia, por ser de fundo emocional. Na adolescência, nunca nos causou preocupação, e a sua vontade de ser médico só aumentava. Foi atrás de cursos gratuitos para auxiliar no seu aprendizado, inscreveu-se em cursinhos populares até conseguir bolsas em cursinhos com ensino mais avançado. Em meio a esses desafios, na organização não deixou de incentivar os jovens e de apoiar as demais divisões. Ganhou a confiança de todos, criando belos laços de amizade, dentro e fora da Gakkai.

É nosso orgulho.

Notas:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 362, 2019.
  2. Ibidem, v. II, p. 5.
  3. Cf. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai­shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 99, 2017.

Fotos: Arquivo pessoal