A força da gratidão

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 10/03/2023 15:10                                                                          RELATO DA REDAÇÃO NO JBS 

Ao reconhecer e dar vida a um nobre sentimento, Raimundo transforma o carma de miséria em uma jornada vitoriosa.

 

Reprodução/Foto-RN176 Raimundo com a esposa, Regina. Raimundo Pinheiro dos Santos, Responsável pela Comunidade Jardim Tranquilidade e vice-responsável pelo Distrito Tranquilidade, RM Itapegica, Sub. Arujá-Guarulhos, CGSP – Foto: Arquivo pessoal

Raimundo Pinheiro dos Santos chega aos 64 anos com uma vida estabilizada à base de muitos desafios vencidos. Engenheiro mecânico, mantém uma família harmoniosa e disposição para se manter na órbita da dedicação à felicidade de outras pessoas, em meio aos companheiros da Soka Gakkai com os quais convive em Guarulhos, um dos 39 municípios que compõem a Grande São Paulo. Ali, ele lidera uma comunidade e ainda atua como vice-responsável pelo distrito. Da falta de tranquilidade, ele fala com propriedade ao olhar para o passado, e também como converteu uma situação desoladora em seu marco de transformação como “pilar de ouro” Soka, nome designado aos membros da Divisão Sênior da BSGI.

Ele compartilha sua história, com desafios e orgulho de conquistas essenciais, em especial, a convicção de ter encontrado sua verdadeira bússo­la de vida. Acompanhe.

 

Caçula de seis irmãos, Raimundo traz recordações de momentos desoladores vividos em família. “Éramos muito pobres, morando de aluguel em um cortiço com outras cinco casas e um banheiro para servir a todos. Nessa época, mal tínhamos o que comer e, algumas vezes, cheguei a passar fome”, relembra.

Ele acrescenta que o pai trabalhava na construção de pontes em várias cidades do interior de São Paulo e só vinha para casa de quinze em quinze dias, o que deixava para a mãe a total responsabilidade pela criação dos filhos. Raimundo queria ajudar, então passou a se dedicar a pequenas atividades, como entrega de panfletos de propaganda em vários bairros da capital paulista. Algumas vezes alguém o deixava vender sorvete em campos de futebol de várzea. “Ficava andando o dia inteiro para conseguir uns trocados para ajudar em casa”, recorda-se, emocionado.

Reprodução/Foto-RN176 Com filhos, noras e netos, família harmoniosa que sempre objetivou – Foto: Arquivo pessoal

O drama prossegue, quando estava com 11 anos e seus pais compraram um terreno onde construíram uma casa simples, sem acabamento, sem piso e sem energia elétrica. A iluminação era com lampião a querosene. Mesmo nessas condições, Raimundo se fortalece. A mãe sempre incentivava os filhos a estudar, o que foi absorvido por todos.
Trabalho e religião

Aos 14 anos, começa a trabalhar com carteira registrada, como office boy. Foi também nessa época que conheceu um grupo de praticantes conservadores de uma religião e passa a segui-los. “Eu rezava o dia inteiro. Com o passar do tempo, percebi que essa prática não trazia respostas para meu sofrimento, então comecei a buscar outras religiões à procura dessas respostas e não encontrei nada que pudesse mostrar as soluções.”

Mais alguns anos, conquista uma vaga de aprendiz de desenhista na empresa em que trabalhava e as coisas começam a melhorar. Vem o casamento em 1981. Raimundo, com 22 anos, torna-se pai e divide seu tempo com a sonhada faculdade de engenharia mecânica. “Foram seis anos de curso, período em que tive mais um filho. Era muito difícil conciliar pagamento de aluguel, faculdade. Não sobrava nada. Eu não conseguia me livrar do carma financeiro e não entendia todo aquele sofrimento, isso fez com que meu casamento terminasse.”

Alguns anos depois encontra uma companheira, atual esposa, Regina. Com o passar do tempo, cresce o desejo de morar juntos, mas, pela falta de condições financeiras, o sonho é adiado. Até que a mãe de Regina os convida a morar com ela. “Eu aceitei. Dormíamos numa cama de solteiro, e mais uma vez a situação financeira volta a pesar. As brigas eram constantes e por pouco não rompemos o relacionamento.”

Uma situação de conflito e desesperança acompanhava seus dias. Raimundo revela que via a sogra recitando algo que ele não entendia. Ela havia encontrado o Budismo Nichiren e passava um tempo do dia recitando Nam-myoho-renge-kyo. Raimundo achava tudo muito estranho e, ao perguntar para Regina, ela lhe diz que era uma religião, já a tinha praticado, mas havia se afastado. “Em uma de nossas discussões, sugeri que começasse a orar para melhorar nossa situação. De volta, me disse que só faria isso se eu a acompanhasse nas orações. No primeiro momento, recu­sei, porque não entendia nada de budismo.” Ele então, seguindo sua tendência natural de encarar com seriedade uma decisão, passa a estudar esse ensinamento. “Comecei a ler a Revolução Humana, os periódicos da Editora Brasil Seikyo, e as escrituras de Nichiren Daishonin. Estudei muito.”

Ao ser convidado para uma reunião de palestra, aprendeu com o líder convidado da atividade que só teoria não muda a vida. Vem a principal decisão de pôr fim aos grilhões do destino, iniciando seriamen­te a prática da fé. Em 1989, recebe o Gohonzon, objeto de devoção dos budistas.

Aprendizado para a vida

No momento em que se levanta com renovada determinação de buscar a felicidade, ao mesmo tempo em que contribui para a felicidade do outro, os caminhos se abrem para Raimundo. Com três meses de conversão, assume a função de responsável pela unidade (kumityo), que antigamente era o primeiro nível na estrutura da organização. Depois de mais de três meses vem o convite para liderar um bloco (hantyo) e, em menos de cem dias, passa a atuar como responsável pela comunidade (tikubutyo). “A liderança na Gakkai nos ensina muito, pois, ao incentivar os outros, somos também incentivados. O estímulo para que possamos aprender com os estudos e aplicar na vida diária cria revigorante onda de avanço, tanto na organização como em nossa vida.”

Reprodução/Foto-RN176 Momentos com seus companheiros na atuação como líder Soka, no apoio à organização de base local  – Foto: Arquivo pessoal

Por meio da prática diária do Budismo Nichiren, junto com a esposa, tudo começa a mudar. Raimundo deseja fazer um recorte de todos esses anos, indo direto às principais comprovações de sua jornada. Ao vencer na harmonia familiar, ele vê hoje seus quatro filhos, sendo dois do primeiro casamento, “se amarem de uma forma maravilhosa. Isso para um pai é motivo de muito orgulho e alegria”. Os dois filhos mais novos, os quais tem com Regina, são também membros Soka, “e sempre receberam muitos benefícios”, atesta o pai.

Em todos esses anos, Raimundo não abriu mão de reciclar conhecimento. Da formação original, avançou na pós-graduação. No estudo do budismo, orgulha-se de ter participado de vários exames, sendo hoje Grau Superior. “Isso fez com que eu compreendesse muitas coisas, que me guiaram ao caminho da felicidade.”

Doação sincera

Uma de suas maiores comprovações vem justamente da transformação da sua principal tendência cármica: a questão financeira. “Eu sempre coloquei em prática o que meus veteranos da Soka Gakkai me orientavam. Uma coisa que sempre aprendi ao longo da prática foi nunca falhar no Kofu, a contribuição voluntária que nossa organização oportuniza aos membros. No início, dada a condição financeira, conseguia contribuir somente com uma cota; com o passar do tempo de prática, fui ampliando, com toda a nossa gratidão”, enfatiza Raimundo.

Com uma dedicação baseada na sinceridade e no espírito de doação, no exercício de contribuir com incentivos aos membros, fazendo de sua localidade um ambiente de pleno desenvolvimento, Raimundo ressalta: “Hoje posso dizer que meu carma financeiro ficou para trás. Conquistei um patrimônio que me permitiu comprar três imóveis, conhecer catorze países e todos os meus filhos estão com a situação financeira muito boa”.

“A gratidão tem força e poder. Ao praticar esse maravilhoso budismo e aplicar os direcionamentos de Ikeda sensei no dia a dia, construí a felicidade familiar que sempre sonhei.”

Reprodução/Foto-RN176 Momentos com seus companheiros na atuação como líder Soka, no apoio à organização de base local – Foto: Arquivo pessoal

Atualmente, Raimundo é responsável pela Comunidade Jardim Tranquilidade e responde também como vice-responsável pelo Distrito Jardim Tranquilidade, organização de base do município de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Aos 64 anos, ele expressa seu sentimento em relação ao aprendizado e a ter um norte que o guiou na conquista de eliminar a raiz do sofrimento, baseado na prática da fé. “A minha primavera chegou. Isso porque jamais duvidei da frase das escrituras de Nichiren Daishonin, que sempre me motivou a superar as dificuldades. Curta e direta: ‘O inverno nunca falha em se tornar primavera’”.1

Raimundo agradece aos que marcaram presença em todo o seu processo de transformar carma em missão, desfrutando hoje a plenitude da vida. “Quero manifestar minha gratidão à minha maravilhosa esposa, aos meus filhos, aos meus veteranos de prática, e ao presidente Ikeda, em especial. Obrigado, sensei, meu farol e minha bússola.”
Por Regina, esposa

Sou praticante desde 1974, porém cresci em um ambiente de muita desarmonia familiar. Fiz a decisão de não continuar com esse carma e hoje, olhando para a trajetória da minha família, posso dizer que consegui transformá-lo.

Tenho um marido que é mais que um companheiro, é gentil, parceiro, excelente pai, ótimo profissional e, principalmente, seu senso de humanidade e caráter fazem dele um maravilhoso budista. Completamos 34 anos de casados.

Eu me sinto vitoriosa pelo fato de ele ter conhecido esse maravilhoso budismo por intermédio da minha mãe. Seguindo os direcionamentos de Ikeda sensei, vencemos todas as adversidades do carma, transformando o ambiente da nossa vida.

Obrigada a todos os que nos incentivaram nessa jornada.

Raimundo Pinheiro dos Santos, 64 anos. Engenheiro mecânico. Responsável pela Comunidade Jardim Tranquilidade e vice-responsável pelo Distrito Tranquilidade, RM Itapegica, Sub. Arujá-Guarulhos, CGSP.

No topo: Raimundo com a esposa, Regina

Nota:

  1. Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai­shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 559, 2019.

Fotos: Arquivo pessoal