ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 07/04/2023 13:25 CADERNO NOVA REVOLUÇÃO HUMANA Por Ho Goku
Capítulo “Sino do Alvorecer”, volume 30.
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustrações da matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida
PARTE 1
A Alemanha é o local que deu origem à reforma religiosa que mudou a história da Europa. Em meio à degeneração dos clérigos, à transformação das doutrinas em mera formalidade e ao avanço da popularização da Igreja no início do século 16, o papa autorizou a comercialização de indulgências na Alemanha. Elas eram vendidas sob o pretexto de remição das punições decorrentes dos crimes cometidos.
O monge Martinho Lutero criou dúvidas em relação a isso. A salvação dependeria exclusivamente da fé. Ele publicou as 95 Teses e levantou resolutamente a voz do protesto. Foi um novo estopim da reforma religiosa.
Lutero foi excomungado pelo papa, mas persistiu em suas convicções. Declarando que o fundamento de tudo se encontrava na Bíblia, realizou pessoalmente a tradução desse livro sagrado para o alemão. Além disso, adotando a posição de “sacerdócio universal de todos os crentes”,1 declarou que as pessoas eram iguais perante Deus.
Shin’ichi Yamamoto renovou sua decisão: “Passaram-se mais de quatrocentos anos desde a reforma religiosa de Lutero. Hoje, às vésperas do século 21, é preciso fazer prosperar uma religião em prol do ser humano capaz de salvar toda a humanidade”.
Às 20h30 (horário local) do dia 16 de maio de 1981, visualizando o kosen-rufu da Europa, Shin’ichi desembarcou no aeroporto de Frankfurt. A viagem à Alemanha Ocidental acontecia depois de dezesseis anos.
No dia seguinte, 17 de maio, ele manteve um diálogo com o professor emérito Dr. Gerhard Olschowy, da Universidade de Bonn; com o Dr. Josef Derbolav e sua esposa; e com o Dr. N. A. Kahn, da Universidade Livre de Berlim. O encontro foi realizado em um hotel na cidade de Frankfurt, onde aconteceria a reunião comemorativa dos vinte anos do kosen-rufu da Alemanha. O Dr. Olschowy era conhecido pelas suas pesquisas na área de proteção ambiental; o Dr. Derbolav, pelo insuperável conhecimento da filosofia grega e da educação; e o Dr. Kahn, natural da Índia, era uma autoridade em otorrinolaringologia, além de ser um profundo conhecedor das religiões. Todos eram conhecidos de Shin’ichi de longa data, e sentiam-se felizes pelo reencontro.
As diversas questões que intimidavam o homem se entrelaçavam de forma complexa e alcançavam as variadas regiões. Por isso mesmo, Shin’ichi se empenhava em criar uma nova corrente para edificar a época, expandindo a rede do intelecto pelo bem da paz e da prosperidade da humanidade.
PARTE 2
Nesse encontro com os intelectuais em Frankfurt, Shin’ichi chegou ao consenso de publicar um diálogo com o Dr. Derbolav.
A partir de então, os dois mantiveram um diálogo durante seis anos, e quando concluíram o texto, o Dr. Derbolav se sentia tão feliz que o mantinha em sua cabeceira. Em abril de 1988, foi editado o diálogo O Ser Humano e a Filosofia do Século 21: Em Busca da Nova Imagem do Homem. Porém, o Dr. Derbolav faleceu, antes da publicação, em julho de 1987, aos 75 anos.
Shin’ichi continuou dialogando com intelectuais das diversas áreas, e empenhou-se para publicar esses encontros em forma de livros. Na verdade, esse era o resultado de uma decisão que ele mantinha em seu íntimo.
A intenção de todos os tipos de estudo, de política, de economia, de educação e de arte deve ser a felicidade do ser humano, como também a paz e a prosperidade da sociedade. Citando uma passagem do grande mestre Tiantai — “Nenhum assunto secular, da vida ou do trabalho, difere de forma alguma da realidade fundamental”2 —, Nichiren Daishonin afirma que nenhuma das atividades que sustentam a vida do ser humano é contrária ao budismo, e todas estão em conformidade com esse ensinamento. Shin’ichi queria deixar claro essa verdade estrita por meio do diálogo com os intelectuais.
A solução fundamental dos diversos problemas defrontados pela humanidade, das questões ambientais, da educação, das armas nucleares, das guerras, da discriminação, da miséria, entre outros, exige uma mudança do próprio ser humano. Ele queria indicar que aí se encontrava a necessidade de propagar o Budismo Nichiren, a mais elevada filosofia de vida, como a base espiritual da época. Ao mesmo tempo, com a troca de opiniões, queria buscar os caminhos, de ações e de perspectivas, para a solução de problemas, aprendendo com a visão e a sabedoria dos intelectuais.
O desejo de Shin’ichi e sua expectativa eram: “Embora seja extremamente limitado definir um rumo concreto para a solução de diversos problemas por meio de diálogos, com esse primeiro passo dele, muitos jovens poderiam sucedê-lo, lançando raios de luz para o futuro da humanidade”. O ato de deixar um pensamento e uma filosofia corresponde a iluminar o futuro como as luzes de um farol.
PARTE 3
Entre as árvores soprava uma brisa agradável. No período da tarde, a reunião de confraternização foi realizada nos jardins do hotel. Reuniram-se representantes da Holanda, da Dinamarca, da Suécia, da Noruega, da Áustria e da Itália, além do grupo de intercâmbio do Japão que tinha vindo para a Alemanha, totalizando cerca de oitocentas pessoas de oito países. Eles solidificaram, uns com os outros, o juramento pelo kosen-rufu mundial.
Um palco foi especialmente instalado no jardim onde foi representada num musical a árdua luta dos jovens que desbravaram o caminho do kosen-rufu da Alemanha, trabalhando nas minas de carvão, vindos sozinhos do Japão abraçando o desejo de realizar a ampla propagação mundial. A maioria deles trabalhava pela primeira vez em uma mina de carvão. Excedendo o limite do próprio corpo e trabalhando à exaustão, mal conseguiam comer as refeições compostas por pão preto. Entretanto, dedicaram-se às atividades da organização, advertindo sempre a si mesmos.
O que ressoava no coração deles era o artigo intitulado Jovens, Sejam os Líderes do Mundo, com forte clamor de Shin’ichi, publicado no editorial da revista Daibyakurenge de agosto de 1963.
As ações e os esforços dos bravos heróis que construíram a época pioneira, a começar por esses jovens, produziram frutos, e na Alemanha também surgiu um grande número de bodisatvas da terra. A frase “O que constrói a nova era é a força e a paixão dos jovens” 3 indicava a grande convicção de Josei Toda.
As meninas e os meninos sucessores subiram ao palco e cantaram uma alegre canção recebendo o esperançoso mês de maio. Houve uma enorme ovação.
O diretor-geral da Alemanha Dieter Kahn subiu ao palco e disse com grande emoção estampada no rosto:
— O sonho de dezesseis anos, por fim, se realizou. Yamamoto sensei veio à nossa Alemanha!
Eles ficaram sabendo que no Japão continuavam as injustas ações dos clérigos. Então, estavam desenvolvendo as atividades de maneira resoluta: “Se é assim, nós, da Alemanha, vamos acelerar o movimento pela ampla propagação e abrir a nova terra do kosen-rufu mundial!”.
O grande poeta alemão Goethe afirmou: “A palavra de ordem é batalha. E a palavra seguinte é vitória!”. 4
PARTE 4
Na reunião de confraternização, o Dr. Kahn e outros convidados também estavam presentes. Em suas palavras de cumprimento, eles manifestaram a expectativa em relação ao movimento pela paz com base no budismo promovido por Shin’ichi.
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustrações da matéria – Ilustração: Kenichiro Uchida
Por fim, Shin’ichi proferiu as seguintes palavras:
— Todos nós temos o direito de sermos felizes na face da Terra. Temos o direito de vivermos em paz. E temos o direito de vivermos em liberdade. Qual é a fonte básica para realizar isso? Quero declarar que é o Budismo de Nichiren Daishonin. Por quê? O ser humano é o ponto de partida de tudo, e a vida é a mais importante. O Budismo de Daishonin indica o caminho para a paz e a felicidade indestrutíveis de cada pessoa, explicando integralmente e de forma clara sobre essa vida, e revelando que todas as pessoas são iguais e possuem inerentemente a mais suprema condição de buda em sua vida. E quem põe em prática esse budismo é a Soka Gakkai. Tal como o sol ilumina amplamente o planeta Terra, beneficiando-o com seus raios, o Budismo de Nichiren Daishonin é um ensinamento capaz de propiciar verdadeira felicidade às pessoas. É, por assim dizer, o Budismo do Sol. Esse solene poder do budismo está sendo comprovado pelas experiências práticas dos membros do mundo inteiro. Por favor, envolvidos pela luz desse grandioso budismo, revitalizem a própria vida e construam uma felicidade indestrutível. Como uma religião, incapaz de satisfazer plenamente uma pessoa, tornando-a feliz, poderia concretizar a paz do mundo? Como poderia salvar as pessoas do mundo? Desejo que os senhores pratiquem concretamente esse Budismo do Sol e desfrutem, todos, solenemente, a felicidade. Talvez o encontro dos irmãos budistas do dia de hoje seja ainda um evento de pequenas proporções. Porém, tenham a convicção de que esse encontro provocará uma grandiosa onda do kosen-rufu, de paz e felicidade, daqui a trinta, cinquenta ou cem anos. E assim, o dia de hoje resplandecerá como um dia comemorativo.
Shin’ichi queria confirmar que o objetivo da fé se encontra na felicidade de cada pessoa e esse é o propósito do movimento pela paz.
A ausência da guerra não significa paz. A paz se encontra em uma pessoa que experimenta a alegria de viver, envolvida pelo júbilo, e sente plena felicidade em sua vida.
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Notas:
- Pensamento de que todos os crentes são igualmente sacerdotes perante Deus, sem a intermediação de clérigos.
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 169, 2014.
- Toda Josei Zenshu[Obras Completas de Josei Toda], v. 1. Editora Seikyo Shimbunsha.
- GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. parte 2. Tradução: Osamu Ikeuchi. Editora Shueisha.
Ilustrações: Kenichiro Uchida