Grupo Wagner: por que mercenários russos ameaçam se retirar de cidade na Ucrânia

ROTANEWS176 E POR BBC NEWS 06/05/2023 04:49

Reprodução/Foto-RN176 Yevgeny Prigozhin é amigo pessoal de Putin – CONCORD PRESS SERVICE

O líder do grupo Wagner, tropa de mercenários russos atuando na guerra da Ucrânia, diz que seus soldados vão se retirar da cidade de Bakhmut na próxima quarta (10/05) por falta de munição.

O chefe dos mercenários, Yevgeny Prigozhin, de 61 anos, já havia postado recentemente um vídeo de si mesmo andando entre os corpos de seus subordinados mortos e culpando autoridades russas pelas mortes. “Dezenas de milhares” de seus soldados foram mortos ou feridos, ele disse.

A Rússia tem tentado capturar a cidade há meses – apesar de seu valor estratégico ser questionável – e usado os soldados do grupo Wagner na ofensiva.

O porta-voz do Conselho Nacional de Segurança dos EUA, John Kirby, disse no começo desta semana que, desde dezembro, mais de 20 mil soldados russos foram mortos e outros 80 mil foram feridos na guerra da Ucrânia. Metade dos mortos eram soldados do Grupo Wagner.

Na declaração nesta sexta-feira, Prigozhin culpou o ministro da Defesa russo Sergei Shoigu e o general Valery Gerasimov por sua decisão de deixar Bakhmut em uma fala cheia de xingamentos.

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“Shoigu! Gerasimov! Onde está a munição? Eles vieram aqui como voluntários e estão morrendo enquanto vocês engordam em seus escritórios de mármore!”, disse ele.

Os dois membros do governo russo têm sido alvo da ira de Prigozhin com frequência. Enquanto isso, diferentes grupos disputam poder entre os aliados do presidente russo Vladimir Putin.

No comunicado, Prigozhin disse que as baixas do grupo Wagner estavam “crescendo em progressão geométrica a cada dia” por causa da falta de munição.

Ele afirma, no entanto, que seus combatentes permanecerão em suas posições até 9 de maio, quando a Rússia comemora o Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial.

No vídeo divulgado anteriormente, Prigozhin – visto em pé na frente de seus homens – disse que iria “transferir posições no assentamento de Bakhmut para unidades do Ministério da Defesa e retirar os restos mortais dos soldados do grupo Wagner para campos de logística” para se recomporem das derrotas.

“Meus rapazes não vão aceitar perdas inúteis e injustificadas em Bakhmut por falta de munição”, acrescentou.

Um dos vídeos divulgados por Prigozhin na sexta-feira parece ter sido filmado a cerca de 2 km do centro de Bakhmut. A BBC comparou as características do solo, incluindo arbustos e postes, com imagens de satélite do local.

Prigozhin usa muito a publicidade como estratégia e sua influência aparentemente diminuiu nos últimos meses. Ele já fez ameaças que não cumpriu – e depois disse que eram apenas “piadas” e “humor militar”.

Na semana passada, ele disse a um blogueiro russo pró-guerra que os combatentes do grupo tinham poucos suprimentos e precisavam de milhares de cartuchos de munição.

Reprodução/Foto-RN176 Yevgeny Prigozhin anunciou que vai deixar a cidade – CONCORD PRESS SERVICE

O Kremlin não comentou as últimas declarações de Prigozhin. Enquanto isso, os militares ucranianos dizem que não viram nenhuma alteração na intensidade da luta próxima a Bakhmut.

“Durante meses, Prigozhin vem tentando fazer declarações ultrajantes para chamar a atenção para si mesmo”, disse Serhiy Cherevatyi, porta-voz do Comando Leste da Ucrânia, à BBC ucraniana.

A vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar, disse que a Rússia estaria tentando desesperadamente tomar Bakhmut até 9 de maio. A guerra começou em fevereiro de 2022.

Prigozhin se tornou um agente central na invasão da Ucrânia pela Rússia no comando de um exército privado de mercenários que lideram o ataque russo.

O grupo era formado majoritariamente por ex-militares russos entre 30 e 35 anos, mas em 2022 passou a recrutar prisioneiros de colônias penais para suprir a falta de pessoal, de acordo com informações da inteligência britânica obtidas pela BBC News Rússia.

Em troca, eram oferecidos liberdade e compensação monetária. Ainda de acordo com apuração do serviço da BBC na Rússia, advogados dizem que é ilegal no país enviar prisioneiros para a guerra.

Mesmo assim, as administrações penitenciárias estavam liberando os condenados para lutar no grupo de Prigozhin.

Os mercenários e os militares russos lutam lado a lado contra os militares ucranianos.

Prigozhin é natural de São Petersburgo, que também é a cidade natal do presidente russo, Vladimir Putin.

Dono de diversos restaurantes na cidade, ele tem também uma empresa que faz comida para eventos que foi contratada pelo Kremlin – o que deu a Prigozhin o apelido “chef de Putin”.

A batalha por Bakhmut se arrasta há meses. A Ucrânia decidiu defender a cidade a todo custo em uma aparente tentativa de concentrar os recursos militares russos em um local de relativamente pouca importância.

Em fevereiro, Prigozhin havia postado outra imagem de suas tropas mortas e culpado os chefes do exército por suas mortes.

Embora os militares tenham negado ter deliberadamente deixado faltar munição para o grupo Wagner na época, eles responderam aumentando os suprimentos para a linha de frente.

O analista militar Rob Lee, dos EUA, afirmou nas redes sociais que a mais recente reclamação de Wagner sobre a escassez provavelmente é resultado do racionamento de munição feito pelo ministério da defesa da Rússia antes da esperada contra-ofensiva da Ucrânia.

O ministério tem que defender toda a linha de frente, mas a única preocupação de Prigozhin é tomar Bakhmut, escreveu Lee no Twitter.

Se o grupo Wagner conseguisse tomar a cidade, Prigozhin poderia reivindicar o crédito político, acrescentou Lee.

Reprodução/Foto-RN176 Yevgeny Prigozhin ficou conhecido como ‘chef de Putin’

Contra-ofensiva ucraniana

O próprio chefe dos mercenários previu que a contra-ofensiva da Ucrânia começará em 15 de maio, já que tanques e artilharia poderão avançar em tempo seco, após a última chuva de primavera.

Em uma ação separada, Prigozhin parece ter contratado um general do exército que foi recentemente demitido do cargo de chefe de logística.

O coronel Mikhail Mizintsev foi apelidado de “açougueiro de Mariupol” por seu papel no bombardeio do ano passado na cidade portuária do sul da Ucrânia, capturada pelas forças russas há um ano. Ele era responsável pela logística desde setembro do ano passado.

Prigozhin apontou que o general fez o possível para ajudar a fornecer munição aos mercenários e cooperou com os esforços do grupo para recrutar prisioneiros condenados para suas fileiras.

Mas Prigozhin já havia sido filmado dentro de uma prisão russa dizendo aos presos que eles seriam libertados da prisão se servissem com seus homens na Ucrânia antes da nomeação de Mizintsev para cuidar da logística