ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 13/05/2023 09:45 CADERNO NOVO REVOLUÇÃO HUMANA Por Ho Goku
Capítulo “Sino do Alvorecer”, volume 30
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de Ilustrações: Kenichiro Uchida – Editora Brasil Seikyo – BSGI
PARTE 9
As montanhas dos Balcãs reluziam belas com as neves remanescentes. Cerca de duas horas e meia depois de decolar de Frankfurt, a comitiva de Shin’ichi chegou ao aeroporto de Sófia, capital da República Popular da Bulgária (posterior República da Bulgária), um país socialista no Leste Europeu. Essa visita realizava-se a convite do Comitê de Arte e Cultura da Bulgária e, para Shin’ichi, era a primeira vez nesse país.
Sófia é uma cidade com muito verde cercada por montanhas.
No aeroporto, a comitiva foi recebida por Milcho Germanov, ministro responsável pelos assuntos culturais e primeiro vice-presidente desse comitê. À noite, a comitiva fez uma visita de cortesia a esse ministro e, ainda, participou de uma festa de boas-vindas realizada em um hotel na cidade de Sófia.
Na manhã seguinte, no dia 21, eles visitaram o mausoléu do primeiro presidente daquele país, Georgi Dimitrov, localizado na Praça 9 de Setembro (posterior Praça Battenberg), onde depositaram flores e ofereceram orações em sua memória. Na Bulgária, o dia 9 de setembro é a data comemorativa da revolução.
Na sequência, visitaram o presidente do Comitê de Estado para Ciência, Progresso Tecnológico e Educação Superior, Nacho Papazov. Ele estava em período de recuperação de uma doença e, com a saúde preocupante, não participava de eventos oficiais. Shin’ichi disse-lhe:
— Visitando a Bulgária, hoje viemos apenas para cumprimentá-lo e vamos nos retirar em seguida.
O presidente demonstrou, então, um sorriso no rosto e manifestou:
— Já estou bem. Estava aguardando o dia de hoje com muita expectativa, desejando encontrá-lo sem falta.
De 1967 a 1971, ele havia servido como embaixador no Japão e, nesse período, teve oportunidade de ouvir uma palestra de Shin’ichi, ocasião em que ficou profundamente impressionado. Lembrando-se de que na época a Universidade Soka estava em construção, perguntou se ela já havia sido inaugurada. Quando Shin’ichi lhe respondeu que já haviam se passado dez anos, demonstrou alegria nos olhos.
Shin’ichi mencionou que dedicaria todos os esforços para o intercâmbio entre os dois países e levantou-se para se retirar. O presidente tentou, então, segurá-lo estendendo as mãos:
— Agradeço muito por sua preocupação comigo. Mas recebi autorização médica. Por favor, sente-se.
Sentia-se algo inquietador. O espírito empreendedor desejando o progresso busca o diálogo.
PARTE 10
Quando Shin’ichi reforçou que cuidasse bem da saúde, o presidente pediu novamente que ele se sentasse, e manifestou seu sentimento de uma vez:
— Tenho a mais alta estima pelas ações do presidente Shin’ichi Yamamoto, especialmente em prol da paz, dedicando-se voluntariamente aos intercâmbios culturais para a mútua compreensão entre as pessoas. Desde a época em que era embaixador no Japão, tinha forte expectativa de receber o presidente Yamamoto em nosso país. E, hoje, realizando esse desejo, sinto uma alegria incontrolável. Como é do seu conhecimento, nosso país se localiza na península balcânica, em uma importante rota do tráfego e onde se encontram as civilizações. Por essa razão, desde a antiguidade, repetem-se os conflitos e fomos sempre dominados pelos Impérios Romano, Bizantino e da Macedônia. Também tivemos a invasão mongol e o domínio do Império Otomano durou cerca de quinhentos anos. Experimentamos ainda as privações decorrentes da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais. Por isso, a realização da paz mundial é um forte desejo meu, ou melhor, de todo o povo da Bulgária. Na mesma medida, depositamos expectativa nas ações do presidente Yamamoto, que vem lutando em prol da paz, desejando que consiga obter um grande resultado.
Essas palavras estavam repletas de sincero sentimento de ardente desejo pela paz. O presidente prosseguiu:
— Na qualidade de presidente do Comitê de Promoção de Ciência e Tecnologia, penso que, no futuro, poderíamos estabelecer um intercâmbio entre uma universidade do nosso país e a Universidade Soka, fundada pelo presidente Yamamoto.
Preocupando-se com a saúde do presidente, Shin’ichi reiterou:
— Por favor, pelo bem de sua nação, cuide da sua saúde.
Então, trocou forte aperto de mãos com ele.
À tarde, Shin’ichi visitou o ministro Alexsander Fol, da Educação, no Ministério da Educação, e logo em seguida foi à Universidade de Sófia. Essa é a instituição federal mais antiga da Bulgária fundada em 1888. Nesse dia, estava prevista a entrega de título de doutor honoris causa em educação e em sociologia dessa universidade para Shin’ichi que faria uma palestra comemorativa. Era o terceiro título acadêmico honorário concedido a ele, depois dos diplomas da Universidade de Moscou, da União Soviética, e da Universidade San Marcos, do Peru.
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de Ilustrações: Kenichiro Uchida – Editora Brasil Seikyo – BSGI
O intercâmbio com a intelectualidade de universidades e instituições de ensino cria uma rede de solidariedade a edificar a paz no futuro.
PARTE 11
A Universidade de Sófia localizava-se na Rua Santo Kliment Ohridski. O edifício da instituição de telhado azul, construído com enormes pedras, transmitia o aspecto de tradição.
O elevado teto do auditório, palco da cerimônia de outorga do título acadêmico para Shin’ichi, era formado por muitas peças esculpidas. Era um ambiente solene e majestoso.
Na cerimônia, a chefe do departamento de filosofia professora Ivanka Apostolova apresentou os motivos da recomendação. E, em seguida, o reitor Ilcho Dimitrov levantou-se e entregou o certificado de doutor honoris causa escrito na antiga língua da Bulgária para Shin’ichi e trocou cumprimentos. Cerca de cem participantes, entre chefes de departamento e professores doutores ali reunidos, aplaudiram entusiasticamente.
Na sequência, iniciou-se a palestra de Shin’ichi intitulada “Em Busca do Campo Verde da Fusão entre Oriente e Ocidente”. Ele mencionou que a Bulgária é uma grande terra que viveu o antagonismo, mesclando o “Leste” e o “Oeste”, do ponto de vista geográfico, histórico e espiritual. Pode-se dizer que possui a chave e o potencial para construir uma nova sociedade humana, unindo e sublimando as civilizações do Ocidente e do Oriente. Discorreu sobre o pensamento dos ensinamentos ortodoxos do Leste e da Bulgária acerca da distância entre Deus e o homem que a considera curta, sem a existência de intermediários entre as duas entidades.
Ele citou ainda um trecho do poema Minha Oração, do poeta revolucionário búlgaro Hristo Botev:
Oh, meu Deus, verdadeiro Deus!
Não o Deus que está acima, nos céus.
O Deus que
está em meu interior.
O Deus que reside no meu coração e na minha alma.1
Aqui, Deus reside no interior do homem e não mantém distância com as pessoas.
Shin’ichi falou de sua impressão sobre o pensamento de enxergar Deus no nosso interior. O fato de Deus descer do alto dos céus para as profundezas da vida do ser humano parece indicar a vontade de libertar as pessoas de todos os tipos de amarras do autoritarismo. Ele continuou a discorrer sobre Deus citado por Botev:
— É um brado de amor à humanidade semelhante aos raios solares que banham brilhantemente os camponeses e as pessoas oprimidas.
PARTE 12
Embora o formato seja distinto, o pensamento do poeta Botev que descobre Deus no interior do homem está ligado à ideologia do humanismo socialista adotado na Bulgária. E, ainda, lembra a visão budista do ser humano que prega a existência da mais elevada e preciosa condição de vida chamada de natureza de buda em todas as pessoas. Enfatizou que o brado de Botev, de vida ou morte, de Deus dentro do ser humano, é uma declaração de que a religião, ou qualquer outra figura, deve ser sempre voltada para o bem das pessoas.
Quando a religião, a política ou, ainda, a ciência, a cultura ou a arte se esquecerem desse ponto primordial, acabarão caindo numa vertiginosa decadência. Essa era uma consistente afirmação de Shin’ichi.
Reprodução/Foto-RN176 Desenho de Ilustrações: Kenichiro Uchida – Editora Brasil Seikyo – BSGI
Em seguida, ele se referiu à Revolta de Abril, ocorrida em 1876 sob o jugo do Império Otomano. Essa exaltação do espírito étnico era uma incontrolável manifestação da vida que tentava proteger a dignidade do homem a todo o custo. Por isso mesmo, havia um importante papel a ser assumido pela Bulgária:
— Enquanto não se perder a bandeira humanística que tremula na grande terra do vosso país, o caminho se abrirá amplamente rumo à sociedade humana do século 21, ultrapassando as fronteiras da etnia. Não consigo deixar de acreditar que esse será um extenso campo verde onde florescerão a paz e a cultura, unindo as civilizações do Leste e do Oeste.
Por fim, referiu-se ao fato de o símbolo da Bulgária ser um leão. Expressou sua decisão de, como budista, percorrer o mundo em prol da paz e da felicidade das pessoas, tal como um leão. Concluiu sua palestra de cerca de quarenta minutos manifestando sua expectativa aos participantes:
— Desejo que continuem tremulando a bandeira da liberdade, da paz e da dignidade do ser humano, com a bravura de um leão e indomável como um leão.
Uma grande salva de palmas ecoou por todo o auditório. Solicitado a registrar suas palavras no livro em comemoração da outorga do título de doutor honoris causa, Shin’ichi Yamamoto escreveu:
Será o estudo a única verdade universal do mundo?
Será o estudo a verdade para influenciar a paz do mundo?
Será o estudo a referência correta para os jovens do futuro?
O personagem do presidente Ikeda no romance é Shin’ichi Yamamoto, e seu pseudônimo, como autor, é Ho Goku.
Nota:
- Seleção de Poemas de Hristo Botev. Tradução: Misako Maki. Editora Kobun Sha.
Ilustrações: Kenichiro Uchida