A China exibe as suas armas

ROTANEWS176 E POR ISTOÉ 04/10/2019 09:30                                                                                                      Por  Vicente Vilardaga

Os 70 anos da revolução comunista, um dos movimentos mais sangrentos da história, expõem um País que virou uma potência econômica, mas que paradoxalmente cultiva um Estado autoritário e obscurantista

Reprodução/Foto-RN176 FORÇA BÉLICA Chineses comemoram a aniversário da revolução exibindo mísseis de longo alcance: recado aos Estados Unidos (Crédito: Xinhua/Wang Jianhua)

A China aproveitou os desfiles de comemoração dos 70 anos da revolução comunista de Mao Tsé-Tung (1949-1976) para exibir seu arsenal militar mais avançado. Mostrou foguetes balísticos intercontinentais DF-41, considerados os mísseis mais poderosos já desenvolvidos, que carregam dez bombas na sua ogiva e podem alcançar o território americano em um voo de 30 minutos. Ostentou também seus drones militares como o Espada Afiada, com autonomia de 50 horas e capacidade de alcançar objetivos militares na África, na Europa e na América do Norte. Com armas potentes, o governo chinês deu uma demonstração de força para os EUA e para o mundo e tratou de enaltecer o pretenso sucesso de sua revolução. Deixou absolutamente claro que a China de hoje é a segunda maior potência econômica e militar do mundo. E reafirmou a política autoritária que marcou o País nas últimas sete décadas. No mesmo dia em que o governo mostrava suas armas, manifestantes em Hong Kong que reivindicavam mais democracia e liberdades democráticas eram reprimidos. E é exatamente esse o retrato do País que emergiu da revolução: ao mesmo tempo em que prosperou economicamente, tornou parte integrante da construção do Estado a repressão política.

Reprodução/Foto-RN176 Matança: o Grande Salto de para Frente de Mao Tsé-Tung levou à morte mais de 45 milhões de pessoas (Crédito:Divulgação)

Os anos da ditadura de Mao Tsé-Tung instituíram o domínio da força no país e estão entre os mais sangrentos da história da humanidade. A repressão e a fome mataram milhões de pessoas. A fome foi conseqüência da política de Mao chamada de Grande Salto para Frente, criada para acelerar o crescimento chinês. Na prática, a política do regime, que envolvia a coletivização de todas as propriedades, teve graves problemas de planejamento que levaram a uma situação de carestia extrema que matou 45 milhões de pessoas entre 1958 e 1962. Nem sempre a fome era causada pela falta de comida. Usava-se a comida para forçar as pessoas a cumprirem as determinações do partido. No mesmo período da grande fome, pelo menos 3 milhões de pessoas foram executadas ou torturadas até a morte por causa de suas opiniões ou por terem roubado uma batata para comer.

Desenvolvimento

Reprodução/Foto-RN176 Controle: Xi Jinping quer uma China unificada e respeitada como potência bélica (Crédito:Xinhua/Li Xueren)

A prosperidade que se comemora agora só veio depois de Mao, com seu sucessor Deng Xiaoping, que estimulou a economia para a criação de um comunismo de mercado. Xiaoping concentrou suas reformas no aumento da eficiência agrícola, na criação de um ambiente liberal para o setor privado, na modernização da indústria e na abertura da China para o mercado externo. No seu governo se formulou a ideia de uma economia de mercado socialista. Desde então as taxas de crescimento do país passaram a ser de dois dígitos. Entre 1978 e 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês aumentou 42 vezes. Xiaoping, porém, não aliviou com o autoritarismo. A repressão aos divergentes continuou sendo um imperativo do sistema político chinês.

“Nenhuma força pode abalar os pilares da China ou impedir
o povo chinês de marchar em frente” 
Xi Jinping, presidente

“Nenhuma força pode jamais abalar os pilares da China ou impedir o povo chinês e a nação de marchar em frente”, disse o presidente Xi Jinping, terça-feira 1, dia do aniversário da revolução, no Portal da Paz Celestial, em Pequim. “O país deve continuar o progresso na reunificação completa da Pátria”. Essa última frase é um recado direto para Hong Kong, o principal pólo de questionamento à soberania chinesa. Em Hong Kong há um esforço para manter um regime mais democrático do que no continente. A população local teme que haja restrições de direitos e mudanças na lei. A crise atual, por exemplo, deflagrada em junho, que causou 180 detenções e deixou mais de 50 feridos, está associada a uma regra que permitirá que ativistas da ilha sejam julgados na China continental. A legislação ainda em vigor impede a extradição de pessoas para o continente. A China evoluiu em todos os campos, mas politicamente continua autoritária e impiedosa. E está cada vez mais bem armada.