A construção do humanismo se inicia na mente

ROTANEWS176 E POR  JORNAL BRASIL SEIKYO 07/10/2022 10:40                                                                      ESPECIAL DO JORNAL BRASIL SEIKYO  

Reflexões sobre cidadania (parte 4)

 

COMISSÃO DE ESTUDOS SOBRE CONSCIÊNCIA POLÍTICA DA BSGI

Reprodução/Foto-RN176 Desenho de ilustração da matéria – Ilustração: GETTY IMAGES

Os seres humanos são sociologicamente reconhecidos como seres sociais — isso quer dizer que, desde bebês, somos acostumados a estar em contato constante com outros seres humanos. Esse contato é fundamental para conseguirmos os elementos básicos para nossa sobrevivência e para aprendermos, por meio de variadas e reiteradas interações, os comportamentos comuns à vida em sociedade.

Entretanto, durante toda a constituição da humanidade, as formas de organização social foram muito diversas e, com elas, ocorriam também conflitos acerca da “correta” maneira de se organizar conjuntamente. Os conflitos, por vezes, pareciam irreconciliáveis, ocasionando uma escalada de violência entre aqueles que possuíam visões distintas.

Mas e você? Como reage ao perceber que discordar de alguém pode levar a desentendimentos sérios? Na Proposta de Paz de 2014, Ikeda sensei nos alertou:
Quando existe, dentro de outro grupo, quem se guie pela intolerância e a violência, as coisas se complicam, acelera a espiral de ódio, passamos a ver todo o grupo como nosso inimigo. O que precisamos fazer é nos unir, apesar das nossas diferenças, para formar uma oposição clara e universal a todos os atos de violência e intolerância. O trabalho da SGI por uma cultura de paz e de direitos humanos — metas fixadas pela ONU — surge da nossa convicção de que todos podem fazer a sua parte pela conquista desse ideal.2

Pertencemos a uma organização religiosa cujo nome é composto pela palavra japonesa “Soka”, que significa literalmente “criação de valor”. O objetivo central da Soka Gakkai é fortalecer genuínos cidadãos que, em suas distintas áreas de atuação na sociedade, têm a oportunidade de demonstrar as ações de verdadeiros humanistas. Tais ações implicam, necessariamen-te, dialogar de forma pacífica com pessoas que discordem de nós; assim como Ikeda sensei fez em inúmeras ocasiões.

Como conhecedores e herdeiros do legado de Nichiren Daishonin e discípulos de Daisaku Ikeda, devemos estar cientes de que a pluralidade de ideias é algo que sempre estará presente quando esco-lhemos viver em sociedade. Entretanto, para que seja possível conviver de forma pacífica nessa mesma sociedade, precisamos apren-der a nos colocar no lugar do outro e criar pontes que nos liguem, indepen-dentemente de discordâncias, que podem ser ultrapassadas em nome da paz.

No livro recém-publicado O Pastor Batista e seu Mestre Budista,3 narra-se um episódio da vida de Martin Luther King Jr., no qual este, logo após ser abordado por um homem violento que acabara de lhe reconhecer, recebeu, de maneira inesperada, uma cusparada no rosto. Ao contrário do que se imagina, a reação do Dr. King não foi a de retribuir da mesma forma a violência recebida, mas, sim, a de limpar o rosto com um lenço e entregá-lo ao agressor.

A atitude do Dr. King revela uma surpreendente capacidade de autocontrole e resiliência, alicerçados em sua crença na humanidade de cada indivíduo, inclusive, de seus oponentes. No budismo, entendemos que a verdadeira forma de promover a mudança social não é apenas mudando leis injustas, mas garantindo que cada indivíduo realize a sua revolução humana.

Numa época conturbada, é imprescindível que nos esforcemos para cultivar a “mente iluminada do buda”, pois é a mente de cada indivíduo que determinará a causa para o que vivemos hoje e viveremos no futuro. O conceito budista de “unicidade da vida e seu ambiente” (esho-funi) traduz muito bem essa questão: nossa vida diária está essencialmente ligada ao ambiente em que estamos inseridos, ou seja, no trabalho, na família, com amigos e na Soka Gakkai, de modo que sempre estaremos unidos.

Por isso, apartar-se de ambientes onde estejam aqueles que não compartilham das mesmas ideias que nós pode dificultar cada vez mais o objetivo de construção da paz ou, como ensinado por Nichiren Daishonin, o espírito da “pacifi-ca-ção da terra”. Ikeda sensei nos exemplifica sobre qual deve ser nossa postura a partir do conceito de caminho do meio:
Quando cada um de nós considera os que serão afetados por nossas ações e reflete sobre o peso de nossa responsabilidade, revela-se o nosso verdadeiro eu para o desenvolvimento do nosso humanismo. Com esta atitude, podemos, cada vez mais, explorar o significado e o papel dos sistemas políticos e econômicos e dar condições à sociedade para a sua reumanização. Este é o dinamismo essencial do caminho do meio.4

Assim, compreendendo a importância do caminho do meio como chave para nossas ações, vamos nos empenhar para adquirir uma mente iluminada capaz de contribuir verdadeiramente para a paz e para o respeito mútuo.
Notas:

  1. Comissão de Estudos sobre Consciência Política da BSGI: Grupo criado para a pesquisa e a produção de materiais que versam sobre cidadania e política à luz dos princípios budistas, dos escritos de Nichiren Daishonin e das publicações oficiais da Editora Brasil Seikyo.
  2. Terceira Civilização, ed. 549, maio 2014, p. 22.
  3. Cf. IKEDA, Daisaku. O Pastor Batista e seu Mestre Budista. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2020. p. 111.
  4. Terceira Civilização, ed. 561, maio 2015, p. 22.

Ilustração: GETTY IMAGES