A eterna luta conjunta de mestre e discípulo

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO  12/06/2021 07:47

ENCONTRO COM O MESTRE

Ensaio da série “Irradie a Luz da Revolução Humana”

 

DR. DAISAKU IKEDA

Reprodução/Foto-RN176 Vamos zarpar do glorioso 3 de Maio rumo à grande viagem da esperança! Casal Ikeda na frente de uma maquete de veleiro feita por um amigo de Oita, Kyushu (Universidade Soka, Hachioji, Japão, 3 maio 1996). Dr. Daisaku Ikeda, ele é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista da SGI atualmente o Mestre e Presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI – Editora Brasil Seikyo – BSGI

Meu mestre, Josei Toda, dava grande valor e tinha muito orgulho do semblante feliz e sorridente e da voz radiante e compassiva das mulheres Soka. Numa era em que há muito mais faces cruéis e palavras rudes, ele tinha o prazer de dizer às pessoas que olhassem para o rosto sorridente e ouvissem a voz alegre delas.

Logo depois de se tornar o segundo presidente da Soka Gakkai, em 3 de maio de 1951, Toda sensei estabeleceu a Divisão Feminina e a Divisão Feminina de Jovens.1 E hoje, decorridos setenta anos, chegou o momento de esses dois grupos se fundirem no Japão, compondo a nova Divisão das Mulheres (joseibu, em japonês).2

Nesta época tumultuada envolta em trevas, conclamo às mulheres Soka a iluminar a todos resplandecentemente com a luz da “grande sabedoria da igualdade” da Lei Mística. Peço-lhes que continuem se empenhando com alegria em expandir o nosso lindo reino de sorrisos e de incentivos calorosos — o mundo da diversidade e de edificante crescimento que personifica os princípios da “cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro”.3

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Nichiren Daishonin louvava sinceramente as mulheres que se apoiavam e se encorajavam mutuamente na prática budista. Na Ilha de Sado, duas discípulas idosas — as monjas leigas Sennichi e de Ko — buscaram orientação dele e se dedicaram unidas em espírito, coroando radiantemente seus anos dourados.

Numa carta enviada a outra discípula, Daishonin transmite seus melhores votos de felicidade e de saúde à filha dela.4 De fato, sua compaixão pelas mulheres e a calorosa afirmação de que se tornariam felizes sem falta estão eviden­tes em todos os seus escritos.

Hoje, as mulheres Soka estão promovendo suas atividades de modo harmônico e dinâmico em pequenos grupos, tendo como base o estudo dos escritos de Nichiren Daishonin. Elas exemplificam a união de “diferentes em corpo, unos em mente” (itai doshin), levando adiante o espírito de Daishonin. Por essas nobres conexões de âmbito popular, fazem o sol da esperança, da felicidade e da paz brilhar cada qual em sua comunidade.

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Em Carta de Sado, escrita por Nichiren Daishonin durante o seu exílio, ele menciona a dama de Sajiki junto com os nomes mais conhecidos, como Toki Jonin e Shijo Kingo. Acredita-se que a dama de Sajiki seja a mesma pessoa que a monja leiga Myoichi a quem Daishonin dedicou as famosas palavras “O inverno nunca falha em se tornar primavera”.5 Podemos presumir que Daishonin depositasse grande confiança nela, como um eixo de união, e se sentisse encorajado pelo fato de que, com discípulas como ela, a justiça prevaleceria mesmo nos mais implacáveis invernos de perseguições.

Fazendo um retrospecto da história do budismo, várias mulheres se juntaram à comunidade de praticantes durante a época de Shakyamuni e se reuniam. Estimuladas por Shakyamuni a se associar a bons amigos, elas fizeram do “prazer da amizade”6 o seu lema. Dedicavam-se à prática budista, valorizando as oportunidades de se encontrar e conversar com os companheiros de prática e inspirar uns aos outros.

Nosso movimento em prol do kosen-rufu no século 21 também prosseguirá obtendo crescimento e desenvolvimento ilimitados em conjunto com a grande rede de mulheres Soka, as quais acatam com seriedade os ditos de Daishonin: “Devem respeitar uns aos outros [assim como os budas fazem].7

Em novembro deste ano, a tão aguardada edição revisada de Nichiren Daishonin Gosho Zenshu (Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin) será publicada em japonês. Pela primeira vez, serão incluídos 32 escritos adicionais e haverá o acréscimo de algumas passagens aos textos previamente lançados [frutos de novas descobertas por meio de pesquisas].

Entre eles, há uma inclusão profundamente significativa em Roupas e Alimentos, escrito enviado por Daishonin a uma discípula:

Quando se acende uma tocha para alguém à noite, produz-se luz não apenas para o outro, mas para si também. Do mesmo modo, quando se aviva o aspecto das outras pessoas, aviva-se o próprio também, quando se fornece força a elas, fornece-se para si também, quando se prolonga a vida delas, prolonga-se a sua própria vida também.8

Quando iluminamos o caminho para os outros e enchemos nossa comunidade de luz, clareamos o nosso próprio caminho; quando encorajamos e revitalizamos os outros, nós também somos encorajados, inspirados e revigorados, afirma Daishonin.

Essa é uma perfeita descrição das nossas atividades na Soka Gakkai e da firme “fé como água corrente” demonstrada pelas mulheres Soka diariamente.

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O professor Helwig Schmidt-Glintzer, da Universidade de Tübingen (Alemanha), está supervisionando a edição do primeiro volume da Coletânea de Escritos de Nichiren Daishonin, em língua alemã. Numa recente entrevista,9 ele destacou a firme determinação de Daishonin de jamais ser derrotado. E comentou, de maneira perspicaz, que, munido do desejo de transmitir o legado desse espírito, Daishonin exortou outros a reconhecer os perigos da época e não ser desencaminhados por ensinamentos falsos. Nos dias atuais, em que o objetivo da paz e prosperidade para toda a humanidade permanece ameaçado, declara o professor, o otimismo, a confiança e a percepção de que podemos transformar o carma mediante a manifestação do estado de buda podem representar um grande auxílio em nossa vida e abrir amplas perspectivas.

Por acreditarmos no infinito potencial do estado de buda que reside dentro da nossa própria vida, bem como na vida dos outros, temos a fé inabalável no fato de que um futuro mais promissor se estende diante de nós, por mais desafiadoras que sejam nossas circunstâncias atuais. Seguimos em frente incansavelmente na trilha da criação de pessoas valorosas. Essa é nossa filosofia e prática como membros da Soka Gakkai, e representa algo que mais e mais pessoas buscam atualmente.

Tenhamos sempre o orgulho e a convicção de que nossos esforços constantes estão abrindo o caminho para um futuro de genuíno humanismo e coexistência criativa para a sociedade global.

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Um dos novos textos a serem acrescentados na edição revisada dos escritos de Nichiren Daishonin é a parte conclusiva de uma carta que contém a seguinte passagem: “Se encontrar alguém por acaso, mesmo que não desejasse fazê-lo, deve saudá-lo. Mesmo que não haja motivo algum para sorrir, sorria”.10 Podemos antipatizar com algumas pessoas que encontramos, mas Daishonin nos instrui a empregar nossa sabedoria, instando-nos que demonstremos abertura e aceitação, e as cumprimentemos com um sorriso. Numa era corrompida repleta de ódio e de inveja, Daishonin disse que havia se encontrado com muito mais pessoas que a maioria [no processo da propagação de seus ensinamentos].11 Ele estava totalmente ciente das dificuldades que seus discípulos enfrentavam na sociedade. Portanto, incentivava-os a serem simpáticos e amistosos em suas interações para ajudar outros a formar um vínculo com o ensinamento do budismo, por mais desafiador que pudesse ser tal esforço. Essa é a essência de uma filosofia humanística franca, aberta, generosa e realmente profunda.

Nesta era maléfica dos Últimos Dias da Lei, a única maneira de guiar os outros para a felicidade é perseverar com uma “mente gentil e tolerante”,12 como ensina o Sutra do Lótus, compartilhando com sinceridade e paciência nossas crenças e convicções por meio do diálogo.

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Todos os dias, o rosto sorridente e alegre dos nossos sábios cidadãos Soka, hoje atuantes ao redor do mundo, nos saúda a partir das páginas do Seikyo Shimbun.

Sei que Toda sensei ficaria verdadeiramente extasiado ao ver o Seikyo Shimbun celebrando seu 70º [aniversário] este ano. Sinto-me infinitamente grato aos nossos leitores e àqueles que apoiam o jornal em qualquer âmbito. Em especial, oro com todas as minhas forças todos os dias pela saúde, longevidade e segurança dos “heróis sem coroa”, que cumprem a nobre missão de entregar o Seikyo Shimbun nas manhãs.

Lembro-me com carinho de quando o escritor Sohachi Yamao­ka (1907–1978) permitiu que serializássemos o romance de sua autoria, Takasugi Shinsaku, em nosso jornal. Em outra obra, Yamaoka retratou a vida da figura heroica Mori Motonari (1497–1571), que unificou a região de Chugoku13 durante o período dos Estados Beligerantes (1467-1615). Existem muitas histórias famosas a respeito de Motonari, que morreu há 450 anos.

Um monumento relacionado com o clã Mori situa-se na cidade de Akitakata, província de Hiroshima, e nele foram entalhados os ideogramas hyakuman isshin, ou “um milhão de corações unidos num só”. Os ideogramas foram inscritos de uma forma distinta, de modo que também podem ser lidos como “um dia, uma força, um coração” — denotando, em outras palavras, que se pode realizar qualquer coisa se unirmos nosso tempo, força e mente.

Mori Motonari declara no romance de Yamaoka:

Um milhão de corações unidos num só é a união espacial. Mas a união em espaço não basta para se alcançar um objetivo. A união através do tempo, indiferente à extensão, também é essencial, uma centena de gerações unidas num só coração. Sem que haja isso também, nada relevante poderá ser alcançado.14

Na Soka Gakkai, temos “união espacial”, na forma do espírito de “diferentes em corpo, unos em mente” (itai doshin), mas também temos o sublime juramento de mestre e discípulo levado adiante pelos três presiden­tes da Soka Gakkai [Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e Daisaku Ikeda], diretamente ligados a Nichiren Daishonin, e compartilhado igualmente por todos os membros da Soka Gakkai. Este se refere à “união através do tempo, indiferente à extensão”, persistindo pelo eterno futuro dos Últimos Dias da Lei. É o que nos torna fortes.

Naquele glorioso 3 de maio em que Toda sensei se tornou presiden­te há setenta anos, ele posou para uma foto e, posteriormente, me deu uma cópia com o seguinte poema inscrito no verso:

Agora e

no futuro também,

juntos

compartilhando alegrias e sofrimentos —

como é mística a nossa ligação!

Aqueles que prosseguem avançando pelo caminho de mestre e discípulo, unidos por “uma antiga e mística relação”,15 conseguem extrair uma força infinita.

Sigamos sempre em frente em nossos empreendimentos, prezando eternamente as grandes contribuições prestadas ao kosen-rufu pelos membros pioneiros já falecidos.

Hoje, no mundo inteiro, corajosos bodisatvas da terra de todas as gerações — com os rapazes e as moças da “Geração da Nova Revolução Humana na vanguarda” — estão dando início a uma gloriosa jornada em nossa luta conjunta de mestre e discípulo. Dedicados ao ideal da criação de pessoas de grande valor, eles se empenham para registrar um novo histórico de vitórias em nosso movimento em prol do kosen-rufu. Os integrantes da nossa Divisão dos Estudantes, “condutores da tocha da justiça”, que escolheram surgir nesta época, também vêm demonstrando crescimento surpreendente.

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Nichiren Daishonin declarou com um rugido de leão: “Meu desejo é que meus discípulos sejam filhotes do rei leão, que nunca sejam ridicularizados pelo bando de raposas”.16

Leões são fortes.

Leões são destemidos.

Leões vencem sem falta!

Celebrando o 3 de Maio, dia em que o espírito Soka de mestre e discípulo arde intensamente, enveredemos pelo futuro com um coração intrépido como o rei leão!

Reprodução/Foto-RN176 Fascinantes fileiras de árvores verdes. Nova vida cresce rumo ao céu azul (foto tirada por Ikeda sensei em abril de 2021, em Tóquio, Japão)

Com nossos preciosos companheiros do mundo todo, a quem estamos ligados por laços cármicos que perduram pelo passado, presente e futuro, prossigamos alegremente em nossa jornada eterna de mestre e discípulo. Sigamos avante, sempre avante, para concretizar a paz em nossa terra e no mundo por meio dos princípios de afirmação da vida do Budismo Nichiren!

Reprodução/Foto-RN176 Azaleias em um vermelho brilhante. Como as mulheres Soka, que brilham alegremente à sua maneira (foto tirada por Ikeda sensei em abril de 2021, em Tóquio, Japão)

No topo: vamos zarpar do glorioso 3 de Maio rumo à grande viagem da esperança! Casal Ikeda na frente de uma maquete de veleiro feita por um amigo de Oita, Kyushu (Universidade Soka, Hachioji, Japão, 3 maio 1996)

Notas:

  1. A Divisão Feminina e a Divisão Feminina de Jovens foram fundadas, respectivamente, em 10 de junho e 19 de julho de 1951.
  2. Na Reunião Nacional de Líderes da Soka Gakkai, realizada no dia 18 de abril de 2021, o presidente Harada anunciou que, com a aprovação do presidente Ikeda, a Divisão Feminina e a Divisão Feminina de Jovens do Japão dariam uma nova partida, fundindo-se para formar a nova Divisão das Mulheres (joseibu, em jap.). Como primeiro passo, a partir de 3 de maio, a denominação em japonês para a Divisão Feminina mudará de fujimbu para joseibu. O segundo passo, a partir de 18 de novembro, a Divisão Feminina de Jovens (joshibu) se juntará oficialmente à nova Divisão das Mulheres.
  3. Cf. The Record of the Orally Transmitted Teachings (Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente). Tradução: Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, p. 200.
  4. Cf. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 62, 2017.
  5. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 560, 2014.
  6. Cf. The Elders’ Verses II: Therigatha (Versos II das Anciãs: Therigatha). Tradução: K. R. Norman. Oxford: Pali Text Society, 1995. p. 2.
  7. Cf. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II p. 14, 2017.
  8. The Writings of Nichiren Daishonin (Os Escritos de Nichiren Daishonin), v. II, p. 1066.
  9. Publicado na edição do Seikyo Shimbun de 30 de março de 2021; tradução baseada na transcrição alemã.
  10. Em tradução livre.
  11. Cf. Coletânea dos Escritos de Nichiren Daishonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. II, p. 21, 2017.
  12. The Lotus Sutra and Its Opening and Closing Sutras [ O Sutra do Lótus e seus Sutras de Abertura e Encerramento]. Tradução: Burton Watson. Tóquio: Soka Gakkai, p. 205.
  13. A região de Chugoku atualmente abarca as províncias de Hiroshima, Okayama, Yamaguchi, Tottori e Shimane.
  14. Traduzido do japonês. YAMAOKA, Sohachi. Mori Motonari. In: Yamaoka Sohachi Zenshu [Obras Completas de Sohachi Yamao­ka), v. 23, editado por KUWATA, Tadachika et al. Tóquio: Kodansha, 1983. p. 347.
  15. Dizeres de um poema que o presidente Ikeda compôs e dedicou a Toda sensei em 1950: “Servirei ao meu mestre / como servi no passado / por uma antiga e mística relação. / Ainda que os outros mudem/ Eu jamais mudarei”.
  16. The Writings of Nichiren Daishonin (Os Escritos de Nichiren Daishonin), v. II, p. 1062.

Fonte:

Jornal Seikyo Shimbun, de 29 de abril de 2021.