ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 07/10/2022 10:55 DA REDAÇÃO RELATO
Com a prática da fé em primeiro lugar, à frente da família Yoshimatsu, Dona Rosa consolida o castelo de conquistas
Reprodução/Foto-RN176 Fumiko Yoshimatsu, 92 anos. Conselheira do Distrito Vila Medeiros, RM Vila Maria, Sub. Norte, CNSP, CGESP – Foto: Arquivo pessoal
Na organização, ela é conhecida como Dona Rosa, nome que escolheu por achar bonito e fácil, e pela dificuldade de os membros pronunciarem o de registro: Fumiko Yoshimatsu. Aos 92 anos, essa matriarca tem energia de sobra. Entrou para a Soka Gakkai no Brasil em 1965, junto com o marido, Masaaki Yoshimatsu, falecido no ano passado, aos 94 anos. Foram 68 anos de casamento, na construção do castelo de vitórias da família com muita união.
A Sra. Fumiko é conselheira de distrito, função que exerce em apoio aos companheiros locais da zona norte da capital paulista. O marido era conselheiro de RM, e os frutos do casal estão todos na ativa, tal como eles determinaram. “Estamos desafiando a cada dia, sempre com muita gratidão no coração”, resume a matriarca. Vamos conhecer um pouco dessa jornada da Dona Rosa e família.
Reprodução/Foto-RN176 Na companhia do marido, Sr. Masaaki (em memória), orando na sala da residência conquistada com a união da família – Foto: Arquivo pessoal
Ela nos conta que chegou ao Brasil em 1932, quando estava com 2 anos. Nunca pôde estudar, nem português nem japonês, pois os pais dela nutriam o sonho de retornar ao Japão, razão pela qual não viam a necessidade de os filhos estudarem aqui. Cresce trabalhando na lavoura, em Promissão, interior de São Paulo, na produção de algodão, café e verduras. Casa-se com o Sr. Masaaki em 1953, ela com 23, ele 27, e juntos tentam a sorte na capital. Abrem uma carvoaria, fechada pouco tempo depois; a feira não deu certo; tentam abrir um armazém, “Mas devido ao meu marido ser bondoso demais, vendia fiado e muitos não voltavam para pagar, a empresa faliu”. Com esse tipo de postura e a falta de boa sorte, acumulam-se as dívidas. “Perdemos tudo.”
Reprodução/Foto-RN176 Registro da despedida no aeroporto, ocasião da ida da neta Bianca ao Japão – Foto: Arquivo pessoal
Em 1960, ano em que foi fundada a BSGI, o casal se via mergulhado ainda em maior sofrimento, agora com quatro crianças pequenas: Seiti, 6 anos; Margarida, 5; Miriam, 3; e Sylvia, 1 ano. “Chegamos ao limite de ficar sem alimentação, e no desespero, meu marido começou a tomar pinga e fumar, tornando-se agressivo e violento. Ele tentou vários empregos, diversas reli-giões, mas sem sucesso. Chegou a ponto de preparar veneno para o suicídio de toda a família.”
Em meio a isso, o Budismo Nichiren, trazido por Ikeda sensei para o Brasil, aos poucos avançava. A grande maioria dos praticantes era de imigrantes japoneses, que iam transmitindo esse ensinamento de um a um, com pouco conhecimento, oferecendo o melhor de si. Por intermédio de um deles, aprendem a recitação do Nam-myoho-renge-kyo. Ouvem que a felicidade ou a infelicidade dependia do desafio de cada um; e que, diferentemente de outros ensinamentos, poderiam ser felizes nesta existência. “Era muito diferente do que tínhamos conhecimento como budismo.”
Reprodução/Foto-RN176 Formatura no curso de alfabetização – Foto: Arquivo pessoal
O desejo de sair daquele sofrimento era tão grande que o Sr. Masaaki aceitou praticar de imediato, com seriedade e sinceridade, decidido a transformar tudo! Participava de todas as atividades. Até parou de fumar e de beber para não afetar a saúde dos membros, sempre se baseando na “fé, prática e estudo”. Na época, não havia jornais nem revistas, mas os líderes vinham de longe para incentivar e logo falaram sobre a importância de colocar os filhos nos grupos de treinamento para jovens, as tradicionais bandas musicais que emergiam em sua missão de levar a paz ao mundo por meio da música. Assim, as filhas Margarida, Miriam e Sylvia entram para o Asas da Paz Kotekitai do Brasil, e Seiti ingressa no Taiyo Ongakutai. “E ali eles cresceram dentro do ambiente Soka, cercados das orientações do Mestre”, enfatiza Dona Rosa. A filha Margarida Hama ressalta: “Eu estava com 12 anos quando entrei na Kotekitai. Fui bem acolhida e minhas irmãs vieram em seguida. Lá, aprendi o espírito de gratidão, a desafiar no daimoku, e a importância da leitura. Permaneci no grupo por quase vinte anos, período no qual criei uma sólida base para enfrentar os desafios futuros”.
Reprodução/Foto-RN176 Dona Rosa em sua viagem ao Japão, em 2018 – Foto: Arquivo pessoal
Dez anos depois de iniciar a prática, em 1975, muito já havia sido transformado na família de Dona Rosa. Manifesta-se também a boa sorte numa importante questão de saúde. Ela estava sozinha em casa e teve uma crise, passando a vomitar sangue. A filha caçula, Sylvia, que geralmente costumava almoçar no trabalho, nesse dia resolveu passar na casa da mãe. Deu os primeiros atendimentos e avisou a família. “Foi um grande benefício. Fui hospitalizada, era úlcera perfurada e foi feita cirurgia. Realmente a força do daimoku é extraordinária!”
Em 2018, a filha Miriam deixou o trabalho para cuidar dos pais e para apoiar a irmã Sylvia cujo marido tem Alzheimer. “Nesses últimos anos, enfrentamos muitas questões de saúde na família, como câncer, hemorragia pós-parto, Alzheimer. Mas estamos firmes. Minha mãe sempre diz que ‘precisamos vencer mais este problema, temos o Gohonzon e as orientações do sensei’. Portanto, a vitória é certa”, afirma Miriam. E Sylvia faz coro: “A família, sem dúvida, tem sido o grande alicerce em todos os momentos”.
Reprodução/Foto-RN176 Dona Rosa, ao centro, ladeada pelos filhos, da esq. para a dir. Seiti, Miriam, Margarida e Sylvia – Foto: Arquivo pessoal
Castelo Soka familiar
No início da prática, a família participava de atividades em Arujá, Bonsucesso, Guarulhos, e após, nos bairros de Jardim Brasil, Edu Chaves, Vila Medeiros e entornos. Os anos avançam e o sonho da casa própria não se apaga do coração. Dona Rosa relata: “Cedíamos nossa humilde residência seguindo as orientações do sensei. Com desafio de daimoku, coragem e incentivo dos líderes, lançamos o grande objetivo de construir uma nova casa. Demorou vinte anos, período em que me desafiei no Kofu e aprendi a economizar. E sem jamais desistir, pois sempre ouvíamos que ‘Aqueles que creem no Sutra do Lótus são como o inverno e o inverno nunca falha em se tornar primavera’”.1 A conquista chega: “É uma casa confortável, com uma sala grande, a qual já comportou até cem pessoas nas atividades em épocas passadas e logo poderei oferecer novamente essa sala de orquídeas para as reuniões presenciais”, alegra-se a matriarca.
Reprodução/Foto-RN176 Acima e a seguir, momentos em família – Foto: Arquivo pessoal
Como a união impera na família, a residência também abrigou o pedido dos sobrinhos do interior, em torno de dez, para se hospedarem nela até concluírem os estudos. “São todos vitoriosos”, exclama Dona Rosa. Um deles é Helio Yoshimatsu, que atualmente mora em São José dos Campos, SP, praticante do budismo há 56 anos. Hoje empresário, ele recorda: “Aos 15 anos, fui recebido carinhosamente por todos; morei ali por quatro anos para estudar no colégio técnico em São Paulo. Grande parte do desenvolvimento da minha vida devo ao meu tio, à minha tia e aos primos, essa grande família que me acolheu mesmo sem ter condições na época”. A casa sempre esteve aberta a todos.
“Hoje, vemos como o budismo é maravilhoso e nos direciona a vencer a cada dia”, ressalta a matriarca. O motivo de tamanha gratidão origina-se de mais uma comprovação em sua vida, item na lista de sonhos do qual jamais desistiu: voltar a estudar. Em 2001, lá estava Dona Rosa no curso de alfabetização promovido por um dos polos da Coordenadoria Educacional (CEduc), da BSGI. “Eu me formei no ensino fundamental 1 com direito a diploma”, comemora. Com isso, participou também de dois exames de budismo em português, sendo agora nível segundo grau do Departamento de Estudo (DEB) da organização. “Na Soka Gakkai, pude me desenvolver bastante. Leio tudo, para que eu possa estar em sintonia com o coração do Mestre.”
Reprodução/Foto-RN176 – Foto: Arquivo pessoal
Falando ainda dos sonhos, Dona Rosa nunca tinha viajado para fora do país, mas criou uma causa por ter ido ao aeroporto muitas vezes abraçar os familiares. Foi assim ao acompanhar o filho Seiti, que se mudou com a família para o Japão por alguns anos, mas já está de volta; e nas despedidas dos grupos do curso de aprimoramento (kenshukai) com a participação do marido e das filhas Margarida, Miriam, Sylvia e da neta Bianca. “Ela [a avó] sempre me escrevia cartinhas, mesmo com toda a dificuldade de escrita, mas com muito coração e recheadas de carinho”, frisa a neta Bianca Hiromi Hama.
Em 2018, Dona Rosa realiza sua primeira viagem ao Japão, quase noventa anos depois de ter desembarcado no Brasil. Detalhe: sem nenhum familiar acompa-nhando. A filha Miriam relata que era um sonho da família que a mãe retornasse à terra natal e fosse ao Auditório do Grande Juramento pelo Kosen-Rufu (Daiseido) para agradecer ao sensei por tudo o que haviam conquistado. Meta atingida. Dona Rosa seguiu com um grupo formado na RM, e, alguns meses antes da viagem, os familiares se reuniram para recitar daimoku (Nam-myoho-renge-kyo) e fazer os acertos. “Tivemos a proteção e o carinho de todos do grupo. Ficaram maravilhados e surpresos com a disposição dela, que ficou conhecida como “trem bala”, pois sempre estava na frente”, relata Miriam.
Reprodução/Foto-RN176 – Foto: Arquivo pessoal
Nos últimos anos, marcados pela pandemia do coronavírus, com as saídas restritas para as reuniões presenciais, voltou a costurar, bordar, cozinhar e a não perder nenhuma atividade virtual. Recentemen-te, foi convidada pelas líderes da comunidade a fazer a leitura da mensagem do presidente Ikeda na reunião de palestra. “Que honra! Que responsabilidade! Aceitei esse desafio como oportunidade de mais um treinamento. Após reci-tar daimoku, ensaiei várias vezes para transmitir corretamente as palavras do nosso mestre.”
Assim, unindo a família em torno dos direcionamentos de Ikeda sensei, ela manifesta seu sentimento de gratidão: “Sou muito feliz e afortunada. Todos da família praticam e vivem em harmonia, sempre desafiando suas circunstâncias com coragem”, emociona-se a matriarca da vitoriosa família Yoshimatsu, a qual ela edificou ao lado do marido. Filhos, netos e bisnetos sempre unidos. Ela reforça a importância dessa comprovação, possível graças à prática baseada nas “Cinco diretrizes eternas da Soka Gakkai”:
- Prática da fé para criar a harmonia familiar.
- Prática da fé para conquistar a felicidade.
- Prática da fé para vencer as dificuldades.
- Prática da fé para manter a boa saúde e obter longevidade.
- Prática da fé para alcançar a vitória absoluta.2
Por fim, Dona Rosa deixa sua receita de felicidade, que ela extrai de direcionamento de Ikeda sensei: “Jamais devemos nos afastar da Soka Gakkai ou abandonar o Gohonzon, não importando o que aconteça e devemos continuar recitando Nam-myoho-renge-kyo e nos empenhando corajosamente em prol do kosen-rufu enquanto vivermos!”3
Muito obrigada!
Fumiko Yoshimatsu, 92 anos. Conselheira do Distrito Vila Medeiros, RM Vila Maria, Sub. Norte, CNSP, CGESP.
Notas:
- Coletânea dos Escritos de Nichiren Dai-shonin. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. I, p. 336, 2019.
- Brasil Seikyo, ed. 2.092, 16 jul. 2011, p. A6.
- IKEDA, Daisaku. Nova Revolução Humana. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, v. 23, p. 288, 2019.
Fotos: Arquivo pessoal