A história (oficial) da Apolo 17 e do porquê de não termos voltado à Lua

ROTANEWS176 28/02/2024 11:20                                                                                                                              Por Andrew Liptak

 

Abaixo, a explicação oficial do porquê da NASA não ter retornado à Lua, escrita.

 

Reprodução/Foto-RN176 Crédito: NASA

Em 11 de dezembro de 1972, a Apolo 17 pousou na Lua.  Oficialmente, este não só foi o nosso pouso final na Lua, mas também foi a última vez que o homem deixou a órbita baixa da Terra.  Com o lançamento de sucesso da cápsula Orion, a NASA finalmente está se preparando para ir mais longe novamente.  Assim, é importante lembrar como chegamos até a Lua – e porque deixamos de ir até lá.

Tripulada pelo Comandante Eugene A. Cernan, Comandante de Módulo Piloto Ronald E. Evans e Piloto de Módulo Lunar Harrison P. Schmitt, a missão Apolo 17 foi a primeira a incluir um cientista.  Os objetivos científicos primários incluíam o levantamento geológico e amostragem de materiais e características da superfície em áreas pré-selecionadas da região Taurus-Littrow; a liberação e ativação de experimentos de superfície; e a condução de experimentos em voo e tarefas fotográficas durante a órbita lunar e ao redor da Terra.

Reprodução/Foto-RN176 Astronautas da missão Apolo 17.

Harrison ‘Jack’ Schmitt obteve seu PhD em Geologia da Universidade de Harvard em 1964, e havia trabalhado na Pesquisa Geológica dos Estados Unidos e na Universidade de Harvard, antes de passar pelo treinamento para ser astronauta em 1965.  A Apolo 17 foi sua primeira missão espacial e seria a primeira vez que uma astronauta cientista pisaria na superfície lunar.  Acompanhando ele estavam Eugene ‘ Gene’ Cernan, um astronauta veterano que voou pela primeira vez ao espaço no programa Gemini IX, uma missão ocorrida em 1966, e mais tarde serviu como Piloto do Módulo Lunar para a missão Apolo 10 em maio de 1969, onde ele chegou até 140 quilômetros da superfície da Lua.

Schmitt pousou o Módulo Lunar Challenger no vale lunar Taurus-Littrow, logo ao sudeste de Mare Serenitatis, uma região de significância geológica na Lua.  Os planejadores da missão esperavam que a região fosse fornecer uma gama de informações sobre a história da superfície lunar.  Ao pousar, a dupla começou as observações da superfície da Lua:

04 14 37 05: Cernan: “Você sabe, eu notei muita diferença no brilho da Terra e – e na sombra dupla…  …é difícil de ver as estrelas mesmo se você não tiver a Terra lá.”

04 14 23 28: Cernan: “Oh, cara. Olhe aquela rocha lá.”

Schmitt: “Absolutamente incrível. Absolutamente incrível.”

Após várias horas de preparação, Cernan pisou na superfície lunar:

04 18 31 0: “Estou no último degrau. E, Houstou, ao pisar na superfície em Taurus-Littrow, gostaria de dedicar este primeiro passo da Apolo 17 a todos aqueles que tornaram isto possível.  Jack, eu estou fora.  Oh, puxa vida. Inacreditável. Inacreditável, mas como é claro no Sol.  OK. Pousamos numa depressão rasa. Por isso que ficamos num leve ângulo.  Muito rasa, como um prato.”

Os dois astronautas descarregaram o jipe lunar e começara a montar os instrumentos científicos ao redor do seu local de pouso: um pacote de experimentos e explosivos (para completar os experimentos sísmicos que haviam começado em outras missões Apolo, em outras localidades da Lua).  Em sua primeira excursão no jipe lunar obtiveram numerosas amostras de rocha lunar.  Nos próximos dias, os astronautas completaram duas caminhadas adicionais na Lua, onde continuaram a dirigir pela superfície lunar e coletar amostras.

Reprodução/Foto-RN176 Crédito: NASA

Mais tarde Schmitt descreveu o local de pouso para a Historiadora da NASA, Carol Butler: “”

O porquê de termos ido ao espaço

As missões científicas da Apolo 17 foram o ápice da um programa massivo que havia começado em 1963, após os sucessos do Programa Mercúrio.  Como resultado da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética começaram a competir numa corrida armamentista que viu ganhos significativos militarmente para ambos os lados, finalmente culminado com o desenvolvimento de foguetes capazes e atingir o território inimigo do outro lado do mundo.  O próximo passo para a superioridade armamentista pulou da atmosfera para a órbita baixa da Terra, indo após até a Lua.  Quando isso aconteceu, cada país capitalizou nos avanços na tecnologia de foguetes para assim experimentar com missões de voo espacial com humanos.  A União Soviética obteve sucesso colocando Yuri Gagarin no espaço em 1961, somente um par de anos após o lançamento do primeiro satélite em órbita.

Seguido de perto pelos Estados Unidos, o espaço se tornou uma demonstração incrivelmente pública do poder militar e tecnológico.  O desenvolvimento da viagem espacial não ocorreu no vácuo político: o propulsor para os Estados Unidos desenvolverem foguetes e veículos que podiam viajar mais alto e mais rapidamente do que os da União Soviética ocorreu ao longo de tensões entre os dois países, especialmente em crises geopolíticas, tais como a Crise de Mísseis em Cuba e o envio de mísseis estadunidenses até a Turquia, fatos estes que demonstraram o quão prontos cada país estava para aniquilar o outro.

Reprodução/Foto-RN176 Imagem via Universe Today Crédito: NASA

À medida que o programa espacial decolava, ele era apoiado por outros esforços científicos e de pesquisa de um amplo complexo industrial militar, cujo o Presidente Dwight Eisenhower tinha se preocupado a respeito há somente alguns anos antes. (Eisenhower não apoiava o desenvolvimento da viagem espacial que começou sob sua gestão, e tinha tentado diminuir o significado do lançamento do satélite Sputnik.)  O ambiente crítico da Guerra Fria permitiu significativos gastos políticos e governamentais de capital, que apoiavam uma estrutura de ‘atacar primeiro’, e em parte escoou aos campos científico e aeronáutico, que mantinham uma mensagem de paz e otimismo.

Em 1966, a corrida espacial chegou ao pico: a NASA recebeu seu maior orçamento, a somente 4,5% do orçamento federal total dos EUA, que seriam US$ 5,933 bilhões (por volta de US$ 43 bilhões hoje).  Os Estados Unidos tinham tornado claro os ganhos no espaço através desta argumentação: O Projeto Gemini tinha completado sua missão final, e com os esforços tomando rumo em direção à nova fase Apolo em pleno vapor.  Neste ponto, a infraestrutura social e política, e o apoio para ir até o espaço tinham diminuído, e finalmente cairiam por terra após o pouso de sucesso da Apolo 11 em julho de 1969.  Após, a NASA continuou com as missões planejadas e finalmente pousou mais cinco missões Apolo na Lua (a Apolo 13 não foi capaz de pousar, após ter tido problemas mecânicos).

Mudando as prioridades.

Logo após o pouso da Apolo 11, a NASA começou a mudar as prioridades: planos para uma estação espacial foram revitalizados, e em 1970 eles anunciaram que a Apolo 20 seria cancelada em favor da criação de uma nova aventura: o Skylab.  Em 2 de setembro de 1970, a agência anunciou as três missões Apolo finais: Apolo 15, 16 e 17.  A agência foi forçada a ceder às pressões políticas também: Em 1971, a Casa Branca pretendia cancelar completamente o programa Apolo após a Apolo 15, mas finalmente as duas missões restantes foram mantidas.  Harrison Schmitt, que tinha sido treinado para a Apolo 18, foi trazido para a Apolo 17, após a NASA sofrer pressão dos cientistas para que fosse enviado um deles até a Lua.

Em 14 de dezembro de 1972, Cernan se tornou o último humano a pisar na superfície da Lua:

07 00 00 47: “Bob, aqui é o  Gene, e estou na superfície, e à medida que dou os últimos passos do homem na superfície, de volta para a casa, por algum tempo, acredito que não num futuro distante.  Eu gostaria de simplesmente relacionar o que eu acredito que a história irá registrar, de que o desafio dos EUA de hoje forjou o destino do homem de amanhã.  E, ao sair da Lua na Taurus Littrow, partimos como viemos, se Deus quiser, pois devermos voltar, em paz e esperança para toda a raça humana.  Boa viagem tripulação da Apolo 17.”

Em 42 anos desde que essas palavras foram ditas, ninguém mais pisou na Lua.  Os níveis de gastos federais que a NASA tinha recebido antes de 1966 tinham ficado inatingíveis para um público que tinha se tornado financeiramente desconfiado, particularmente quando passavam pela enorme crise do petróleo de 1973, a qual mudou as prioridades da nação.  Gastos nos programas espaciais era algo que podia ser feito, mas com grandes restrições fiscais, limitando as pesquisas e missões científicas da NASA nos próximos anos.  Tais programas incluíam o desenvolvimento do programa Skylab em 1973, e do programa do Ônibus Espacial, bem como um número de sondas robóticas e satélites.

Reprodução/Foto-RN176 Crédito: NASA

Esta mudança em prioridades impactou profundamente a vontade dos fazedores de normas na implementação de novas missões exploratórias até a Lua e além.  Sonhos otimistas de alcançar Marte tinha há muito tempo morrido, e à medida que a NASA focava no Ônibus Espacial, a infraestrutura física que apoiava as missões lunares desaparecia: Os foguetes Saturno V não mais eram fabricados, e os foguetes que não foram utilizados se tornaram amostras de museu.  Todo o aparelho técnico e de fabricação, que havia apoiado tanto as operações civis quanto militares, também estava começando a desaparecer. O acordo Strategic Arms Limitation Talks (SALT) e seus sucessores começaram a congelar o número de mísseis que poderiam ser fabricados, tanto pelos Estados Unidos, quando pela União Soviética em 1972, e cada país começou a reduzir suas operações.  A urgência que alimentava a corrida armamentista da Guerra Fria começou a esfriar, e junto dela o apoio para muitos dos esforços requeridos para levar as pessoas ao espaço e à Lua.

Desde aquele tempo, os presidentes dos EUA têm falado sobre seus desejos de retornarmos até a Lua, mas sempre em termos de décadas, ao invés de anos.  É fácil ver porque: até recentemente, as operações de voo espacial dos EUA estavam focadas inteiramente em atividades de órbita baixa da Terra, bem como programas de cooperação internacional, tais como a Estação Espacial Internacional e importantes instrumentos científicos, como Mars Pathfinder, Opportunity/Spirit e Curiosity. Outras importantes preocupações têm redirecionado as atenções dos EUA: A Guerra Contra o Terror, que espera-se custar US$ 5 trilhões ao longo do tempo.

Reprodução/Foto-RN176 Crédito: NASA

O lançamento da Orion no topo de um foguete Delta IV foi empolgante de assistir, bem como novos membros no campo de lançamentos espaciais, a SpaceX e a Orbital Sciences Corporation, o que sugerem que a nova geração de infraestrutura está sendo construída.  As razões para visitar a Lua e potencialmente outros planetas e corpos em nosso sistema solar são numerosas: elas poderiam ser as maiores missões científicas de nossa existência, permitindo-nos a compreender ainda mais sobre a criação de nosso planeta e sistema solar.  Mais importante, tais missões contribuem para o caráter da nação, demonstrando a importância da ciência e tecnologia para a nossa civilização, que irá finalmente nos ajudar a processar e tratar assuntos de grande preocupação: a saúde de nosso planeta.  Esperançosamente, as palavras de Cernan quanto a esperança de que nossa ausência na Lua seja breve tornar-se-ão realidade, e mais uma vez exploraremos novos mundos durante nossos tempos de vida.

– Andrew Liptak

FONTE: OVNI HOJE