ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 12/09/2020 06:35
DA REDAÇÃO
CONHEÇA O BUDISMO
Reprodução/Foto-RN176 Foto de desenho humano de ilustrativo Editora Brasil Seikyo – BSGI
O princípio budista de “tempo sem início” explica que é possível construir, neste instante, uma realidade positiva com base na prática do budismo. O ponto essencial para isso é manifestar a energia que está em você.
PREPARAÇÃO
Devido às mudanças que houve nas programações do esporte, inclusive do futebol, os mais saudosistas aproveitaram o isolamento social para rever alguns dos principais momentos de seus times favoritos. Um dos mais lembrados recentemente foi a final da Copa do Mundo de 1994, ocasião em que a seleção brasileira de futebol venceu os italianos nos pênaltis. Decidir uma partida de futebol dessa forma é sempre uma grande tensão, pois depende da condição do jogador que chutará ou defenderá o gol, naquele exato momento. Mas o que isso tem a ver com o budismo?
TEMPO SEM INÍCIO
O termo japonês kuon ganjo significa, de forma literal, “tempo sem início”. Separadamente, os termos nos ajudam a compreender ainda mais o sentido dessa expressão, sendo kuon, “remoto passado”, tão antigo que não pode ser lembrado quando surgiu, e; ganjo, “começo, início ou fundação”. O buda Nichiren Daishonin cita “tempo sem início” como referência ao inestimável tempo inicial e à eternidade da Lei Mística, a exemplo do escrito O Princípio Místico da Verdadeira Causa, datado de 1282.
APROFUNDANDO UM POUCO MAIS
Reunindo outras citações de Nichiren Daishonin é possível mergulhar no significado de tempo sem início. Ainda no escrito O Princípio Místico da Verdadeira Causa, ele descreve kuon como a Lei Mística, que surgiu no remoto passado quando Shakyamuni atingiu a iluminação, mas é eterna; e ganjo como o fundamento da iluminação do Buda, referenciando essa explicação no capítulo “A Extensão da Vida d’Aquele que Assim Chega” (16º), do Sutra do Lótus. Já em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Daishonin afirma que “Kuon é Nam-myoho-renge-kyo e a ‘verdadeira iluminação’”.1
ETERNIDADE DA LEI MÍSTICA
Nas explicações sobre “tempo sem início”, é comum encontrarmos a expressão “algo que não foi trabalhado”. Mas o que isso significa? “Não foi trabalhado” refere-se a algo de que não é possível determinar quando começou, porém existe, é inerente. Em Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente consta:
Porque estamos falando aqui do Buda eternamente dotado dos três corpos,2 não se trata de algo alcançado pela primeira vez em determinado momento, ou de algo para o qual foi trabalhado. (…) Porque este é o Buda eterno e imutável em seu estado original, ele existe exatamente como sempre existiu. É isso que significa kuon.3
Essencialmente, para Nichiren Daishonin, “tempo sem início” significa a eternidade da Lei Mística, e que Nam-myoho-renge-kyo representa a condição original de vida que corresponde ao estado de buda.
DENTRO DA PARTIDA
A começar pelo fato de que o “Nam-myoho-renge-kyo representa a condição original de um ser humano”, ou seja, o estado de buda, isso é muito significativo. E o que essa eternidade da Lei Mística representa na vida de uma pessoa? Destacamos alguns pontos para reflexão:
- A condição de buda é inerente e eterna à vida de cada pessoa. Existe hoje, sempre existiu e existirá, independentemente de ela ter essa percepção ou não.
- O mesmo se aplica ao Nam-myoho-renge-kyo e ao Gohonzon. Ambos são manifestações da condição de buda de cada pessoa. Dessa maneira, pode-se afirmar que a cada momento em que se recita Nam-myoho-renge-kyo (daimoku) diante do Gohonzon é a manifestação desse tempo sem início.
- A sabedoria, a força e a energia vital transbordam na vida de quem recita daimoku, decidido a transformar definitivamente qualquer situação. Dessa forma, se a pessoa recita daimoku diariamente, todos os dias são tempo sem início. Entende-se, então, que agora é o momento ideal para construir uma realidade positiva.
- Ter fé na Lei Mística é manifestar uma infinita fonte de esperança, independentemente de como a vida se encontra atualmente. O objetivo será sempre vencer e comprovar o poder ilimitado que se manifesta com a recitação do daimoku.
- O esforço no momento atual — com base na condição de buda manifestada pela prática budista — representa a ação do verdadeiro praticante, membro da Soka Gakkai Internacional (SGI), discípulo do presidente da organização, Dr. Daisaku Ikeda.
A IMPORTÂNCIA DO MOMENTO PRESENTE
A partir dos pontos apresentados, chega-se ao ápice da explicação do princípio de “tempo sem início”: a importância de viver o momento presente. O passado (tanto o remoto como o mais antigo e o imediato) deixa reflexos, mas já “passou”. O futuro (e toda a sua imensidão, que abarca nossos sonhos, objetivos e expectativas) ainda não chegou. Retomando o exemplo dos pênaltis do futebol, é pensar que todo o preparo (físico, táticas, estudo do adversário) do jogador até o momento da decisão é válido, porém só fará sentido se ele tiver sabedoria para aplicar sua experiência ao chutar convicto para o gol. A vitória será decidida pelo seu empenho, aproveitando aquela oportunidade de ouro.
O que efetivamente fará a diferença são as ações realizadas no dia de hoje, no presente. Permitir que a vida se ilumine pela Lei Mística de Nam-myoho-renge-kyo é acreditar que a manifestação de todo o seu poder realizador precisa ser manifestado agora, em cada ação do momento presente. Conforme orienta o presidente keda:
Por isso, o momento presente é o mais importante. Não devemos ficar presos ao passado. Não há necessidade disso. Canalizar toda nossa energia no momento presente, com grande esperança pelo futuro — esta é a marca de uma pessoa sábia na maneira de viver.4
Em outra orientação, Ikeda sensei afirma:
Uma “pessoa comum iluminada desde o tempo sem início” significa aquela que despertou para a essência fundamental de sua vida, a qual sempre existiu desde o tempo sem início. O presidente Josei Toda caracterizava o “tempo sem início” como “alegre, puro, brilhante e harmonioso”.5
DE OLHO NO LANCE
Na vida, assim como numa partida de futebol definida nos pênaltis, o essencial é como estou agindo agora. Restabelecer aquela relação que não está muito boa, dedicar um pouco mais de tempo para conseguir melhores resultados nos estudos, empenhar ainda mais criatividade para obter grandiosos resultados profissionais. São ações simples que relacionam passado e futuro, mas que dependem de esforços do presente.
“A fé na Lei Mística é fonte de infinita esperança”,6 assim orienta Ikeda sensei. Por mais difícil que a situação atual possa parecer, mesmo que tenha a sensação de que “não tem mais jeito”, não se permita ser derrotado. Exercite, a cada momento, o pensamento da vitória e aja de maneira a torná-la realidade, acreditando em seu poder ilimitado. Lembre-se, nos momentos cruciais, que você possui o Gohonzon e que a recitação do Nam-myoho-renge-kyo é fonte de energia vital.
Ter fé na Lei Mística é manifestar infinita força, e a ação é o que torna concreto o poder da fé. É como criar algo tendo como base somente forte desejo e seu potencial inerente. É do nada, criar o tudo; do mal, gerar o bem; do veneno, o remédio; e da dor, o benefício.
É chutar para o gol certo de que a rede balançará a seu favor.
Notas:
- OTT, p. 142.
- “Três corpos”: Em japonês san-jin, três tipos de corpo que um buda possui. Eles são: (1) corpo do Darma, que indica a verdade fundamental ou Lei para a qual um buda se iluminou; (2) corpo da recompensa, que indica a sabedoria do Buda; e (3) corpo manifesto, que se refere às ações compassivas de um buda para salvar as pessoas, como a forma física que ele assume para esse propósito. Os “três corpos” eram geralmente vistos como “três tipos de budas distintos”. Porém, no Sutra do Lótus, eles são descritos como os “três aspectos de um mesmo buda”.
- OTT, p. 141-142.
- Brasil Seikyo, ed. 2.314, 5 mar. 2016.
- Terceira Civilização, ed. 433, set. 2004.
- Brasil Seikyo, ed. 2.314, 5 mar. 2016.
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Para entender mais sobre o princípio básico de “tempo sem início”, consulte Brasil Seikyo, ed. 2.314, 5 mar. 2016.