A incrível história do adolescente que se alimentou só de tomate por 12 anos

ROTANEWS176 E BBC BRASIL 22/07/2016 09h17

Molho de tomate. Sopa de tomate. Compota de tomate. Feijão “entomatado”. Pizza do tomate. Ketchup. E, claro, tomate ao natural.

Essa foi a dieta do britânico Liam Pierce por 12 anos.

“Havia coisas que não eram tomate, mas muito poucas coisas. E sempre com ketchup”, disse Liam à BBC.

“Nada de frutas ou legumes (além do tomate)”, disse o jovem.

Mas sua dieta peculiar não era apenas um capricho. Liam sofria de um distúrbio psiquiátrico.

Minha sensação, quando pensava em comer outros alimentos, era a mesmo de uma pessoa com aracnofobia ao ver uma aranha. Era como sair da minha zona de conforto.”

Até 15 sabores

A doença de Liam é rara e pouco conhecida: “síndrome de alimentação seletiva” (também conhecido como SED ou ARFID, na sigla em inglês).

BBC/Arquivo Pessoal

1

Reprodução/Foto-RN176 Liam Pierce comeu apenas tomates ao longo de 12 anos

Trata-se, de acordo com especialistas, de uma neofobia alimentar (aversão a alimentos novos) que afeta principalmente as crianças e pode se estender até a adolescência.

O que é a síndrome de alimentação seletiva?

  • É uma fobia associada a certos alimentos e muitas vezes conhecida como “neofobia”
  • Não é simplesmente ser “exigente” com os alimentos (a maioria das crianças são)
  • Quanto mais tempo persiste, maior é a rejeição a certos alimentos

A principal consequência é a deficiência nutricional, o que pode prejudicar o desenvolvimento intelectual, o crescimento, as defesas e desempenho acadêmico, disse à BBC Mundo (o serviço em espanhol da BBC) Jesus Roman, presidente da Sociedade Espanhola de Dietética e Ciência dos Alimentos (SEDCA).

“A SED significa que você não tem mais de 15 sabores (registrados)”, disse Liam.

“É muito difícil explicar, porque muita gente não conhece esse transtorno”, acrescentou.

O caso de Liam não é único.

Um exemplo semelhante foi o da adolescente britânica Jennifer Radigan, que só comia batatas fritas e queijo e apareceu na imprensa em 2015.

“Isso me afeta todos os dias”, queixou-se a jovem. “Não importa o quanto você quer comer outra coisa. Eu não posso.”

Uma criança ‘mimada’

Liam diz que quando leu na mídia sobre outros casos percebeu que poderia estar sofrendo da mesma coisa, e começou a pesquisar sobre o tema.

“Os médicos me disseram que eu era simplesmente uma criança mimada”, diz Liam.

“Mas isso não é assim. É uma doença real. E é difícil explicar porque muitas pessoas não entendem.”

Sua mãe, Helen, também teve problemas.

“Eu não conseguia entender por que meu filho não queria provar algo novo. Foi traumático para ele e para mim”, disse Helen a BBC.

“Não era uma criança mimada. Era uma resposta fóbica”, acrescentou Helen.

Alguns estudos norte-americanos encontraram milhares de casos que respondem aos critérios desse distúrbio alimentar.

E, de acordo com o Royal College of Psychiatrists, no Reino Unido, cerca de 12% das crianças de três anos de idade sofrem de forma persistente deste distúrbio e são extremamente exigentes com a comida, mas menos de 1% o desenvolve na idade adulta.

De acordo com a Revista Britânica de Psicologia Infantil Clínica e Psiquiátrica, a síndrome de alimentação seletiva é “um fenômeno muito pouco estudado que pode resultar em isolamento social, ansiedade e conflito.”

Final feliz

Por sorte, a história de Liam tem um final feliz.

Duas semanas atrás, ele começou a incluir novos alimentos em sua dieta.

E a mudança, diz ele, se deve a terapia de hipnose.

“Nas últimas semanas eu tentei mais de 50 novas coisas”, disse Liam.

“É libertador saber que venceu o distúrbio e ver que está interessado na comida, em provar novos alimentos. Mudou nossa vida”, disse sua mãe.