A infindável força dos jovens

ROTANEWS176 E POR JORNAL BRASIL SEIKYO 15/08/2020 05:00

ENCONTRO COM O MESTRE

Reprodução/Foto-RN176 No centro Josei Toda  Educador e Pacifista o Segundo Mestre e Presidente da Soka Gakkai – Editora Brasil Seikyo – BSGI

 

A Soka Gakkai Internacional (SGI), por meio da propagação do Budismo de Nichiren Daishonin, criou um movimento de fortalecimento do povo. Cada pessoa, ao se aperfeiçoar, atua na comunidade de maneira a beneficiar não somente a si mesma, mas também às pessoas ao redor. No Encontro com o Mestre desta edição, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, menciona a importância da união de todas as pessoas, principalmente dos jovens, para potencializar essa força tendo como base uma firme fé budista e o princípio da relação de mestre e discípulo.

  1. DAISAKU IKEDA

Em julho, as chamas do nosso espírito de bodisatva da terra brilham ainda mais.

Para nós, o significado desse mês remonta a 16 de julho de 1260, quando Nichiren Daishonin subme­teu ao governante da nação seu tratado de admoestação Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra (Rissho Ankoku Ron).1

O imortal conceito de “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra” é de total originalidade de Daishonin. É o rugido do leão, completamente compassivo, de um indivíduo que se levanta para levar ao povo a iluminação e a felicidade por meio da Lei Mística.

Naquela época, as pessoas comuns se encontravam em extrema miséria diante das calamidades de “fenômenos incomuns no céu e estranhas ocorrências na terra. A fome e a peste…”.2 Tem muito em comum com a atual condição adversa enfrentada pela humanidade contra o coronavírus.

Logo no início de Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, Nichiren Daishonin registra: “É difícil achar alguém que não deplore a situação”.3 Os olhos de Daishonin estavam voltados para a situação das pessoas comuns que lamentavam a perda de seus amados amigos e familiares. Ele focalizava diretamente o turbilhão de sofrimentos do povo e compartilhava esses sofrimentos como seus próprios.

No manuscrito original desse tratado, Nichiren Daishonin usa em muitos lugares o ideograma chinês para “terra” (também “país” ou “nação”) escrito com o elemento “pessoas”, dentro de um compartimento quadrado, em vez dos ideogramas geralmente usados (que simbolizam “rei” ou que sugerem “domínio militar”).4

Isso indica que o Buda não desejava a paz da terra enxergando a nação de maneira genérica, mas como um lugar onde as pessoas comuns vivem seu cotidiano — suas orações eram dirigidas à segurança e ao bem-estar delas.

Em exato acordo com esse extraordinário espírito do buda Nichiren Daishonin, o mestre predecessor, Tsunesaburo Makiguchi, e meu mestre, Josei Toda, persistiram em suas ações pela justiça. Com o sentimento de “agora é o momento de admoestar a nação”, mesmo durante o governo militarista e em meio à Segunda Guerra Mundial, agiram pela verdade e pela justiça. Isso levou à prisão de ambos no dia 6 de julho de 1943.

No ano seguinte, Makiguchi sensei faleceu no cárcere como mártir. Após dois anos de encarceramento, no dia 3 de julho, às vésperas do término da guerra, seu discípulo de unicidade, Toda sensei, saiu da prisão como defensor indomável da Lei Mística. Naquele dia e naquele momento, iniciavam-se os esforços para realizar os ideais de Daishonin de “estabelecer o ensinamento para pacificação da terra” nos tempos modernos. Era o alvorecer do Budismo do Sol levantando-se das profundezas das trevas envoltas pela tragédia e pela crueldade da guerra.

Toda sensei estava com 45 anos. Os líderes da organização do período anterior à guerra haviam se afastado, amedrontados pela perseguição religiosa. Certo de que só poderia confiar nos jovens corretos e de justiça, sensei orou e aguardou pelo surgimento do “jovem porta-estandarte”.5 E, então, fazendo infiltrar o daimoku no grande solo completamente arruinado pela derrota na guerra, convocou os jovens discípulos emergidos da terra, passo a passo, uma pessoa por vez, com sua própria dedicação.

União em torno do espírito de mestre e discípulo

Cinco anos após a libertação do mestre da prisão, em 1º de julho de 1950, realizamos um encontro da Divisão dos Jovens (DJ), rapazes e moças, em conjunto. Foi uma reunião de cerca de vinte pessoas, mas o seu significado foi realmente profundo. O importante não é a quantidade, mas sim a união espiritual. No meu diário da época, registrei: “A Divisão dos Jovens iniciou uma viagem na direção das ondas agitadas e furiosas do futuro. Eu também avançarei, até o limite de minhas forças!”.6

Era uma época em que muitas empresas faliam e os negócios do meu mestre enfrentavam as piores e mais adversas condições. Não foram poucos os veteranos que o traíram e se afastaram.

Em meio a essas circunstâncias, determinei em meu coração que esse era o momento para os jovens se levantarem.

No escrito Abertura dos Olhos consta: “Assim como as montanhas se erguem em sucessão e as ondas se levantam uma após a outra, as perseguições provocarão mais perseguições e críticas fomentarão mais críticas”.7

Reconheci que essa é a rota em que mestres e discípulos Soka devem seguir para realizar o “grande desejo do kosen-rufu”. Quanto mais as adversidades se levantam, mais os nossos jovens se fortalecem.

Mesmo um único jovem comum, como eu, poderá proteger firmemente seu mestre com o poder do daimoku de unicidade de mestre e discípulo. Esse jovem poderá romper bravamente os obstáculos e as maldades e liderar a organização do kosen-rufu com avanço cada vez maior. Assim eu jurei e orei.

“Quanto mais resistência as ondas enfrentam, mais fortes elas se tornam” — eu estava determinado a suportar todas as dificuldades e a registrar a vitória de mestre e discípulo, confiante no princípio de “virtude invisível, recompensa visível”.

Tudo começa com o diálogo

No ano seguinte, 1951, após superar os desafios que enfrentava, Toda sensei tomou posse como segundo presidente da Soka Gakkai (em 3 de maio). Alguns meses depois, em julho, ele fundou a Divisão Masculina de Jovens (DMJ) e a Divisão Feminina de Jovens (DFJ) ligadas diretamente a si.

Nessa época, o mundo observava o trágico andamento da Guerra da Coreia (1950–1953). Meu mestre, que mais tarde estabeleceu a visão de cidadania global, ensinou aos membros das divisões recém-estabelecidas que a Divisão dos Jovens tinha a nobre missão de realizar o kosen-rufu, o próprio “rissho ankoku”, não apenas do Japão, mas da Ásia e do mundo inteiro.

Eu, que era líder de bloco na organização de base, mas já possuía uma chama ardente pelo kosen-rufu, de imediato fui à cidade de Sendai, província de Miyagi. Recordo-me com saudades da luta conjunta com os sinceros e bravos jovens de Tohoku. Em uma reunião de diálogo, relatei convictamente minha experiência da fé em ter ultrapassado a tuberculose e superado a falência nos negócios. Lembro-me de que oito convidados decidiram se converter naquele dia.

O tratado Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra, de Nichiren Daishonin, é desenvolvido em forma de diálogo. Indica que “estabelecer o ensinamento para a pacificação da terra” é estabelecer firmemente no coração de cada pessoa um forte compromisso com a justiça. Por isso, estávamos convictos de que toda mudança se inicia a partir da compreensão da conexão com as pessoas ao nosso redor. O alicerce da esperança se encontra nos laços de respeito e de amizade na diversidade de “cerejeira, ameixeira, pessegueiro e damasqueiro”.

Notas:

  1. Estabelecer o Ensinamento para a Pacificação da Terra: Originalmente escrito em chinês clássico, o tratado foi endereçado a Hojo Tokiyori, no décimo sexto dia do sétimo mês do primeiro ano de Bunno (1260), por intermédio de Yadoya Mitsunori, que ocupava alta posição no governo.
  2. CEND, v. I, p. 6.
  3. Ibidem.
  4. Na linguagem japonesa da época, havia três tipos de ideograma para se referir ao país. Um é simbolizado pelo soberano no interior de um cercado; outro, por armas no interior de um cercado; e, um terceiro, pelo povo no interior de um cercado. Nas dezenas de vezes que o ideograma país aparece no tratado, em cerca de 80% dos casos, Daishonin utiliza aquele que contém o símbolo do povo no interior de um cercado.
  5. Frase de um dos versos da Canção dos Camaradas, escrita por Josei Toda. O trecho na íntegra diz: “Eu não poupo a minha vida, mas onde estão os jovens portadores da bandeira? / Você não consegue ver o cume do Monte Fuji? / Reúnam-se agora, rapidamente, em números crescentes!”.
  6. IKEDA, Daisaku. Diário da Juventude: A Jornada de um Homem Dedicado a um Nobre Ideal. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2015. p. 45.
  7. CEND, v. I, p. 251.

Fonte:

Este conteúdo é composto por partes do ensaio “Irradie a Luz da Revolução Humana”, de autoria do Dr. Daisaku Ikeda, publicado no jornal japonês Seikyo Shimbun, 7 jul. 2020.