ROTANEWS176 E POR BRASIL SEIKYO 21/04/18 11h52
Série de explanações dos escritos de Nichiren Daishonin realizadas pelo presidente Ikeda
Vida e morte – a jornada de mestre e discípulo para alcançar um estado de eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza
Explanação
O tema “Vida e morte” é sempre um desafio para a humanidade. O budismo ensina que a vida é eterna e que nascimento e morte originalmente são inerentes à própria vida (cf. OTT, p. 127)
Iluminadas, pela Lei Mística, tanto a vida como a morte são repletas de alegria, e ambas são expressão do grande processo da eternidade da vida. Essa perspectiva é a essência do Budismo Nichiren; é a concepção de vida e morte que mestres e discípulos Soka compreenderam profundamente com esforços abnegados em prol do kosen-rufu.
O encontro com meu mestre há sete décadas
Quando pequeno, fui uma criança às voltas com problemas de saúde. Tinha plena consciência da morte e me perguntava muitas vezes o que acontecia a uma pessoa quando ela morria. Na adolescência contraí tuberculose, que na época ceifava a vida de muitos jovens. Estávamos cercados pela cruel realidade da. Segunda guerra Mundial, ameaçados por ataques aéreos cada vez mais intensos.
A afirmação de Nichiren Daishonin, feita séculos antes descrevia apropriadamente e situação daquele tempo “Neste mundo, o que desperta mais temor é a dor do fogo, o brilho metálico das espadas e a sombra da morte” (CEND, v, I, p. 317).
Enquanto o Japão passava por mudanças dráticas após o fim da guerra, eu procurava o modo correto de viver. Foi em meio a essa busca que encontrei meu mestre, Josei Toda, no verão de 1947, há sete décadas [explanação feita em julho de 2017].
A primeira pergunta que fiz naquela ocasião foi. “Qual é a maneira correta de se viver?”. Toda sensei olhou nos meus olhos e me ofereceu uma resposta clara:
– Muitos problemas complexo surgem durante o curso da nossa vida. Precisamos encontrar a resposta da vida e da morte. Esse é o fator fundamental. A menos que descubramos a resposta correta para isso, não conseguiremos ter uma vida realmente correta.
Ele me incentivou fortemente a experimentar o Budismo Nichiren, especialmente porque eu ainda era jovem.
Filosofia de vida adquirida com a superação dos desafios
A partir daquele momento, sob orientação do meu mestre, comecei a buscar o caminho correto na vida, o caminho para a solução da questão do nascimento e da morte. Mas minha saúde era tão ruim que o médico me disse que talvez eu não chegasse aos 30 anos. Tinha muita febre baixa contínua e sofria com dores cortantes, como se uma chapa de ferro estivesse queimando minha costa e um graveto em chamas ardesse em meu peito. Era muito magro, e muitas vezes pensei que a minha morte estivesse próxima.
Por isso, não desejando que restasse nenhum arrependimento caso viesse a morrer a qualquer instante, assumi a liderança das atividades para alcançar conquistas inéditas em nossa movimento, do modo que pudéssemos concretizar o grande juramento do Sr. Toda em relação ao kosen-rufu.
Mesmo que eu morresse cedo, queria fazer da minha vida um exemplo para outros, que observariam o que eu havia realizado e diriam o que eu havia realizado e diriam: “Isso é ser um verdadeiro discípulo de Josei Toda”. Havia jurado secretamente a mim mesmo me tonar uma inspiração para os jovens que viriam depois de mim.
Toda sensei captor o que havia em meu coração e me disse:
– Daisaku Está tentando se matar? Decidiu dar a vida por mim, mas não admitirei uma coisa dessa! Deve viver, viva ao máximo! Darei a minha vida a você para que possa fazer isso.
Certo dia escrevi o seguinte em meu diário para me encorajar:
Vida e morte. Formação, continuação, declínio e desintegração. Nascimento, envelhecimento, doença e morte. Eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza. A vida desde o mais remoto passado. A vida que continua eternamente. A eternidade num instante. A unicidade de vida e morte. A unicidade de corpo e mente. As três existências – passado, presente e futuro.
Sinto profundamente quão penoso seria, como seguidor de uma fé correta, morrer neste momento. Tenho de lutar! Tenho de me esforçar!
“Mesmo que eu morresse cedo queria fazer da minha vida um para exemplo para outros”
Posso afirmar por experiência própria o que é “prolongar a vida por meio da fé” e que a esperança suprema para solucionar a questão da vida e da morte consiste em trilhar o caminho de mestre e discípulo consagrado ao grande juramento pelo kosen-rufu. Essa é a minha convicção e conclusão decorrente de setenta anos de prática, tendo apoiado e auxiliado o Sr. Toda a me devotado ao caminho de mestre e discípulo em prol do kosen-rufu.
Com profundo senso de gratidão a Toda sensei, gostaria de examinar nesta oportunidade o princípio da “unicidade da vida e da morte”, que aprendi com meu mestre, a começar com o escrito de Nichiren Daishonin A Grande Carruagem Puxada por um Boi Branco.
Um estado de total liberdade que perdura pelas “três existências”
TRECHO DO ESCRITO A GRANDE CARRUAGEM PUXADA POR UM BOI BRANCO
Essa carruagem [a grande carruagem do boi branco] que descrevi possui duas doutrinas, o ensinamento teórico e o ensinamento essencial [ do Sutra do lótus, como rodas, e é atrelada ao boi do Myoho-renge-kyo (Lei Mística)]. É a carruagem que fica rodando e rodando no ciclo de nascimento e morte, na casa em chamas que é o mundo tríplice. Mas com o eixo de uma mente de fé [para manter as rodas no lugar] e aplicando-se nelas o lubrificante da determinação, a carruagem consegue conduzir a pessoa á terra pura do Pico de Águia.
Ou ainda, poderíamos dizer que a mente soberana atua como o boi [da grande carruagem do boi branco], ao passo que nascimento e morte são como as rodas. O grande mestre Dengyo afirma: “As duas fases da vida e da morte são mecanismos maravilhosos de uma única mente. Os dois caminhos da existência e da não existência são as funções da verdade de iluminação intrínseca da mente”. (WND. v. II, p. 723)
Neste trecho Daishonin ensina que aqueles que abraçam e Lei Mística possuem um estado de vida vasto e ilimitado, que lhes permite desfrutar livremente as “três existências” – passado, presente e futuro:
“Essa carruagem” indica a grande carruagem do boi branco descrita no Sutra do Lótus, uma analogia para o veículo do buda, o ensinamento que habilita todos os seres vivos a atingir a iluminação.
Além do mais, “essa carruagem”, explica Daishonin, fica rodando e rodando no ciclo de nascimento e morte na casa em chamas, que é o mundo tríplice” (WND. v. II p.723). Nesse caso. “nascimento e morte como ‘funções do Myoho-renge-kyo’” ; “nascimento e morte como partes intrínsecas da própria vida”; e nascimento e morte no mundo do estado de buda”.
As rodas da vida não giram do nascimento para morte e param aí. A carruagem do grande boi branco imediatamente parte para uma nova existência. A vida continua repetindo um ciclo de fases alternantes de vida e morte.
Além disso, afirma a passagem, essa carruagem fica rodando e rodando no ciclo de nascimento e morte “na casa em chama que é o mundo tríplice” (Ibidem). Não vai a algum outro mundo, mas permanece sempre no mundo saha, que é envolto nas chamas do sofrimento resultante dos desejos mundanos ou dos impulsos suscitados pela ilusão. Este mundo real é o “local da prática” (Ibidem), em que os mortais comuns se tornam budas, e esse próprio local se transforma na terra pura do Pico de Águia.
Em Registros dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Nichiren Daishonin declara: “Passando pelos ciclos de nascimento e morte, a pessoa trilha seu caminho na terra da natureza do Darma, ou iluminação, que é inerente ao seu próprio ser” (OTT, p. 52). Esse não é um ciclo de nascimento e morte pessimista, que implica transmigrar de uma existência sombria e desesperadora para outra, como às vezes é caracterizada a teoria da reencarnação. Em vez disso, o Budismo Nichiren ensina que poderemos alcançar a mesma condição de total liberdade por todas as três existências, desfrutando paz e serenidade absolutas, que não são destruídas por nada.
O espírito de “este é o último momento de sua vida”
Nichiren Daishonin cita as palavras do grande mestre Dengyo: “As duas fases da vida e da morte são mecanismo maravilhosos de uma única mente. Os dois caminhos da existência e da não existência são funções da verdade da iluminação intrínseca da mente” (WND, v. II, p. 723). Essa passagem retrata um ciclo continuo, no qual a vida e sua existência são comparáveis à nossa condição ativa desde a manhã até a noite. Poe sua vez, a morte e a inexistência são comparáveis a uma boa noite de sono, para despertarmos novamente na manhã seguinte e começarmos um novo dia com energia e vigor renovados.
O ciclo de nascimento e morte não representa algo a ser abominado ou evitado. É um fator inerente à própria vida, parte do seu fluxo e refluxo natural. Nascimento e morte são “mecanismos da natureza intrínseca eterna e perene” (OTT,p.128).
Essa concepção da vida e da morte derruba duas formas de pensar às quais as pessoas há muito tendem a se agarrar – ou seja, as visões opostas de aniquilação e permanência. A ideia de aniquilação pressupõe que a vida se limite à presente existência, e que ela termine com a morte. A ideia de permanência sugere que a vida continue na forma de alma eterna depois da morte. As duas visões surgem da ignorância sobre a verdadeira natureza da vida e da morte. No entanto, é difícil superar o aprego a elas.
Como seres humanos comuns, nossa mente se abala facilmente quando a maldade da doença e da morte ataca. Por essa razão Daishonin afirma que devemos ter “o eixo de uma mente de fé [para manter as rodas no lugar] e aplicar nelas o lubrificante da determinação” (cf. WND. v. II, 723). Com o sólido “eixo” da fé, podemos trilhar o caminho da vida e da morte iluminados pelo Myoho-reng-kyo.
Por isso, devemos vencer a fraqueza da nossa própria mente, orando com sinceridade e convicção e desafiando a nós mesmo na prática budista para superamos nosso carma e realizamos nossa revolução humana. Para mim, a força motriz para isso foi lutar com o mesmo espírito do meu mestre e discípulo dedicado ao kosen-rufu enche nosso coração de coragem para subjugar as funções demoníacas e nos inspira a praticar com a decisão de “este é o último momento de sua vida” (CEND, v.I,p.225). Com esforços plenos e intrépidos em prol do kosen-rufu e triunfando em todas as batalhas, pude construir uma inabalável base de fé. Isso me permitiu aprofundar a convicção nos “mecanismos maravilhosos de uma única mente” que transcendem as fronteiras da vida e da morte.
Uma sublime condição em que se sente alegria na vida e na morte
TRECHO DO ESCRITO AS QUATORZE CALÚNIAS
Persiste em sua prática até o último momento da vida; e quando este momento chegar, observe com atenção! Quando escalar [rapidamente ascenderem a] a montanha da perfeita iluminação e contemplar ao redor em todas as direções, verá com grande surpresa que o mundo dos fenômenos é a Terra da Luz tranquila. O chão será de lápis-lazúli, e os oito caminhos estarão delimitados por cordões de ouro. Quatro tipos de flores cairão dos céus e música ecoará no ar. Todos os budas e bodisatvas estarão presentes, expressando a mais perfeita alegria, acariciados pelas brisas da eternidade, felicidade, verdadeira eu e pureza. Aproxima-se o momento em que nós também nos juntaremos a eles [e nos deleitaremos em total liberdade e tranquilidade]. No entanto, se tivemos uma fé fraca, jamais chegaremos a esse esplêndido lugar. (CEND,v.II, p.18)
Como será o momento da morte para aquele que perseveram na prática budista com sólida fé até o último instante? No escrito As Quatorze Calúnias, Nichiren Daishonin explica que eles serão saudados por um mundo de indestrutível felicidade e tranquilidade, o qual se desenrola em sintonia com o ritmo da infalível lei da vida.
Como expõe Daishonin ao afirmar “Quando escalar a montanha da perfeita iluminação” (CEND. v. II, p. 18); aquele que recitam Nam-myoho-renge-kyo e dedicam a vida ao kosen-rufu alcançarão imediatamente um maravilhoso estado de total paz e tranquilidade que permeará as “três existências” – passado, presente e futuro.
Olhando para as quatro direções, veremos “com grande surpresa”, diz ele, que o universo inteiro é a Terra da Luz Tranquila, onde o chão é pavimentado com pedras preciosas, chovem flores do céu, e melodias fascinantes ressoam pelo ar. É um mundo em que podemos nos deleitar à vontade, com todos os budas e bodisatvas, diz ele, acrescentando que se aproxima o momento em que vivenciaremos essa feliz experiência (cf. Ibidem)
No ciclo de vida e da morte no mundo do estado de buda, esse é o aspecto da morte, também descrito como a terra pura do Pico de Águia.
Se estabelecemos solidamente o mundo do estado de buda em nossa presente existência, a morte não mais será assustadora. Nossa próxima existência também será agradável e livre. Nas asas da fé, podemos voar serenamente para aquele “esplendido lugar” (Ibidem), o mundo da felicidade perene, a Terra da Luz Eternamente Tranquila que sempre existiu.
Daishonin reitera isso várias vezes em seus escritos, por exemplo:
Se [seu marido] tivesse que partir neste exato momento para [a terra pura] o Pico da Águia, iria sentir feliz como se o sol tivesse surgido e ele pudesse ver em todas as dez direções. Cheio de jubilo, perguntaria a si mesmo como uma morte prematura poderia ser algo tão feliz. (CEND. v. II, p. 203)
Quando estava vivo ele [seu finado marido] era um buda em vida, e agora é um buda em morte. Ele é um buda tanto em vida como em morte. (CEND. v.I, p. 477)
Ao nos alinhamos com a Lei Mística, experimentaremos tanto a vida como a morte com plena alegria. A passagem de As Quatorze Calúnias que estamos estudando menciona as “brisas da eternidade, felicidade verdadeira eu e pureza” (CEND. v. II, p. 18). Não se referem aos tristes ventos da impermanência de todos os fenômenos, mas dos perfumados ventos da felicidade indestrutível.
O Buda primeiro ensinou que a vida é marcada pelo sofrimento, pelo vazio, pela impermanência e pelo não eu (cf. CEND, v. I, p. 767), instigando as pessoas a extirpar os apegos em relação a este mundo transitório e a se libertar dos sofrimentos de nascimento e morte. Mas se tratava apenas de um meio apropriado. Nos ensinamentos do Mahayana, o Buda revela a verdade essencial da vida como algo caracterizado pela eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.
Vida imbuída de infinita alegria emergirão novamente depois da morte e retomarão suas atividades num novo palco, na próxima existência. Renascerão “muito rápido (…) para conceder benefícios irrestritos aos seres vivos de todos os lugares” (WND. v. II, p. 860), e poderão “escolher livremente onde renascerão” (LSOC, cap. 10. P.202)
Esse é a condição de vida eternamente inerente ao estado de buda, que exala a fragrância das “quatro nobres virtudes’ – eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza.
O laço cármico compartilhando por mestre e discípulo é a base do budismo
Certo dia, em meio aos nossos intensos esforços para propagar a Lei Mística e concretizar o ideal de Nichiren Daishonin de “estabelecer o ensinamento correto para a pacificação da terra”. Toda sensei me disse com profundo sentimento:
– Lutamos corajosamente diante de tudo, você e eu, não é mesmo?
Foi um momento forte do qual jamais esquecerei. Devotei toda a minha juventude ao “laço místico” que compartilhava com meu mestre. Essa tem sido a maior honra de minha vida.
Neste segmento final, gostaria de me ater à questão da vida e da morte da perspectiva do vínculo cármico que liga mestre e discípulo.
Laço da missão conjunta do passado, presente e futuro
TRECHO DO ESCRITO PONTOS ESSENCIAIS PARA ATINGIR O ESTADO DE BUDA
O sutra [do Lótus] afirma: “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” [LSOC, cap. 7, p. 178; capitulo “Parabola da Cidade Imaginária”], e “Se as pessoas permanecerem ao lado dos mestres da Lei, elas entrarão rapidamente no caminho do bodisatva. Quem segue esses mestres e aprende com eles verá budas tão numerosos quanto os grãos de areia do Ganges” [cf. LSOC, cap. 10 p. 208; capitulo “ O Mestre da Lei”]. Em um comentário [Profundo Significado do Sutra de Lótus de Tiantai] consta: “No início, uma pessoa seguiu esse buda e, pela primeira vez, manifestou o desejo de buscar o caminho. E, ao seguir este buda novamente, essa pessoa alcançará o estágio da não regressão”. Outro comentário [Anotações sobre “Palavras e Frases do Sutra de Lótus” de Miaole] expõe: “No início, uma pessoa seguiu esse buda ou bodisatva e criou um vínculo com ele; por isso, será mediante este buda ou bodisatva que ela atingirá o objetivo”. Antes de tudo, assegure-se de seguir seu mestre original para que possa atingir o estado de buda. (CEND, v. II, p. 5)
Em várias ocasiões, Nichiren Daishonin discorreu sobre o laço de mestre e discípulo que persiste pelas “três existências” – passado, presente e futuro. Em cartas enviadas para Soya Kyoshin, Akimoto Taro e Sairen-bo, por exemplo, ele cita uma passagem do capitulo “Parábola da Cidade Imaginária” (7°) do Sutra do Lótus para elucidar a natureza eterna da relação de mestre e discípulo.
Os destinatários dessas cartas pressupunham ter ouvido sobre os ensinamentos do Sutra do Lótus e se tornado discípulo de Daishonin pela primeira vez naquela existência. Era muito razoável e natural que pensassem que sua ligação com Daishonin houvesse se iniciado naquela existência, e eles haviam expressado apreço por poderem tornar discípulos deles naquela vida.
Contudo, Nichiren Daishonin lhes explica que a ligação cármica que une mestre e discípulo não se limita a esta existência. Ele declara que se trata de “um laço que se estende pelas três existências” (WND, v. II. p. 375), e diz que “Prometemos um ao outro nos tornamos um ao outro nos tornarmos mestre e discípulo desde incontáveis kalpa no passado” (CEND.v. I. p. 326). Ambas são passagens que o presidente fundador da Soka Gakkai, Tsunesaburo Makiguchi, gravou profundamente em sua vida.
Mestre e discípulo não encontram um ao outro por obra da coincidência. São ligados por um vínculo cármico que se estende pelo passado, presente e futuro, assegura-nos Daishonin.
Juramento do remoto passado
No trecho do escrito Pontos Essenciais para Atingir o Estado de Buda que estamos estudando, Nichiren Daishonin apresenta a base para essa asserção. Tendo em vista a relação entre o Buda e aquele que foram instruídos por ele em existência passadas, o laço de mestre e discípulo ´r eterno e não se limita meramente a esta existência. Como prova documental. Daishonin apresenta duas passagens do Sutra do Lótus.
As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seu mestre. (LSOC, cap.. 7.p. 178)
Se as pessoas permanecerem ao lado dos mestres da Lei, entrarão rapidamente no caminho do bodisatva. Quem segue esses mestres e aprende com eles verá budas tão numerosos quantos os grãos de areia do Ganges (LSOC, cap. 10, p. 208)
As duas passagens se baseiam no pressuposto de que o vínculo entre mestre e eterno, estendendo-se pelas três existências.
Os comentários de Tiantai e de Miaole que Daishonin introduz explicam que há uma profunda conexão entre atingir o estado de buda e o laço de mestre e discípulo.
Pode-se dizer que a emocionante epopeia de mestre e discípulo – lutando juntos eternamente para propagar a Lei Mística pelo juramento seigan e ligação cármica que se estendem pelas três existências – compõe o tema principal do Sutra do Lótus.
É uma relação na qual mestre e discípulo compartilham do juramento do remoto passado de propagar a Lei Mística. Com base nesse juramento, mestre e discípulo mergulham corajosamente em meio às desafiadoras realidades de nosso mundo. Por seus incansáveis esforços para ensinar o budismo aos outros e encorajar a pessoa que se encontra bem diante deles, criam uma rede de cidadãos comuns pautada pelo respeito a todas as pessoas.
A relação de mestre e discípulo é formada por um dinâmico vinculo de coração a coração, um laço de vida unida pelo mesmo espírito e dedicada ao mesmo objetivo.
Vida interligada pela consciência de ser bodisatvas da terra
Em novembro de 1946, na terceira cerimônia (segunda aniversário de morte) em memória de Tsunesaburo Makiguchi, Toda sensei expressou sua imensa gratidão ao seu imensa gratidão ao seu mestre que morrera na prisão em defesa de suas crenças, e em seguida compartilhou parte do profundo despertar que vivenciou em sua própria cela na prisão.
Em sua vasta compaixão, você me permitiu acompanha-lo até mesmo à prisão. Em virtude disso, pude ler com todo o meu ser a passagem do Sutra do Lótus. “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” (LSOC. Cap. 7. p. 178). O benefício decorrente disso foi vir a compreender minha existência passada como bodisatva da terra, e assimilar com aminha própria vida, mesmo que numa pequena dimensão, o significado do sutra. Poderia haver felicidade maior do que essa?
“Vir a compreender minha existência passada como bodisatva de terra” refere-se ao laço de mestre e discípulo do remoto passado. A relação de mestre e discípulo depende do discípulo; consiste num vínculo espiritual profundo que só ganha vida por meio do reconhecimento ou consciência do próprio discípulo.
No âmago dessa filosofia de vida que Toda sensei enunciou após a guerra repousava o fato de que ele e os membros da Soka Gakkai companheiros que se dedicavam ao kosen-rufu com a consciência de serem bodisatvas da terra – compartilhavam laços de mestre e discípulo desde o remoto passado.
A percepção de Toda sensei de que “Buda é a própria vida” também provinha do seu discernimento, como discípulo uno em espírito com Makiguchi sensei, de que Myoho-renge-kyo é a lei eterna da vida.
Acreditar e se juntar ou não a essa luta eterna de unicidade de mestre e discípulo. Este era o ponto mais salientado por Toda sensei ao ensinar a concepção de vida aos seus discípulos.
Permanecer fiel ao caminho do discípulo
No dia 3 de julho de 1957, após resolver a questão do incidente do Sindicato de Mineradores de Carvão parti de Hokkaido com destino a Osaka [para o interrogatório policial referente ao incidente de Osaka]. O avião fez uma escala no Aeroporto de Haneda em Tóquio, onde Toda sensei estava me aguardando. Ele me abraçou e disse com muita emoção na voz:
– Daisaku, se a morte o surpreender, correi ao seu encontro e me atirarei sobre você e o acompanharei na morte.
Quando chegar a Osaka, fui preso sob acusações completamente falsas. Durante a minha detenção, fui submetido ao que só poderia ser classificado como intimidação e ameaças pelo promotor, que me disse que a menos que confessasse a culpa fariam uma sindicância na sede da Soka Gakkai e prenderiamToda sensei. Foi um momento no qual a natureza diabólica do poder se revelou.
Josei Toda estava enfrentando problemas de saúde, e outra temporada na prisão poderia equivaler a uma sentença de morte para ele. Para proteger meu mestre, eu não tinha alternativa a não ser confessar por um tempo um crime que não havia cometidl. Mas isso também não seria distorcer a verdade que prejudicava a Soka Gakkai? Sozinho em minha cela eu me atormentava com a situação.
Depois de muito me afligir em total solidão. Um raio de luz subitamente iluminou meu coração. Não tinha medo de nada, estava pronto a assumir qualquer adversidade por Toda sensei. Simplesmente permaneceria fiel ao caminho do discípulo.
Assim como meu mestre, sofri perseguições em benefício do correto ensinamento do budismo, e pude cumprir, a minha modesta maneira, as palavras de Daishonin: “Se sentissem e compreendessem suas dúvidas de gratidão, então, de dois golpes que desferissem em mim, receberiam um em meu lugar” (CEND, v. II, p. 88). Estou certo de que por isso tive a boa sorte de poder dedicar a vida ao caminho de mestre e discípulo, que transcende vida e morte.
Além disso, venci a batalha judicial referente ao incidente de Osaka. A justiça prevaleceu ao provar minha inocência ao mundo.
A “batalha para propagar a Lei, transcendendo vida e morte”
Agora e no futuro também, juntos compartilhando alegrias e sofrimentos – como é impressionante nosso elo!
Meu mestre me dedicou esse poema no dia de sua posse como segundo presidente da Soka Gakkai (em 3 de maio de 1951).
Fazendo meu o espirito dele e lutando de corpo e alma pelo kosen-rufo, registrei em meu diário: “jamais vou me separar deste mestre, existência após existência”. Esse juramento de luta conjunta se mantém inalterada até hoje e será assim eternamente. Toda sensei está sempre comingo.
No dia 3 de maio de 1960, um dia glorioso e ensolarado, assumi como o terceiro presidente da Soka Gakkai. Naquele ensejo, escrevi em meu diário: “Devo iniciar a batalha de toda a minha existência pela propagação da Lei, transcendendo a vida e a morte”.
“Transcendendo a vida e a morte” é persistir avançando com dedicação inabalável pelo caminho do kosen-rufu com meu mestre por toda a eternidade. Continuo lutando e seguindo em frente até hoje, dialogando em meu intimo com meu mestre todas as manhãs, todos os dias.
No escrito Herança da Suprema Lei da Vida. Nichiren Daishonin aponta:
Devem ter sido os laços cármicos do distante passado que o levaram a se tornar meu discípulo numa época como esta. Shakyamuni, Muitos Tesouros, com certeza, compreennderam esta verdade. A declaração do sutra de que “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” [LSOC. Cap.7. p. 178], não pode de maneira alguma, ser falsa. (CEND. v. I. p. 226)
É por causa relação de mestre e discípulo do remoto passado, que podemos despertar para a “natureza originalmente inerente do nascimento e morte”. Conseguimos reconhecer a eternidade da vida buscando nosso mestre com sinceridade e tomando parte na luta de mestre e discípulo consagrada à concretização do kosen-rufu. Essa é a profunda compreensão de que os membros da Soka Gakkai do mundo todo, que dedicam a vida ao kosen-rufu, alcançaram nas profundezas do seu ser.
A auspiciosa jornada para construir uma era de paz
Hoje,membros da SGI espalhados por todos os cantos do mundo têm gravadas em seu coração as palavras. “As pessoas que ouviram a Lei habitaram aqui e ali, em várias terras do buda, e constantemente renasceram em companhia de seus mestres” (LSOC. Cap. 7. P. 178). Eles anseiam intensamente prosseguir a jornada de mestre e discípulo, existência após existência, neste mundo saha para cumprir a grande missão do kosen-rufu.
Ingressamos numa era em que se disseminou por todo o globo uma sólida compreensão do princípio “constantemente renasceram em companhia de seus mestres”. Não há dúvida de que nosso movimento, dedicado a auxiliar as pessoas a obter a venturosa condição de vida de eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza, continuará a crescer e a se expandir.
Compartilhando profundamente esse espírito da Soka Gakkai com nossos amigos, bodisatvas da terra de todas as partes, trabalhemos juntos em firme união e sigamos em frente em nossa jornada de mestre e discípulo, que incorpora a unicidade de vida e morte, rumo à construção da era de paz pela qual tanto anseia a humanidade!
Lutaremos juntos por toda a eternidade!
Publicado em julho de 2017 na revista Daibyakurenge.
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