ROTANEWS176 E POR NÓS 28/03/2022 11h00 Por Aubrey Efgen
Depois de infância difícil e prostituição por sobrevivência, Déborah Sabará se tornou importante ativista de direitos humanos no ES.
Reprodução/Foto-RN176 Déborah Sabará na Assembléia Legislativa do Espírito Santo Foto: Lissa de Paula/ Arquivo Pessoal
Uma ativista que transformou a opressão que passou enquanto mulher travesti em trabalhos sociais reconhecidos nacionalmente e desbravou a tradição carnavalesca para incluir as pessoas trans no direito cidadão à cultura popular. Essa é Déborah Sabará, de 41 anos, atual coordenadora de projetos da Associação GOLD (Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade), que há 17 anos se dedica à luta por Direitos humanos das populações mais vulneráveis no Estado do Espírito Santo.
Ainda este ano, na Gold, começa segunda edição do projeto Mãos que Trabalham, que promove cursos para pessoas LGBTI+ em vulnerabilidade social a fim de dar-lhes mais chances no mercado de trabalho. “Esse é um projeto de que me orgulho muito. Por ter sido obrigada a sobreviver sem amparo familiar e com a prostituição, vejo aqui uma forma de dar a oportunidade para que outras pessoas LGBTI+, principalmente trans, tenham uma experiência diferente”, conta.
Reprodução/Foto-RN176 Déborah Sabará trabalhando na Gold durante a pandemia. Foto: Arquivo Pessoal/ Divulgação
A organização da sociedade civil sem fins lucrativos promove também projetos culturais de conscientização sobre o machismo e o racismo estrutural com adolescentes e jovens em cumprimento de medida socioeducativa, ações de rua na prevenção ao HIV e outras IST com testagem gratuita, o registro da memória da população LGBTI+ capixaba, e o primeiro Centro de Formação e Cidadania LGBTI+ do território capixaba.
Para conscientizar a população geral sobre gênero, levantou a discussões e conquistou apoiadores para ser a primeira porta-bandeira trans do Carnaval Capixaba. Ela conta que as escolas de samba promoviam uma festa chamada “a noite das porta-bandeiras”, em que se reuniam todos os pavilhões onde juntavam as bandeiras das escolas. “Eu passava a noite isolada, sem que as porta-bandeiras conversassem comigo. Foi então que Andressa, porta-bandeira da Escola de Samba Jucutuquara, que me deu minha primeira roupa.” Conseguir um parceiro para ser mestre-sala da porta-bandeira travesti foi mais um obstáculo a superar, mas por fim Déborah realizou esse sonho, desconstruindo preconceitos e abrindo alas para outras pessoas trans no Carnaval e em outras manifestações culturais tradicionais.
Reprodução/Foto-RN176 Deborah Sabará foi a primeira porta-bandeira trans no Estado do Espírito Santo. Foto: Arquivo Pessoal/ Divulgação
De família religiosa, Déborah teve a infância e adolescência marcadas por violências físicas e psicológicas na escola e por parte da igreja que frequentava. Mas foi buscar em outra religião, numa Comunidade Eclesial de Base, as respostas às opressões que sofria por ser pobre e diferente. “Desde a adolescência aprendi a respeito do racismo, da defesa da terra, da moradia, das matas e florestas, dos povos indígenas, e de cuidar da população em situação de rua”, lembra.
Como muitas pessoas trans, deixou a escola antes da formação fundamental devido ao ambiente LGBTIfóbico nocivo e, mais tarde, teve apenas a prostituição como alternativa de sustento. Superada essa fase, se engajou no movimento LGBTI+ em 2005 e, desde então, não parou de transpor barreiras, mesmo com o pouco estudo formal a que teve acesso.
Como ativista, participou da I Conferência Estadual e Nacional LGBT, foi coordenadora colegiada do Fórum Estadual LGBT do ES, Diretora de Ética da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) e Secretária Nacional de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), entidade que representou diante da Organização das Nações Unidas (ONU). Em outubro de 2017, denunciou ao Relator Especial da entidade sobre a precariedade da proteção brasileira a Defensoras e Defensores de Direitos Humanos no país e sobre a violência que sofrem pessoas LGBTI+ da nação, principalmente travestis e trans cuja expectativa de vida tinha uma média de 35 anos, com mortes então registradas a cada 48 horas.